domingo, 31 de outubro de 2004

 

A excepção

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Como disse aqui, às vezes as pessoas são mesmo muito injustas nas críticas que fazem às autoridades.
Mas não só ao Ministério Público e à Polícia. Aos nossos juizes também.

Vem isto a propósito da notícia que dá conta que um condutor de um autocarro de transporte de crianças, ao serviço da Câmara Municipal de S. João da Madeira, foi apanhado a conduzir embriagado pela PSP com uma taxa de 1,72 g/l.
Muito acima, portanto, da taxa máxima de 0,5 g/l, e até da taxa de 1,2 g/l a partir da qual o estado de embriaguez é qualificado no direito penal como crime.
Presente ao tribunal, o juiz proibiu este consciencioso condutor de conduzir qualquer tipo de veículo motorizado «por um período de seis meses».
Até aqui tudo bem.

Mas, considerando que o arguido não tinha antecedentes criminais e considerando que impor ao arguido a proibição de conduzir todo o tipo de veículos, incluindo os que usa no seu trabalho, que consiste no transporte de crianças, "seria punição demasiado severa para o tipo de crime em questão", no seu alto critério o juiz entendeu considerar uma excepção: decretou que a inibição de conduzir não se aplicava... aos autocarros de passageiros...
Podemos estar descansados com a forma como em Portugal a Justiça é servida!

 

Muita sorte tens tu!

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O italiano Rocco Buttiglione anunciou que desiste da sua candidatura a comissário europeu, na sequência da polémica provocada pelas suas posições em matéria de direitos das mulheres e dos homossexuais.
Em conferência de imprensa, Buttiglione, um amigo muito próximo do Papa João Paulo II, explicou que desiste da sua candidatura "para que a comissão de Barroso possa seguir o seu caminho", mas considera-se uma "vítima inocente" escolhida pela humanidade, que "periodicamente decide purificar-se".
"Desta vez fui eu o escolhido para essa função e não me queixo muito", afirmou.

Olha, pá: muita sorte tens tu! Se fosse aqui há uns tempos e ao contrário, a «purificação» bem podia ser pelo fogo...!

 

Às vezes...

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Tanta coisa se tem dito por aí (e aqui) sobre o Ministério Público e sobre as nossas autoridades policiais: que são negligentes; que são displicentes; que não acusam quem devem; que acusam quem não devem e, afinal, de súbito, todas as críticas se revelam completamente injustas e infundadas.

De facto, o Ministério Público do Tribunal Judicial de Viseu vai promover um processo crime pela exposição de um livro polémico no escaparate da livraria das "Edições Polvo", daquela cidade.
Tudo começou quando dois atentos agentes da P.S.P., um deles graduado, estiveram no estabelecimento e, depois de analisarem cuidadosamente o título e o conteúdo do livro do autor espanhol Alvarez Rabo, "As Mulheres não Gostam de Foder", concluíram pela ilegalidade da sua exposição na montra da livraria e de imediato, como lhes competia, o participaram ao Ministério Público.
Depois da participação da P.S.P. o Ministério Público desencadeou o competente processo crime, não obstante a irrelevante opinião do dono da loja, Jorge Deodato, que alegou tratar-se de um "acto censório" das autoridades.

Às vezes as pessoas são mesmo muito injustas nas críticas que fazem às autoridades, não são?

sábado, 30 de outubro de 2004

 

É precisamente por isso mesmo!

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Depois de altos responsáveis do Vaticano terem denunciado uma nova "inquisição anti-católica” que estaria a implantar-se na Europa, e de terem acusado diversos membros do Parlamento Europeu de "laicismo extremista" e de serem incapazes de distinguirem “um pecado de um crime”, eis que é agora a vez de João Paulo II - ele próprio - resolver interferir nas questões europeias.
Foi assim que o Papa manifestou pessoalmente a Romano Prodi, o presidente cessante da Comissão, o seu desapontamento pelo facto de a nova constituição europeia, agora aprovada, não incluir uma referência expressa às «raízes cristãs» do Continente Europeu.
E justificou o Papa, recordando «a forma como a cristandade tem contribuído para a formação das civilizações».

Olha, pá: é precisamente por causa disso mesmo que a tal referência às «raízes cristãs» não deve lá estar. Percebes?


 

O apelo

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Num artigo publicado n' "A Capital", Daniel Sampaio apela aos jovens para que se revoltem e derrubem o Governo.

Diz ele:
«Sei que vocês não aguentarão mais. Ouço-vos em toda a parte, por enquanto em surdina, em breve até que a voz vos doa.
«E por isso vos peço: ajudem a derrubar este governo.
«Pela verdade e dignidade da vossa geração. Para que, tal como os vossos pais quando contaram 1974, possam dizer aos vossos filhos: sabes, fizemos um segundo 25 de Abril, só com arte e coragem, e o governo foi-se embora.
«Com toda a v(n)ossa força»
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Olha, pá: és capaz de pedir isso ao teu irmão...?


sexta-feira, 29 de outubro de 2004

 

O Passivo

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Comentando o buraco financeiro de cerca de 420 milhões de euros de passivo no Grupo Sporting, o presidente Dias da Cunha declarou:

«- A situação não é preocupante porque os activos cobrem o passivo».

Bem: se Dias da Cunha pensa que é com piadas homofóbicas de segundo sentido que vai resolver o problema, isso é lá com ele...

 

O Segredo de Justiça

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Penso que não sofre contestação que o paradigma máximo da democracia é a liberdade de expressão.
Obviamente consubstanciada por órgãos de informação absolutamente livres e imunes a pressões, sejam políticas, económicas ou financeiras.
Onde qualquer tipo de expressões como «limites à independência» proclamadas pelos próprios responsáveis governamentais sejam considerados absurdos – e até perigosos.

Tenho a profunda convicção de que estamos a assistir a um inquietante e perturbador ataque à liberdade de expressão que aos poucos, pé ante pé, tem vindo a ser insidiosamente levado a cabo e sistematicamente instalado por esta maioria que ultimamente nos governa.

Todos os dias se avança um passo!

Depois da ridícula e risível perseguição criminal a autores de blogs, e apesar do optimismo de Clara Ferreira Alves no "Diário Digital", leio hoje no “Diário de Notícias” que José António Barreiros voluntariamente põe fim às suas crónicas naquele jornal.

E leio, absolutamente perturbado, o projecto de lei do novo Código Penal, onde é agora encontrada uma nova forma de criminalização da violação do “segredo de justiça”.
Mas não já somente a actual criminalização do funcionário, do procurador do Ministério Público ou do juiz que tenha acesso ao processo e que o transmita para o exterior – gratuita ou onerosamente.
Porque aí deparamos com a ineficácia – ou a falta de vontade – das autoridades policiais e do próprio Ministério Público em encontrar os responsáveis por tais violações.
Ou, pior ainda, chocamos com a falta de coragem em os perseguir, quando o seu autor é por simples e mero acaso um juiz ou até o próprio director da Polícia Judiciária.

Não: o que encontramos agora no projecto é a própria criminalização do jornalista que fizer publicar notícias sobre quaisquer matérias que, sendo objecto de investigação criminal pendente, estejam abrangidas pelo segredo de justiça.
Ou seja, não se podendo – ou não se querendo – punir o responsável pela notícia, pune-se agora quem a transmite...

Recordo, por exemplo, que o célebre processo do “Caso Casa Pia” se arrastava pachorrentamente, há já mais de um ano, nos anónimos corredores dos Serviços do Ministério Público (condenado decerto ao esquecimento e à prescrição) quando a mediatização de que foi alvo após ter sido objecto de extensa cobertura no “Expresso” e na “SIC” obrigou os nossos ilustres magistrados a “pegar-lhe”.
E obrigou mesmo o Procurador Geral da República a avocá-lo para a sua responsabilidade directa.

Ora, sem querer elogiar o circo mediático que se seguiu, o que é facto é que nas condições previstas no projecto do novo Código Penal nem uma só notícia poderia ter sido dada pelos jornais ou pelas televisões sem a imediata criminalização do jornalista.

A quem interessa esta situação?
Quem poderá pôr-lhe fim?
Quem quererá pôr-lhe fim?

quinta-feira, 28 de outubro de 2004

 

O bode expiatório

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«Primeiro eles vieram atrás dos comunistas
E eu não disse nada porque não era comunista.
Depois vieram atrás dos judeus
E eu não disse nada porque não era judeu.
Depois vieram atrás dos sindicalistas
E eu não disse nada porque não era sindicalista.
Então vieram atrás de mim
E já não havia mais ninguém para falar por mim».


Esta citação de Martin Niemöeller, que esteve preso nos campos de concentração de Sachenhausen e Dachau de 1938 a 1945, foi retirada do Blog "Do Portugal Profundo" onde têm sido revelados alguns pormenores do processo "Casa Pia".

Como relata o "Correio da Manhã", eram 7h00 quando dois agentes da Polícia Judiciária de Leiria, acompanhados por um procurador adjunto do Ministério Público bateram à porta de António Caldeira, autor daquele Blog, e lhe apreenderam o computador, cd’s, disquetes e alguns documentos.
Esta busca à sua residência e a subsequente apreensão, foram determinadas no processo crime em que António Caldeira foi constituído arguido, e a quem foi imputado o crime de desobediência por ter desrespeitado a proibição da reprodução das peças processuais ou documentos incorporados no processo Casa Pia.
Professor universitário em Alcobaça, António Caldeira estranha esta acusação já que ela pressupõe que conhecesse os autos o que, afirma, não corresponde à verdade.
E promete desde já continuar a alimentar o seu Blog.
Toda a história, contada na primeira pessoa, está - aqui.

Confesso que fiquei chocado com esta notícia!
Como é óbvio, nada tenho a criticar a qualquer iniciativa policial ou jurisdicional que vise punir os autores de uma infracção criminal, qualquer que ela seja.
Mas já questiono que – quem sabe se apenas para mostrar serviço – se procure agora um bode expiatório.
Ainda por cima nesta delicada ocasião que se vive em Portugal, com declarações ministeriais a propósito de «cabalas involuntárias» dos meios de comunicação ou dos «limites à independência» destes.

O que é facto é que o Ministério Público e a P. J. sistematicamente se "esquecem" de investigar quais as verdadeiras fontes, as origens e os autores das sucessivas violações ao segredo de justiça, antes preferindo perseguir quem, no final, apenas relata a história - sejam jornalistas sejam simples autores de blogs.

De facto, não me consta que qualquer funcionário do D.I.A.P. que tenha estado ligado ao processo da Casa Pia e, muito menos, Adelino Salvado e mais as suas inenarráveis cassetes, tenham sido constituídos arguidos em qualquer processo crime ou que tenham sido submetidos a qualquer busca nas suas residências.

Simples coincidência, claro...

 

O refém

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Como se explica que o Presidente a Comissão Europeia, José Manuel Barroso esteja autenticamente refém desse inefável Rocco Buttiglione, o indigitado comissário europeu para a Justiça, Assuntos Internos e Segurança?
A ponto de se ver forçado a retirar-se da votação face ao provável “chumbo” a que o Parlamento Europeu o ia submeter.

A explicação é simples, se nos lembrarmos das circunstâncias em que Barroso apareceu indigitado para presidir à Comissão Europeia:

Durão Barroso não hesitou em fazer cair o governo de “salvação nacional” que chefiava e a política de “interesse nacional” que defendia, em troca de um cargo para que fora indigitado, desde logo, com o duvidoso currículo de ser “o mal menor” ou o “menor denominador comum”, o que estranhamente lhe bastou e o honra.

Mas que o obrigou a assumir compromissos com quem na realidade manda na União Europeia, desde Chirac ao incontornável Berlusconi.

Não há por isso admiração nenhuma: agora Barroso só está a pagar as favas...

 

Inqualificável ridículo

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Como já se esperava, foram absolutamente clarificadoras as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa à Alta Autoridade para a Comunicação Social, a quem disse que o presidente da TVI, Miguel Paes do Amaral, lhe impôs um prazo para que repensasse o teor das suas intervenções nas edições de domingo do Jornal da Noite, já que era «inaceitável que houvesse uma informação e uma opinião sistematicamente anti-governamental na TVI; se isso era concebível num jornal não o era numa televisão».

Terá sido perante este ultimato que Marcelo Rebelo de Sousa decidiu abandonar a estação.

Ora, como é sabido, na origem de todo este processo estão as declarações do ministro Rui Gomes da Silva, primeiro, com as suas fantasiosas considerações sobre «coincidências objectivas» ou «cabalas involuntárias» e, depois, as ridículas declarações do ministro Morais Sarmento sobre os «limites à independência».

Esta atitude revela uma inqualificável indignidade política por parte de ambos os ministros. Como disse Marcelo, ela é não só «infeliz» como é também «uma ofensa à inteligência dos portuguesas».

E constitui a causa objectiva para o ambiente que actualmente se vive em Portugal: não só uma estranha sensação de incredulidade perante toda esta história mas, muito principalmente, face ao inqualificável ridículo de que os nossos governantes se vão cobrindo aos nossos olhos, dia após dia.

A reacção do primeiro-ministro Santana Lopes a toda esta infeliz situação – que o atinge e ao governo que chefia – bem como o “faz de conta que nada aconteceu” por parte da maioria parlamentar que o suporta, qualificam-nos inequívoca e suficientemente.

E, sem dúvida, qualificam-nos tanto política como pessoalmente.

quarta-feira, 27 de outubro de 2004

 

Celibato

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O "Conselho Pontifício Justiça e Paz" do Vaticano, publicou um manual de doutrina social da Igreja, no qual se reafirma, entre outras, a condenação das uniões homossexuais.

Bem: tendo em vista os mais recentes escândalos de pedofilia no seio da igreja, de forte pendor homossexual, e sabendo-se a defesa acérrima que este Papa continua a fazer do celibato do clero, não se pode dizer que esta não seja uma posição coerente...

segunda-feira, 25 de outubro de 2004

 

A dignidade da magistratura

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Ainda a propósito do que aqui escrevi sobre a demissão em bloco dos juizes formadores do C.E.J. (Centro de Estudos Judiciários) como protesto pela nomeação de Anabela Rodrigues para a direcção daquele Centro, ouvi hoje na T.S.F. o Presidente da Associação Sindical dos juizes portugueses reafirmar e deixar clara e inequívoca a sua oposição àquela nomeação dizendo que ela «afectava a dignidade da magistratura judicial portuguesa».

Ora, quando ouvi falar da «dignidade da magistratura judicial portuguesa» por qualquer motivo lembrei-me imediatamente de um artigo da autoria do advogado António Marinho publicado no “Expresso” de 10 de Junho de 2004 e que a seguir, e com a devida vénia, transcrevo na íntegra e que se chama:

«O caso Multibanco»
«O episódio encheu as páginas dos jornais e os noticiários das rádios e televisões, mas, apesar disso merece ser revisitado, não só pelo seu significado, mas também porque alguns dos factos mais relevantes nunca chegaram ao conhecimento do público.
«Ora vejamos: Um cidadão, que está na fila de uma caixa Multibanco, trava-se de razões com um outro que chega e, aparentemente, lhe teria passado à frente. A discussão avança e aquele chama malcriado a este, o qual, a despropósito, invoca o seu estatuto de juiz de direito.
«E aquele riposta: se é juiz, então é um juiz malcriado.
«Aí o magistrado puxa do seu cartão e prende-o. Vão para a esquadra da PSP mais próxima onde o cidadão fica detido.
«E enquanto os polícias elaboram o expediente para o apresentar a julgamento em processo sumário, o magistrado dirige-se ao Tribunal e vai falar com a juíza que estava de turno e deveria proceder a esse julgamento.
«Quando o cidadão detido lhe foi presente, a juíza, numa atitude corajosa, recusou-se a fazer o julgamento em processo sumário e remeteu os autos para processo comum onde os arguidos têm mais garantias de defesa.
«A primeira grande questão que se punha nesse processo era saber se o juiz tinha ou não passado à frente das pessoas que estavam na fila. O arguido dizia que sim e o juiz dizia que não.
«Se fosse verdade, poderia, eventualmente, considerar-se justificado o uso da expressão «malcriado». Caso contrário, poderia qualificar-se como injuriosa.
«Todo o episódio teria de ter sido gravado pela câmara de vigilância existente nas caixas ATM, pelo que o arguido requereu ao Ministério Público que providenciasse pela obtenção dessa gravação. Mas, em vez de ordenar imediatamente a apreensão da cassete, o MP demorou três semanas a decidir. E no último dia antes das férias de verão, 66 dias depois dos acontecimentos, mandou que... fosse oficiada a entidade bancária onde se situava a caixa Multibanco para remeter a dita cassete ao processo.
«Dez dias depois, o banco informava que a cassete já tinha sido reutilizada, por acaso, bastante tempo antes de decorrido o prazo legal em que não poderia ser desgravada. E tudo isso, apesar de se referir a factos altamente polémicos que foram objecto de ampla cobertura noticiosa por todos os órgãos de informação.
«A outra grande questão prende-se com o facto de o MP ter qualificado o acontecimento como configurando um crime semi-público, ou seja, como se o juiz tivesse sido «insultado» no exercício das suas funções ou por causa dessas funções, quando resultava óbvio que a discussão nada tivera a ver com a profissão do magistrado e, como tal, deveria, no máximo, ser tratada como um crime particular. Isso levou a que o juiz tivesse um tratamento privilegiado no processo, designadamente, isenção de custas, mas, sobretudo, legitimou, «a posteriori», um claro acto de abuso de poder.
«É que, enquanto crime particular, a alegada injúria não permitiria que o cidadão fosse detido, pelo que o MP teria de instaurar procedimento criminal contra o magistrado.
«O juiz apresentou também queixa contra alguns jornais e jornalistas a quem o MP, num arroubo de objectividade, logo se apressou a acusar de «achincalhar», «ridicularizar», «menosprezar», «enlamear», «banalizar» e «depreciar» a «qualidade funcional e o bom nome do queixoso».
«Os processos acabaram todos apensados e depois de iniciado o julgamento, todos os intervenientes concordaram em lhe pôr fim.
«Este caso, que possui outros pormenores ainda mais «interessantes», revela a cultura de alguns magistrados que não hesitam em usar os enormes poderes de que dispõem para resolver questões ou disputas estritamente pessoais. O mínimo que se poderá dizer é que o Estado de Direito dotou os senhores juizes de poderes soberanos para eles administrarem a justiça nos tribunais e não para prenderem cidadãos na sequência de discussões pessoais que não souberam evitar ou a que não foram capazes de pôr cobro sem recurso aos seus poderes funcionais.
«Resta dizer que o cidadão em causa era um musico-terapeuta que trabalhava com crianças vítimas de paralisia cerebral. Pouco tempo depois de finalizado o processo morreu subitamente de doença cardíaca.
«Quanto ao juiz, alguns anos mais tarde foi nomeado para o Tribunal Constitucional indicado pelo CDS/PP.
«Talvez pelo seu currículo em defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos».

Como disse, vem esta transcrição a propósito duma nomeação que «afecta a dignidade da magistratura judicial portuguesa».
Penso que são escusados quaisquer comentários...

 

O Sr. Procurador

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Ainda que sem sequer descer aos casos individuais dos arguidos e às particularidades, às incongruências e às contradições de cada um deles, as maiores perplexidades que no seu conjunto o “Caso Casa Pia” me provoca, e penso que também à maioria das pessoas, são as seguintes:

Se é certo que houve centenas de crianças abusadas e violadas – e isso é um facto – então onde estão os abusadores e os violadores?
Ou será que os miúdos – e centenas foram identificados – foram todos violados somente pela meia dúzia dos arguidos deste processo?
Então, que tipo de doentia e frenética – e ao mesmo tempo clandestina – actividade sexual teriam assim os arguidos de ter tido para, sozinhos, terem sido tão profícuos no impressionante número de crianças abusadas?
Ou, pelo contrário, muitos outros abusadores e violadores haverá que escaparam incólumes e impunes ao crivo e à malha investigatória?
Quem serão então essas pessoas?
Será que os investigadores procuraram de forma sistemática, eficaz e competente esses eventuais outros violadores?
Será, pois, que devemos ter confiança na competência profissional de quem interveio no processo, em todas as suas múltiplas fases, dos agentes da judiciária, aos procuradores do Ministério Público e até aos juizes, quer de instrução quer do Tribunal da Relação?
Então, que tipo de investigação policial e jurisdicional foi feita?
Que confiança podemos ter nela?

Eis então que o próprio Procurador Geral da República, Souto Moura, nos responde muito claramente a todas estas perguntas, na entrevista que deu ao “Expresso” e de que, a propósito do célebre álbum de fotografias de personalidades junto ao processo, cito a seguinte passagem:

«S.M. - A explicação é que havia nesse álbum fotografias de pessoas que eram suspeitas, de pessoas que não se sabia se estavam ou não implicadas e também de pessoas que, para quem pôs lá as fotografias, estavam acima de qualquer suspeita e que não se pensava poderem vir a ser reconhecidas por quem quer que fosse. Isto corresponde a um método, que a polícia utiliza, para aferir a credibilidade dos reconhecimentos. Se há um miúdo que aponta uma determinada fotografia e também aponta outra ao lado em relação à qual não há o mínimo indício ou suspeita, é evidente que a indicação que esse miúdo faz da primeira pessoa fica abalada ».

Isto é absolutamente notável!!!
E é completamente inacreditável!!!

Quer isto dizer que as pessoas que eram suspeitas, as pessoas que eram completamente insuspeitas e as pessoas que eram, digamos, “assim-assim” estavam já previamente determinadas e assim “catalogadas” pelo Ministério Público e pela Polícia Judiciária antes mesmo dos interrogatórios das vítimas.
Ou seja, isto que dizer que os interrogatórios das vítimas somente serviram para confirmar ou infirmar aquilo que os investigadores já antes haviam decidido passar pelo crivo do reconhecimento das crianças segundo um critério absolutamente aleatório.
E que acabava por correr o risco de configurar uma verdadeira “indução de reconhecimento” por parte das crianças, desejosas de satisfazer os interrogadores, ou até, como uma vez sugeriu Catalina Pestana, estimuladas pelos futuros pedidos de indemnizações civis que poderiam vir a ser exigidos das pessoas com fama de ricas que viessem a ser positivamente identificadas.
E quer isto dizer que a identificação dos suspeitos não foi feita de um modo processualmente válido e eficaz, numa linha de identificação que até os realizadores de filmes policiais baratos sabem como se faz, mas através da exibição de fotografias tiradas ao acaso de revistas, de jornais, de sites da Internet, etc., "assim a ver o que é que dá", numa espécie de totoloto infernal, onde até a cada um de nós poderia ter saído o “jackpot”.
E quer isto dizer que, até por mero e simples acaso, por um bambúrrio de sorte, poderá nem sequer ter saído a taluda premiada das fotografias sujeitas a identificação das crianças a quem bem poderia ser verdadeiramente culpado de violações.
A muitos culpados, se olharmos ao número de crianças violadas.
Quer também isto dizer que, como diz Souto Moura, se um miúdo apontou uma determinada fotografia de uma pessoa, o “beneficiado” com o totoloto dessa identificação ficou dependente de ser ou não constituído arguido e de ser ou não acusado, do facto de a criança ter também apontado ou não um “insuspeito” assim previamente determinado e definido, por um critério absolutamente desconhecido.

O meu desgosto no meio de isto tudo é que tenho a nítida sensação – penso que toda a gente a tem – que haverá por aí dezenas, centenas até, de pedófilos, de inqualificáveis monstros capazes do mais bárbaro e abjecto de todos os crimes, que se passeiam incólumes e por nós se cruzam diariamente numa chocante impunidade, quem sabe se planeando uma nova violação, que destruirá mais uma vida, mais uma criança.

Mas uma coisa é certa:
O Procurador Geral da República Souta Moura avocou o processo do caso “Casa Pia” para a sua esfera de competência e responsabilidade.
Souto Moura é, pois, política e institucionalmente responsável pelo processo e pelo seu desfecho.
Pelo seu sucesso ou pelo seu insucesso.
Vamos então esperar para ver.

E entretanto, enquanto tudo isto não esclarece definitivamente, e exista ou não a “cabala” de que agora se diz ser alvo, talvez Souto Moura devesse fazer ainda outra coisa urgentemente: era estar calado!

 

A empresa privada

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Diz o "Expresso" que Clara Ferreira Alves vai ser directora do "Diário de Notícias".

E adianta que confirmou «junto de fonte governamental que a decisão está tomada, restando apenas saber quando é que a jornalista assumirá funções».

A questão que então se coloca é a que faz o "Barnabé":

«"Fonte governamental"?! Então mas a PT Lusomundo não era aquela empresa privada, cotada em bolsa, etc. etc....???».

domingo, 24 de outubro de 2004

 

As regras do jogo

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O Benfica ganhou hoje ao Nacional da Madeira por 2-1 num jogo em que uma vez mais se verificou uma inqualificável arbitragem, desta vez de Mário Mendes, de Coimbra, que apitava faltas a uma média de uma por minuto.

O primeiro golo do Benfica foi marcado por Karadas que conseguiu apanhar o árbitro distraído e, sem lhe dar tempo de apitar qualquer falta, disparou uma “bomba” de fora da área. O segundo golo marcou o regresso de Sokota aos golos.

O golo do Nacional foi marcado na sequência de um livre indirecto que não tocou em qualquer jogador mas que, apesar disso e inexplicavelmente, o árbitro validou.

Uma coisa é certa: na sequência do golo que não contou ou dos penalties que não valeram no jogo contra o Porto, é inegável o contributo que o Benfica tem dado neste campeonato à evolução do modo como os árbitros portugueses vêem o futebol e até à própria evolução do modo peculiar como estes - quando se trata do Benfica - aplicam as regras do jogo.

 

Crucifixo Mortal

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Uma mulher morreu depois de ser atingida na cabeça por um crucifixo de dois metros, que caiu de um monumento que estava a ser restaurado.
Maddalena Camillo, de 72 anos, caminhava no principal quarteirão do vilarejo de Sant Onofrio, região da Calábria, a cerca de 600 km da capital Roma, quando o crucifixo se soltou e caiu sobre sua cabeça, matando-a.

Não há dúvida: a religião está cada vez mais prejudicial às pessoas.

 

Que categoria!

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No rescaldo do último jogo Benfica-Olegário que, como é sabido, terminou com a vitória deste último por 0-1, quem acaba por colocar as coisas no seu devido lugar é o nosso conhecido Zé Manel, que diz assim:

«No meio desta cegada toda, não se consegue perceber como é que o Scolari não convoca o Vítor Baía prà selecção.
Antes do Benfica-Porto, ele já era o único guarda-redes do mundo que conseguia defender com as mãos fora da grande-área.
Agora, é também o único guardião do universo que defende com as mãos dentro da baliza.
Que categoria! ».

sábado, 23 de outubro de 2004

 

Sugestão milionária

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James Randi, o mágico conhecido no mundo do espectáculo como “The Amazing Randi” e autor de numerosos livros, oferece um prémio de um milhão de dólares a quem consiga demonstrar, sob rigorosas condições de observação, qualquer tipo de poderes de origem sobrenatural, paranormal ou do oculto.

No site “James Randi Educacional Foundation” estão detalhadamente explicadas as regras deste atractivo desafio.

Assim, também aqui fica o desafio para quem tenha qualquer daquele tipo de “poderes”, ou até simplesmente conheça casos de milagres, curas, visões, astrologia, tarot, cartomância, búzios, dobragem de colheres, telequinésia, psicoquinésia, visão de auras, etc. etc., que não deixe de se candidatar imediatamente ao prémio.

No entanto, apesar do montante atractivo do prémio, que tem gerado um grande número de candidaturas oriundas de toda a parte do mundo, e por estranho que pareça, nenhum candidato passou ainda sequer da fase dos testes preliminares...

Curioso, não é?

 

A sagrada sanita

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Arqueólogos alemães descobriram recentemente a sanita onde Martinho Lutero estava sentado quando lançou no século XVI as bases da Reforma da Igreja Cristã.

Como Lutero sofria de frequentes diarreias, era absolutamente normal que passasse várias horas por dia sentado em tão informal trono.

Segundo o Dr. Martin Treu, um teólogo especialista na obra de Martinho Lutero a casa de banho onde repousa tão famosa sanita foi construída nos anos de 1516-1517 e foi decerto esse real assento que o inspirou a argumentar que «a salvação se deve somente à fé e não às obras» e a defender uma “cristandade terrena” e que também «o corpo e não somente a alma constituem uma criação divina».

Interrogado a esse propósito Martin Treu teve de admitir que desconhece o que Martinho Lutero ou as pessoas da época usavam para se limparem após o uso da sanita.

É curioso como tantas "associações de ideias" podem ser feitas a propósito de tantas e tantas proclamações religiosas...

 

A Jornalista

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«MÁ LÍNGUA JORNALÍSTICA»
«Neste preciso momento, Margarida Marante entrevista, na TSF, o ministro Fernando Negrão.
A indomável jornalista continua em grande forma: parte do princípio que está ali para explicar coisas ao seu interlocutor, gasta mais tempo a ventilar as suas ideias do que a fazer perguntas, corta qualquer fio de pensamento com apartes disparatados.
E tudo isto mantendo sempre a sua outra característica-chave: o mais absoluto desconhecimento dos assuntos em discussão.
Nos primeiros cinco minutos da coisa, já repetiu pelo menos uma dúzia e vezes as expressões "modelo falido" e "estado-previdência".
O ministro, obrigado a aturar aquela verdadeira conversa de surdos, quase chega a parecer simpático».

- Roubado ao Luis Rainha no "Blogue de Esquerda".

quinta-feira, 21 de outubro de 2004

 

Não façam barulho

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«POR FAVOR

Não façam muito barulho com a história dos professores irem para assessores dos juízes, senão há meia dúzia de desgraçados professores e juízes, que vão pagar o orgulho ferido do Primeiro-ministro, ao ser confrontado todos os dias com as suas palavras.
«É que isto funciona assim, por arroubos impensados, por reacção aos arroubos, e depois “ai sim, vão ver se não faço!”.
«Tenho a convicção que se tudo ficasse calado com a história da deslocalização das Secretarias de Estado, ter-se-ia poupado o exercício de falsa autoridade, a transumância de meia dúzia de vitimas e os custos acrescidos no orçamento».

- JPP in "Abrupto".

 

Eu não!

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Os juizes formadores do C.E.J. (Centro de Estudos Judiciários) demitiram-se em bloco, como protesto pela nomeação de Anabela Rodrigues, professora de direito penal da faculdade de direito de Coimbra, para a direcção daquele Centro.

Desde logo a Associação Sindical dos Juizes Portugueses apoiou inteiramente a atitude dos juizes do C.E.J., afirmando que se trata de “uma personalidade fora dos quadros da magistratura”.

Vital Moreira escreveu no "Causa Nossa" que esta posição tresanda a «corporativismo vulgar» e estranha que a ASJP «na defesa da independência do "poder judicial" não se tenha expresso até agora numa igualmente "frontal discordância" da nomeação de juízes para cargos exteriores aos tribunais, na maior parte dos casos por escolha política do Governo, o que é seguramente muito mais comprometedor para a sua independência. Sol na eira e chuva no nabal...»

José Miguel Júdice, bastonário da Ordem dos Advogados, afirmou que esta atitude dos juizes não só «demonstra um desrespeito objectivo pela lei», como é também «muito pouco própria de magistrados judiciais, ao não darem sequer uma oportunidade à Professora Anabela Rodrigues de justificar a razão da sua escolha».

O bastonário da Ordem dos Advogados disse ter ficado «muito chocado» com esta decisão dos juizes, que acusou de «corporativismo pouco saudável».

Finalmente, José Miguel Júdice diz ainda ter ficado «estupefacto» com esta atitude dos juizes.

Eu não!

 

O que faltou?

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Esta noite o F. C. Porto perdeu por 0-2 com o Paris St. Germain, em mais um jogo a contar para a Liga dos Campeões, comprometendo seriamente as suas hipótes de sucesso na competição.

O jogo foi realizado no Parque dos Príncipes e foi arbitrado pelo célebre árbitro Pierluigi Colina.

Mas então, o que terá faltado ao campeão nacional e campeão europeu para ganhar o jogo, tal como ganhou o jogo com o Benfica realizado no domingo passado?

Só pode ter sido uma coisa: faltou o Olegário Benquerença!

quarta-feira, 20 de outubro de 2004

 

Nunca interrompas

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Como lembra o "Irreflexões":

«Nunca interrompas o teu inimigo enquanto estiver a cometer um erro".

- Napoleão.

Bastava a José Sócrates estar simplesmente calado enquanto este Governo dá conta de si próprio.

 

Ou então...

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Diz Pacheco Pereira no "Abrupto" que:

«A julgar pelos relatos das televisões, parece ter havido apenas um depoimento do Ministro dos Assuntos Parlamentares na AACS.
«Ou os jornalistas estão a fazer mau trabalho ou a Alta Autoridade não sabe ou não quer conduzir um inquérito sério».

Ou então... tudo isso, não?

 

Os limites à independência

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E pronto:

Confirma-se efectivamente a notícia que previa para breve a publicação de um decreto-lei do Governo que acabará de uma vez por todas com as "coincidências objectivas".

Provando a grande união e coerência dos vários ministros deste governo, foi desta vez o ministro Morais Sarmento quem declarou que, como diploma preambular, será em breve publicado um decreto-lei do Governo que vai estabelecer que o modelo de programação da RTP vai passar a ser "definido pelo poder político".

Acrescentou ainda o ministro que é necessário "haver limites à independência" dos operadores públicos...

terça-feira, 19 de outubro de 2004

 

Coincidência objectiva

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O ministro dos assuntos parlamentares, Rui Gomes da Silva, disse hoje:

«O que eu reconheci foi que objectivamente havia matéria publicada sábado no semanário Expresso, desenvolvida no domingo pelo jornal Público e depois retomada pelo professor Marcelo no domingo à noite. Trata-se de uma coincidência objectiva, mas não de uma cabala».

Já estou mais descansado!!!

Está então justificada a atitude do ministro em todo este processo.

E para evitar a repetição de processos semelhantes, prevê-se mesmo para breve a publicação de um decreto lei do Governo que proiba as "coincidências objectivas".

 

Punição exemplar

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A A.P.A.F. (Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol) exigiu um inquérito «rigoroso» a tudo o que se passou no jogo de domingo entre o Benfica e o Porto.

Pediu mesmo a «punição exemplar» àqueles que tiveram comportamentos criticáveis.

Punição exemplar?

A sério?

Será mesmo que vão fuzilar o Olegário Benquerença???

 

Inquisição secular

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Não imagino porquê, mas José Manuel Barroso recusou-se a comentar as últimas declarações de Rocco Buttiglione, o indigitado comissário europeu para a Justiça, Assuntos Internos e Segurança.

O futuro comissário que já tinha dito que «as crianças que não têm um pai mas apenas uma mãe são filhos de uma mãe não muito boa», afirmou agora este fim e semana que «a homossexualidade é um pecado» e que «o casamento existe penas para que as mulheres tenham filhos e sejam protegidas pelos seus maridos».

Para aquecer ainda mais os ânimos, o conservador italiano deu este fim-de-semana uma entrevista ao "Corriere della Sera" em que reafirma as suas posições e diz estar a ser vítima de uma "campanha de ódio" e de uma nova "inquisição anti-cristã".

Face à polémica que estas palavras levantaram no Parlamento Europeu, desde logo veio em defesa do indigitado comissário o cardeal Renato Raffaele Martino, responsável máximo do Conselho pela Justiça e pela Paz do Vaticano.

Garantiu o cardeal que há uma nova "inquisição secular" e anti-católica na Europa, adiantando como exemplo “a campanha” para impedir Rocco Butiglione de se tornar comissário europeu.

De facto, e como diz a Palmira no “Diário Ateísta”, «esta presunção do Vaticano de se achar perseguido quando os seus sequazes são democraticamente vetados para posições que lhes permitam impor as suas políticas de homofobia e discriminação das mulheres já enjoa!».


 

Pois não...!

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Alberto João Jardim considerou o resultados das eleições regionais "o melhor resultado de sempre".

Desde logo dedicou a vitória "a todos os patetas que na comunicação social do continente dizem mal da Madeira" e avisou que os jornalistas passarão a constituir o alvo principal da sua batalha política.

E acrescentou: "de futuro nada será como dantes. O PSD cometeu alguns exageros, excessos de benevolências e de transigências, levando no côco mas fazendo favores ao adversário, sendo bem educado com uns senhores que eram autênticos agentes da subversão contra nós. Isso acabou. Acabou o porreirismo."

Depois desta notável confusão entre o que é o PSD e o que é o Governo Regional, já na caravana comemorativa da vitória eleitoral que percorreu as ruas do Funchal, ao passar em frente ao Tribunal do Funchal, onde há uma semana foi determinada a prisão preventiva do presidente da câmara do Ponta do Sol, Alberto João Jardim vociferou:

- "Abaixo o fascismo! Abaixo os colonialistas!".

Foi aqui que, de repente, me lembrei de uma recente entrevista à revista do “Expresso", a “Única” que, em chamada de capa citava Alberto João Jardim que dizia:

- Não sou uma besta!

Pois não...!!!



P.S. - Sobre este assunto, não posso deixar de referir o artigo de Vicente Jorge Silva no Causa Nossa, "O sono da razão democrática ".

 

O mentor

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No Acidental, o meu amigo Rodrigo Moita de Deus diz que a democracia é ingrata, pois Vitor Cruz teria sido um excelente Presidente do Governo Regional dos Açores.

Como o seu mentor Alberto João Jardim deu um excelente Presidente do Governo Regional da Madeira, não foi?

 

O empréstimo

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Desde 1975 e até 2001 o Partido Social Democrata ocupou por deferência dos seus proprietários e a título rigorosamente gratuito, um prédio na Rua Rosa Araújo.

Contudo, repetida e insistentemente instado a abandonar o prédio, o PSD exigiu para o fazer uma indemnização de 33.000 contos.

Não obstante os 26 anos de ocupação gratuita, viram-se deste modo os proprietários obrigados a assinar um acordo com o então secretário geral José Luís Arnaut (hoje ministro das cidades), e a pagar aquele montante para que o PSD lhes devolvesse o prédio.

Uma coisa é certa: a esta gente não empresto eu nada!

segunda-feira, 18 de outubro de 2004

 

O comissário

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Rocco Buttiglione, o indigitado comissário europeu para a Justiça, Assuntos Internos e Segurança, pensa que "as crianças que não têm um pai mas apenas uma mãe são filhos de uma mãe não muito boa".

Não há dúvida: Durão Barroso, ou melhor, José Manuel Barroso, continua um ás a escolher as suas equipas.


 

O pudim

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"O Orçamento é bom é, para o avô e para o bebé", gracejou o ministro da Defesa na convenção dos autarcas do CDS-PP em Aveiro.

É um Boca Doce, este Paulo Portas!

 

Isto assim já não tem piada

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Em dia de “clássico” entre Benfica e F.C. Porto esperava-se que a resposta aos carnavais proporcionados por aqueles que só se encontram no futebol para dele se alimentarem nos dias que antecederam o jogo fosse dada dentro do campo.

E, de facto, assim foi: o árbitro Olegário Benquerença encarregou-se de o fazer!

Mas acho que tão cedo não gasto nem mais um cêntimo num bilhete de futebol. Pura e simplesmente porque as suspeições são já tantas que já não sei o que lá vou ver.

Só sei que me sinto enganado.

E não sei se existe ainda alguma réstia de verdade no futebol português.
Nem sei já bem quais são as regras do jogo.
E as suas excepções (toda a regra tem excepção, não é?).

Por exemplo, na época passada fiquei a saber que o Vítor Baía, ao contrário de todos os outros guarda-redes, podia defender com as mãos fora da grande-área.
Fiquei hoje também a saber que quando o Baía dá um frango, o golo – ainda que completamente limpo – tem de ser anulado.
Tem de ser salva a reputação do rapaz, claro.
Fiquei também a saber as circunstâncias em que se pode fazer vista grossa a dois “penalties”, mesmo que de um deles tivesse necessariamente de resultar a expulsão do jogador do Porto, que passaria a jogar com 9 jogadores.
Fiquei ainda a saber que quando um jogador do Porto agride um adversário, por uma questão de um qualquer equilíbrio que desconheço, têm de ser os dois expulsos: o agressor e o agredido.

Conclusão: os apitos continuam a refulgir dourados.
Só que isto assim já não tem piada nenhuma...


domingo, 17 de outubro de 2004

 

Não há dúvida que é o caso!

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Depois de sucessivos escândalos relacionados com práticas pedófilas, ocorreram finalmente uma série de mudanças na Igreja dos Estados Unidos.

Em primeiro lugar, foi decidido expulsar qualquer padre que se tenha tornado “notório” por, de forma reincidente, abusar sexualmente de menores.
A competência de decisão sobre os casos sem “notoriedade” foi atribuída aos bispos locais, que poderão agora decidir se o padre constitui uma ameaça às crianças, caso em que deverá ser expulso.
Caso contrário, poderá ser apenas transferido para outra diocese.

E o problema, claro, está resolvido.

Do mesmo modo, e na sequência dos sucessivos escândalos, o arcebispo de Boston, o cardeal Bernard Law renunciou ao cargo por causa de denúncias de abusos sexuais envolvendo padres da sua diocese.
Tendo, ao longo de vários anos, tomado conhecimento das denúncias, Bernard Law, este ilustre cardeal ignorou-as completamente.
Com excepção de alguns casos em que foi procedendo a transferências sucessivas de alguns padres de paróquia em paróquia, à medida que as denúncias se iam sucedendo.

Aliás, caso similar sucedeu com o arcebispo de Nova York, cardeal Edward M. Egan, enquanto serviu como bispo da diocese de Bridgeport, no Connecticut.

Exemplo paradigmático de um caso a que Bernard Law foi fechando os olhos desde 1984, foram os relatados “actos de compulsão sexual”, como lhe chamou a Igreja americana, que foram praticados pelo padre John Geoghan, que abusou de mais de 130 crianças, uma das quais com 4 anos de idade.
Este caso terá sido um dos que mais terá pesado nas pressões, principalmente dos media, que acabaram por ser determinantes para a demissão do cardeal.

Pergunta-se agora qual o paradeiro do cardeal Bernard Law e qual o seu destino, pessoal e eclesiástico, depois do seu desempenho como arcebispo de Boston e após a sua escandalosa demissão deste cargo.

Pois bem: o ilustre Cardeal Bernard Law foi agora nomeado, directamente pelo próprio papa João Paulo II, como arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, uma das igrejas mais importantes da capital italiana.

Este cargo, de enorme prestígio, é considerado uma recompensa de final de carreira e uma espécie de “reforma dourada” para os mais destacados, ilustres, fiéis e notáveis servidores de Sua Santidade.

Não há dúvida que é o caso!



 

Só agora???

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Em vésperas do congresso, Manuela Ferreira Leite descobriu que está fora das listas de militantes do PSD.
Só agora???
Agora é tarde...


sábado, 16 de outubro de 2004

 

Blade Runner

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A vida não é mais do que a soma de experiências, de acontecimentos que testemunhamos, de momentos por que sucessivamente passamos enquanto “na vastidão do espaço e na imensidão do tempo” partilhamos este planeta.

Por isso, devia ser obrigação de todos os humanos não desperdiçar nem um único desses momentos.
Devia ser obrigação de cada um de nós desfrutar plena e conscientemente esses momentos.
Saboreá-los lentamente.
Vivê-los intensamente.
Olhá-los - um a um - com a consciência de que cada momento é único e jamais se repetirá.

Porque no fim, como disse o “Replicant”:

«I've seen things you people wouldn't believe:
Attack ships on fire off the shoulder of Orion.
I watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser gate.
All those moments will be lost in time, like tears in rain.
Time… to die...».


sexta-feira, 15 de outubro de 2004

 

Milagre!

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Segundo o "Correio da Manhã" o futebolista Luís Figo é o ídolo de Filipe Marques, o menino de cinco anos que sofria de diabetes tipo 1 e terá sido curado graças à intervenção divina dos pastorinhos Francisco e Jacinta.

Segundo a mãe, o menino adora jogar futebol e assiste pela televisão a todos jogos da selecção nacional, não perdendo um único.

Filipe Marques ficou curado da sua doença, não havendo até agora explicação médico-científica para o sucedido.

Os pais acreditam que se tratou de uma intervenção divina dos Pastorinhos Francisco e Jacinta, de quem são fiéis devotos, porque assistiram com o filho às celebrações da sua beatificação, transmitidas pela RTP 1 em Maio de 2000.

Como é sabido, este milagre foi primordial para a fundamentação da próxima canonização dos pastorinhos.

No entanto, com tantas transmissões televisivas, exigir-se-ia da Igreja Católica uma investigação mais exaustiva na explicação do milagre.

Quem sabe de uma investigação mais apurada pudesse sair mais um santo da Igreja...


 

Complexo Funerário

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A população do Bairro de Alvalade, em Lisboa, está indignada com a projectada abertura de um complexo funerário no edifício onde antes estavam instaladas as Páginas Amarelas.

Em Portugal não existe legislação que regule o funcionamento de tanatórios.

Mas isso não constitui obstáculo para a delegada de saúde de Lisboa, Cristina Galvão, que ao "Público" afirmou que a abertura do complexo deverá levar em conta o seu impacto psicossocial na população.

E disse: «O aspecto psicológico é muito importante. É também matéria de saúde pública».

Bem: fico à espera que a Srª Drª. venha fechar a Igreja aqui da paróquia o mais rapidamente possível. Ainda por cima tem uma capela funerária absolutamente execrável...


quinta-feira, 14 de outubro de 2004

 

Utilizador-pagador

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Se o Governo vai mesmo ser rigoroso na aplicação do regime "utilizador-pagador", gostaria de saber quem vai passar a pagar o ordenado do ministro Rui Gomes da Silva.


quarta-feira, 13 de outubro de 2004

 

O Ministério Público

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Apesar de ser agora pouco actual, recentes notícias da nossa Justiça bem como a marcação da data do julgamento do "Caso Casa Pia" fizeram-me uma vez mais lembrar esta "pérola":

Como é sabido, a juíza de instrução criminal despronunciou Herman José do crime de prática de relação sexual com adolescente.

De facto, Herman José logrou provar que na data constante da acusação (8 de Fevereiro) estava no Brasil, tendo a juíza de instrução considerado a óbvia impossibilidade de naquela data o arguido poder ter estado em Portugal a praticar o crime de que vinha acusado.

Como também é sabido, o Ministério Público não se conformou com esta decisão e recorreu para o Tribunal da Relação, defendendo que Herman José deveria ter sido pronunciado.

Nas suas alegações de recurso o Ministério Público defende que o menor que imputa o crime a Herman José pura e simplesmente se enganou na data, não tendo a juíza de instrução dado relevância ao que foi um mero e simples engano, e defendeu ainda que a menção da data num libelo acusatório é frequentemente «desnecessária e até irrelevante».

E para que não se pensasse que a juíza que despronunciou o arguido tinha errado somente na questão da data, pequeno pormenor "desnecessário e até irrelevante", devendo ter pronunciado Herman José também pelos restantes factos constantes do processo, o Ministério Público escreve nas suas alegações de recurso o seguinte:

«De facto, não há nos autos quaisquer elementos que apontem, pelo menos em sede indiciária, no sentido de que o menor não foi vítima de práticas sexuais perpetradas pelo arguido Herman José».

De facto, é brilhante o Ministério Público que temos...


 

Até qu'enfim!

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Diz o Luís Delgado no "Diário Digital":

«... a censura só existe na cabeça dos que a já fizeram e sabem como se faz, e numa democracia com milhares de jornalistas, centenas de orgãos de Informação, sindicatos, Parlamento, Governo e Presidente da República seria obra digna de manual.

«Mais: tão estúpido seria este Governo, e este PM, que num dia mandava um ministro dizer uma coisa, e no dia seguinte pressionava uma demissão. Era preciso ser «burro», convenhamos».

Olha pá: até que enfim que concordo contigo!!!


 

Afronta

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Diz o "Público" que «o presidente do governo regional da Madeira, Dr. Alberto João Jardim, escreveu ao ministro da Justiça, José Pedro Aguiar-Branco, a queixar-se da actuação da Inspecção da Polícia Judiciária no Funchal».

Alberto João Jardim considera as recentes detenções do presidente da Câmara Municipal da Ponta do Sol juntamente com outros quadros da autarquia como um ataque ao Governo Regional e a si próprio em particular.

Mas que raio se passará na cabeça do Presidente do Governo Regional da Madeira para considerar a detenção de pessoas suspeitas de corrupção no exercício das suas funções como uma afronta à sua pessoa...


terça-feira, 12 de outubro de 2004

 

Quem te avisa...

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Em recente entrevista ao Diário de Notícias, António Pires de Lima declarou que caso o PSD não decida rapidamente qual a sua estratégia eleitoral para as próximas legislativas o CDS/PP passará a ser «mais interventivo» e assumirá «um discurso mais solto e autónomo, tendo em conta o ciclo eleitoral que se aproxima».

O PSD que se cuide!!!


 

Quem cala consente?

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Ouvi com atenção a comunicação do Primeiro-Ministro ao país.

Resisto à tentação de me referir à falta de "contraditório" a seguir à peroração de mais de 15 minutos de Santana Lopes.

Resisto até, a muito custo, à tentação de me referir ao gel.

Mas reparo que o Primeiro-Ministro diz não ter responsabilidades na concentração da propriedade nos órgãos de comunicação social.

Pois não. Nem ninguém disse que tinha.

Do que o acusam é de os pressionar.

Esperei, por isso, e porque esta comunicação foi marcada no auge do "Caso Marcelo", que nalguma parte do seu discurso Santana Lopes negasse essa pressão.

Não o fez.

Quem cala consente...?



segunda-feira, 11 de outubro de 2004

 

Pink Floyd

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A edição de Novembro da revista "Q" deu à banda de rock & roll PINK FLOYD o primeiro lugar!

Baseando-se no número discos e de bilhetes de concertos vendidos a "Q" escolheu os Pink Floyd como a maior banda de todos os tempos.

Para esta escolha foram decisivos o concerto da banda em Knebworth (mais de 125.000 fans), as vendas do álbum "The Wall" (mais de 23 milhões de cópias) e a permanência do álbum "The Dark Side of the Moon" nos tops de vendas durante 911 semanas.

Eis a listagem completa das bandas:

1. Pink Floyd
2. Led Zeppelin
3. Rolling Stones
4. U2
5. Queen
6. Dire Straits
7. Bruce Springsteen and the E Street Band
8. The Beatles
9. Bob Marley and the Wailers
10. Fleetwood Mac


(Mais em: http://www.pinkfloyd-co.com)

 

Blogosfera

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Talvez nunca venha a ficar completo qualquer estudo sobre a Internet ou sobre a "Blogosfera" em particular.

Talvez nunca se venham a conhecer os "mistérios" dos novos tipos de relacionamento, de amizade e até românticos que se criam por essas vias.

Exemplo máximo de inesgotável fonte desse relacionamento e dessas novas amizades, pela particularidade de que se reveste, só pode ser este:

Vareta Funda
(http://varetafunda.blogspot.com)

 

Marcelo

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Houve quem ficasse escandalizado por o Presidente da República receber em audiência um comentador televisivo. Também acho. Uma audiência com o Presidente não devia servir para qualquer mesquinhice.

A continuar assim, qualquer dia temos o quê? O Presidente a receber um político a fazer queixinhas do João Baião por fazer pouco dele, não?

(Roubado ao Gato Fedorento)

 

Coordenação

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Em discurso proferido num comício de campanha eleitoral nos Açores o Primeiro Ministro Santana Lopes prometeu que ia baixar o IRS e que os funcionários públicos iriam ser aumentados de acordo com a inflacção.

Embora há somente alguns dias o próprio Santana Lopes tenha dito que esses aumentos estariam dependentes da produtividade e embora o ministro das finanças Bagão Félix tenha dito não estarem reunidas as condições para qualquer redução dos impostos.

Presumo que esteja encarregado da "coordenação governamental" o ministro Rui Gomes da Silva.

 

A Feira dos Milagres

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Se por alguma coisa a História recordará o papa João Paulo II será, decerto, pela profusão de santos e beatos que criou durante o seu pontificado.

Centenas e centenas de defuntos, desde que reconhecidamente próximos das vizinhanças ideológicas da Igreja Católica, são perturbados no seu eterno descanso e têm sido chamados a responsabilizar-se por milagres vários, a maior parte dos quais relacionados com o exercício ilegal da medicina.

É assim que padecentes vários se têm livrado das piores maleitas, que lhes têm sido infligidas pelos insondáveis desígnios divinos.

Foi assim que a Divina Providência confiou ao papa a espinhosa tarefa de engendrar os mais variados milagres, desde que, obviamente, eles se revelem minimamente adequados à promoção da fé e à estupefacção dos crentes, e ainda que seja necessário recorrer à industrialização, pelos assombrosos números revelados.

Sim, porque fazer um santo dá um trabalho dos diabos! E nem todos se dão ao misericordioso trabalho de deixar pronto o seu processo de canonização para depois da sua própria morte, como fez o sempre notável José Maria Escrivá de Balaguer.

É assim que assistiremos muito em breve à canonização dos beatos Francisco e Jacinta Marto, revogadas que foram as determinações de Pio XI, que não autorizava crianças a fazer milagres.
E foi assim que assistimos à recente, e decerto merecida, beatificação do Imperador Carlos I da Áustria, responsável - comprovado que foi - pela cura das varizes de uma freira.


É impressão minha ou, ao longo da História, os primeiros a achincalhar a Fé das pessoas têm sido precisamente aqueles a quem estas confiaram a sua guarda...?

 

Roubado

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Nem de perto nem de longe pertenço à família política de Marcelo Rebelo de Sousa.

Não concordava com metade daquilo que ele dizia nos seus comentários dominicais na TVI.

Mas o que é facto é que me sinto... ROUBADO !

 

Preocupação ética

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Noticia o "Expresso" que o Governo - motivado, decerto, por uma inquestionável preocupação de ética política - vai legislar no sentido de impedir que os dirigentes partidários exerçam funções em empresas de sondagens.

Mesmo que Rui Oliveira e Costa seja o único português a quem esta lei se vai aplicar, o que não deixa de ser curioso.

Mas mais curioso, é que tanto Santana Lopes como Paulo Portas acumularam já funções de responsabilidade em empresas de sondagens enquanto exerciam responsabilidades político-partidárias - e isso nunca preocupou nenhum dos dois.

De facto, e como as últimas notícias indubitavelmente confirmam, no que concerne à Comunicação Social nenhuma preocupação de ética política aflige, afinal, o Governo.

Como parece ser inquestionável, o Governo está somente preocupado com aquilo que em primeiro lugar lhe é desfavorável na Comunicação Social: as sondagens!

 

Lembro-me de como tudo isto começou...

A actualidade política nacional tem-me feito lembrar de como tudo isto começou...

Lembro-me de quando Durão Barroso se demitiu.

Lembro-me da perplexidade com que assistimos, impotentes, ao desenrolar dos acontecimentos que se sucederam a essa demissão.
E para os quais, como se vivêssemos uma espécie de hiato na nossa democracia, os portugueses nada tinham contribuido.

Lembro-me de que após um resultado tão catastrófico como inédito nas eleições europeias o primeiro-ministro olhou os portugueses - olhos nos olhos - e nos disse que tinha “entendido a mensagem” que lhe tinha sido transmitida, logo prometendo "mais e melhor".

Mal sabíamos nós o que Durão Barroso queria dizer com estas palavras...

Lembro-me de como Durão Barroso esqueceu o que tão veementemente tinha dito de Guterres pouco mais de dois anos antes, não hesitando em refazer todas as interpretações que até então fazia do significado do “interesse nacional” com que vinha justificando o desastroso insucesso das políticas governativas que todos os portugueses há muito sentiam quotidianamente nas suas casas.

Lembro-me de como Durão Barroso não hesitou em fazer cair o governo de “salvação nacional” e a política de “interesse nacional”, em troca de um cargo para que fora indigitado, desde logo, com o duvidoso currículo de ser “o mal menor” ou o “menor denominador comum”, o que estranhamente lhe basta e o honra.
Mas que a dignidade do primeiro-ministro luxemburguês, por exemplo, havia recusado num piscar de olhos.

Lembro-me de então ver surgir, num passe de mágica, uma espécie de sucessão dinástica que nos foi imposta sem apelo nem agravo.

Lembro-me de ver Durão Barroso oferecer o país de bandeja a quem, como passado político, somente cabia a honra de ser o animador de serviço dos congressos do seu partido e, como sua grande obra, de ser o plantador-mor de palmeiras nas praias da Figueira da Foz, tendo sempre entendido o desempenho de cargos públicos como meros trampolins para as suas ambições pessoais.

Lembro-me, como se em democracia não coubesse ao cidadão eleitor eleger e despedir os seus governantes, de como com uma arrogância inaudita e com a maior displicência, ambos abandonaram os cargos para que tinham sido eleitos, renunciando a honrar os mandatos que tinham assumido para com os seus eleitores, impondo-nos uma espécie de promoção de presidente da câmara a primeiro-ministro, esquecendo e deixando a capital do país no maior descalabro que esta já viveu.

Lembro-me de como foi então passada esta batata quente para as mãos do Presidente.

Jorge Sampaio foi pela primeira vez em dois mandatos confrontado com uma situação que não admitia consensos: ou agradava a gregos ou a troianos.
Os seus poderes constitucionais e a inquestionável legitimidade que os mesmos lhe conferem, permitiam-lhe dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas ou, pelo contrário, convidar novamente o partido maioritário para formar governo.

No entanto, Jorge Sampaio escolheu – em consciência, o que se respeita – a última destas opções.

Mas ao fazê-lo o Presidente esqueceu que, também ele, foi eleito com base num certo e determinado programa político – foi nele que a esquerda votou e não a direita – por quem conhecia as suas ideias políticas e ideológicas e prefigurou e confiou nas suas opções e escolhas políticas e que, com esse “contrato” político, lhe confiou o seu cargo.

Por isso, Sampaio não só violou grosseiramente os compromissos eleitorais que assumiu com quem em si tanto confiou política e ideologicamente, mas compactuou com uma espécie de colégio eleitoral, composto por meia dúzia de notáveis partidários, completamente destituídos de legitimidade constitucional e democrática, mas que se acharam competentes para, como numa monarquia, apadrinhar a sucessão encomendada de um primeiro-ministro.

Mas Sampaio ignorou também que é Presidente num regime constitucional semi-presidencialista – e não parlamentarista – fazendo dos seus próprios poderes uma interpretação restritiva, reduzindo-se a si próprio a uma "rainha de Inglaterra" que tem de conformar-se com os jogos político-partidários de bastidores e acatando, conformado, as sucessões dinásticas vindas de dentro dos comités partidários, e correndo até o risco de esvaziar de sentido político a eleição presidencial por sufrágio directo e universal.

Mas, muito principalmente, teria competido ao Presidente conhecer o seu país, auscultá-lo, sentir o seu pulsar, e decidir de acordo com todos esses sinais – incluindo os resultados eleitorais de três semanas antes – e não somente de uma pretensa estabilidade política parlamentar, já absolutamente desconforme com a concreta realidade política e social.

Lembro-me ainda de pensar que o interesse nacional exigir-nos-ia o benefício da dúvida ao actual governo - e ao próprio Primeiro-Ministro - ainda que do interior do partido que parlamentarmente o suporta se ouvissem acusações de favorecimento de amigos, de companheiros de percurso, de clientelas partidárias e até de inexplicáveis privilégios ao partido de coligação.

E lembro-me também de esperar que o Presidente da República não ficasse refém do poder executivo e não viesse a ser responsabilizado ou acusado de cumplicidade em eventuais erros ou insucessos do governo, pois até a sua futura demissão seria, em primeira análise, a confissão expressa – e tardia – do tremendo erro presidencial.

Lembro-me de pensar que já bastava estar o Presidente politicamente refém da incomensurável desilusão – de que ele próprio está bem ciente – que causou em quem em si tanto confiou.


Lembro-me, de facto, de lhe ter concedido o benefício da dúvida...


domingo, 10 de outubro de 2004

 

Random Precision

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Shine On You Crazy Diamond

You reached for the secret too soon,
You cried for the moon.
Shine on you crazy diamond.
Threatened by shadows at night,
And exposed in the light.
Shine on you crazy diamond.
Well you wore out your welcome
With random precision,
Rode on the steel breeze.
Come on you raver, you seer of visions,
Come on you painter, you piper, you prisoner, and shine!

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