quinta-feira, 28 de outubro de 2004

 

O bode expiatório

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«Primeiro eles vieram atrás dos comunistas
E eu não disse nada porque não era comunista.
Depois vieram atrás dos judeus
E eu não disse nada porque não era judeu.
Depois vieram atrás dos sindicalistas
E eu não disse nada porque não era sindicalista.
Então vieram atrás de mim
E já não havia mais ninguém para falar por mim».


Esta citação de Martin Niemöeller, que esteve preso nos campos de concentração de Sachenhausen e Dachau de 1938 a 1945, foi retirada do Blog "Do Portugal Profundo" onde têm sido revelados alguns pormenores do processo "Casa Pia".

Como relata o "Correio da Manhã", eram 7h00 quando dois agentes da Polícia Judiciária de Leiria, acompanhados por um procurador adjunto do Ministério Público bateram à porta de António Caldeira, autor daquele Blog, e lhe apreenderam o computador, cd’s, disquetes e alguns documentos.
Esta busca à sua residência e a subsequente apreensão, foram determinadas no processo crime em que António Caldeira foi constituído arguido, e a quem foi imputado o crime de desobediência por ter desrespeitado a proibição da reprodução das peças processuais ou documentos incorporados no processo Casa Pia.
Professor universitário em Alcobaça, António Caldeira estranha esta acusação já que ela pressupõe que conhecesse os autos o que, afirma, não corresponde à verdade.
E promete desde já continuar a alimentar o seu Blog.
Toda a história, contada na primeira pessoa, está - aqui.

Confesso que fiquei chocado com esta notícia!
Como é óbvio, nada tenho a criticar a qualquer iniciativa policial ou jurisdicional que vise punir os autores de uma infracção criminal, qualquer que ela seja.
Mas já questiono que – quem sabe se apenas para mostrar serviço – se procure agora um bode expiatório.
Ainda por cima nesta delicada ocasião que se vive em Portugal, com declarações ministeriais a propósito de «cabalas involuntárias» dos meios de comunicação ou dos «limites à independência» destes.

O que é facto é que o Ministério Público e a P. J. sistematicamente se "esquecem" de investigar quais as verdadeiras fontes, as origens e os autores das sucessivas violações ao segredo de justiça, antes preferindo perseguir quem, no final, apenas relata a história - sejam jornalistas sejam simples autores de blogs.

De facto, não me consta que qualquer funcionário do D.I.A.P. que tenha estado ligado ao processo da Casa Pia e, muito menos, Adelino Salvado e mais as suas inenarráveis cassetes, tenham sido constituídos arguidos em qualquer processo crime ou que tenham sido submetidos a qualquer busca nas suas residências.

Simples coincidência, claro...



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