sexta-feira, 31 de outubro de 2008

 

Intitular-se Católico



O Vaticano admitiu recorrer a testes psicológicos para avaliar os candidatos a padres com o objectivo de fazer um despiste de eventuais «desvios sexuais» dos seminaristas.

Pois é:
Enquanto acolhe no seu seio refugiados à justiça por crimes de pedofilia com mandatos de captura internacionais, recompensando-os até com elevados cargos honoríficos, o Vaticano vem agora tentar minimizar os prejuízos causados à sua santa imagem por incontáveis escândalos pelos membros do seu clero que um pouco por todo o mundo sofrem de «desvios sexuais».

Só que com estes testes psicológicos o Vaticano demonstra uma vez mais que para se ser um bom católico desde logo e em primeiro lugar é preciso ser também um bom tarado sexual.
E pensar que o sexo não é da natureza humana e é antes algo de pecaminoso, sujo e aviltante.

Porque, pelos vistos, o Vaticano pretende também impedir a entrada no sacerdócio de heterossexuais que tenham «desejos sexuais» ou que «mostrem evidências de que têm dificuldade em cumprir o voto de castidade», sem sequer perceber que as pessoas a quem isso não acontece são precisamente aquelas que padecem de… «desvios sexuais».

Mas o Vaticano pretende ainda impedir a entrada de quem demonstre «uma identidade sexual incerta» ou «grandes tendências homossexuais» sem explicar, claro está, o que seriam, por exemplo, «pequenas» tendências homossexuais.

O que bem prova outra coisa muito mais relevante: é que o Vaticano não conseguirá nunca libertar-se dos seus preconceitos imbecis e dos seus milenares e tradicionais sentimentos de homofobia e misoginia.
Porque uma vez mais fica demonstrado que a Igreja Católica é uma instituição que oficialmente segrega e discrimina os seres humanos em razão do seu sexo e da sua orientação sexual.

Uma coisa é certa:
Ainda vou conseguindo entender como é que tantas pessoas ainda acreditam em deuses ou noutras entidades ou seres mágicos e imaginários, nem que seja por mera simplicidade ou somente por preguiça mental, se essas lendas paleolíticas lhes são encasquetadas na cabeça desde crianças.

Mas, de facto, nunca conseguirei entender como é que alguém, depois de conhecer estas políticas do Vaticano e que seja dotado de um mínimo de sentimentos de ética, de decência e de humanidade, pode continuar a intitular-se… católico.


quarta-feira, 29 de outubro de 2008

 

O verdadeiro sentido político



Noticia o «Público» que os sindicatos e os movimentos profissionais dos professores planeiam unir-se para marcarem para o próximo dia 8 de Novembro uma manifestação única de protesto que demonstre a “revolta” dos docentes contra as políticas do Ministério da Educação.

Mas afinal em que consiste esta revolta dos professores contra o Ministério da Educação?

Uma coisa é certa:
Os sindicatos e estes «movimentos de professores» nunca perdoarão a este Governo a afronta de ter reduzido o número de sindicalistas pagos pelo Estado não para dar aulas mas para «desenvolverem actividades sindicais», de 1.300 para somente (vejam só, coitados!) pouco mais de 400.

Mas uma simples consulta ao sempre esclarecedor site da «Fenprof» tira-nos todas as dúvidas.
O motivo da manifestação é bem simples: pretende-se pura e simplesmente reagir contra as intenções do Ministério da Educação no que se refere à «avaliação de desempenho dos professores e educadores, os seus horários de trabalho, a fractura na carreira, a grande instabilidade profissional, o regime de concursos e as alterações que o ME pretende, mais uma vez, impor».

E pronto:
Cá temos uma vez mais uma classe profissional em luta porque não se conforma com o facto de alguém ousar avaliar o seu desempenho ou impor-lhe um horário de trabalho.
Talvez porque os professores pensem que estão acima de tudo isso e adquiriram uma espécie de direito a flutuar etereamente acima das restantes classes profissionais deste país.

O que é lamentável é que os professores não percebam que a avaliação de desempenho de uma classe profissional não a insulta: só a prestigia!

E que não percebam que o imenso prestígio de que a sua profissão goza - e que é indubitavelmente merecido – e que as imensas dificuldades e agruras profissionais que são bem patentes, e vêm até demonstradas todos os dias nos jornais, não os torna imunes ou isentos de uma avaliação profissional séria e competente, mas antes a exige com maior acuidade.

E quando se esperava que os professores acordassem para esta realidade e contribuíssem para o seu próprio prestígio com propostas alternativas concretas e precisas que melhorassem o sistema pretendido pelo Ministério da Educação, e que deixassem de falar somente em si próprios e começassem finalmente a falar dos alunos, eis que vemos os professores uma vez mais arrastados cegamente pelos seus sindicatos que vão «encetar outras formas de luta», e lá temos mais uma manifestação que pretende voltar à rebaldaria dos bons velhos tempos dos 1.300 sindicalistas e aos dias de folga semanais, e pôr fim a essa coisa horrível que são as aulas de substituição.

Mas alguém pensará que isto prestigia os professores?

Mas mais lamentável ainda é que os professores não se apercebam das verdadeiras motivações dos seus sindicatos e dos seus movimentos profissionais.
Porque essas motivações não são profissionais. Já nem sequer são corporativas.
Não pretendem prosseguir os interesses dos professores ou pugnar pela sua dignidade profissional.
E os interesses dos alunos nem sequer são para aqui chamados, claro.

As verdadeiras intenções são, sim, meramente políticas.
Quem o diz são os próprios sindicatos, que face a este carneirismo acrítico dos professores já não hesitam em arrogar-se intérpretes de todos eles, e proclamam com o maior dos desplantes:
«Os docentes perceberam o verdadeiro sentido político do dia 8 de Novembro».

Não, não é verdade: de facto, os docentes não perceberam nem de perto nem de longe o verdadeiro sentido político do dia 8 de Novembro.

Senhora ministra: por favor não desista!


segunda-feira, 27 de outubro de 2008

 

A Tribo Mais Primitiva



Na sua homilia do «Diário de Notícias» o beato César das Neves brinda-nos esta semana com uma extraordinária prédica a que dá o título de «Brecha na Muralha da Civilização» e em que se dedica a falar do casamento e do divórcio.

Claro está que o beato César das Neves do Menino Jesus é contra o divórcio, e a sua indignação transparece claramente nas verruminosas palavras que dedica aos políticos que «decidem usar a lei para atacar a civilização» e que «deduzem a necessidade de enfraquecer o laço legal» que consagra a vida conjugal.

O abominável César das Neves não se poupa a esforços na sua defesa dessa coisa «consagrada» que é a vida conjugal e arrasa por completo «as instituições e regulamentos que deixam de apoiar e suportar a cultura para passarem irresponsavelmente a promover a barbárie».

Decerto nunca se saberá se o César das Neves já nasceu assim, ou se isto é coisa que lhe foi encasquetada na cabeça em pequenino aos poucos, ao mesmo tempo que o seu fanatismo religioso.

Mas por que será que a fé religiosa tem sempre de ser sinónimo de uma manifesta falta de lucidez e, no caso deste abominável beato das Neves, tem mesmo de ser associada a um cretino misticismo?

Que alucinado inferno se passará pela cabeça de uma pessoa como o César das Neves que considera como um «ataque à civilização» e como uma «barbárie» não uma vida conjugal de violência doméstica e onde já não existem afectos, mas que ainda assim considera estranhamente como sendo «consagrada», mas já o considera uma lei de divórcio que lhe põe fim e que liberta de um relacionamento legal sem significado duas pessoas que já nada mais dizem uma à outra?

Quando se sabe que em Portugal só este ano já morreram 32 mulheres vítimas de violência doméstica, que espécie de insanidade religiosa será necessária para que alguém defenda que uma lei que permite a uma mulher que é abusada e seviciada, às vezes durante décadas, libertar-se do carrasco que tem como marido, é «uma selvajaria que penetra na sociedade e pratica terríveis devastações», e que tem mesmo o arrojo de comparar às leis que resultaram «na infâmia nazi e no holocausto judeu»?

Curiosamente talvez a resposta nos seja dada pelo próprio alucinado das Neves no último parágrafo deste seu panegírico à irracionalidade mais boçal, quando nos diz que «as nossas atitudes perante divórcio e promiscuidade, aborto e eutanásia, pornografia e prostituição horrorizariam até a tribo mais primitiva».

Porque o que este burgesso das Neves não nos diz é que essa tal «tribo mais primitiva» tem um nome: chama-se... Igreja Católica!


sexta-feira, 24 de outubro de 2008

 

No Bom Caminho



O gráfico aqui ao lado mostra a evolução da implantação das religiões (e das pessoas que não têm qualquer religião) na população dos Estados Unidos da América desde 1972 até 2006.

O que este gráfico demonstra é que mesmo num país em que é particularmente feroz a influência dos lobbies religiosos tanto nos assuntos de Estado como na vida quotidiana de toda a gente, é perfeitamente notório o crescente número de americanos que se afirmam ateus ou agnósticos, como é inegável a progressiva diminuição do número de pessoas que preferem refugiar-se no sossegado conforto da irracionalidade da fé a queimar os seus neurónios a pensar racionalmente.

Ao falar nisto era obviamente inevitável não deixar aqui o célebre lugar-comum: sim, «as sondagens valem o que valem!».
Mas «valendo o que valem» todas as sondagens, seria bom que as pessoas meditassem nalguns números.

É que nos países que temos por mais civilizacionalmente evoluídos e com um nível de vida sem qualquer possibilidade de comparação mesmo com os restantes países ocidentais, como sejam a Suécia, a Noruega ou a Dinamarca, a percentagem de pessoas que se afirmam ateias ascende a cerca de 80%.

Na Europa continental, não é decerto por acaso que os países com níveis de desenvolvimento normalmente mais baixos – Portugal e a Espanha – sejam precisamente aqueles com mais influência histórica da Igreja Católica.

Mesmo nos Estados Unidos da América, um fértil viveiro para fanáticos evangelistas, onde ainda perto de 80% das pessoas se afirmam teístas e onde metade destas acreditam piamente que Deus criou o mundo em 6 dias e para aí há coisa de 6 mil anos (e que pensam que os fósseis só existem porque Deus os espalhou pela Terra «para testar a nossa fé»), o que é facto é que a percentagem de ateus nos membros da Academia das Ciências Americana ascende a cerca de… 95%!

São boas as notícias que demonstram que, mesmo que ainda pouco a pouco, vamos no bom caminho.
E que provam claramente que neste mundo, onde as religiões são sempre sinónimo de ódio, de intolerância, de homofobia e de discriminação, é cada vez maior o número de pessoas que se libertam das grilhetas do primitivismo teológico que herdaram do nosso antepassado Neandertal.



quinta-feira, 23 de outubro de 2008

 

Votar sim, mas com muita fé!





terça-feira, 21 de outubro de 2008

 

Da Paz à Justiça



«Da Paz à Justiça» é um artigo do meu amigo Pedro Múrias, que tenho o imenso privilégio de aqui poder publicar:


Tal como a guerra é o maior dos horrores, a paz é o valor político fundamental.
As civilizações monoteístas, que nos constituíram, declaram-no com intensidade. Ao cumprimentarem-se, judeus e árabes dizem «a paz esteja contigo». O cristianismo mantém as mesmas palavras em orações.

Podemos pensar em sociedades estruturalmente bélicas em que o valor fundamental não fosse a paz, mas a vitória. Essas sociedades devem ser-nos radicalmente estranhas.
O pensamento político não podia deixar de ter a paz como tema central.
A guerra de todos contra todos, contrapô-la Hobbes ao mal necessário do monstro Leviatã que é o Estado. A paz perpétua é o objectivo expresso de Kant para os seus princípios do direito internacional e do direito público. A paz empresta valor à lei, à ordem e à soberania.
É certo que a paz preparou muitas vezes a guerra, mas essa é a dificuldade geral de as ideias se realizarem.


A paz, neste sentido literal e prosaico de ausência de guerra, é suficiente para a prosperidade de um povo. A fome e a doença são, a longo prazo, contingências naturais menores, progressivamente debeladas pelo trabalho e pelo conhecimento.
A paz é, pois, o bem-estar e a felicidade possível da maioria das pessoas. Fazem-lhe excepção as aberrações frequentes mas historicamente pouco duradouras de opressão generalizada, resultado normal de domínios imperiais, de totalitarismos ou da ocasional insensatez ou loucura de um monarca.

Mas mesmo um império opressor se converte com o tempo, se o tiver, numa pax romana geradora de riqueza. Neste sentido, as nossas sociedades pacíficas não são melhores para os seus membros do que as sociedades pacíficas de há duzentos ou dois mil anos. Vive-se bem numas e noutras.
É duvidoso que tenha sido significativo para a maioria das pessoas o progresso político. Foi muito mais importante o progresso técnico e económico, o «progresso» sem adjectivos.
Hoje mais do que nunca, em muitos lugares, é difícil entender que progresso político poderia ainda ser desejado.


As sociedades pacíficas mantiveram no seu interior espaços de opressão e sofrimento. Não o espaço dos fora-da-lei verdadeiros, postos voluntária ou coercivamente fora da sociedade, mas o espaço em que a própria lei enclausurava servos e párias.
Os vencidos na guerra, os infiéis, os bárbaros, os de outra cor, os miseráveis, os deficientes, as prostitutas, os homossexuais ora foram transformados em escravos de um senhor ou de uma terra, ora simplesmente afastados dos cidadãos plenos e, no mais dos casos, periodicamente perseguidos.

A imaginação humana ainda criou sofrimentos e opressões ao sabor do absurdo dilecto de cada lugar: canhotos, anões, mudos, cegos, nómadas, órfãos, viúvas, mães solteiras e filhos de condenados têm o seu lugar na história da injustiça, com destaque variável.
Inseparáveis destas são as distinções mais complexas entre nobres e plebeus ou entre homens e mulheres, que engendraram uma subordinação geralmente compatível com privilégios, salvo rebeldia, mas por vezes suficiente para a mais pesada opressão. Estes sofrimentos e subordinações conservaram-se em sociedades pacíficas e ordenadas, regidas pela lei, soberanas e prósperas.


A justiça política exige, portanto, mais do que a paz. E sugere inclusive actos contrários à paz, actos de revolução. Pela revolução ou pela reforma, os valores que quiseram acrescentar-se à paz foram a liberdade e a igualdade.
São valores impossíveis de realizar e impossíveis até de conceber de um modo não circular que mereça concordância. A sua tradução como democracia pode ser corrompida como império do número, reduzindo-se de novo à paz do mais forte.

O processo do voto não é suficiente. Liberdade, igualdade e democracia só podem ser compreendidas como clamores por justiça, a justiça processual da decisão por todos do que a todos toca, mas também a justiça substancial da supressão dos espaços de sofrimento e subordinação com que as sociedades podem tristemente viver em paz.
O ideal político da democracia, que temos de assumir, é o ideal de eliminar leis absurdas que oprimem e subordinam, em favor de uma lei acolhedora e dignificante de todos. É um projecto revolucionário sem revolução, mas que a cada momento há-de surpreender e chocar ao propor mudanças no que parece imutável.
A paz é a justiça política mínima da estabilidade, a democracia é a justiça ambiciosa da acção.


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

 

«Ortodoxia Secularista»



Com este brilhante título João Carlos Espada escreve no «Expresso» deste fim-de-semana um artigo que lhe deve ter custado uma fortuna a publicar (que eu não acredito que alguém lhe pague para escrever tamanhas baboseiras), e onde uma vez mais demonstra que pertence àquele tipo de pessoas que pensa que para conseguir demonstrar e dar como verdadeira a maior das imbecilidades, lhe basta fazer uma citação de um idiota qualquer que antes dele já disse mais ou menos a mesma coisa.

Desta vez o Espada dedica-se a papaguear Robert P. George, um professor de Princeton conhecido pelo seu conservadorismo alucinado e que tem como principal referência biográfica ser consultor de bioética de… George W. Bush!

Então, e uma vez que já pode citar alguém, o Espada dedica-se desta vez a defender a ideia do “equívoco” de que a liberdade e o pluralismo ocidentais possam assentar numa “neutralidade moral”.
Mas atenção: o próprio Espada acaba por reconhecer que esta neutralidade tem uma “motivação nobre” e nela reside a repulsa face à intolerância e à imposição arbitrária da vontade de uns indivíduos sobre os outros».

Mas… ah! O pior é que esta coisa da repulsa da intolerância e da imposição arbitrária, diz o Espada, não são razões suficientes para ignorar «as fragilidades do neutralismo».
Como demonstrar esta cretinice, então? Oh! Nada mais simples: mesmo que não venha a propósito cita-se Karl Popper e tudo isto passa de repente a ser um belo axioma.

Mas para já há aqui um esclarecimento prévio a fazer:
Se há conceitos que se vão desgastando à luz da sua própria cretinice, não é por isso que há gente que deixa de os defender. Vai daí, muda-se-lhes os nomes… e começa-se tudo de novo.

Já assim foi com o criacionismo e o «desenho inteligente».
Certamente depois de ter lido uma citação disto (provavelmente no Reader’s Digest) o Espada decidiu ir pelo mesmo caminho: angustiado por um imenso complexo de inferioridade por não ter inteligência suficiente para deixar de ser teísta, já uma vez tinha inventado uma coisa chamada «racionalismo dogmático»; agora, como achou que não lhe ficava lá muito bem defender o fim da laicidade do Estado, resolve chamar-lhe «ortodoxia secularista» e ataca-a sob o novo nome de «neutralismo», que é aquela coisa horrível e cheia de fragilidades que nos tem incutido essa abstrusa ideia que é a repulsa face à intolerância e face à imposição arbitrária da vontade de uns indivíduos sobre os outros.
De facto para o Espada isto deve ser uma coisa absolutamente horrível!

Reparemos no seu raciocínio, que é de facto brilhante:
Para o Espada, o «neutralismo» não consegue justificar-se a si próprio. Qual a justificação para o princípio de que não devemos aceitar a imposição arbitrária da vontade de um indivíduo sobre outro? É que esta justificação, à luz do próprio neutralismo, não poderia ser neutra.

E pronto: é com este belo jogo de palavras que o Espada pensa que de um só golpe deu cabo do «neutralismo», que é como quem diz da laicidade do Estado.
Coitado do Espada, nem sequer se apercebe que o argumento já tem tantas barbas como os seus próprios neurónios. Aliás, deve ser por isso que tanto tropeçam uns nos outros.

É o mesmo e velho argumento teísta de que discriminar outra pessoa, isso sim, é que é um direito fundamental dos cidadãos: porque proibir alguém de discriminar os outros seria uma discriminação e a discriminação é algo intolerável porque significaria a discriminação de alguém que quer discriminar, e já vimos que a discriminação é inaceitável…
Bonito, não é?

O que isto quer dizer é que pior que ser burro é ser fanático. Mas pior ainda é que o João Carlos Espada é as duas coisas.
Mais do que isso, o Espada é perigoso!

Porque arrogando-se uma espécie de arauto do «moralismo» citador de autores que ele próprio não entende, o Espada dá por si a escrever coisas como esta:
«Tem de haver alguma valorização moral da pessoa individual e da sua consciência para justificar a oposição à imposição arbitrária da vontade de um indivíduo sobre outro».

Se o Espada fosse americano era muito bem capaz de se chamar Sarah Palin.
É por isso que o Espada e outros como ele são perigosos.
Porque o Espada é tão fanático que nem sequer se apercebe que esta coisa que ele afirma de que «tem de haver alguma valorização moral para justificar uma imposição» significa que o que o Espada quer verdadeiramente dizer é que quem possui essa tal «valorização moral» é… o Espada.

Mas mais: o Espada é tão burro que não se apercebe de que há uma pequena palavra inscrita no seu próprio texto que ele freudianamente esquece. É a palavra «arbitrária»!
Porque uma imposição pode sê-lo sem ser arbitrária, coisa que o Espada não percebe. Uma lei de um Estado democrático é imposta (por definição) mas não é (por definição) arbitrária.

O que o Espada nunca conseguirá entender é que um Estado pode muito bem ser «neutro» e «laico» sem ser arbitrário.
Mas para o Espada, desde que não defendam o que ele quer, todos os Estados são «arbitrários» e a sua neutralidade seria uma contradição nos seus próprios termos.
Que é como quem diz que a própria neutralidade seria… arbitrária!
Lindo!

Para o Espada, que pelos vistos defende o fim dessa coisa horrível que é «a repulsa face à intolerância» que provém da neutralidade, a solução ideal seria então acabar de uma vez com essa porcaria que é a laicidade do Estado ou a neutralidade do Estado, porque para o Espada isto significa a imposição arbitrária dessa neutralidade e isso é a imposição da vontade «de uns» contra a vontade «dos outros».

Para o Espada, o melhor mesmo seria então o contrário: isso sim, a imposição arbitrária da vontade «dos outros» contra a vontade «de uns».
Desde que o Espada, benza-o Deus, continue a pertencer «aos outros», está bom de ver…


sábado, 18 de outubro de 2008

 

Algumas palavras do princípio de uma carta



Um amigo que vive em união de facto homossexual há mais de 15 anos mandou-me a cópia do email que no passado dia 10 de Outubro enviou a todos os deputados da Assembleia da República, e que nesse dia iam votar as propostas de lei sobre o casamento homossexual.

Não vale a pena colocar aqui a carta toda. Bastará apenas reproduzir as suas palavras iniciais.
Que são estas:

«Exmºs. Senhores:
«Hoje é o dia em que os senhores vão decidir a minha vida…».


Basta isto, de facto…


quinta-feira, 16 de outubro de 2008

 

O Rego de Deus Nosso Senhor Jesus Cristo



Pelo «Arrastão» fico a saber que o Sr. João Rego de Carvalho, ilustre deputado do PSD à Assembleia Municipal de Odivelas, fez uma lindíssima declaração de voto numa moção sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Disse assim o tal Rego:
«O casamento é um sacramento instituído por Deus Nosso Senhor Jesus Cristo para ser celebrado entre um homem e uma mulher.
«E não é as ideias esquisitas que algumas pessoas, que entendo que têm uma formação deficiente, querem fazer impor à sociedade que vai alterar esta circunstância.
«Deus colocou no Paraíso um Homem e uma Mulher, não colocou dois paneleiros ou duas lésbicas»
.

A imbecilidade desta declaração está até acima de qualquer qualificação e só poderia provir mesmo de um lorpa como este Rego, eleito deputado municipal de Odivelas nas últimas eleições autárquicas pelas listas... da Igreja Católica.

Um Rego que deputa por aí que eu, por exemplo, tenho «ideias esquisitas» e «uma formação deficiente».
No entanto, é um Rego que revela uma alucinada perturbação mística que, quem sabe, não estará certamente dissociada de uma patológica disfunção decorrente de um Complexo de Édipo mal resolvido, ainda por cima com as dores atrozes que aquele cilício lhe deve causar, coitado.

Por isso, é impossível não associar esta indignidade a algumas das mais célebres declarações que até meados do século passado foram sendo proferidas a propósito do casamento inter-racial.
Como é por demais óbvio, trata-se de realidades diferentes. É verdade.
Mas também é verdade que, no fim, as discriminações são todas iguais e um imbecil é sempre um imbecil.

Na verdade, a iluminada declaração de voto deste ilustre e odivelense Rego, emérito intérprete das verdadeiras intenções de Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, em nada fica a dever à brilhante sentença proferida por um juiz do Estado norte-americano da Virgínia que em 1967 condenou Mildred e Richard Loving pelo «crime de casamento inter-racial».
Uma sentença que ficará para sempre na História como uma das maiores cretinices que podem alguma vez ser proferidas por um ser humano (passe a expressão), e que reza mais ou menos assim:

«Permitir o casamento entre pessoas de raças diferentes significaria necessariamente a degradação do casamento convencional, uma instituição que merece admiração em vez de execração»

«Deus todo-poderoso criou as raças branca, negra, amarela, malaia e vermelha e colocou-as em continentes diferentes. E se não tivéssemos interferido com esta disposição nem sequer estaríamos agora a falar de casamento entre pessoas de raças diferentes.
«O facto de ter separado as raças demonstra bem que Deus não queria que as raças se misturassem».

Uma coisa é certa:
Um dia, uma a uma, terminarão todas as discriminações, e a Razão e a Ética finalmente prevalecerão.
Talvez este tipo de gente devesse meditar no facto de que, nesse dia, todas as pessoas dotadas de um mínimo de humanidade e de decência pensarão sobre todos os «Regos de Odivelas» o que hoje já quase unanimemente pensam sobre aquele juiz da Virgínia.

Porque nesse dia será escrita a História das discriminações entre os Homens, e nela ficarão para sempre escritas as ignomínias em que energúmenos como este juiz da Virgínia ou este Rego de Odivelas têm vindo a chafurdar, e irracionalmente persistem em inscrever nas suas mais vergonhosas, abjectas e nojentas páginas.


terça-feira, 14 de outubro de 2008

 

«O Arquipélago da Insónia»



«Os livros deviam ter não o nome do autor mas o nome do leitor; o livro é escrito pelo leitor quando o está a ler. E até é lido por vários “eus” porque se eu leio um livro agora e se o vou ler daqui a um ano, já é um livro diferente…».


aqui tinha postado uma entrevista de Mário Crespo a António Lobo Antunes, a propósito, então, do lançamento do seu livro «O meu nome é Legião».
Um raro momento de televisão que bem demonstra que «a entrevista é a arte do silêncio do entrevistador, e é também uma capacidade de ouvir e de não brilhar à custa do entrevistado...».

Dessa memorável entrevista ficarei para sempre a recordar esta frase de Lobo Antunes:
«As minhas amizades foram sempre instantâneas: a gente conhece uma pessoa, e fica amigo de infância...».


Agora, desta vez a propósito de «O Arquipélago da Insónia», o novo livro de António Lobo Antunes, tenho uma vez mais o privilégio de poder aqui postar uma outra entrevista deste notável escritor (será no próximo ano que a Comissão Nobel o reconhece devidamente?) a Mário Crespo no «Jornal das 9» da SIC do passado dia 10 de Outubro.

Como não podia deixar de ser, e tal como então disse e se torna irresistível não repetir, trata-se de uma entrevista absolutamente imperdível, e que somente é possível quando se encontram um escritor, que é também uma personagem realmente notável, com um jornalista de excepção, e indubitavelmente um dos melhores jornalistas portugueses – e que tenho o imenso privilégio de contar entre os meus grandes amigos.


O Arquipélago da Insónia - Parte I


O Arquipélago da Insónia - Parte II


O Arquipélago da Insónia - Parte III


O Arquipélago da Insónia - Parte IV


segunda-feira, 13 de outubro de 2008

 

Imagine...







sexta-feira, 10 de outubro de 2008

 

4 ANOS!


O «Random Precision» faz hoje quatro anos.

É curiosa a coincidência de ser precisamente hoje que vão a votos duas propostas de lei no sentido da legalização do casamento homossexual.

E é curioso como é precisamente hoje que se vai assistir a uma rara concertação de indignidades na Assembleia da República portuguesa:
- A indignidade das propostas do Bloco de Esquerda e dos Verdes, que apresentam propostas que têm um único objectivo: ser derrotadas!
- A indignidade das propostas do Bloco de Esquerda e dos Verdes, que não hesitam em utilizar as pessoas nesta sua caça de dividendos político-partidários.
- A indignidade da proposta dos Verdes, que tem o despudor de levar consigo escondida para o Código Civil uma nova inconstitucionalidade, que neste momento nem sequer lá está.
- A indignidade da posição do P.S., que tinha na mão a oportunidade de retirar da nossa lei civil uma inconstitucionalidade terceiro-mundista, que ele próprio reconhece que existe e que se refere a direitos fundamentais dos cidadãos, mas com a qual estranhamente se conforma.
- A indignidade da posição política do P.S. que tem uma bancada e uma direcção que parecem uns meninos de coro saloios, que se deixam endrominar ingenuamente como crianças perante um chico-espertismo que há dois anos e meio que se anunciava.
- A indignidade da posição ética do P.S. a quem só resta andar por aí aos ziguezagues políticos e que agora nem sequer sabe para que lado se há-de voltar.

Mas tenhamos esperança que a coisa ainda lhes corra bem pior a todos:
- Para isso, bastará vir por aí, mais dia menos dia, um acórdão do Tribunal Constitucional que devolva aos cidadãos portugueses a constitucionalidade dos direitos fundamentais e a ética democrática que todos nós merecemos, e que ensine a toda aquela gente o verdadeiro significado do que é um Estado de Direito.

Até que isso aconteça, neste dia de aniversário é o «Random Precision» que oferece uma prenda a todos os deputados à Assembleia da República que hoje votarem as duas propostas de legalização do casamento homossexual.
- Tanto aos que votarem a favor, unicamente em nome de uma sabuja jogada de oportunismo político;
- Como aos que votarem contra, unicamente porque lhes falta coragem pessoal e honestidade política, ou porque simplesmente consideram que há critérios de oportunidade na implementação dos direitos fundamentais dos cidadãos.




quinta-feira, 9 de outubro de 2008

 

A indignidade da discriminação como doutrina oficial de uma Igreja



Vamos lá a ser claros, que já vai sendo tempo.
Nesta questão do casamento homossexual, onde talvez já tudo tenha sido dito, só há duas formas de abordar o problema:
- Uma forma estritamente jurídica;
ou
- Uma dissertação filosófica ou ideológica sobre o assunto.

Pois bem:
Se a discussão jurídica deveria ser a única com interesse para a questão – ou pelo menos deveria ser num Estado de Direito democrático (repare-se que entre outras coisas está pendente um recurso processual no Tribunal Constitucional) – de onde vem então esta autêntica infecção ideológica, onde de repente assistimos às mais diversas e rebuscadas teses que pretendem «justificar» como que uma espécie de excepção a um dos direitos fundamentais dos cidadãos, com dignidade de consagração constitucional?

Às vezes o tom de muito boa gente torna-se até curioso, e seria mesmo risível se não fosse tristemente preocupante. Assistimos a opiniões proferidas como se fossem "declarações referendárias", como que revestidas de uma espécie de direito de veto ou de eliminação deste ou daquele direito fundamental dos cidadãos.
- Eu sou contra, pronto! – dizem alguns com olhos doces, talvez pateticamente convencidos que é quanto basta para atirar para um campo de concentração jurídico e social um cidadão de um Estado de Direito.

Os motivos serão muitos, todos direitinhos e alinhados, e todos muito bem fundamentados do ponto de vista ideológico, filosófico, social, político e até, pasme-se, «institucional» para muita gente defender que aquelas duas últimas palavras «orientação sexual» que constam do nº 2 do artigo 13º da Constituição da República Portuguesa devem ser pura e simplesmente eliminadas «a caneta de feltro preta», e desapareçam para sempre do elenco dos direitos fundamentais dos cidadãos.

Claro está que esta gente não pensa que, aberto o precedente, a porcaria da «caneta de feltro preta» passa depois a andar de mão em mão.
E que no dia seguinte aparece por aí um Mário Machado qualquer a riscar do mesmo artigo da Constituição a palavra «raça»; depois aparece um Pinto Coelho qualquer a pintar as palavras «território de origem»; depois um Salazar qualquer a eliminar a expressão «opções políticas ou ideológicas»; e finalmente um Hitler qualquer a não gostar da palavra «religião».

E por que não?
Não terão todos eles os mesmíssimos motivos de quem começou por riscar as palavras «orientação sexual»? Não são esses motivos igualmente válidos e igualmente fundamentados por razões de ordem ideológica, filosófica, social, política e até «institucional»?

Qual então a razão para que pessoas que temos por democratas, humanistas, lúcidas e racionais apareçam de repente «de caneta de feltro na mão» e a gritar: - Eu sou contra!?

A resposta é revoltantemente simples:
Basta ir ver de onde vêm todas aquelas determinações ideológicas, filosóficas, sociais, políticas e até institucionais e que, seja voluntariamente ou de forma inconsciente, infectam de morte os mais básicos sentimentos humanistas e democráticos que muitas pessoas ainda tinham.

As «ordens» vêm de cima.
Vêm daqui: da «Congregação Para a Doutrina da Fé», que é o actual eufemismo do Vaticano para a «Santa Inquisição», de que este Papa idiota já foi lídimo presidente.

A simples leitura do texto intitulado «CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PROJECTOS DE RECONHECIMENTO LEGAL DAS UNIÕES ENTRE PESSOAS HOMOSSEXUAIS» fala por si.
Quase nem seria preciso citar estas pútridas e santas considerações:

«Se todos os fiéis são obrigados a opor-se ao reconhecimento legal das uniões homossexuais, os políticos católicos são-no de modo especial, na linha da responsabilidade que lhes é própria.
«Na presença de projectos de lei favoráveis às uniões homossexuais, há que ter presentes as seguintes indicações éticas.
«No caso que se proponha pela primeira vez à Assembleia legislativa um projecto de lei favorável ao reconhecimento legal das uniões homossexuais, o parlamentar católico tem o dever moral de manifestar clara e publicamente o seu desacordo e votar contra esse projecto de lei.
«Conceder o sufrágio do próprio voto a um texto legislativo tão nocivo ao bem comum da sociedade é um acto gravemente imoral»
.

De facto, realmente esclarecedor!

Pois é:
É precisamente daqui que vêm as solenes determinações (ainda que por vezes meramente subliminares) de quem se apressa a dizer «Eu sou contra!», e se acha então, pela graça de Deus, no legítimo direito de eliminar direitos fundamentais aos seus concidadãos.

Agora finalmente entendo o que pensa um parlamentar católico: antes de honrar o seu mandato popular, em vez de cumprir a Constituição da República, há primeiro que obedecer às obrigações da Santa Madre Igreja e às determinações da Santa Inquisição!
De facto, brilhante!

É nesta teologia nauseabunda, é neste vómito, é neste autêntico escarro ideológico que tem origem esta revoltante indignidade que é fazer parte de uma Igreja que tem a discriminação entre os seres humanos como sua doutrina oficial.


terça-feira, 7 de outubro de 2008

 

A Religião Comunista



Ninguém pode negar o papel que os partidos comunistas desempenharam ao longo da História do século XX.
Em muitos países, como em Portugal, durante muito tempo os comunistas foram os únicos que de forma sistemática e organizada lutaram contra as ditaduras, frequentemente com o risco das suas próprias vidas.
Por vezes essa luta ficou associada a uma imagem de poética e utópica liberdade, e durante décadas arrastou ideologicamente jovens sonhadores e filósofos «progressistas» que remavam contra as marés de governos empedernidos em conceitos velhos de séculos.

Que pena que não tivesse sido só assim.
Aos poucos foi-se conhecendo o banho de sangue com que a utopia soviética nasceu e se foi afirmando.
Aos poucos o sonho foi-se dissipando, à medida que se ia conhecendo o pesadelo e o horror dos campos de concentração, dos Gulags, dos hospitais psiquiátricos em que se internavam os que ousavam discordar, desde que tivessem a sorte de não ser sumariamente fuzilados.

Só que ao longo dos tempos muitos não queriam acreditar naquilo que se passava à frente dos seus próprios olhos: tudo isso era falso e não passava de uma infernal invenção propagandística da C.I.A.
Ao Muro de Berlim virava-se a cara para o lado, e dizia-se que aquela imensa vergonha de betão servia somente para proteger o povo trabalhador da República Democrática da Alemanha das investidas reaccionárias do capitalismo americano.

A exportação da «Revolução Soviética» foi primordial para mostrar que a utopia não passava de um pesadelo banhado em sangue: estratégicos tratados políticos com Hitler, o massacre dos bosques de Katyn na Polónia, a Hungria em 1956, a Primavera de Praga em 1968, a invasão do Afeganistão ou as chacinas impiedosas do camarada Agostinho Neto são meros exemplos do que foi fazendo com que tantas pessoas abandonassem o barco e quisessem demarcar-se pessoal e filosoficamente de um regime e de uma ideologia suportada pelo sangue de milhões de pessoas e pelas dolorosas deportações de muitas mais.

Em Portugal não foi diferente.
Mas, infelizmente também, nem toda a gente pensou assim.
Ao longo de décadas, o Partido Comunista Português foi-se mantendo numa empedernida cegueira de apoio, não só implícito, mas tantas vezes inequivocamente explícito, a esta loucura sanguinária.
A este persistente e anquilosado fanatismo, como foi o típico caso de Álvaro Cunhal, alguns chamam-lhe, pasme-se, «coerência»!
Como se a teimosa imutabilidade na estupidez fosse assim uma espécie de virtude.

Como se não bastasse, o PCP resolve arrogar-se o «dono do 25 de Abril», com o qual nada tem a ver a não ser com o insano PREC que conseguiu implementar logo nos dias seguintes. Invocando uma espécie de «autoridade moral» revolucionária e uma espécie de dever de defesa «das conquistas de Abril e da Reforma Agrária» os comunistas vão tocando a mesma «cassete» e pensam que ainda estamos nos tempos em que se nacionalizava a imprensa, os bancos, as seguradoras, as empresas de transportes, enfim todos os sectores produtivos do país, para que passássemos a viver numa espécie de idílico paraíso em que ninguém precisava de trabalhar nem de produzir.
Ao fim e a cabo se o dinheiro está nos bancos e os bancos pertencem ao povo, para quê trabalhar?

A visão retrógrada dos «malefícios do capital» nem sequer os deixa ver a irracionalidade em que vivem. Mal souberam que a fábrica da Opel na Azambuja poderia fechar por falta da produtividade desejada, o que fizeram os sindicatos afectos ao PCP? Trataram de saber como podiam aumentar essa produtividade? Como poderiam evitar o fecho da fábrica? Não: a primeira coisa que fizeram foi anunciar «que iriam enveredar por outras forma de luta» e marcaram imediatamente uma greve.
E a fábrica fechou, e centenas de trabalhadores ficaram desempregados.

E assim vão vivendo o Partido Comunista e os comunistas portugueses, entre declarações sucessivamente emendadas sobre as virtudes do regime da Coreia do Norte e o idílico paraíso dos campos de concentração cubanos.
Confrontados com esta insanidade, os comunistas fazem o mesmo que vão fazendo há décadas: fingem que não vêem.
E é assim que em pelo século XXI, num país ocidental que vive uma democracia em crescente consolidação ainda há pessoas que, ao mesmo tempo que persistem em ver em cada empresário «um inimigo do povo», recusam pronunciar-se sobre os regimes torcionários da China ou de Mianmar e defendem expressamente as tácticas assassinas do Hezbollah e do narco-terrorismo das FARC.

E é assim que na Assembleia da República de um país de democrático - aliás um Órgão de Soberania que nem sequer existiria se tivesse vingado em Portugal uma ideologia comunista - assistimos a um P.C.P. que se arroga um progressismo de pacotilha, porque enquanto propõe uma lei que conduz à igualdade do casamento homossexual, tem a indignidade, a hipocrisia e a autêntica desonestidade intelectual de propor uma outra (alteração ao artigo 1.979º do Código Civil) que pretende distinguir os cidadãos casados em razão da sua orientação sexual no seu acesso à adopção, enquanto bem conhece a grosseira inconstitucionalidade que isso constitui.

Porque este P.C.P. não passa de um conjunto de bandalhos que vota contra uma proposta de condenação pela escalada de violência no Tibete, que vota contra uma proposta de regozijo pela libertação de Ingrid Betancourt, que vota contra um voto de pesar pela morte do escritor russo Alexander Soljenitsin (aqui brilhantemente acompanhados pelo Bloco de esquerda), que foi prémio Nobel da literatura e um dos principais denunciadores das políticas torcionárias do camarada Estaline, e que vota até contra uma proposta de congratulação pela detenção de Radovan Karadzic.

Não admira que assim seja, simplesmente porque o Partido Comunista Português há muito que vive numa utópica irracionalidade, e que não tem sequer uma ideologia política.
Porque o Partido Comunista Português há muito que não é um partido político: é uma religião!


domingo, 5 de outubro de 2008

 

O Papa é Católico?



Na «TSF» e no «Correio da Manhã» podemos ler que uma vez mais o Papa Bento XVI voltou a afirmar a total condenação do uso do preservativo e de todos os métodos artificiais de contracepção.
Os casais que usam métodos anticoncepcionais «estão a negar a verdade do amor conjugal», diz “o Santo Padre”.

E Bento XVI só admite que as relações sexuais, mesmo dentro do casamento, não tenham como objectivo único a procriação se existirem «circunstâncias graves» que levem a adiar o nascimento dos filhos.
Nesse caso só existe uma solução:
- Respeitar os ritmos naturais de fertilidade da mulher.

Quer isto dizer, então, que um casal que não queira ter mais filhos deixa de ter «circunstâncias graves» que lhe permitam recorrer ao método da contagem dos dias de fertilidade da mulher para terem relações sexuais. E então, pelos vistos, acabou-se o sexo! Acabou-se o pecado!

Talvez esteja aí a explicação para o ar alucinado com que tanta gente se passeia por aí na rua. Talvez seja mesmo essa a explicação para algumas das mais peregrinas ideias que vemos alguns líderes políticos andarem por aí a defender.

Mas o Papa é um aldrabão!

Porque o Papa sabe bem que uma coisa é certa: o preservativo é o método mais eficaz para combater a infernal disseminação da SIDA que se verifica em todos os cantos do nosso planeta.

Por que motivo, então, o Papa persiste em proibir o uso do preservativo e usar a sua influência e o seu ascendente espiritual sobre milhões de pessoas nesse sentido, quando sabe bem que se os usasse em sentido oposto poderia salvar literalmente milhares de vidas?

Diz o Papa que o uso do preservativo é «negar a verdade do amor conjugal».
Mas isso é só mais uma das mais despudoradas aldrabices de quem pensa que para se ser um bom cristão é preciso ser também tarado sexual.

Na verdade, se a proibição do uso do preservativo, apesar de contribuir para a disseminação da SIDA, se justifica catolicamente com a «verdade do amor conjugal» porque impede a procriação, mas se ao mesmo tempo a doutrina católica permite como método contraceptivo a contagem dos dias de infertilidade da mulher, então… por que motivo não aconselha o Papa o uso do preservativo nem que fosse somente nesses precisos dias de infertilidade da mulher e quando de facto não impede a procriação, mas só que desta vez unicamente para impedir a propagação da SIDA, ao menos nesses dias?

A resposta é simples: o Papa não o faz porque é um hipócrita imundo!
Porque, bem acima dos valores da vida humana, para este Papa e para os seus cúmplices neste autêntico genocídio ainda estão meia dúzia de dogmas imbecis proclamados por pastores analfabetos da Idade do Ferro.


sexta-feira, 3 de outubro de 2008

 

Uma questão de oportunidade





quinta-feira, 2 de outubro de 2008

 

Gay Christian





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