segunda-feira, 27 de outubro de 2008

 

A Tribo Mais Primitiva



Na sua homilia do «Diário de Notícias» o beato César das Neves brinda-nos esta semana com uma extraordinária prédica a que dá o título de «Brecha na Muralha da Civilização» e em que se dedica a falar do casamento e do divórcio.

Claro está que o beato César das Neves do Menino Jesus é contra o divórcio, e a sua indignação transparece claramente nas verruminosas palavras que dedica aos políticos que «decidem usar a lei para atacar a civilização» e que «deduzem a necessidade de enfraquecer o laço legal» que consagra a vida conjugal.

O abominável César das Neves não se poupa a esforços na sua defesa dessa coisa «consagrada» que é a vida conjugal e arrasa por completo «as instituições e regulamentos que deixam de apoiar e suportar a cultura para passarem irresponsavelmente a promover a barbárie».

Decerto nunca se saberá se o César das Neves já nasceu assim, ou se isto é coisa que lhe foi encasquetada na cabeça em pequenino aos poucos, ao mesmo tempo que o seu fanatismo religioso.

Mas por que será que a fé religiosa tem sempre de ser sinónimo de uma manifesta falta de lucidez e, no caso deste abominável beato das Neves, tem mesmo de ser associada a um cretino misticismo?

Que alucinado inferno se passará pela cabeça de uma pessoa como o César das Neves que considera como um «ataque à civilização» e como uma «barbárie» não uma vida conjugal de violência doméstica e onde já não existem afectos, mas que ainda assim considera estranhamente como sendo «consagrada», mas já o considera uma lei de divórcio que lhe põe fim e que liberta de um relacionamento legal sem significado duas pessoas que já nada mais dizem uma à outra?

Quando se sabe que em Portugal só este ano já morreram 32 mulheres vítimas de violência doméstica, que espécie de insanidade religiosa será necessária para que alguém defenda que uma lei que permite a uma mulher que é abusada e seviciada, às vezes durante décadas, libertar-se do carrasco que tem como marido, é «uma selvajaria que penetra na sociedade e pratica terríveis devastações», e que tem mesmo o arrojo de comparar às leis que resultaram «na infâmia nazi e no holocausto judeu»?

Curiosamente talvez a resposta nos seja dada pelo próprio alucinado das Neves no último parágrafo deste seu panegírico à irracionalidade mais boçal, quando nos diz que «as nossas atitudes perante divórcio e promiscuidade, aborto e eutanásia, pornografia e prostituição horrorizariam até a tribo mais primitiva».

Porque o que este burgesso das Neves não nos diz é que essa tal «tribo mais primitiva» tem um nome: chama-se... Igreja Católica!




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