quinta-feira, 30 de março de 2006

 

Mera Coincidência



Talvez com uma única excepção (no caso de um casamento celebrado sob o regime da comunhão geral e em que um dos cônjuges recebeu uma herança ou doação que não quer repartir com o outro cônjuge que é culpado pelo divórcio) não existe já em Portugal qualquer necessidade de um divórcio ser obtido pela via litigiosa.

Desde que ambos os cônjuges estejam determinados em divorciar-se, podem perfeitamente optar pela simplicidade e pela economia do divórcio por mútuo consentimento.

Para tal, basta que ambos os cônjuges simplesmente relacionem os bens comuns do casal, que acordem na regulação do exercício do poder paternal dos filhos menores, no destino da casa de morada de família (não a sua propriedade, mas o direito a ali residir) e na prestação de alimentos, se deles carecerem.

Talvez seja impressão minha, mas parece-me inequívoco que cada vez mais se está a vulgarizar a moda entre alguns ilustres advogados de fazer depender a anuência dos seus clientes no divórcio por mútuo consentimento da partilha antecipada de determinados bens comuns do casal.
Isto apesar de, como é óbvio, a partilha por divórcio só poder fazer-se... depois do divórcio.

E, de facto, se na pendência do casamento nada impede que de alguma forma se resolvam questões patrimoniais, também não há nada que justifique impedir a concretização de um divórcio por mútuo consentimento e dos acordos que lhe estão subjacentes por causa de uma questão perfeitamente lateral como é a partilha que se vai realizar somente depois desse mesmo divórcio.

Ainda hoje deparei com mais um desses casos:

A minha cliente intentou divórcio litigioso contra o marido.
Convocados para a audiência de tentativa de conciliação, levei preparados os acordos necessários à convolação do processo para mútuo consentimento.
Aliás, a separação de facto que se verifica há quase dois anos iria facilitar o acordo, pensei:
A minha cliente, ela própria, anuía em atribuir a casa de morada de família ao marido (que nela reside), o poder paternal do menor (que com ela sempre viveu) ser-lhe-ia entregue, a minha cliente (que tem menores recursos) e o marido prescindiriam mutuamente de alimentos e relacionariam a casa da família como único bem comum que ainda subsiste.

Enganei-me redondamente!
A advogada do marido da minha cliente concordava com tudo.
Não queria era que o divórcio prosseguisse como mútuo consentimento...
Queria, ao invés, partilhar previamente a casa do casal, e ainda por cima em circunstâncias desfavoráveis para a minha cliente.
Como é óbvio, não houve acordo e o processo de divórcio lá prosseguiu como litigioso.
No final, a partilha far-se-á na mesma e, como é claro, em condições absolutamente normais.

Resta dizer que estou absolutamente persuadido de que tudo isto é mera coincidência e que o facto de os honorários que um advogado cobra por um divórcio litigioso serem significativamente superiores aos que cobra por um divórcio por mútuo consentimento, não tem absolutamente nada a ver com a decisão da minha ilustre colega...


quarta-feira, 29 de março de 2006

 

A Expulsão



Segundo o «Público», o ministro dos Negócios Estrangeiros Freitas do Amaral será recebido na próxima quinta-feira pelo seu homólogo canadiano para discutir «a repentina mudança de orientação» das autoridades do Canadá em relação aos portugueses que se encontram indocumentados.

É de louvar a pronta reacção da diplomacia portuguesa em defesa dos nossos compatriotas que se encontram imigrados no Canadá, a quem se deseja, obviamente, o melhor sucesso neste caso.
Até porque a decisão de expulsar os portugueses não estará desligada de uma política xenófoba (e até racista) bem típica dos governos de direita, como é actualmente o caso do Canadá.
Aliás, a ordem de expulsão formulada com apenas alguns dias de antecedência bem demonstra uma chocante falta de consideração e humanidade para com os imigrantes.
E isso, de facto, envergonha todo o povo canadiano.

Mas é também preciso ter em conta que os portugueses que agora receberam ordem de expulsão são precisamente aqueles que quando solicitaram o seu visto de permanência provisória no Canadá invocaram falsamente estar a ser vítimas de perseguição política e religiosa em Portugal.

O que, bem vistas as coisas, também não deixa de envergonhar todo o povo português...



segunda-feira, 27 de março de 2006

 

A Palhaçada



Uma das características mais peculiares do sistema judiciário português é sem dúvida a forma como se desenrola a prova testemunhal nas audiências de julgamento.

Seja em processos cíveis seja em crime, é absolutamente normal ouvirmos de alguém que vai testemunhar num julgamento dizer “eu cá vou pelo autor”, ou afirmar solenemente “aquele sujeito que nem pense que eu vou testemunhar por ele”.

Porque já não passa pela cabeça de ninguém achar que só vai depor a um julgamento para simplesmente dizer... a verdade.
Isso é que não!

Há sempre maneira de aldrabar aqui e além, de esticar um bocadinho aquilo que toda a gente sabe que é “a verdade” para favorecer um parente ou um amigo.
Uns mentem pelo Autor; outros mentem pelo Réu. E que ganhe o que mentir melhor...

De tal forma que a aldrabice é já uma realidade absolutamente institucionalizada na vida portuguesa.

E os Tribunais não são excepção. Muito antes pelo contrário:
Se há uma dificuldade no emprego, arranja-se logo um atestado médico.
Se alguém está em palpos de aranha com a justiça, pede a dois ou três amigos “para irem por ele” a tribunal. Basta um bom advogado para ensaiar o teatro, e a coisa está feita.

E a farsa está de tal forma generalizada e tão culturalmente enraizada, que já ninguém liga à fórmula do “jura que diz a verdade” que o juiz faz a testemunha repetir antes do depoimento. Muito menos à advertência solene que faz de que quem mentir comete o crime de falsas declarações.

E a patranha é já tão normal e corriqueira que já ninguém acha estranho que metade das testemunhas de um caso vão a tribunal só para mentir com quantos dentes têm na boca.
Num quarto de século desta vida, não vi até hoje em Portugal uma única testemunha ser sequer incomodada por ter aldrabado descaradamente um depoimento depois de ter solenemente jurado dizer a verdade.
Já ninguém liga: nem juizes, nem Ministério Público, ninguém.

Nem mesmo quando a coisa vai tão longe que se transforma numa autêntica palhaçada:

Tenho em mãos um caso que corre num dos juízos criminais de um tribunal dos arredores de Lisboa, em que represento quem apresentou queixa.
A certa altura a defesa apresenta duas testemunhas, obviamente ensaiadas. Mas de uma forma tão estúpida e incompetente e a contar uma história tão inverosímil, tão absurda e irrealista, que num ápice os seus depoimentos se desmoronaram em plena audiência.

Alguém pensa sequer que vai acontecer alguma coisa a estas testemunhas que juraram dizer a verdade e que foram advertidas de que se mentissem cometeriam um crime?
De facto, se nunca acontece nada a quem aldraba num julgamento, porque não aldrabar?

Embora estejam inequivocamente vinculadas pelo “Princípio da Legalidade”, que as obriga a tornar consequentes os crimes que lhes passam diante dos olhos, nem a juíza nem a procuradora do Ministério Público mexeram uma palha.
A Sr.ª Procuradora, continuou impávida e serena, e a interromper a audiência de julgamento a intervalos regulares para repetir que não prescindia da sua hora de almoço.

E quando requeri a passagem de certidões dos depoimentos das testemunhas perjuras, para contra elas intentar procedimento criminal, a juíza olhou para mim e encolheu os ombros com um ar absolutamente estupefacto, como se eu viesse de outro planeta.
Como se eu fosse um desmancha-prazeres, ou um Dom Quixote qualquer que quer acabar com a forma como toda a gente sabe que o circo funciona ou, sacrilégio!, quisesse de repente acabar com o número dos palhaços.

E também como se soubesse que, de qualquer modo, qualquer processo crime que eu levante contra as testemunhas só vai é dar trabalho e causar incómodos e chatices a toda a gente.
E que, no final, não vai obviamente dar em nada...


sexta-feira, 24 de março de 2006

 

A Consciência de Classe



Este é um despacho que recebi de um tribunal da Comarca de Lisboa.

E reza assim:
«Acumulação de serviço pela circunstância de ter deixado de laborar fora do período de horário normal, aderindo, assim, à deliberação, votada no dia 18-6-2005, em Assembleia Extraordinária da Associação Sindical dos Juizes Portugueses».


(clicar na imagem para a ampliar)



É, de facto, um país muito interessante este, onde os titulares de um órgão de soberania, no pleno exercício das suas funções, se submetem a deliberações sindicais...


quarta-feira, 22 de março de 2006

 

Adeus!



Foi uma invenção do Zé, claro está: andávamos pelas ruas ou dentro dos restaurantes à procura de pessoas com parecenças físicas com celebridades. Às vezes nem era preciso ser muita.
Quando encontrávamos alguém, segredávamos um ao outro:
- Olha o Bispo de Setúbal!
ou
- Olha o Alberto Costa!

E quando passávamos pelo desgraçado, cumprimentávamo-lo reverencialmente:
- Boa noite, Sr. bispo!
ou
- Boa noite, Sr. ministro!

Claro que nos pirávamos dali à pressa, deixando o homem de cara à banda, sem saber o que nos responder. Depois, olhávamos para trás, e ríamos que nem uns perdidos.

Está bom de ver que nos valíamos do nosso principal argumento: os dois juntos pesávamos mais de 250 quilos e medíamos quase quatro metros de altura.

Por isso mesmo não nos ensaiávamos nada em nos pormos atrás de um infeliz qualquer num centro comercial e seguíamo-lo juntos a 10 centímetros de distância com as mãos atrás das costas e com o ar mais descontraído do mundo, até o homem fugir dali, autenticamente em pânico.
Ou entrávamos numa loja de roupa e obrigávamos o empregado a desarrumar metade das prateleiras, numa procura inútil de alguma coisa que nos servisse.
Ou então, resolvíamos perseguir a alta velocidade por essa Lisboa fora um sujeito qualquer que tinha feito entrar no carro uma prostituta acabada de contratar numa esquina, e lá lhe estragávamos o arranjinho.

O Zé Ramos tinha este condão de me fazer regressar à infância.
Passávamos a vida a ver qual de nós inventava a brincadeira mais disparatada e depois ríamos como dois garotos de escola.

Mas ao mesmo tempo, o Zé era uma pessoa de uma honestidade escrupulosa e inabalável.
Depois de o conseguirmos livrar do vício do jogo, não descansou enquanto não pagou todas as suas dívidas. E porque algumas eram a “maleiros” do Casino Estoril, nem sequer tinha de as pagar se não quisesse.
Ainda assim, pediu-me para as negociar com todos eles, um de cada vez. Demorou alguns anos, mas pagou-as todas. Até ao último cêntimo.

Tinha um orgulho incomensurável na sua voz e no imenso talento com que a utilizava.
Quando íamos com ele a um estúdio, exibia-se inchado como um pavão, e explicava-nos com ar professoral como aquilo se fazia, e como se gravava logo ao primeiro “take” e no tempo absolutamente certo um intrincado texto de 4 ou 5 minutos.

Tinha um coração imenso, que nem os sucessivos “by-pass” tinham conseguido abalar.
Mesmo quando eu lhe dizia que se ia lixar, vi-o fechar os olhos e avalizar livranças para ajudar amigos enrascados. E depois, claro, pagava-as ao banco até à última.
E desabafava:
- Tinhas razão: aquele cabrão bem me lixou.
Mas não tinha coragem de lhes pedir o dinheiro de volta.

Durante bem mais das duas longas décadas em que partilhámos a nossa amizade, confiámos um ao outro os nossos mais inconfessáveis segredos, os nossos mais profundos sentimentos e os nossos mais recônditos sonhos. Que sempre soubemos que estavam mutuamente guardados a sete chaves.
Conversámos noites inteiras até ser dia.
Fazíamos planos malucos e falávamos dos amigos, de carros, de todo-o-terreno, de gajas, do filho dele, das minhas filhas, dos impostos, do Brasil, do sonho da rádio...

E chorámos juntos à beira da campa do Paulo Sampaio e Melo.

Mas como era teimoso que nem uma mula, fumava desabaladamente, cigarro atrás de cigarro.
Chaguei-o milhares de vezes para deixar de fumar.
Expliquei-lhe vezes sem conta como eu próprio tinha conseguido:
- É de repente, pá; é de um dia para o outro!
Mas em vão: quando falávamos em tabaco até parecia que fumava mais de propósito, aquele malandro.

Até que lhe foi diagnosticado um cancro.
E nem assim deixou de fumar!

Mas cumpriu pontualmente a medicação, que a Marília, com uma paciência de santa e uma dedicação sem fim, lhe punha à frente no minuto certo.

A quimioterapia deitou-o completamente abaixo.
Mas, ao mesmo tempo, deu-lhe uma réstia de esperança a que se agarrou desesperadamente.
E em que todos nós quisemos absurdamente acreditar.

Ao fim de algumas sessões chegou-me a dizer que estava a ganhar ao cancro por dois a zero.
Mas atenção, dizia ele: ainda é cedo para cantar vitória; o “câncaro” ainda pode ter o Mantorras no banco e fazê-lo entrar em campo à última da hora!

E foi mesmo o que aconteceu.

Fui vê-lo ao I.P.O. umas horas antes de ele morrer.
Falei com ele e ainda o desafiei para se pôr bom para irmos dar uma volta no jeep novo.
Riu-se, já sem ânimo e absolutamente ciente do seu estado.

Fui falar com o médico, que me disse no corredor que o Zé dificilmente sobreviveria àquela noite.

Quando voltei à enfermaria vi que à minha frente estava um Zé Ramos inapelavelmente derrotado pela doença.
E ele sabia-o.
Olhou para mim fixamente e disse-mo claramente com aqueles olhos que eu conhecia tão bem.
E sei que, ao mesmo tempo, entendeu perfeitamente o que lhe disse com os meus.

Fugi dali a maldizer a profunda imbecilidade que é o vício do tabaco. Meti-me sozinho no carro e às escondidas chorei descontroladamente no parque de estacionamento.

De facto, escassas horas depois o Zé Ramos estava morto.

Adeus, Zé.
Vai ser muito difícil encontrar alguém para te substituir naquela memória rápida do telemóvel.
Vou ter muitas, muitas saudades tuas.

Adeus, MEU AMIGO.



terça-feira, 21 de março de 2006

 

Zé Ramos






José Fausto de Matos Roberto Ramos
(10 de Julho de 1954 – 20 de Março de 2006)


sexta-feira, 17 de março de 2006

 

A Rebaldaria Madeirense



Por duas vezes votei em Jorge Sampaio.
Apesar de nunca me ter arrependido desse voto, houve várias decisões tomadas por Jorge Sampaio das quais discordei profundamente.

Uma delas, recordo, ocorreu durante o tempo em que ano após ano, durante o Verão, assistíamos ao vergonhoso espectáculo de desafio ao Estado de Direito que ocorria em Barrancos.
Alegando o precedente da tradição, algumas pessoas a que se convencionou chamar «a população de Barrancos» levavam a cabo touradas com touros de morte, com a impunidade que a cumplicidade das autoridades policiais todos os anos lhes assegurava, e com a falta de coragem política para solucionar convenientemente o problema.
Nenhum Governo soube lidar devidamente com esta barbárie e com este desafio à lei.

Até que o apoio presidencial de Jorge Sampaio à institucionalização desta «tradição» veio resolver este problema.
Pelo modo mais simples e tipicamente português, claro: legalizaram-se os touros de morte!


Mas numa outra situação também nunca pude concordar com a atitude do Presidente Jorge Sampaio.

Provavelmente por pura e simples falta de coragem, ou até, quem sabe, por ser pelos vistos adepto das touradas, Jorge Sampaio nunca se decidiu a intervir (ou sequer a pronunciar-se claramente) sobre o degradante espectáculo que de vez em quando nos chega não só do Governo Regional da Madeira e do seu carnavalesco presidente Alberto João Jardim, mas também da Assembleia Regional da Madeira e dos burgessos que ali passam por deputados regionais.


Mas a rebaldaria madeirense não parou!
No meio de perseguições políticas a jornalistas regionais que ousam escrever qualquer coisa que não agrade ao Bokassa da Madeira, depois da apresentação de um requerimento pelo PSD ao Presidente da Assembleia Regional no sentido de fazer submeter o deputado do P.S. João Carlos Gouveia a um exame às suas faculdades mentais, chegou agora a vez das ameaças físicas expressas aos deputados da oposição e dos insultos baixos e ordinários à deputada do Bloco de Esquerda Violante Saramago Matos.

Que a estrutura e os órgãos nacionais do P.S.D. vão continuar a fazer de conta que está tudo bem, isso já não me admira.
A coragem política e pessoal de Marques Mendes chegou a Isaltino Morais e Valentim Loureiro e foi um pau.

Mas agora temos um novo Presidente da República: Aníbal Cavaco Silva.
Um Presidente que nos afiançou que ia «acompanhar com exigência» a acção governativa e que ia pugnar por uma «estabilidade dinâmica» do país.

Por isso, cá fico à espera do que vai fazer Cavaco Silva a propósito desta sucessão de indignidades que todos os dias ocorre na Madeira.
E fico à espera de ver se o nosso novo Presidente vai efectivamente tomar alguma atitude para, de uma vez por todas, parar com esta autêntica pouca-vergonha nacional.

Ou se, pelo contrário, também ele não fará rigorosamente nada.

Uma vez mais por pura e simples falta de coragem, ou talvez, quem sabe, porque também ele goste de touradas...


quinta-feira, 16 de março de 2006

 

Para que não fiquem dúvidas...






quarta-feira, 15 de março de 2006

 

Desvario Bíblico



Do meu amigo «AdaS» recebi este texto, que não hesitei nem um segundo em publicar na íntegra.

Chama-se «Desvario Bíblico»
ou
«Um claríssimo resumo executivo da Bíblia para o homem que tem pressa».

Aqui vai:



Antigo Testamento:

Naquele tempo, Javé enviou um querubim a Lot e o querubim foi a casa de Lot e o conheceu várias vezes com brutalidade e a partir desse dia Lot teve fluxo da sua carne e sérios problemas de hemorroidal e ficou impuro até à tarde. Lot ungiu a cabeça de Asreth com uma pasta de leitaça e óleos do templo de Moloch e disse a Asreth: - que Javé o senhor teu Deus, que é uma coluna de nuvem, disse: - que o pastor não possua o seu boi mais do que doze vezes por dia e sacrificarás um bezerro de quarto em quarto de hora no Tabernáculo de Javé durante vinte anos e não cometerás abominação e honrarás a nudez de tua mãe e da tua tia e a sua nudez não descobrirás que abominação é e não roubarás a funda da hérnia de teu pai e o honrarás pondo a mão por baixo da sua coxa, a não ser que ele sofra de mal de fluxo. Aquele que tiver fluxo da sua carne não se apresentará na tenda do tabernáculo no altar de Javé e ficará imundo até à tarde. Do anho oferecerás a gordura no tabernáculo do Senhor, pois toda a gordura pertence ao Senhor e a fressura que está por baixo do nervo da coxa oferecerás no altar do Senhor e o anho não terá tumores. Isto disse Javé a Lot no Sábado e Lot temeu a palavra do Senhor e cobriu a sua face e verteu o seu sémen sobre a terra. Houve gemidos e ranger de dentes a noite inteira na terra de Gog e Magog e Javé enviou uma praga de gafanhotos a Lot por Express Mail, pois Lot levantara altares a Astarté em lugares altos e não respeitara o sábado e apanhou uma valente bezana e vomitou o tabernáculo todo depois de levar as filhas para a prostituição.


Novo Testamento:

Naquele tempo, Jesus conheceu a Sara, sua irmã e também a um homem chamado Inias e o conheceu também. Jesus subiu então ao Gólgota e disse aos discípulos e a um bêbedo que por ali andava: - Ide, dizei em Nazaré, que a casa de Ninive têm dez filhos e que nenhum honrará o seu pai e mãe e irmã e cunhada e tio e sobrinha e conhecerá Javé, pois este anda com uma coisa esquisita na cabeça que lhe dá umas pontadas do lado esquerdo e nas cadeiras e rins e não sabe como é que aguenta aquilo com uma reforma de vinte sete contos e quinhentos. E disse-lhes Jesus, “o homem cingirá a cilha de seu boi nove vezes antes que o rico entre na casa do meu Pai” e eles temeram a Jeová. Então, Elias, que era filho de Abedeu, que era filho de Zias, que gerou a Noad, que gerou a Ananias, que era pai de Zil profeta de Samaria e disse: bebamos vinho e nos deitemos com nosso pai pois a geração de nosso pai não continuará. E deram vinho a seu pai e coabitaram com ele e não teve conhecimento nem quando se deitou nem quando se levantou mas apanhou um fungo nos tomates e ficou imundo até à tarde. À tarde, foi Simão de Sirene que carregou a cruz de Jesus até ao Gólgota apesar de não ter nada a ver com aquilo e Jesus despregou-se porque os cravos eram de aço-do-povo de fabrico chinês e o MDF da cruz era manhoso e Jesus caiu de borco com os cornos no chão.



terça-feira, 14 de março de 2006

 

O Terceiro Passo



Chegou a notificação:

O Tribunal Cível da Comarca de Lisboa, que constitui a primeira instância de recurso do indeferimento o processo de casamento da Teresa e da Lena, confirmou a decisão do Conservador do Registo Civil.

A decisão judicial baseia-se fundamentalmente na ideia de que o casamento é um conceito unicamente heterossexual, tanto na sua formulação como também nas consequências que a lei prevê para os casamentos celebrados entre pessoas do mesmo sexo, que são na lei civil considerados juridicamente inexistentes.

Obviamente que essa mesma decisão judicial considerou que essa distinção não está ferida de inconstitucionalidade, ainda que reconheça a existência de uma proibição de discriminação em razão da orientação sexual, contida no artigo 13º da Constituição.
De facto, na sentença o tribunal admite a possibilidade da existência de «determinadas discriminações», entre as quais julgou caber a interdição da celebração de um contrato de casamento entre duas pessoas do mesmo sexo, mesmo quando este é definido como um contrato de natureza exclusivamente civil.

Foi imediatamente interposto recurso desta decisão judicial para o Tribunal da Relação de Lisboa.

segunda-feira, 13 de março de 2006

 

A Tradição Judaico-Cristã



A propósito de tudo e de nada, sou frequentemente confrontado com uma coisa curiosíssima a que se convencionou chamar «tradição judaico-cristã».
Com estas singelas palavras muita gente procura justificar dogmas e preconceitos envergonhados, que frequentemente não tem sequer coragem intelectual para assumir devidamente.
Com a recente mediatização da iniciativa do casamento entre pessoas do mesmo sexo, então foi um «ver se te avias».

Foi à procura do verdadeiro significado dessa tal tradição tão portuguesa que é a «judaico-cristã», que fui descobrir (in «Diário da História de Portugal», de José Hermano Saraiva e Maria Luísa Guerra) alguns relatos de acusações e prisões feitas pela Santa Inquisição em Portugal, entre os anos de 1553 a 1557, tudo devidamente registado e catalogado.
Decerto terá sido em nome dessa «tradição judaico-cristã» que, pelos vistos, hoje tanta gente pretende preservar e em nome de quem persiste em promover os seus valores pessoais (que sobranceiramente, alguns, consideram superiores aos valores dos outros), que tantos desgraçados foram presos, torturados e depois imolados pelo fogo.

As acusações e o clima de terror e de medo que deixam adivinhar na sociedade portuguesa da época, revelarão também, certamente, essa mesma «tradição judaico-cristã».
Eis alguns desses relatos:

- 20 de Setembro de 1553: António Correia denunciou Duarte Fernandes por não comer toucinho:
- 12 de Janeiro de 1554: Diogo Antunes, estudante dos jesuítas, disse que foi a casa de um calceteiro e que este tinha na parede uma estampa com um santinho com teias de aranha;
- 23 de Janeiro de 1554: Compareceu Gomes de Leão, que denunciou o licenciado António Gonçalves, que disse que gostava mais de forcas que de crucifixos;
- 6 de Junho de 1554: Compareceu Paula Gomes que denunciou o marido Pedro Gonçalves, que disse que não sabia se havia Cristo;
- 18 de Junho de 1554: Compareceu o ourives Pedro Rodrigues por ter dito que certas mulheres iam à romaria da Senhora da Luz menos por devoção do que por poucas vergonhas;
- 31 de Janeiro de 1555: Compareceu Baltazar Gomes, ourives, que denunciou um flamengo que não tirou o barrete quando passava diante da cruz;
- 9 de Março de 1555: O padre Luís Neto, capelão da Sé, acusou um inglês chamado Ricardo, que disse que o Papa canonizava os santos por dinheiro;
- 9 de Setembro de 1555: João de Paris, relojoeiro francês, denunciou o inglês Marcos, mestre da Nau, que disse que não era preciso rezar aos santos, bastava fazê-lo a Deus;
- 17 de Setembro de 1556: Graça Dória denunciou Mécia Vaz por dizer que no mundo só há nascer e morrer;
- 21 de Janeiro de 1556: André Pires, padre de Sarzedas, denunciou António Rodrigues por ter dito que Nossa Senhora era judia;
- 16 de Fevereiro de 1556: O jesuíta João Dício acusou o flamengo Reiner, lapidador de pedras, por ter dito que era mais virtuosa a vida dos casados que a dos religiosos;
- 26 de Março de 1556: Ascenso Fernandes, denunciou Pedro de Loreto, carpinteiro francês, por comer carne à sexta-feira;
- 22 e Abril de 1556: Francisco Gonçalves denunciou Rodrigues Álvares, escrivão, por vestir aos sábados pelote, calça preta, boas botas e roupão esverdeado, com pesponto de seda e alamares, ao passo que nos dias santos traz só gabão de mangas curtas;
- 10 de Julho de 1556: Fernando Afonso denunciou dois hereges de Ponte de Lima, que disseram que a hóstia era apenas pão;
- 4 de Agosto de 1556: Francisco Dias denunciou a mulher, dizendo que era judia;
- 11 de Janeiro de 1557: Gonçalo Pereira denunciou o mouro Cosme, de Sesimbra, por ter dito que Nossa Senhora não era virgem;
- 30 de Abril de 1557: Manuel Borges denunciou António Gonçalves por ter dito que dormir com uma mulher não era mal nenhum;
- 4 de Agosto de 1557: O licenciado Garcia Mendes de Abreu acusou um cristão-novo de dizer sobre a virgindade de Nossa Senhora o seguinte: «como é que se pode tirar a gema ao ovo sem o quebrar?»;
- 29 de Setembro de 1557: Compareceu Gomes de Abreu e disse o seguinte: «quando há dois anos a nau S. Bento vinha da Índia e naufragou, deram à costa do Natal e o denunciante disse “preze a Deus que me leve a terra de cristão para eu morrer lá”. E isto foi ouvido por Garcia de Cáceres, mercador de pedreiras, que respondeu: “para morrer, tanto faz cá como lá”».


Não há dúvida: a tradição é uma coisa muito bonita.
A tradição «judaico-cristã» principalmente...



sábado, 11 de março de 2006

 

A Verdade dos Factos



A Conferência dos bispos católicos dos Estados Unidos criou um site na Internet com o objectivo de repor a verdade dos factos sobre a doutrina e a religião católicas.

Tratando de temas tão diversos como o celibato de Jesus e a sua divindade, os evangelhos, Maria Madalena e até a Opus Dei, este interessante site«Jesus Decoded» – proclama-se «defensor da verdade» e indigna-se com aqueles que pretendem impingir crenças às pessoas sobre «coisas que elas nunca viram».

Com uma linha editorial como estas, poderíamos ser levados a supor que este site tão piedoso clama contra a fraudulenta e miserável exploração da crendice e da fragilidade emocional das pessoas levada a cabo por tantos charlatães por esse mundo fora.

Por isso mesmo, poderíamos pensar que um site criado pelos próprios bispos dos Estados Unidos se indignaria contra o autêntico escândalo que a Igreja Católica promove em Fátima, em Lourdes e em tantos outros santuários por esse mundo fora, unicamente com o fito de angariar fundos multimilionários para os sapatinhos vermelhos e para as comodidades e mordomias do Papa e do seu séquito de ociosos nababos que com ele coabitam no Vaticano.

Poderia até falar de exorcismos levados a cabo por padres fanáticos que desgraçam a vida a pessoas inocentes, ou da invenção de milagres para impingir aos crentes mais débeis a santidade de um qualquer facínora para mais tarde o promover a semi-deus.

Poderia ainda desmascarar a forma simplesmente abjecta como a Igreja Católica tem procurado ocultar o escândalo da pedofilia praticada pelo clero por esse mundo fora.

Mas não!

O site tem como único objectivo, pasme-se, «desmascarar» um livro de segunda categoria, o «Código da Vinci», da autoria de Dan Brown.
Sem perceber que se trata de um simples romance de aventuras, e incapaz de o proibir e de o queimar como «nos bons velhos tempos», a Igreja Católica está tão apavorada com o conteúdo do livro que nem vê o ridículo em que cai, com tantos desmentidos e até ameaças à sua publicação e à sua produção cinematográfica..

Como se, de repente, a interpretação mais ousada que um romancista faz da vida de Jesus Cristo e de um quadro de Leonardo da Vinci estivesse a pôr em causa toda a estrutura e os próprios fundamentos básicos da religião católica.

É uma preocupação tão grande que parece mesmo que, de súbito, a Igreja Católica finalmente se apercebeu da fragilidade e da inverosimilhança das patranhas que anda a impingir às pessoas há quase dois mil anos...





(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)


sexta-feira, 10 de março de 2006

 

O Primeiro Dia



Depois de tomar posse, o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva afirmou-se "emocionado mas também tranquilo".

Numa declaração aos jornalistas que não estava prevista no protocolo, Cavaco Silva admitiu não estar ainda habituado a ser tratado por Presidente, mas garantiu que irá aprender rapidamente.

Antes de revelar este surpreendente lado humano que ninguém ainda lhe conhecia, Cavaco Silva disse no seu discurso de tomada de posse que considera que o Presidente da República «deve acompanhar com exigência a acção governativa» e ainda que se deve empenhar decisivamente na promoção de uma «estabilidade dinâmica no sistema político democrático».

Durante os cinco anos que durará o seu mandato Cavaco Silva terá tempo de sobra para nos explicar qual a diferença que entende que há entre «acompanhar com exigência» e «acompanhar sem exigência».
Mas principalmente qual a diferença que existe entre «estabilidade dinâmica» e «estabilidade estática».

Talvez nem ele próprio saiba...


quinta-feira, 9 de março de 2006

 

O Sr. Presidente



Aníbal Cavaco Silva tomou hoje posse como Presidente da República de Portugal.

Como vai o novo Chefe de Estado exercer o seu mandato, ninguém sabe.
Ele não o disse a ninguém...

Não o disse nem aos que votaram nele, nem aos que não votaram.
Se lhe forem submetidas para promulgação leis que, por exemplo, prevejam a despenalização do aborto ou a legalização do casamento homossexual, ninguém pode prever que decisão Cavaco Silva vai tomar.

Apesar de provir de uma área político-partidária que se afirma contra ambas as leis, é até bem provável que Cavaco Silva as promulgue, ninguém sabe.
Mas se assim for, nessa altura é que eu me vou rir de quem votou em Cavaco Silva de olhos fechados.


quarta-feira, 8 de março de 2006

 

A Mulher Católica



O dia 8 de Março é o «Dia Internacional da Mulher».

Por isso, parece-me o dia ideal para recuperar este post, publicado no «Random Precision» há já alguns meses.
Aqui vai:

As principais religiões do mundo definem-se a si próprias como defensoras de princípios éticos de honestidade, de paz e de tolerância e amor ao próximo.
No entanto, o que é facto é que, na prática, TODAS ELAS – quer historicamente, quer ainda agora – acabam por ser acérrimas opositoras de quem não perfilha as mesmas ideias, ou de quem tão simplesmente pratica o culto ao seu Deus de modo distinto.

É mesmo das religiões que provêm os mais chocantes exemplos de intolerância e preconceito.
E, se a Igreja Católica Apostólica Romana não é excepção, ela caracteriza-se também pela mais profunda e abjecta homofobia e pela mais inqualificável misoginia.
Provavelmente mais ainda do que as restantes religiões.
Senão vejamos:

Logo nos princípios fundamentais das religiões cristãs, transmitidos directamente e sem intermediários pelo próprio Deus a Moisés, consta como mandamento: «não cobiçar a mulher alheia».
Ora, quer isto dizer que o próprio Deus reduziu a mulher a um mero e passivo objecto de cobiça, sem autonomia de vontade para a negar ou para lhe resistir.
E quer isto dizer que não resta ao homem outra alternativa para resguardar da cobiça alheia a mulher de que é “proprietário”, não a vontade da própria mulher (que a vontade da mulher não é para aqui chamada), mas somente o último recurso: a vontade divina.

E como a autoridade suprema só tem de legislar em função daquilo que é necessário e que é previsível que aconteça, nem sequer se deu ao trabalho de prever um mandamento que, reciprocamente, proíba a mulher de cobiçar o homem alheio.
Obviamente que a mulher não tem capacidade suficiente para levar a cabo uma tarefa tão masculina como é essa de «cobiçar».
Como está absolutamente fora de questão a própria mulher querer vir um dia... a ser cobiçada...

Na verdade, se alguma coisa é característica da Igreja Católica é o modo como a mulher é encarada como algo sujo e pecaminoso, um ser de segunda categoria e absolutamente desprovido de raciocínio, e que deve ao homem obediência cega.
O próprio celibato do clero não visa mais do que afastar todos aqueles santos homens, representantes de Deus na Terra, dessa coisa horrível que é a mulher, que só os distrai das sagradas tarefas de Deus e os aproxima inexoravelmente do pecado.
Principalmente desde o Século IV com Santo Agostinho (que deve ter sido um tarado sexual de primeira apanha), o próprio modo como a Igreja Católica encara o sexo – simplesmente como algo porco e um horrível pecado contra Deus – reflecte-se imediatamente no modo como é encarado o “objecto” desse sexo: a mulher.

Assim, como poderia a Igreja Católica permitir a ordenação dessa coisa suja e abjecta que é a mulher? A mulher nem sequer tem dignidade para ajudar à missa, quanto mais para ser padre!

Desde há séculos, a mulher não é mais do que o oposto polo aristotélico do homem, e não serve para mais do que, pela negativa, o afirmar positivamente.
Como o mal afirma o bem; como o negativo afirma o positivo.
E não são raros os exemplos históricos das mulheres que, por falharem nesse seu sagrado desígnio foram queimadas como bruxas.
Bastava que alguém desconfiasse que pensavam por si, ou que tão somente demonstrassem qualquer aptidão artística.

As próprias mulheres que se aproximaram de Deus, na pessoa de Jesus Cristo, são tratadas pela Igreja Católica com um machismo e uma misoginia que não se entende que ainda prevaleça e se aceite nos nossos dias.
Teria sido absolutamente normal que Jesus Cristo, afinal um homem, tivesse casado com Maria Madalena, a quem teria tratado como sua igual, e que teria sido sua fiel e confidente companheira.
E que o teria acompanhado nos momentos mais difíceis da sua vida. E que nunca o abandonou, nem mesmo na hora da sua morte.
Mas, como está absolutamente fora de questão que Jesus Cristo, Deus e filho de Deus, do alto da sua santidade de Espírito Santo se tenha alguma vez «conspurcado» pelo contacto com uma mulher, desde logo a Igreja Católica imediatamente reduziu a pobre Maria Madalena ao nível mais baixo do escalão mais baixo que já por si era como mulher: passou a ser uma prostituta.

Mas o exemplo mais paradigmático da misoginia da Igreja Católica é o que se passa com a própria mãe de Jesus Cristo, a Virgem Maria.
A Maria de Nazaré foi pura e simplesmente negado ser mulher.
E para que Maria pudesse ser mãe, mesmo sem ser mulher, foi então determinado que fosse virgem, obviamente por intermédio de um dogma, que é para não haver mais discussões.
De tal modo que ninguém se importou que com isso o carpinteiro com quem era casada fosse automaticamente transformado assim numa espécie de «corno manso», incapaz de consumar o seu próprio casamento.

Uma vez mais com a persistente ideia (que para mim é inegavelmente muito suspeita) de que o sexo não é uma coisa tão natural como comer ou dormir, mas antes uma coisa suja e pecaminosa, a Igreja Católica passou a tratar a mãe de Jesus como a «Virgem», a «Imaculada» ou outros impropérios do género, fazendo-a subir aos Céus toda ela, em alma e corpo, com hímen e tudo, sem sequer lhe dar direito a ter tido uma simples relação sexual na sua vida terrena.

Porque, para a Igreja Católica, depois de ter tido uma relação sexual a mulher nunca mais será a mesma e não serve já para mais nada.
Ao contrário do que acontece com o homem que, como toda a gente sabe, está acima dessas coisas.
Até o seu esperma é sagrado e não pode ser derramado inutilmente, sob pena de morte.

A mulher, não. Porque a mulher já foi «tocada». Já foi «suja». Já tem uma «mácula» que nunca mais sai.
E, nem que fosse só para ser mãe, uma mulher assim «manchada», já não poderia subir aos Céus.

Pois não é ter relações sexuais sinónimo de «pecar»?

E mais: assim numa coisa que parece muito próxima de uma vulgar e africana excisão ritual de clitóris, nem sequer foi dado a Maria de Nazaré o direito de subir aos Céus sem ter tido um orgasmo.
E agora é tarde, porque nos Céus não há cá dessas porcarias.

Porque, como é óbvio, Deus não quer.
Pois se Deus é pai, é filho e é espírito santo, então, e como toda a gente sabe, Deus... é HOMEM!

Uma coisa é certa:
nunca deixará de me surpreender como é que uma MULHER, digna desse nome e orgulhosa da sua condição, pode em plena consciência intitular-se CATÓLICA!




(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)


terça-feira, 7 de março de 2006

 

A Grande Cabala



Primeiro foi a primeira página do «Expresso» com aquela insidiosa sondagem a procurar demonstrar que a percentagem de homossexuais em Portugal ascendia a 10%.

Depois, ainda o país não se tinha refeito do choque, foi a iniciativa das lésbicas Teresa e Lena que se apresentaram numa Conservatória do Registo Civil para se casarem, já com alegações de recurso prontas e tudo, e mesmo a ver-se que já contavam com o indeferimento do processo.

Logo nesse mesmo dia foi a vez do Bloco de Esquerda apresentar um projecto de lei sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Na semana seguinte foi a vez da Juventude Socialista apresentar um projecto de lei precisamente com o mesmo objectivo.
Para a coisa não esmorecer, uns dias depois é entregue na Assembleia da República uma petição de iniciativa da ILGA, uma vez mais procurando a legalização do casamento homossexual.
Sempre com um calendário meticulosamente estudado, chegou depois a vez do P.E.V. entregar na Assembleia da República mais um projecto de lei, uma vez mais com o mesmo propósito.

E como se não bastasse, desta vez foi a afronta suprema: a própria indústria cinematográfica americana fez lançar dois insidiosos filmes sobre a discriminação e sobre o relacionamento homossexual entre dois homens, «Crash» e «Brokeback Mountain», e que até dividiram os “Óscars” do melhor filme do ano e do melhor realizador.

Claro que nada disto é por acaso!

Todas estas iniciativas, todos estes ataques aos verdadeiros valores ocidentais e à civilização judaico-cristã estão meticulosamente estudados, estão claramente enquadrados e fazem parte de uma gigantesca cabala, perpetrada por tenebrosas e poderosíssimas organizações internacionais.
À frente da qual ninguém tem dúvidas quem está: o lobby gay!!!

Mas o pior é que isto não vai ficar certamente por aqui.
O que estará esta gente a planear fazer a seguir?
É que enquanto não conseguirem o seu objectivo principal, que toda a gente sabe, é «virem a ser reconhecidos», "ELES" não recuam perante nada!

E para nos prepararmos, teremos certamente de temer o pior!
Até têm o apoio do corpo redactorial do «Diário de Notícias» e tudo!!!
Quem sabe o que vem agora aí? Que poderemos esperar?

Mas onde é que isto vai parar???
É que desta gente já nada me surpreende!!!

Qualquer dia ainda assistimos ao «outing» do José Manuel Fernandes, com anúncio em primeira mão no Blogue «O Acidental» (sob o olhar complacente e desta vez aprovador do Paulo Pinto Mascarenhas e com a solidariedade institucional do Rodrigo Moita de Deus), até mesmo antes de isso ser notícia de primeira página no «Público», com fotografia a cores de dois homossexuais de mãos dadas, e com a revelação em primeira mão dos nomes dos filhos menores dos intervenientes.

Ainda nos arriscamos a ver o Prof. Jorge Miranda a defender a inconstitucionalidade do casamento heterossexual, com o pretexto de que, afinal, é este tipo de casamento que mais tarde ou mais cedo conduz à poligamia.

Já nem me espantava se visse o próprio João César das Neves a dizer que o mandamento bíblico «amai-vos uns aos outros» deveria ser interpretado literalmente, isto é, com uma conotação inequivocamente homossexual, já que não diz «amai-vos uns às outras».

Sim: desta gente, tudo é de esperar!!!



 

Aqui mesmo ao lado...


... no «Advogado do Diabo»:

- A vez dos judeus conservadores


segunda-feira, 6 de março de 2006

 

David Gilmour



No dia 6 de Março de 1946 nasceu David Jon Gilmour.

David Gilmour é guitarrista e vocalista de uma das mais famosas bandas de Rock ’n Roll de todos os tempos, os Pink Floyd, de que fez parte juntamente com Syd Barrett, Roger Waters, Rick Wright e Nick Mason, e actualmente com estes dois últimos somente.
David Gilmour entrou para a banda em 1968 para substituir Syd Barrett, principalmente nos espectáculos ao vivo.
No entanto, acabou pouco tempo depois por tomar definitivamente o lugar de Barrett, após a sua saída do grupo.
David Gilmour é um guitarrista exímio, e compôs alguns dos mais famosos temas dos Pink Floyd, principalmente após a saída de Roger Waters.


Precisamente hoje é lançado em todo o mundo o último álbum de David Gilmour «On An Island».
Pelos excertos que pude já ouvir, é um típico álbum de David Gilmour, embora marque uma nítida evolução em relação aos seus dois trabalhos a solo anteriores: «David Gilmour» e «About Face».

Com uma sonoridade típica dos Pink Floyd dos últimos anos, este álbum é simplesmente fabuloso.

David Gilmour tem 8 filhos: 4 filhos da sua primeira mulher, Ginger, 3 filhos da sua actual mulher, Polly que por sua vez tem também um filho de um anterior casamento.
Para além de coleccionar aviões, que gosta de pilotar em shows aeronáuticos, e de fazer generosas doações para instituições de caridade, David Gilmour é também conhecido pelo seu sentido de humor.

David Gilmour contou-me que um dia, estando de visita aos Estados Unidos, encontrava-se com alguns amigos num bar.
De repente, aproximou-se dele um homem, já com alguns sinais de quem tinha bebido mais do que a sua conta, virou-se para ele e perguntou-lhe:
- Eu conheço-te, pá. Tu não és aquele gajo dos Pink Floyd?
- Sou! – admitiu.
- Eu sei o teu nome. Espera, não digas, deixa-me lembrar...
Fez-se silêncio por uns instantes, até que o homem exclamou:
- Já sei! És o Roger Waters, pá!!! Sou o teu fan número um!!! Dás-me um autógrafo?
David Gilmour não se desmanchou e disse-lhe:
- Acertaste! É isso mesmo! Claro que te dou um autógrafo.
E quando o homem lhe estendeu um papel para que lhe desse o autógrafo, David Gilmour escreveu com a sua melhor caligrafia: “Roger Waters”.
E lá foi o homem, feliz da vida...

sábado, 4 de março de 2006

 

A noção do ridículo



A reunião da Câmara Municipal de Cascais do próximo dia 6 de Março de 2006 adivinha-se, sem dúvida, muito animada e educativa.

De facto, a ilustre vereadora com a responsabilidade do pelouro da cultura, Ana Clara Justino (independente eleita pelo PSD), resolveu proporcionar ao executivo municipal uma lição sobre a Páscoa.

E já fez o trabalho de casa e tudo:
De acordo com a «Informação à Câmara» que já fez distribuir, a piedosa vereadora ensina-nos que «o cordeiro, a cruz, o pão e o vinho» são os símbolos que identificamos com a Páscoa.

E a lição continua:
«O cordeiro simboliza Cristo, sacrificado em prol do seu rebanho, a cruz mistifica todo o significado da Páscoa na ressurreição e no sofrimento de Cristo. O pão e o vinho oferecido aos seus discípulos, simbolizam a vida eterna, o corpo e o sangue de Jesus. Mas se perguntarmos a uma criança qual o símbolo que para ela mais se associa à Páscoa, facilmente adivinhamos a resposta: o ovo!»

E depois lá continua a dissertação, desta vez sobre os ovos na antiguidade, como podemos observar na imagem à direita.

(Clicar sobre a imagem para a ampliar, e de seguida sobre o ícone que aparecer no canto inferior direito).

Talvez não tenha ocorrido à senhora vereadora (isso teria sido para ela um ovo de Colombo) que o Estado português é laico por imposição constitucional.

A senhora vereadora esqueceu-se certamente que o cordeiro que ela toma como Deus ensinou há já dois milénios ao rebanho de que ela faz parte que «a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus».

E talvez a senhora vereadora não saiba que não lhe pagam um salário ao fim do mês, nem senhas de presença nas reuniões do executivo, nem lhe dão carro e motorista às ordens, para andar a espalhar a fé cristã pelo concelho.
Nem tem de andar a esbanjar os recursos financeiros da autarquia a evangelizar o munícipes.

Mas pior do que tudo: a senhora vereadora sabe muito bem que as crianças do concelho de Cascais não lhe fizeram mal nenhum, e não têm que ser martirizadas e sujeitas à tortura de ensinamentos iconoclastas e medievais, infligidas pelo próprio executivo da Câmara Municipal, que deveria ser o primeiro a respeitar o laicismo do Estado.

Mas, no fim, se virmos bem, há ainda outra coisa que falta à senhora vereadora:
A noção do ridículo!




(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)


 

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... no «Advogado do Diabo»:

- "E Vão Três!"


sexta-feira, 3 de março de 2006

 

Tudo na mesma!



Segundo a «TSF» e também o «Jornal de Notícias», o Tribunal Central de Instrução Criminal anulou a acusação proferida no processo crime em que está envolvido o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais.

O processo volta, assim, à fase de “inquérito” porque um dos arguidos contra quem tinha sido deduzida acusação, José Algarvio, nem sequer tinha ainda sido ouvido nessa qualidade pelo Ministério Público, mais exactamente pela procuradora Leonor Furtado, que tinha avocado e dirigido o inquérito.

Isto trocado por miúdos, quer dizer que vivemos num país em que é possível que um cidadão, que é arguido num processo crime cuja condução e direcção compete a uma magistrada do Ministério Público, seja formalmente acusado e enviado a julgamento... sem sequer ter sido ouvido.

É caso para perguntar o que vai acontecer agora.
Sim, é verdade: a acusação já foi anulada pelo Tribunal Central de Instrução Criminal.

Mas seria interessante saber o que vai ser feito para que não se repitam casos como estes, até porque não é a primeira vez que isto sucede.
De facto, até a mim já me passou pelas mãos um caso bem pior, em que foi deduzida (e até recebida) uma acusação formulada não contra o arguido, mas contra um dos advogados do queixoso cujo nome constava da procuração conjunta que estava no processo.
Uma “lamentável troca de nomes”, disseram-me. Mas o que é facto é que no dia do julgamento também ninguém tinha ainda sido ouvido.

Será que vai acontecer alguma coisa à ilustre procuradora do Ministério Público?
Vai ela ser responsabilizada disciplinarmente?
Que vai fazer este Procurador Geral da República?
Vai averiguar a competência da senhora?
Obviamente nada vai suceder!

Algum dia em Portugal um funcionário publico é responsabilizado pela merda que faz?

Talvez o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, António Cluny, tenha oportunidade de dizer à comunicação social algumas corporativas palavras de desagravo e de solidariedade para com a sua ilustre colega.

E depois tudo fica na mesma!


quinta-feira, 2 de março de 2006

 

O Lançamento Editorial do Ano



Vai ter hoje lugar pelas 18H 30M na Escola Secundária José Afonso, em Loures, o lançamento do livro «A Última Jóia», da autoria de Luís Fernando Rodrigues.


Um livro de memórias do autor, mas também um livro que nos relata “a História de Angola que ainda ninguém escreveu”.


«Uma Angola de ontem, vista pelos olhos de quem a viveu no passado e não a esqueceu».







 

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... no «Advogado do Diabo»:

- O «Público» parece a «Al Jazeera»


quarta-feira, 1 de março de 2006

 

Ave Maria, cheia de graça



Tom Monaghan ficou mundialmente conhecido quando decidiu vender a cadeia de restaurantes de que era proprietário nos Estados Unidos, a «Domino’s Pizza», pela bonita e simpática soma de mil milhões de dólares.

Aparentemente Tom Monaghan quis passar a ser o paradigma e o exemplo vivo do multimilionário que não sabe o que fazer ao dinheiro.
Mas como é um fervoroso e devoto católico, o bom do Tom Monaghan lá arranjou maneira de gastar uma boa parte da sua fortuna a investir no seu lugar no Céu, não vá o Diabo tecê-las quando chegar a altura de entregar a alma ao seu (dele) criador.

Segundo a «Newsweek», Tom Monaghan decidiu fundar uma cidade inteiramente nova que será localizada a sudoeste do estado americano da Florida.
O nome da cidade está já decidido e não podia ser mais apropriado aos objectivos que o beato milionário pretende atingir.
E já tem um site promocional na Internet e tudo!

A nova cidade terá o bonito e apropriado nome de... Ave Maria.

Será construída uma enorme catedral com mais de 30 metros de altura, e um crucifixo de 20 metros servirá de guia às 11.000 habitações cuja construção está projectada, e que só serão arrendadas ou vendidas a quem provar ser um bom católico.

Mas não é só a construção civil que já está planeada. Também a peculiar forma como Tom Monaghan interpreta e difunde o catolicismo e os respectivos valores ultra-conservadores terá reflexo no modo de vida dos habitantes da futura cidade.
Aliás o pio milionário nunca escondeu que pretende investir o seu dinheiro no mesmo sítio onde está a sua fé e sempre disse:
«Acredito que toda a História não é mais do que uma gigantesca batalha entre o bem e o mal. E eu não quero ficar à margem».

Provavelmente por isso fez uma doação de muitos milhões de dólares à Igreja Católica da Nicarágua para a reconstrução da catedral de Manágua que tinha sido destruída por um terramoto, embora não tenha dado um cêntimo sequer para a reconstrução das casas de centenas de milhar de pessoas que viviam miseravelmente e que tinham ficado sem abrigo.

Decerto atormentado e, sem sombra de dúvida, psicologicamente traumatizado pelo seu passado, já que foi educado em orfanatos por freiras católicas, coitado, Tom Monaghan, agora com 68 anos de idade, há muito que pretende vender o seu fanatismo religioso.
Fundou estações de rádio, escolas, uma pequena universidade e até uma faculdade de direito católica de onde estão neste momento a sair os primeiros advogados, cuja devota formação inegavelmente promete vir a dar que falar.

A nova cidade será, assim, um exemplo de virtudes católicas.
Para já, as farmácias da cidade serão impedidas de vender preservativos ou quaisquer contraceptivos, e será completamente proibida qualquer forma de planeamento familiar.
O aborto estará absolutamente fora de questão, quaisquer que sejam as circunstâncias.
A venda de artigos que possam ser considerados pornográficos ou pecaminosos será proibida.
Os programas que serão difundidos nos canais de televisão por cabo disponíveis na cidade serão cuidadosamente escrutinados.

Serão construídas capelas por toda a cidade em sítios estrategicamente estudados, de forma a que todas as pessoas se possam deslocar facilmente a pé para ir à missa.
Apesar disso, na catedral serão rezadas missas de hora a hora, sete dias por semana.

Numa altura em que nos Estados Unidos os fundamentalistas católicos tudo têm feito para tentarem substituir o estudo da teoria da evolução de Darwin pelo “criacionismo” nas Universidades americanas, também não é difícil de prever que tipo de ensino será ministrado em Ave Maria.
Até porque pelo menos um quarto dos professores serão membros do clero católico, e o ensino terá obrigatoriamente como primeiro objectivo incentivar os jovens a tornarem-se padres ou freiras.

Também não é difícil de prever que livros existirão nas bibliotecas e como será o quotidiano da cidade.
Embora mais triste seja imaginar como serão educadas as suas crianças...

Neste tempo em que tanto se tem falado em fundamentalismo islâmico, é curioso como os fanatismos religiosos, mais burqa menos burqa, mais Ave Maria menos Ave Maria, são, afinal, todos iguais.
E como é irresistível para todas as crenças, sejam elas quais forem, a tentação de procurarem tornar o Estado dependente das religiões.
E como é cega a sua persistência em determinar a vida das outras pessoas de acordo com os seus cânones, professem elas ou não a mesma religião.

Esta cidade será, pois, um gigantesco monumento ao fundamentalismo e ao fanatismo religioso.

O próprio Papa Bento XVI em pessoa tem manifestado interesse por Ave Maria, inteirando-se sempre que pode do avanço da construção da nova cidade.
O que, convenhamos, não é nada de surpreender...



(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)

 

Citações



«Os descendentes daqueles que odiaram Jesus, que o condenaram à morte, que o crucificaram e imediatamente perseguiram os seus discípulos, são culpados de excessos muito maiores que os dos seus antecessores... Satã ajudou a inventar o socialismo e o comunismo... O movimento para libertar o mundo dos judeus é um movimento de renascimento da dignidade humana. O Todo Poderoso e omnisciente Deus está por trás deste movimento»

- Padre Franjo Kralik: «Porque são perseguidos os judeus» - in Acção Católica Croata”, Maio de 1941.



«Deus, que dirige o destino das nações e controla o coração dos reis, deu-nos Ante Pavelic e inspirou o líder de um povo amigo e aliado, Adolf Hitler, para usar as suas tropas vitoriosas para dispersar os nossos opressores. Glória a Deus, a nossa gratidão a Adolf Hitler e lealdade ao nosso Poglavnik [fuhrer], Ante Pavelic.»

- Carta Pastoral de 1941 do Arcebispo de Zagreb Aloysius Stepinac, beatificado por João Paulo II em 1998.



Citações retiradas dos excelentes artigos da Palmira, “A Religião e o Holocausto”, publicados no «Diário Ateísta».


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