sexta-feira, 17 de março de 2006

 

A Rebaldaria Madeirense



Por duas vezes votei em Jorge Sampaio.
Apesar de nunca me ter arrependido desse voto, houve várias decisões tomadas por Jorge Sampaio das quais discordei profundamente.

Uma delas, recordo, ocorreu durante o tempo em que ano após ano, durante o Verão, assistíamos ao vergonhoso espectáculo de desafio ao Estado de Direito que ocorria em Barrancos.
Alegando o precedente da tradição, algumas pessoas a que se convencionou chamar «a população de Barrancos» levavam a cabo touradas com touros de morte, com a impunidade que a cumplicidade das autoridades policiais todos os anos lhes assegurava, e com a falta de coragem política para solucionar convenientemente o problema.
Nenhum Governo soube lidar devidamente com esta barbárie e com este desafio à lei.

Até que o apoio presidencial de Jorge Sampaio à institucionalização desta «tradição» veio resolver este problema.
Pelo modo mais simples e tipicamente português, claro: legalizaram-se os touros de morte!


Mas numa outra situação também nunca pude concordar com a atitude do Presidente Jorge Sampaio.

Provavelmente por pura e simples falta de coragem, ou até, quem sabe, por ser pelos vistos adepto das touradas, Jorge Sampaio nunca se decidiu a intervir (ou sequer a pronunciar-se claramente) sobre o degradante espectáculo que de vez em quando nos chega não só do Governo Regional da Madeira e do seu carnavalesco presidente Alberto João Jardim, mas também da Assembleia Regional da Madeira e dos burgessos que ali passam por deputados regionais.


Mas a rebaldaria madeirense não parou!
No meio de perseguições políticas a jornalistas regionais que ousam escrever qualquer coisa que não agrade ao Bokassa da Madeira, depois da apresentação de um requerimento pelo PSD ao Presidente da Assembleia Regional no sentido de fazer submeter o deputado do P.S. João Carlos Gouveia a um exame às suas faculdades mentais, chegou agora a vez das ameaças físicas expressas aos deputados da oposição e dos insultos baixos e ordinários à deputada do Bloco de Esquerda Violante Saramago Matos.

Que a estrutura e os órgãos nacionais do P.S.D. vão continuar a fazer de conta que está tudo bem, isso já não me admira.
A coragem política e pessoal de Marques Mendes chegou a Isaltino Morais e Valentim Loureiro e foi um pau.

Mas agora temos um novo Presidente da República: Aníbal Cavaco Silva.
Um Presidente que nos afiançou que ia «acompanhar com exigência» a acção governativa e que ia pugnar por uma «estabilidade dinâmica» do país.

Por isso, cá fico à espera do que vai fazer Cavaco Silva a propósito desta sucessão de indignidades que todos os dias ocorre na Madeira.
E fico à espera de ver se o nosso novo Presidente vai efectivamente tomar alguma atitude para, de uma vez por todas, parar com esta autêntica pouca-vergonha nacional.

Ou se, pelo contrário, também ele não fará rigorosamente nada.

Uma vez mais por pura e simples falta de coragem, ou talvez, quem sabe, porque também ele goste de touradas...




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