quarta-feira, 29 de outubro de 2008

 

O verdadeiro sentido político



Noticia o «Público» que os sindicatos e os movimentos profissionais dos professores planeiam unir-se para marcarem para o próximo dia 8 de Novembro uma manifestação única de protesto que demonstre a “revolta” dos docentes contra as políticas do Ministério da Educação.

Mas afinal em que consiste esta revolta dos professores contra o Ministério da Educação?

Uma coisa é certa:
Os sindicatos e estes «movimentos de professores» nunca perdoarão a este Governo a afronta de ter reduzido o número de sindicalistas pagos pelo Estado não para dar aulas mas para «desenvolverem actividades sindicais», de 1.300 para somente (vejam só, coitados!) pouco mais de 400.

Mas uma simples consulta ao sempre esclarecedor site da «Fenprof» tira-nos todas as dúvidas.
O motivo da manifestação é bem simples: pretende-se pura e simplesmente reagir contra as intenções do Ministério da Educação no que se refere à «avaliação de desempenho dos professores e educadores, os seus horários de trabalho, a fractura na carreira, a grande instabilidade profissional, o regime de concursos e as alterações que o ME pretende, mais uma vez, impor».

E pronto:
Cá temos uma vez mais uma classe profissional em luta porque não se conforma com o facto de alguém ousar avaliar o seu desempenho ou impor-lhe um horário de trabalho.
Talvez porque os professores pensem que estão acima de tudo isso e adquiriram uma espécie de direito a flutuar etereamente acima das restantes classes profissionais deste país.

O que é lamentável é que os professores não percebam que a avaliação de desempenho de uma classe profissional não a insulta: só a prestigia!

E que não percebam que o imenso prestígio de que a sua profissão goza - e que é indubitavelmente merecido – e que as imensas dificuldades e agruras profissionais que são bem patentes, e vêm até demonstradas todos os dias nos jornais, não os torna imunes ou isentos de uma avaliação profissional séria e competente, mas antes a exige com maior acuidade.

E quando se esperava que os professores acordassem para esta realidade e contribuíssem para o seu próprio prestígio com propostas alternativas concretas e precisas que melhorassem o sistema pretendido pelo Ministério da Educação, e que deixassem de falar somente em si próprios e começassem finalmente a falar dos alunos, eis que vemos os professores uma vez mais arrastados cegamente pelos seus sindicatos que vão «encetar outras formas de luta», e lá temos mais uma manifestação que pretende voltar à rebaldaria dos bons velhos tempos dos 1.300 sindicalistas e aos dias de folga semanais, e pôr fim a essa coisa horrível que são as aulas de substituição.

Mas alguém pensará que isto prestigia os professores?

Mas mais lamentável ainda é que os professores não se apercebam das verdadeiras motivações dos seus sindicatos e dos seus movimentos profissionais.
Porque essas motivações não são profissionais. Já nem sequer são corporativas.
Não pretendem prosseguir os interesses dos professores ou pugnar pela sua dignidade profissional.
E os interesses dos alunos nem sequer são para aqui chamados, claro.

As verdadeiras intenções são, sim, meramente políticas.
Quem o diz são os próprios sindicatos, que face a este carneirismo acrítico dos professores já não hesitam em arrogar-se intérpretes de todos eles, e proclamam com o maior dos desplantes:
«Os docentes perceberam o verdadeiro sentido político do dia 8 de Novembro».

Não, não é verdade: de facto, os docentes não perceberam nem de perto nem de longe o verdadeiro sentido político do dia 8 de Novembro.

Senhora ministra: por favor não desista!




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