segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

 

A Perda Total


No mesmo dia em que passou à reserva, já em 1990, o sargento ajudante Simões pegou nas economias da sua vida e comprou um carro novo: um Fiat Uno 60 SL azul escuro, lindo de morrer.
Mais de catorze anos depois o carro ainda parecia saído do stand. Para já, porque tinha ainda somente 39.000 quilómetros e não tinha passado uma única hora estacionado sem a cobertura de oleado cinzenta. Depois, porque impreterivelmente todos os sábados, o Sr. Simões o lavava, encerava e aspirava. De 6 em 6 meses, mudava-lhe ele próprio o óleo e o filtro.
É bem certo que a sua reforma de pouco mais de 140 contos não lhe permitia comprar mais nenhum: mas aquele carro era o seu orgulho e já fazia parte da família.

Até que um dia, o sargento ajudante Simões saiu com a mulher, os dois em fato domingueiro muito orgulhosos no seu carro imaculadamente limpo, aquele motor a ronronar como um gatinho, para dar uma vista de olhos ao novo centro comercial em Alcochete.
Qual quê! Mal tinham andado umas centenas de metros, estavam eles parados num semáforo, entrou-lhes um safado pela traseira!
O sargento ajudante Simões não conseguiu esconder uma lágrima quando viu o seu querido carro afastar-se, empoleirado no reboque, a caminho da oficina.

O perito da Companhia de Seguros foi implacável.
A reparação estava orçamentada em 300 contos. Mas como o valor comercial do carro não passava os 150 contos, o veredicto só podia ser um: perda total!

Então e agora?
- Agora é assim: a Companhia de Seguros só se responsabiliza por 150 contos e avalia o salvado em 50 contos.
Até lhe doeu o coração ao ouvir chamar «salvado» ao seu carro.
Se o Sr. Simões quiser, fica com o salvado e recebe 100 contos da Companhia. Pode então mandar arranjar o carro e paga a diferença dos 200 contos do seu bolso.
Se não quiser, a Companhia fica com o salvado e dá-lhe os 150 contos.
É assim!

- Mas ó senhor perito: eu é que levei com o sujeito pela traseira e eu é que tenho de pagar os 200 contos do meu bolso? Onde é que eu tenho os 200 contos?
- Então, se não quiser, a Companhia fica-lhe com o salvado e dá-lhe os 150 contos que é o valor comercial do carro.
- Ai é? Eu é que estou parado no semáforo, e eu é que fico sem o carro? Onde é que eu vou arranjar outro carro igual pelos 150 contos que me quer dar? E quem disse que o meu carro só vale 150 contos? Nem 40.000 quilómetros tem! Acha que os carros são todos iguais?
- Meu caro amigo: é o que está aqui na revista, veja.

Nessa noite, desabafou com o cunhado:
- Eu processo mas é aqueles gajos! Arranjo um advogado e espeto com aqueles gatunos em tribunal!
Mais vivaço e habituado às manigâncias dos utentes dos Serviços Municipalizados de Almada, o cunhado fê-lo descer à terra e explicou-lhe como eram as coisas:
- Ó Simões, pá: não sejas parvo. Pensas que a Companhia se Seguros não sabe fazer contas, pá?
Para já, gastas alguns 50 contos com o tribunal. Depois, o advogado leva-te alguns 100 ou 150 contos. Depois, tens de arranjar testemunhas que o carro vale mais do que a avaliação que te fizeram. Talvez pagar a um perito. Quem é que tu arranjas? E depois, pá, só daqui a 4 ou 5 anos é que tens o assunto resolvido. Desenrasca mas é os 200 contos que faltam, e manda arranjar a porcaria do carro por tua conta!
- Mas eu não tive culpa nenhuma no acidente, caraças!
- Pois não, pá. E o que é que isso interessa?...

 

Parabéns!














domingo, 30 de janeiro de 2005

 

Este Homem Já Sabem Quem É






No «Público» de hoje, este excelente artigo de Ana Sá Lopes.


A não perder!


 

O Sr. Candidato


Segundo o «Público», o ex-ministro das Cidades, Isaltino Morais, vai candidatar-se à Câmara de Oeiras.


Quem será que vai financiar a campanha?
Será o sobrinho?...


 

O Chanceler


No dia 30 de Janeiro de 1933, Adolf Hitler tomou posse como Chanceler da Alemanha, depois de ter sido nomeado pelo Presidente von Hindenburg.

Apenas algumas horas após o anúncio oficial da morte de Hindenburg, a 2 de Agosto de 1934, Hitler funde as funções de Presidente e Chanceler passando a intitular-se Führer. Esta fusão foi alguns dias mais tarde confirmada num plebiscito que obteve 89,9% de votos favoráveis.
Adolf Hitler começa então um regime de terror, que suportou nas sinistras S.A., S.S. e Gestapo, e desde os primeiros dias, com ferozes leis anti-semitas.
Em 1935, com as Leis de Nuremberga, os judeus perdem mesmo o seu estatuto de cidadãos alemães e são proibidos de tomar quaisquer lugares na função pública, de exercer profissões ou de tomar parte na actividade económica.
Em 1938, após a «Noite de Cristal» Hitler ordena o seu envio sistemático para os diversos campos de extermínio.

Hitler sempre soube rodear-se dos apoios que considerava momentaneamente mais convenientes. Desde Francisco Franco (a quem apoiou com a célebre «Legião Condor» na Guerra Civil Espanhola), a Mussolini, a Estaline e até ao próprio Vaticano, e que lhe foram dando abertura para anexar a Áustria, para invadir a Checoslováquia e, mais tarde, a Polónia, dando início à 2ª Guerra Mundial.

Provavelmente devido à obediência cega do povo alemão à sua liderança, e ao esmagador apoio plebiscitário que antes obtivera e que frequentemente invocava, Adolf Hitler não teve praticamente oposição às suas políticas. As próprias Igrejas Cristãs, impregnadas de séculos de anti-semitismo, permaneceram num silêncio cúmplice.
Algumas até ao dia de hoje.



sábado, 29 de janeiro de 2005

 

A Indignação


Na «Visão», Freitas do Amaral escreveu: «não tenho dúvida em afirmar publicamente que, no meu entender, o voto necessário é no PS».

Caiu o Carmo e a Trindade!
De imediato se sucederam as críticas à posição do fundador do CDS, que foi acusado de ser um «vira-casacas», de ter «um percurso sinuoso», de «deriva esquerdista» e até de não possuir «o valor fundamental da coerência».

Mas porque será que as pessoas que se têm manifestado mais indignadas com esta "viragem" de Freitas do Amaral, são precisamente aquelas que há três anos apenas votaram em... Durão Barroso?


 

As Dívidas ao Fisco


Segundo a «Capital», até há dois dias apenas, pendiam sobre o Primeiro-ministro Pedro Santana Lopes dois processos de execução, por dívidas ao fisco.
Que autoridade política, e até mesmo autoridade moral, tem este Primeiro-ministro, que tanto clamou pela luta contra a evasão fiscal, para se manter agora em funções?
Que autoridade política, e até mesmo dignidade pessoal, tem o ministro das Finanças, que tanto proclamou a igualdade fiscal dos contribuintes, para se manter agora em funções?

Mas, ao fim e ao cabo, será que alguma vez as tiveram?...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

 

A Pronta Reacção


A menos de um mês das eleições, as sondagens mais recentes atribuem ao PS uma ligeira descida nas intenções de voto dos portugueses, embora ainda dentro do limiar da maioria absoluta, com um pouco mais de 45%.
Simultaneamente, as mesmas sondagens prenunciam uma acentuada queda do PSD, a quem dão somente 27,7% dos votos, valor ainda mais baixo do que o registado nas últimas eleições europeias.

Mas atenção!
Santana Lopes que não é pessoa para se resignar, e sabe perfeitamente o que há-de fazer para contrariar esta tendência, reagiu já prontamente a estas notícias:
vai processar as empresas de sondagens!...


quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

 

Nick Mason


Nicholas Berkeley Mason nasceu em Birmingham, Inglaterra, no dia 27 de Janeiro de 1944.

Nick Mason é o baterista dos Pink Floyd, e é o único dos seus membros que fez ininterruptamente parte da banda desde que em 1965 a formou, conjuntamente com Syd Barrett, Roger Waters, Rick Wright e, mais tarde, David Gilmour.

Para além da música, Nick Mason é um apaixonado pelo desporto automóvel, possuindo uma invejável colecção de Ferraris, Bugattis e Maseratis, entre muitas outras preciosidades, e por diversas vezes competiu com sucesso nas «24 Horas de Le Mans».

 

A Astróloga


Ouvi no programa da manhã da R.T.P., a «Praça da Alegria», a astróloga residente, a inefável Cristina Candeias, a dar uma “consulta” a uma telespectadora que lhe perguntava a opinião sobre determinadas iniciativas que pensava tomar na sua vida:

«Tem de ter muito cuidado com o mês de Maio. Mas o que é melhor é não fazer nada disso que está a pensar nos próximos dois anos. Quer dizer, pode fazer, mas vai correr mal com certeza».

Isto é de uma gravidade inqualificável!

Como é possível que a televisão pública, a mesma que cancelou o programa «Acontece», decerto para pagar a volta ao mundo aos portugueses que a ele assistiam (e pelos vistos o ministro Morais Sarmento já cobrou a sua parte) pague uma avença escandalosamente milionária a esta avantesma?
Como é possível que a administração da R.T.P. persista nesta criminosa negligência e, contra duas deliberações da Alta Autoridade para a Comunicação Social, continue a conceder tempo de antena a este avejão, permitindo-lhe influenciar desta maneira a vida das pessoas?

Já anteriormente aqui dei a minha opinião pessoal sobre o que penso deste tipo de gente, que se aproveita da credulidade e até da situação de fragilidade emocional das outras pessoas para lhes extorquir dinheiro. Mas é que o nº 1 do artigo 217º do Código Penal Português, que define o crime de BURLA, estabelece claramente que:
«Quem, com intenção de obter para si ou para terceiro enriquecimento ilegítimo, por meio de erro ou engano sobre factos que astuciosamente provocou, determinar outrem à prática de actos que lhe causem, ou causem a outra pessoa, prejuízo patrimonial, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa».
E o artigo 218º do mesmo código estatui que a pena de prisão aplicável será de 2 a 8 anos se o agente fizer da burla modo de vida ou a pessoa prejudicada ficar em difícil situação económica.

Como é possível que se assista impavidamente a esta criminosa e persistente actividade, daqueles que impunemente fazem profissão de enganar e burlar os outros?

quarta-feira, 26 de janeiro de 2005

 

O Sucessor


Jardim Gonçalves anunciou hoje que será substituído no seu cargo de presidente do conselho de administração do grupo Millenium BCP pelo actual secretário-geral do Banco Comercial Português, Paulo Teixeira Pinto.
Deve ser um bom emprego, este: para além do merecido reconhecimento de uma inegável competência, significa prestígio nacional e internacional e, decerto, um fabuloso e milionário salário.
É pena é o raio do voto de castidade...

 

A Filha


De um dia para o outro, começaram a aparecer em vários jornais notícias sobre a filha de Nené, o conhecido ex-futebolista do Benfica.
Paula Filipa Gonçalves contou em detalhe ao «Correio da Manhã» o trajecto da sua vida, desde que nasceu rapaz até que se tornou modelo profissional, após ter sido submetida a uma intervenção cirúrgica para mudança de sexo.

Desde criança que era já notório que a Filipa revelava comportamentos e uma personalidade marcadamente femininos. Os psicólogos e os psiquiatras em nada ajudaram.
E o trajecto não deve ter sido nada fácil, com os preconceitos de todos os que a rodeavam, os insultos e a chacota na escola e na rua e, principalmente, com a sua própria afirmação como pessoa.
Mas Paula Filipa Gonçalves sempre teve a compreensão e o apoio dos pais:
«O meu pai já tinha um filho e desejava muito uma rapariga e o destino acabou por fazer-lhe a vontade». E sempre esteve ao seu lado desde o primeiro momento em que percebeu que estava perante «um filho diferente», reconhecendo que «é muito difícil um pai perceber que tem um filho que se olha ao espelho e se vê como mulher, mas que ao despir-se da cintura para baixo nota que algo não encaixa naquele corpo».
O apoio do pai foi total, quer financeiro quer humano: «O meu pai gastou fortunas». «Nunca precisei de trabalhar ou de prostituir-me porque tive o apoio incondicional dos meus pais. Se não fossem eles não estaria aqui.»

Entrevistado também por aquele matutino, Nené declarou que quando se apercebeu da situação sofreu um «choque enorme»: «Como é normal, porque ela era um filho, não é? Passados cinco ou seis anos depararmo-nos com uma situação completamente nova é complicado, mas quando não somos nós a ajudar os filhos quem os irá ajudar? Sabíamos que a Paula também devia estar a sofrer com tudo isto. Queríamos ve-la feliz»
«Expulsá-la de casa nunca foi uma opção. Os pais que expulsam os filhos de casa só porque estes sofrem de um problema, podem estar a abrir-lhes a porta da prostituição, da droga, porque os transsexuais que não tem outra saída para arranjar dinheiro para fazerem a operação de mudança de sexo tentam obtê-lo através dessas vias. E eu nunca faria isso com nenhum filho».
«A Paula teve todo o nosso apoio, e esteve sempre à altura das nossas expectativas».

Já conhecia o Nené como futebolista.
Um grande futebolista.
Conheço-o agora como homem.
Um grande HOMEM!

terça-feira, 25 de janeiro de 2005

 

A Visão Amoral


O Cardeal Javier Lozano Barragan, presidente do Concelho Pontifício para a Saúde declarou ao jornal italiano «Corriere della Sera» que «a aceitação do uso do preservativo significa uma visão amoral da sexualidade e a aceitação de uma conduta libertária e libertina».
Perante estas declarações, o repórter daquele jornal perguntou ao ilustre prelado se não significaria um «mal menor» perfeitamente aceitável permitir o uso do preservativo a um homem infectado com o vírus da SIDA para assim impedir o contágio, por exemplo, à própria mulher com quem é casado.
Ao que o santo homem respondeu:
«Eu não quero falar de casos concretos hipotéticos, pois seria imprudente entrar em discussões teóricas sem conhecer as circunstâncias específicas de cada caso individual. Mas desde já repito: o uso do preservativo não pode ser moralmente aceitável».

O que me admira não são já as declarações dos responsáveis do Vaticano a este respeito.
Provavelmente será a longa abstinência sexual que lhes causará estes delírios...

Mas confesso que não entendo a complacência das pessoas que, em nome do Deus que partilham com esta gente, entendem e acham perfeitamente aceitáveis estas posições e, “quase instintivamente” e de uma forma incompreensivelmente acrítica, concordam com elas.
Mas que, afinal, por não terem sequer a dignidade de delas se demarcarem, acabam por ser cúmplices do autêntico genocídio que elas significam.

 

O Frio





segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

 

O Especialista


O Papa João Paulo II declarou que uma prática correcta da sexualidade «supõe castidade e fidelidade".

É sempre bom ouvir a opinião de um especialista na matéria.

Mas deixem-me ver se percebi:
Para o Papa uma sexualidade correcta pressupõe fidelidade. Até aqui entendo.
Mas, ao que parece, para o Papa a sexualidade pressupõe também castidade.

Será que o Papa está a recomendar aquilo em que eu estou a pensar?...

 

O Espaço de Intervenção


Na “Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos” D. Manuel Felício, membro da Comissão Episcopal da Doutrina da Fé declarou que se realizaram já «trocas de redacções entre a Igreja Católica e as outras confissões cristãs».
Declarou o ilustre prelado que há ainda um longo caminho a percorrer, como seja «o estudo conjunto de perspectivas doutrinais que abram depois para práticas de cooperação entre as Igrejas», discutindo-se, por exemplo, a questão dos “casamentos mistos” (entre fiéis de Igrejas diferentes), «em que se encontra por definir o espaço de intervenção de cada uma das Igrejas».

Quer isto dizer que a Santa Igreja Católica Apostólica Romana se prepara para entrar dentro das casas dos casais que perfilham cultos cristãos distintos e vai definir «o espaço de intervenção» que cada um desses cultos aí deve ter.

Que esta gente tinha perdido a vergonha, eu já sabia.
Mas será que já perderam também a noção do ridículo?

sábado, 22 de janeiro de 2005

 

O Jovem Delinquente


Ao fim de quase vinte anos a memória daquele caso ainda o perturbava.
Recostou-se para trás na cadeira de braços forrada a pele e olhou em volta. Nem o conforto daquele gabinete de advogado de sucesso, nem sequer o longo tempo passado impediam aquele frio no estômago de cada vez que aquela memória o assaltava.
Será que tinha feito tudo o que devia? Tudo o que podia? Ainda hoje não sabia.
Porque raio se tinha lembrado outra vez?

Respirou fundo e fechou os olhos.
O gabinete era então modestamente mobilado: a secretária metálica comprada em segunda mão a um primo que tinha mudado de casa. A cadeira de napa comprada em saldo. As estantes com os dossiers dos processos arrumados espaçadamente para parecerem mais...
O casal de ciganos entrou.
Sentaram-se desconfortáveis nas cadeiras à sua frente. Ele muito direito, rodava nas mãos o chapéu castanho muito manchado e tentava disfarçar a atrapalhação.
O filho tinha sido preso.
«Sr. Dr. ele, o meu Zé, só tem 19 anos. Ajude-o».

Foi consultar o processo. Não! Está em segredo de justiça!
Foi vê-lo à Penitenciária.
Ele e um amigo tinham abordado um brasileiro ali para os lados do Bairro Alto. Pediram-lhe lume e o próprio ar atemorizado do outro os encorajou. Encostaram-no à parede e tiraram-lhe o que tinha nos bolsos sem encontrarem qualquer resistência.
Fugiram apressados com o produto do saque: 17$50 em dinheiro e um isqueiro «Bic» azul.
Mas foi por pouco tempo. O brasileiro correu para a Esquadra mais próxima e destacaram-lhe um carro patrulha que logo às primeiras voltas os encontrou.

Fez o requerimento tentando a liberdade provisória, nem que fosse com caução.
O Ministério Público opôs-se. Alegou perigo de fuga: «repare-se que o arguido é de raça cigana», leu atónito.
O juiz manteve a prisão preventiva, aceitando os argumentos.

Quase um ano depois, o julgamento. Toda a família à espera, «acampada» à porta do Tribunal.
A esperança? Claro: Deus é grande e a justiça dos homens não vai falhar. É a primeira vez que o Zé se mete nestes assados. Tem 19 anos. Um isqueiro descartável e 17$50 não hão de ser motivo para grande castigo. Nem sequer houve grande violência com o brasileiro.
Vai apanhar pena suspensa, com toda a certeza.
E não há aquela lei dos «Jovens Delinquentes»? Não disse o Dr. que ela mandava o juiz olhar para a idade?
Ele tem 19 anos, é uma criança!

A audiência estava marcada para as 2 horas. Às 3 entraram os juizes.
Meia hora depois, começaram os outros quatro julgamentos também marcados para a mesma hora.
O seu começou às 6,30 da tarde.
«Vá lá, conte lá isso depressa que não há tempo a perder. Já viu que horas são?»
O juiz presidente, qual cometa, não era para contemplações. Os outros dois juizes não: um deles até estava meio distraído, quase a dormir; o outro escrevia atarefado em processos que tinha trazido com ele para a sala de audiências.
Vinte minutos depois tinha terminado o julgamento. Com as alegações do advogado e tudo, que o ar de ameaçador enfado do juiz não deu para mais.
Uma semana depois a sentença: 6 anos de prisão!

Claro que o recurso vai fazer justiça. Desta vez é que vai ser.
A motivação do recurso foi feita e refeita. Ao ínfimo pormenor.
Como mandam as regras, tudo estava mencionado.
O irrisório montante do roubo.
E a idade! Não tinha ele 19 anos? Não havia aquela lei dos jovens?
É que o tribunal de primeira instância não aplicou aquela lei.

Era a primeira vez que entrava no Supremo Tribunal de Justiça.
A própria solenidade da sala atemorizava.
Até a D. Maria II o olhava fixamente daquele quadro.
Os juizes Conselheiros entraram. Ena tantos!

Tem a palavra!
Então, esperançado, expôs os seus argumentos. Um a um.
Todos irrefutáveis, claro.
Espera! Aqueles três juizes do lado direito estão na conversa. Não estão a ligar patavina a isto. Não faz mal, o juiz relator está com atenção.
Falou quase 20 minutos.
Para o fim, deixou o argumento da idade. A omissão da aplicação da lei por parte do Tribunal, que nem sequer referiu a sua existência.
Até que finalizou: Peço Justiça!

Com ar solene, o juiz presidente abriu uma pasta preta e tirou umas folhas. Passou-as lentamente nas mãos, olhou para a última e disse sem levantar os olhos:
«Nega-se provimento ao recurso; o Sr. Dr. depois passa na secretaria que lhe dão a fotocópia do acórdão; o caso seguinte é o número...».

Espera! O acórdão já estava pronto? O que é que eu estive aqui a fazer?
Tinha preparado isto tão bem...
Então e os «Jovens Delinquentes»?
E a «atenuação especial da pena»?
Fica com os seis anos?
Mas ele é primário. Foram 17$50 e a merda de um isqueiro. Tem 19 anos. É uma criança...
6 anos?
Quanto é que apanhou aquele tipo que ia com os copos e atropelou a miúda na passadeira? Dois anos com pena suspensa, não foi?
Apetecia-lhe gritar.
Acabou-se!...

Ainda o foi ver ao Estabelecimento Prisional de Sintra. Estava mais magro, mas conformado: «deixe estar, Sr. Dr.; Tinha que ser, Sr. Dr.; Eu até já estava à espera, Sr. Dr...».

Depois de cumprida a parte regulamentar da pena, o Zé saiu em liberdade.
Não a gozou por muito tempo.
Contraiu SIDA na prisão, nunca soube explicar como.
Já morreu.





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(*) Qualquer semelhança com pessoas ou factos reais, ou mesmo com a realidade concreta da justiça portuguesa será... pura coincidência?...

sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

 

Insanidades...


Por motivos mais do que óbvios, não posso deixar de recomendar a leitura do artigo de Francisco Teixeira da Mota no «Público» de hoje.

 

O Segundo Mandato


George W. Bush iniciou o seu segundo mandato como Presidente dos Estados Unidos da América.

Depois de jurar cumprir a Constituição americana, para o que pediu a ajuda de Deus (que assim uma vez mais, coitado, se vê involuntariamente metido em grandes assados), Bush prometeu no seu discurso empenhar-se na luta pela liberdade e pelo fim da tirania no mundo.
E foi bem claro ao dizer que os Estados Unidos vão trabalhar para «levar a liberdade aos cantos mais escuros do mundo».

Aceitam-se apostas sobre quem vai George W. Bush invadir primeiro:
a) Irão
b) Síria
c) Coreia do Norte
d) Outro
e) All of the above

 

Cause you're so different... you're so perfect!




quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

 

Eu não disse?


O PSD acaba de emitir um comunicado em que pede desculpas pelo «lapso» de Santana Lopes, que ontem acusou José Sócrates de ter feito nomeações quando o Governo socialista de que fazia parte estava já em gestão.
A esse propósito, disse aqui que um pedido de desculpas por parte de Santana Lopes seria uma atitude inteligente, de grande verticalidade e honestidade pessoal e política, e inequivocamente reveladora de um elevado sentido de Estado.
Até apostei que Santana Lopes não o iria fazer.

Ora, o PSD entendeu por bem não só tentar deitar-nos poeira para os olhos (falando selectivamente de outras nomeações, sem qualquer componente política e perfeitamente explicadas), como também nomeou um «bode expiatório» para assumir as culpas de mais esta trapalhada, apesar de ter sido Santana Lopes a produzir pessoalmente as afirmações injuriosas.

Mas, de facto, Santana Lopes não pediu desculpa...

 

Os critérios éticos


Na sequência do post do «Random Precision» o ministro da Administração Interna, Daniel Sanches, declarou ao «Diário de Notícias» que mantém a sua confiança no director nacional da P.S.P., José Branquinho Lobo.

Uma coisa temos de reconhecer: é que é extremamente positivo quando ficam perfeitamente claros os critérios éticos dos nossos governantes.


 

Bom demais para ser verdade!


Numa inesperada mudança daquilo que sempre tem sido a política do Vaticano, a Igreja Católica espanhola anunciou que defendia o uso do preservativo para evitar a disseminação da SIDA.
O porta voz e secretário geral da Conferência Episcopal espanhola, o Bispo Juan Antonio Martínez Camino, declarou:
«O uso do preservativo tem um papel na prevenção global da SIDA».

A declaração foi tão inesperada, quanto intransigente tem sido a posição do Vaticano quanto a este tema. De facto, a Igreja Católica sempre defendeu que o preservativo não pode ser usado na prevenção da SIDA porque não passa de uma «forma artificial de controlo de natalidade» como outra qualquer.
Por isso, em todo o mundo os responsáveis eclesiásticos têm feito os possíveis para combater e desacreditar todas as campanhas governamentais que promovam o uso do preservativo, desde a formulação de teorias científicas fantasmagóricas sobre a sua porosidade, até à sua queima ritual nos países de África.

Mas a surpresa foi de curta duração.
Isto, de facto, era bom demais para ser verdade!!!

Meia dúzia de horas depois deste anúncio, já o Sr. Bispo vinha desmentir as suas próprias afirmações, declarando desta vez que não era verdade que a doutrina da Igreja sobre o uso do preservativo tenha mudado.
Depois de invectivar a comunicação social, a quem acusou de deturpar as suas palavras (embora estas tenham sido gravadas e reproduzidas integralmente nas rádios e televisões de Espanha), o Sr. Bispo acrescentou:
«O uso de preservativo significa uma conduta sexual imoral e uma atitude pessoal amoral».

Isto é absolutamente inqualificável!
E é, sejamos claros, positivamente criminoso!

Estou certo que, no futuro, a História não deixará de julgar a Igreja Católica pelas barbárie das suas posições actuais.
E, estou certo também, que esse julgamento não será diferente daquele que já hoje fazemos, quando pensamos que, há “meia dúzia de anos” apenas, se excomungava quem ousava dizer que a Terra é redonda, se imolava pelo fogo quem se atrevia a proferir teorias científicas que não encaixavam nos cânones bíblicos ou até simplesmente quem pertencia a outra raça ou religião.
Tudo em nome de Deus!

 

O Rei das Trapalhadas


É por demais evidente a táctica usada pelo PSD e por Santana Lopes para tentar desacreditar o Secretário Geral do PS, José Sócrates.
Decerto aconselhado pelo sobrinho do tio Olavo de alguém (que é já muito pouco original), Santana Lopes imita agora o seu mentor político George W. Bush na táctica que este utilizou para desacreditar John Kerry, que foi acusado de mudar frequentemente de opinião, uma mensagem que acabou por passar, e por produzir mortíferos efeitos nos resultados eleitorais.

Mas talvez em Portugal as coisas funcionem de maneira diferente.
Para já, porque a ânsia que Santana Lopes tem de atacar por tudo e por nada, tentando capitalizar politicamente tudo o que lhe vem à cabeça, também o leva a errar frequentemente e a proferir as maiores barbaridades. Em que, estou certo, nem ele próprio já acredita.

Desta vez, e como que em resposta às acusações das centenas de nomeações políticas que estão a ser feitas à última hora, Santana Lopes veio acusar José Sócrates de, na fase final do governo de António Guterres, e mesmo já após as eleições que deram a vitória a Durão Barroso, ter nomeado o seu ex-Chefe de Gabinete, Filipe Batista, como Inspector Geral do Ambiente.

Só que, uma vez mais, o Rei das Trapalhadas acabou por se dar mal: é que Filipe Batista foi efectivamente nomeado Inspector Geral do Ambiente, mas somente em Agosto de 2002, já pelo então ministro do PSD Isaltino Morais, tendo atravessado pela sua reconhecida competência o mandato de três ministros do PSD e um ministro do CDS.
Como é óbvio, o porta voz do PS exigiu do Primeiro-ministro um pedido formal de desculpas a José Sócrates e a Filipe Batista por esta infundada acusação, que a ambos mancha na sua honra e dignidade.

De facto, um pedido de desculpas por parte de Santana Lopes seria uma atitude inteligente, de grande verticalidade e honestidade pessoal e política, e inequivocamente reveladora de um elevado sentido de Estado.
Uma aposta que não o vai fazer!...

 

I want more life, father





quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

 

A Adopção


Falar-se de casamento entre homossexuais (com esse ou com outro nome) traz necessariamente à baila um tema inequivocamente relacionado, mas muito mais polémico: a adopção de crianças por casais homossexuais.
Aqui as opiniões dividem-se e extremam-se, tanto quanto são inevitavelmente influenciadas mais pelas paixões que lhe são subjacentes do que pela razão a que deveriam obedecer. De ambos os lados da “barricada”, diga-se de passagem.

Quando se fala na eventualidade de uma criança, digamos, de 8 anos, ser adoptada por um casal homossexual imediatamente vemos nos olhos do nosso interlocutor uma fervilhante imaginação a funcionar: um lar composto de dois homens, que dormem juntos na mesma cama, que se beijam, que trocam carícias e onde até um deles, diz o estereótipo, “desempenha o papel” que normalmente caberia à mulher. Tudo isto à frente da pobre criança.
Aqui aparecem as primeiras opiniões contrárias: claro que a criança tem de ser resguardada de tudo isto. Desta “anormalidade”, dirão uns; desta “aberração”, dirão ainda outros.

Claro que, em sentido contrário, existem argumentos igualmente válidos: que considerar a homossexualidade uma “anormalidade” ou até mesmo uma “aberração” é um preconceito estúpido e medieval, que não faz qualquer sentido.
E isso é um facto!
E pergunta-se ainda: mas “resguardar” a criança de quê? E porquê? Qual é o mal de uma criança ser educada num lar onde há harmonia, amor, conforto material e psicológico? Não será tudo isso o que se deve desejar na educação de uma criança, ainda que provenha de duas pessoas do mesmo sexo?

A isso ouve-se esta resposta: mas é que a criança tem de ser educada com valores e referências de masculino e feminino, de homem e mulher, tem de estruturar a sua personalidade de acordo com modelos parentais normais, o que certamente não lhe é proporcionado por uma educação entre homossexuais.
E ainda por cima a criança era muito bem capaz de ser gozada e apontada a dedo na escola.

É então que ouço retorquir: quer isso dizer que deveremos pura e simplesmente retirar as crianças às mães solteiras e divorciadas? Ou às que ficam viúvas?
É que nesses lares, então, as crianças também não têm referências de masculino e feminino. E ainda por cima não vêem trocas de carícias como uma coisa normal, pois nem sequer a elas assistem.
Como estruturarão eles a sua personalidade? Que modelos parentais e referências de normalidade vão ter?
E quanto ao gozo na escola, quer isso dizer, também, que devemos retirar as crianças aos pais se um deles esteve preso? É que isso também pode ser motivo de chacota na escola!

Ah, responde-se: mas essas referências podem ser obtidas noutros locais, na escola, nos avós, etc. E mais: essa referência, mais do que física, é principalmente psicológica.
Pois! Do mesmo modo que se o casal fosse homossexual. Ou agora isso já não vale?...

Mas, ouço insistir: se a criança crescer entre homossexuais, não estará ela sujeita a vir a ser homossexual também?
E surgem então os argumentos “finais”: e qual é o problema de a criança vir a ser homossexual? Voltamos ao preconceito, é?
E onde é que está provado que a criança corra um “risco estatístico” de vir a ser homossexual?
E, ainda assim, será preferível que a criança continue numa instituição, onde tantas vezes não passa de mais «um número»?
E então não se discutem os lares onde o pai sova sistematicamente a mãe à frente dos filhos? E às vezes até deles abusam sexualmente? Isso é melhor que viverem numa casa de homossexuais?
E mais: se é pela educação que a criança recebe em casa que pode vir a ser homossexual, deverá então concluir-se que o maior perigo disso vir a acontecer deverá provir dos casais heterossexuais! Pois não são os homossexuais na sua quase totalidade criados numa família “normal”, pelo seu pai e pela sua mãe?...
Não será esta lógica irrefutável???

E a polémica não tem fim.
E é então que começam a extremar-se os argumentos.

E já que aqui estamos, permitam-me os mais ferozes opositores da adopção de uma criança por casais homossexuais, também um argumento extremo:
Imaginemos a tal criança de 8 anos. Agora imaginemos que a criança é tailandesa.
E imaginemos que os pais, pela miséria mais extrema que se pode imaginar, a venderam por um punhado de arroz a um qualquer chulo de sucesso internacional, que a instalou numa casa de prostituição. E então a criança de 8 anos, a troco de meia dúzia de patacos que nem sequer vê, é várias vezes ao dia violada e seviciada por abjectos nababos europeus ou americanos, que se babam pelos cantos da boca quando vêem crianças desta idade, e que à vezes não vão à Tailândia senão para isso.
Imaginemos agora um casal de homossexuais, digamos, portugueses: um engenheiro, outro médico e que vivem em Lisboa. Querem adoptar a criança e levá-la daquele pardieiro onde está enterrada, daquela vida de miséria onde viverá não mais do que meia dúzia de anos, até morrer de inanição ou de SIDA.

Quem pode ser contra esta adopção?
Quem defenderá que a criança está melhor na Tailândia que numa casa homossexual em Lisboa?

Mas isto é um caso extremo, dirão.
Pois é! É extremo, mas é absolutamente vulgar!!!
E sabem uma coisa? Não é preciso sequer ir à Tailândia para assistir a casos semelhantes!

Pergunto então: e que tal se nos deixássemos de extremismos?
E que tal se nos deixássemos de preconceitos?
Defender liminar e dogmaticamente que se proíba sempre a adopção por casais homossexuais, não será um extremismo ou um preconceito, igualmente tão perigosos como defender que se autorize sempre a adopção por casais heterossexuais?
Porque, antes de mais, é preciso que fique bem ciente de que aqui não se trata de defender os direitos dos homossexuais:
- O que está aqui em causa são os direitos das crianças!!!

Então, porque não dar sempre ao problema da adopção de crianças uma solução que passe pela análise de cada caso, um a um?
Que tal se antes de olharmos para o casal que a quer adoptar, olharmos primeiro para a criança?
Porque não pensar simplesmente que a adopção de uma criança deve ser aceite se for previsível que "aquela criança em concreto", vai viver melhor, que vai ser alimentada, educada, estimada, amada, independentemente de o ser por uma família heterossexual ou homossexual?

Não será essa a «normalidade» que queremos, e que defendemos para a tal criança de 8 anos?

terça-feira, 18 de janeiro de 2005

 

Há sempre dúvidas...


Pelo «Diário Ateísta» fiquei a conhecer o princípio desta chocante notícia:

Em Abril do ano passado o padre católico mexicano, Luis Javier de Alba Campos, que se encontrava de visita apostólica a Detroit, ficou alojado na casa de uma família americana, onde bons católicos o acolheram.
O padre foi instalado no quarto do filho mais novo do casal, de 7 anos de idade.
Mas o reverendo «não resistiu à tentação», e nessa noite acabou por abusar sexualmente da criança.
Contudo, no dia seguinte ao tomarem conhecimento do caso, os pais do menino acabaram por contemporizar com o Sr. padre, e pelos vistos, compreenderam perfeitamente a sua atitude, pois não só não apresentaram queixa à polícia, como ainda ordenaram à criança e aos irmãos, de 16 e 13 anos de idade, para se calarem e não contarem nada a ninguém.
Justificaram a sua atitude dizendo que a criança aparentemente «não tinha sofrido quaisquer danos permanentes com o que quer que se tenha passado no quarto nessa noite».

Foram os irmãos mais velhos que, decerto mais preocupados com o destino do irmão que os próprios pais, acabaram por denunciar o caso às autoridades.
Levado a tribunal, o reverendo Alba Campos admitiu que estava embriagado nessa noite, o que o levou a cometer a imprudência de dormir com a criança. Mas negou que a tivesse abusado sexualmente.
No julgamento, o irmão de 13 anos contou que nessa mesma noite tinha tido dificuldade em resistir aos insistentes avanços do padre que o sentava ao colo e acariciava repetidamente, pedindo-lhe que dormisse com ele.
O seu próprio pai lhe pediu que o fizesse, dizendo-lhe que seria uma boa oportunidade para falarem sobre a vida, Deus e o Universo.
A criança praticamente "fugiu" para outro quarto e fingiu que estava a dormir, fazendo do seu irmão de 7 anos «a segunda escolha» do clérigo.

Mas a história não acaba aqui.
Levado a julgamento, o Sr. padre acabou por ser absolvido da acusação de abuso sexual da criança, para gáudio e exultação das dezenas de pessoas que assistiram ao julgamento e à decisão do júri, rezando fervorosamente o terço como bons católicos.
Até o padre desabafou aliviado: «Graças a Deus e aos meus advogados!».

Face à prova que havia sido produzida no tribunal, a decisão do júri foi de tal forma inesperada que a juíza tomou a iniciativa de perguntar individualmente aos jurados se confirmavam a decisão de considerar o padre como “não-culpado”. Mas todos a confirmaram.

Mas também não é aqui que a história acaba.
Depois do julgamento acabar, foram entrevistados vários jurados. Todos declararam que tinham julgado perfeitamente credível o depoimento da criança abusada e a sua descrição dos factos e que, ao mesmo tempo, tinham considerado o padre como possuindo um «carácter desprezível».
Mas que, ainda assim, tinham decidido absolvê-lo. Porque, disseram, «há sempre dúvidas...».

Apesar da absolvição, mas face ao peso esmagador das provas produzidas em Tribunal, a própria diocese de Detroit se achou na "obrigação" de proibir o padre de rezar missa, de exercer o sacerdócio e até mesmo de usar roupa que o identifique como tal.
Mas esta inibição não se aplicará ao México, para onde o reverendo padre regressará agora em paz, livre de exercer em liberdade e em toda a sua plenitude as suas tarefas de homem de Deus

domingo, 16 de janeiro de 2005

 

O Casamento


O Código Civil define o casamento como «um contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que pretendam constituir família mediante uma plena comunhão de vida».

As principais consequências jurídicas deste contrato para as pessoas que o celebram são, como é óbvio, de ordem pessoal e patrimonial:
Para além de constituir a «fonte da relação jurídica familiar» com consequências no nascimento de laços de afinidade com os parentes do outro cônjuge, o casamento tem fortes repercussões na esfera patrimonial dos seus contratantes (que são distintas consoante o regime de bens adoptado e as convenções antenupciais celebradas), tornando os cônjuges automaticamente herdeiros um do outro.
Obriga ainda os cônjuges, no âmbito de um rigorosa igualdade, ao cumprimento recíproco dos «deveres conjugais»: respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência.
Finalmente, acarreta outras consequências indirectas, como a possibilidade de sucessão no arrendamento, em caso de morte do cônjuge em nome de quem estava celebrado o contrato de arrendamento da casa onde o casal vivia, ou o direito à pensão de reforma ou aposentação do cônjuge falecido.

Vem isto a propósito da polémica que incessantemente rodeia a possibilidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo, e que ultimamente tanto espaço mediático ocupa em Espanha e que em breve, depois das eleições, voltará à ordem do dia em Portugal.

Confesso que me custa a entender a posição daqueles que persistem em impedir liminarmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Nem entendo que possam existir objecções de ordem moral, ética ou religiosa, já que nunca vi ninguém a defender a "obrigatoriedade" do casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou a defender que ele se aplique ao casamento religioso.

Acho que, num Estado verdadeiramente laico, o problema da extensão do casamento a pessoas do mesmo sexo deveria ser colocado somente numa exclusiva e estrita óptica jurídica.
Até porque, se na maior parte das situações estaremos a falar de dois homens ou duas mulheres que vivem, como diz a lei, «em condições análogas às dos cônjuges», casos haverá em que poderemos estar perante, por exemplo, dois irmãos de avançada idade que sempre viveram juntos, ou uma velha senhora e a sua «governanta» de 50 anos, que queiram - e estão no direito - de assegurar alguma forma de juridicidade ao seu longo relacionamento, de onde o sexo até está afastado.

O que é mais estranho na posição de quem não admite o casamento de duas pessoas do mesmo sexo, é que grande parte das consequências jurídicas que, do plano patrimonial, decorrem do casamento civil podem já ser obtidas, uma a uma e isoladamente, quer através de beneficiação mútua em testamentos, quer pela celebração de contratos específicos.
Deste modo e, repito, de um ponto de vista estritamente jurídico, a questão do casamento entre duas pessoas do mesmo sexo resumir-se-ia no plano patrimonial a conferir acolhimento legal (nem que fosse por meras questões de ordem prática e de comodidade) a um único contrato que incluísse todos os que são celebrados separadamente.
E que, claro, também vinculasse contratualmente quem o celebra ao cumprimento dos mesmos deveres que, do ponto de vista pessoal, necessariamente decorrerão.

Porquê proibir então a celebração de um tal contrato?
Será que é somente porque a palavra «casamento» aplicada a um contrato celebrado entre duas pessoas do mesmo sexo pode ferir a «moral burguesa»?

Então que se afastem já todos os obstáculos a quem quer livremente associar-se e «constituir família em plena comunhão de vida» com alguém do mesmo sexo: mude-se o nome ao contrato!!!
Chamemo-lhe, por exemplo, «Contrato de Comunhão de Vida», «Contrato de Associação Familiar», ou outro nome qualquer.
Assim já está bem?
Será que a discussão de todo este problema é afinal meramente... semântica?

Claro que não!
O problema é bem outro: passa exclusivamente pela convicção que algumas pessoas têm de que, se determinam a sua própria vida de acordo com as opções sociais, éticas ou religiosas que entenderam por bem adoptar, o que, como é óbvio, lhes é perfeitamente legítimo, também se acham no direito de impor esses mesmos valores às outras pessoas.
O que já é completamente inadmissível.
Que estranha legitimidade é essa que dá a um habitante de Bragança a possibilidade de impedir que duas pessoas do mesmo sexo que vivem em Faro, se associem em comunhão de vida?

Se virmos bem, a questão do «casamento homossexual» – com esse nome ou com outro – passa antes de mais pelo reconhecimento de que ele constitui uma das mais básicas e fundamentais liberdades individuais dos cidadãos.
Tão importante como, por exemplo, a liberdade religiosa, é o direito a um cidadão determinar a sua própria vida.

Porque uma coisa é certa:
em nenhum país a democracia estará plenamente afirmada enquanto não for reconhecido esse direito!

 

Será este silêncio relevante?


No «Acidental» o Rodrigo Moita de Deus lamenta-se e pede desculpa aos seus leitores «por não estar a cumprir devidamente o seu papel de serviço público blogosférico na crítica da esquerda e dos socialismos em geral», e de não ter nada para dizer enquanto Sócrates «não se decidir».
E de que, enquanto isso não acontece, terá que se entreter a escrever «sobre música clássica, os princípios doutrinários do fascismo e as sondas que caiem nas luas de Saturno».
Confesso que estava à espera de ler num Blog de referência como é o «Acidental» uma alusão, por pequena que fosse, ao assunto blogosférico dos últimos dias: a aposentação por incapacidade do Dr. Branquinho Lobo e o despudor da sua nomeação para director nacional da P.S.P.

Mas não. Nem uma palavra.
Será este silêncio relevante?
Será ele verdadeiramente esclarecedor da linha editorial do «Acidental»?

Será, Rodrigo?

 

A giant leap for mankind



















Titã


sábado, 15 de janeiro de 2005

 

A Iniquidade


Confesso que estou surpreendido com a repercussão que teve o post sobre o Director Nacional da P.S.P., Branquinho Lobo: de inúmeras “linkagens” por essa Blogosfera fora, foi tema de "emails" em cadeia, foi notícia no «Público», no «Correio da Manhã» e no «Expresso», e o «Random Precision» mais que decuplicou o seu número médio de visitas diárias.

Sei agora o que sente aquele sujeito que está na casa de banho quando ocorre um tremor de terra que lhe deita a casa abaixo, no preciso momento em que ele puxa o autoclismo. E que pergunta:
- Eh pá! Fui eu que fiz isto?...

Mas este “fenómeno” só demonstra que se a Democracia não vive sem liberdade de expressão e sem uma comunicação social verdadeiramente livre, é um facto que a Internet, de um modo geral, e o recente fenómeno dos Blogs em particular, assumem uma relevância crescente, que não pode ser já ignorada.
Mas, de facto, a notícia é perturbante: a iniquidade de quem exerce um cargo de particular responsabilidade, como é o de director nacional de uma polícia, ao mesmo tempo que aufere uma pensão de aposentação milionária, ainda por cima decorrente de uma incapacidade para o serviço do Estado relacionada com o foro psíquico, não pôde deixar de chocar quem leu a notícia.
E mais do que a incompreensível acumulação das duas remunerações, ela levanta legítimas questões de muito maior importância, quer sobre a justeza da junta médica que julgou a incapacidade, quer sobre os próprios critérios de avaliação pessoal e psicológica de quem nomeia os altos responsáveis do Estado.
E também sobre os julgamentos de ética de quem nos governa.

Mas mais importante do que isso, é aquilo que todos nós sabemos: é que apesar da relevância que a comunicação social veio dar à notícia o que, decerto a levou ao conhecimento dos responsáveis governamentais e do próprio Director Nacional da P.S.P., nenhumas consequências ocorrerão.
O Dr. Branquinho Lobo continuará a ser Director Nacional da P.S.P., e continuará a auferir as duas remunerações a que se acha com direito.
E então a iniquidade será também de quem permite que esta situação continue!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

 

A Confirmação


Em entrevista ao «Correio da Manhã», Branquinho Lobo confirmou que, para além da pensão de aposentação por incapacidade, recebe ainda a quantia total de € 1.577,00 como director nacional da P.S.P., o que corresponde somente a um terço do vencimento normal daquele cargo.

O «Correio da Manhã», que numa confusão que só me honra atribui a origem da notícia ao «Barnabé» (que ontem teve a amabilidade de linkar o «Random Precision» neste assunto), confirmou ainda a aposentação do Director Nacional da P.S.P. depois de uma junta médica o ter dado como incapaz para estar ao serviço do Estado «por estar à beira de uma depressão».

Segundo aquele jornal, Branquinho Lobo declarou que a quantia que recebe para além da pensão de aposentação, por corresponder somente a um terço do normal, «foi uma condição moral para a aceitação do cargo», já que o esforço que desenvolve bem justificaria que recebesse a totalidade do vencimento.
E o Sr. Director acrescentou:
«Eu até sou maluco por estar a trabalhar na PSP e a ganhar um terço do vencimento».

Tu o disseste!!!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

 

O Sr. Director



Em Setembro de 2002 foi publicada na II Série do Diário da República a aposentação do Exmº. Senhor Juiz Desembargador Dr. José Manuel Branquinho de Oliveira Lobo, a quem foi atribuído o número de pensionista 438.881.

De facto, no dia 1 de Abril de 2002 o Dr. Branquinho Lobo havia sido sujeito a uma “Junta Médica” que, por força de uma doença do foro psiquiátrico, considerou a sua incapacidade para estar ao serviço do Estado, o que foi determinante para a sua passagem à aposentação.
De acordo com o disposto na alínea a) do nº 2 do artigo 37º do decreto-lei nº 498/72 de 9 de Dezembro, em caso de aposentação motivada por incapacidade ou doença, constitui regalia dos magistrados judiciais auferirem a sua pensão de aposentação por inteiro, como se tivessem todo o tempo de serviço para tal necessário. Por esse motivo, o Dr. Branquinho Lobo passou a auferir uma pensão de aposentação no montante de € 5.320,00.

Contudo, por resolução proferida no dia 30 de Julho de 2004, o Conselho de Ministros do Governo do Dr. Pedro Santana Lopes nomeou o Dr. Branquinho Lobo como Director Nacional da Polícia de Segurança Pública.
Desde então, o Dr. Branquinho Lobo acumula a sua pensão de aposentação por incapacidade com o vencimento de Director Nacional da P.S.P.

Moral da história:
Para ser Director Nacional da P.S.P. não é preciso ser doido.
Mas, pelos vistos, ajuda muito...

 

O Recuo


Ao contrário do que tinha sido anunciado em Novembro passado, a nova versão da lei que restringirá o uso de tabaco em locais públicos será muito menos restritiva.
Por exemplo, não proíbe já o fumo em restaurantes e bares e discotecas.
Na perspectiva das empresas que comercializam tabaco não faz sentido uma proibição total do consumo, defendendo antes um proibição selectiva dos diferentes espaços públicos, das escolas aos hospitais, passando pelos locais de trabalho, restaurantes, bares e discotecas.

O ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira negou quaisquer concessões às empresas tabaqueiras e recusou-se a admitir que tenha recuado na sua posição transmitida em Novembro.

Pois claro que não recuou.
Um bom ministro não recua: dá meia volta... e avança!

 

A Defesa da Honra


Alvo de críticas generalizadas pelas circunstâncias que rodearam a sua visita a São Tomé e Príncipe, o ministro da Presidência Nuno Morais Sarmento resolveu convocar uma conferência de imprensa com carácter de urgência, para «defender a sua honra».

De facto, Morais Sarmento disse que a polémica gerada em torno da sua visita atingiu proporções que considera «inaceitáveis», embora não tenha explicado o que tenciona fazer após tal consideração.
Mas, quando toda a gente esperava um esclarecimento, uma explicação que fosse, a defesa da honra do Sr. Ministro não passou por desmentir uma única das acusações que lhe foram imputadas.
Não.
Passou antes por um auto-elogio curricular muito emocionado, e pelo anúncio de logo à sua chegada a Lisboa tinha posto o seu lugar à disposição do Primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes.
No entanto, Morais Sarmento informou que Santana Lopes não só não tinha aceite a sua demissão como até lhe tinha reiterado toda a confiança no exercício das suas funções.

Ou seja: pelos vistos, a conferência de imprensa serviu somente para Morais Sarmento dividir com o Primeiro-ministro a responsabilidade política do regabofe que protagonizou.

 

Led Zeppelin


No dia 12 de Janeiro de 1969 foi editado o primeiro álbum da banda de rock Led Zeppelin.

A banda foi formada pelos músicos:
Jimmy Page (guitarra)
Robert Plant (voz)
John Bonham (bateria)
John Paul Jones (baixo)

No dia 25 de Setembro de 1980, com a morte de John Bonham, os restantes membros decidiram extinguir o grupo. Somente se tornariam a reunir mais duas vezes:
no dia 13 de Julho de 1985 no concerto «Live Aid», tendo Phil Collins e Tony Thompson ocupado o lugar da bateria;
em 1988 num concerto comemorativo do aniversário do grupo, tendo Jason Bonham ocupado na bateria o lugar do seu pai.

Os Led Zeppelin são considerados uma das bandas mais influentes da história do Rock 'n Roll e os verdadeiros percursores do «hard rock».

 

Maurice Gibb








Maurice Ernest Gibb
(22 de Dezembro de 1949 – 12 de Janeiro de 2003)


 

Agatha Christie












Agatha Mary Clarissa Christie
(15 de Setembro de 1890 – 12 de Janeiro de 1976)


terça-feira, 11 de janeiro de 2005

 

Alheio à Crise


Há muito que Paulo Portas adoptou a estratégia clara de tentar capitalizar o desgaste do PSD, numa engraçada forma de cumprimento do «Pacto de Não-Agressão» que celebrou com este partido.

Chegou agora a vez de António Lobo Xavier, que declarou ao «Jornal de Notícias»:
«Toda a gente reconhece que o CDS-PP é completamente alheio à crise política».

Eu cá acho «que toda a gente reconhece» que nem o próprio Lobo Xavier acredita nisto.
Mas o que me surpreende é a apatia e a ingénua conformação do PSD face a estas persistentes e repetidas afrontas do PP, com quem persiste em querer celebrar uma coligação pós-eleitoral.

 

O Candidato


O ministro da Presidência Morais Sarmento resolveu ir a São Tomé e Príncipe para ir oferecer ao Governo local uns equipamentos de televisão em segunda mão.

Aproveitou para dar uns mergulhos. Tudo bem.
Mas para evitar a chatice que é viajar em classe executiva nos voos regulares como o comum dos mortais, Sua Excelência fretou um jacto particular, que tem estado à sua espera, com o «taxímetro» a contar, na placa do aeroporto de São Tomé.
Só o avião custou 100.000 euros ao erário público.

Eu nem sei quem é que este gajo pensa que é.
Mas o que é facto é que é candidato para ir para lá outra vez!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

 

A Tragédia! O Drama! O Horror!


No dia 10 de Janeiro de 1994 teve início o julgamento de Lorena Gallo Bobbitt, de 24 anos, acusada de um dos piores crimes que alguém poderá algum dia praticar.

De facto, Lorena Bobbitt era acusada de no dia 23 de Junho de 1993 (o dia do seu aniversário) ter pegado numa faca de cozinha muito afiada e ter cortado o pénis do seu marido John Wayne Bobbitt, enquanto este dormia.
O marido amputado chamou imediatamente a polícia, que logrou encontrar o pedaço do pénis cortado no chão do quarto. Tendo ambos sido imediatamente conduzidos ao hospital, pode ainda o pénis ser cirurgicamente reimplantado.
Lorena justificou a sua atitude pelo facto de o marido ser “egoísta” pois «não lhe dava orgasmos».

No final do julgamento o júri considerou a mulher inocente, com o fundamento de que ela tinha somente obedecido ao «impulso irresistível» de cortar o pénis ao marido e, portanto, não era responsável pelos seus actos.
Quanto a John Bobbitt, a fama que o caso lhe proporcionou levou-o a mostrar o sucesso da cirurgia de reimplantação, tornando-se actor de filmes pornográficos.
Protagonizou dois filmes: «Frankenpenis» e «John Wayne Bobbitt … Uncut».

 

Tintim



No dia 10 de Janeiro de 1929 foi publicado o livro «Tintin au pays des Soviets», a primeira aventura de Tintim, o herói da banda desenhada da autoria de Georges Rémi (Hergé).


Até hoje as aventuras de Tintim estão traduzidas em mais de 50 idiomas e foram publicados mais de 200 milhões de livros.


 

O Sancta Simplicitas!


Esta noite no programa de televisão «Herman Sic» foi entrevistada uma mulher de nome Felismina Tavares.
O mediatismo da personagem, e o motivo da sua ida à televisão, residia no facto de que a prestimosa senhora alega conversar com Deus, com Jesus Cristo e com a Virgem Maria.
Como prova das suas palavras, mostrou até diversos limões onde vislumbrava as imagem de Maria, de Jesus, e diversas mensagens de esotérico misticismo.
Mostrou depois algumas pedras onde conseguia distinguir ossos e figuras humanas e de animais. Numa das pedras, disse, via-se claramente que Adão era de raça negra.
De seguida, relatou uma experiência com umas folhas caídas no chão e uma voz de um anjo, de onde retirou o prenúncio do maremoto na Ásia, embora o não tenha publicitado convenientemente.
Finalmente, revelou que desde 1992 anda a anunciar uma grande desgraça para Portugal.

Confesso que me perturbou um pouco a exploração televisiva da «santa simplicidade» de Felismina Tavares.
Mas o que me chocou verdadeiramente foi o gozo, os incontidos e babados risos alvares da assistência do programa, e a chacota generalizada de que a senhora e as suas crenças foram alvo.

Porque talvez a verdadeira simplicidade esteja naqueles que, rindo-se das “Felisminas Tavares” deste mundo, nem sequer se apercebem que elas são precisamente a base da religião que provavelmente professam.

domingo, 9 de janeiro de 2005

 

O Senhor Marquês


O ministro da Defesa, Paulo Portas, anunciou que disponibilizou uma verba de 600 mil euros que se destina a recuperar os cemitérios das antigas colónias portuguesas onde se encontram sepultados milhares de combatentes.

O anúncio desta decisão, já em pré-campanha eleitoral, não deve ser estranho à convicção de Portas de que encontra um «nicho de mercado» eleitoral entre aqueles que lutaram na Guerra Colonial, e que o levou já a vender quartéis para dar 20 euros por ano a cada um.

Desta vez vai mais longe porque, pelos vistos, depois de durante três anos ter feito parte deste Governo, quer agora ficar na História como uma espécie de Marquês de Pombal ao contrário: depois de enterrar os vivos, vai agora cuidar dos mortos...

 

O espalha-brasas


Decerto motivado pelas mais recentes sondagens, que continuam a reafirmar a sua completa irrelevância política, Manuel Monteiro continua a pensar que mais vale que comentem os seus disparates do que o ignorem por completo e nem sequer falem de si.
O que desta vez veio à cabeça deste «espalha-brasas» da política portuguesa, foi desafiar o Presidente da República, Jorge Sampaio, a quem acusa de ser «um activo do PS», a demitir-se na noite das eleições caso nenhum partido ganhe as legislativas com maioria absoluta.

Manuel Monteiro está enganado: não é porque o Presidente da República não corresponde às suas expectativas pessoais que passa a ser «um activo» de outro partido que não o seu, e que por isso se deverá demitir.
Já aqui uma vez defendi que, quando um político se apresenta ao eleitorado com um determinado programa, celebra com aqueles que em si votam um “contrato político”, que tem de cumprir.
E quando um político sai vencedor das eleições, as regras da democracia impõem que seja esse programa político, esse contrato político, a vigorar e a prevalecer sobre os demais, que saíram derrotados.
Foi o que sucedeu com Jorge Sampaio que, por duas vezes, derrotou nas urnas adversários com programas políticos distintos e, inclusivamente, sempre anunciou que se manteria filiado no Partido Socialista.
Foi nele em quem os portugueses votaram; não em Cavaco Silva ou em Ferreira do Amaral.
Por isso, Jorge Sampaio tem de honrar o contrato político que celebrou com os seus eleitores, e tem de agir de acordo com aquilo que lhes propôs e com aquilo que dele se espera face à sua personalidade política.
Tem, pois, de cumprir o seu mandato em toda a sua plenitude, e exercer os poderes constitucionais que o regime semi-presidencialista português lhe confere.
Foi isso que Sampaio não fez quando nomeou Santana Lopes após a saída de Durão Barroso.
Mas foi o que fez agora, finalmente, quando o demitiu.

É com isso que Manuel Monteiro tem de aprender a resignar-se!
Mesmo que se ponha em bicos de pés e tente todos os expedientes para ser falado nos jornais.
Como desta vez, em que veio dizer ao Procurador Geral da República que acha que tem o seu telefone sob escuta, assumindo-se como o grande protagonista de um «Watergate à portuguesa».
Como se alguém estivesse interessado em ouvir o que ele diz...

 

Religiões e Ditaduras


Bem a propósito do texto anterior, este post de Carlos Esperança, no «Diário Ateísta».



 

Escrivá de Balaguer


Josemaría Escrivá de Balaguer y Albas
(9 de Janeiro de 1902 – 26 de Junho de 1975)

Josemaria Escrivá de Balaguer y Albas foi fundador da prelatura católica da Opus Dei.
Balaguer sentiu pela primeira vez a sua vocação e a chamada para o sacerdócio ao observar na neve as pegadas de um monge que passava.
Foi ordenado em 28 de Março de 1925.
Após um retiro de oração sentiu como vontade de Deus a criação da Opus Dei, que levou a cabo no dia 2 de Outubro de 1928.
De acordo com os seus princípios, os membros da Opus Dei devem aprender a santificar-se a si próprios pela oração, pela castidade e pelo sacrifício pessoal, ao mesmo tempo que estão inseridos normalmente em todas as actividades quotidianas da sociedade.
À data da sua morte, em 1975 a organização contava já mais de 60.000 membros, espalhados por quase todos os países do mundo, sendo famosa a auto-protecção e os fortíssimos lobbies entre os seus membros e protegidos.

É conhecida a extrema ortodoxia de Josemaria Escrivá de Balaguer y Albas, principalmente no que se refere à atitude da Igreja Católica para com a mulher, e o seu excessivo entusiasmo pelas práticas de flagelação e de mortificação da carne, que considerava uma virtude sagrada, e que dizia terem sido praticadas por Jesus Cristo, São Paulo e por todos os santos.
Chegava a chicotear-se violentamente a si próprio durante horas a fio, até deixar o sangue a escorrer pelas paredes.
Nos seu livro «O Caminho», escreveu:
«Abençoada dor; amada dor; santificada seja a dor; glorificada seja a dor».

Más línguas têm ainda criticado Balaguer pela sua colaboração e proximidade com o regime fascista de Francisco Franco, e a sua aparente complacência e falta de vontade para criticar os crimes praticados pelos falangistas durante a Guerra Civil Espanhola, enquanto durante toda a sua vida foi um duro crítico dos republicanos.

No dia 6 de Outubro de 2002 o Papa João Paulo II canonizou Josemaria Escrivá de Balaguer y Albas, e se o fez tão pouco tempo foi porque Balaguer havia deixado o seu próprio processo de canonização completamente instruído e pronto para depois da sua morte.
Na homilia da sua canonização João Paulo II declarou:
«Com sobrenatural intuição, o abençoado Josemaria pregou a chamada universal para a santidade e para o apostolado. Cristo pede-nos a todos que mantenhamos a santidade nas realidades da vida quotidiana. O trabalho é um meio de apostolado e santidade da pessoa, quando é feito em união com Jesus Cristo».

O milagre, que segundo o direito canónico é necessário ao reconhecimento da santidade e posterior canonização, proveio da cura miraculosa de uma freira que sofria de um tumor adiposo que, sem explicação médica que se conheça, desapareceu completamente após persistentes rezas dos seus familiares onde pediam a intercessão de Balaguer.

sábado, 8 de janeiro de 2005

 

Falta de Pudor


Em entrevista à SIC Notícias o Presidente da República, Jorge Sampaio defendeu que é preciso mudar o sistema eleitoral «mantendo a proporcionalidade para chegar à possibilidade de fazer maiorias absolutas com mais facilidade».
Caiu o Carmo e a Trindade!
De imediato choveram as críticas do PCP, do PSD e do PP., como se de repente Jorge Sampaio tivesse ficado impedido de ter uma opinião e até de a manifestar.

Mas foi do PSD que vieram as críticas mais contundentes: com uma deselegância e uma falta de chá que, infelizmente, já não surpreendem ninguém, os seus responsáveis partidários afirmaram que o Presidente «revelou uma faceta de comediante» e que «já não há pudor em Belém».

Freud deve estar às voltas no túmulo se ouviu um dirigente do PSD a acusar alguém de ser «comediante» e de «falta de pudor».
Mas, a este propósito, nada melhor do que dar a palavra a José Pacheco Pereira, um dos poucos responsáveis do PSD que ainda manifesta algum pudor e se indigna com as comédias dos seus colegas de partido.

Diz Pacheco Pereira no «Abrupto»:

AMNÉSIA
Tanto esquecimento no PSD! Fazem parte do património legislativo do partido, várias propostas destinadas a baixar a percentagem dos votos necessários para se poder governar em maioria absoluta. Uma delas apontava o limiar dos 38% dos votos e deu origem a uma grande discussão sobre a falta de governabilidade induzida pelo sistema eleitoral. O problema não é só do PSD, é também do PS, com muitas dificuldades para fazer coligações à esquerda pela marginalização do PCP da governação.
O PCP e o PP, que se lhes opuseram, lembram-se certamente dessas propostas. O PSD esqueceu-se. Hoje raciocina como um pequeno partido que precisa de garantias para se coligar e desistiu de chegar lá sozinho. A governabilidade interessa-lhe pouco e ficar refém do PP importa ainda menos a muitos que desejam o PSD como partido de direita. Começa a interiorizar uma pequenez que não lhe pertence.

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