sexta-feira, 31 de dezembro de 2004

 

Um bom ano de 2005


«Um carabineiro com um martelo de madeira dá-me um forte golpe nos dedos mindinhos de ambas as mãos. A seguir, com um alicate, começa a arrancar-me as unhas. Nesse momento entra o sargento, que lhe tira o alicate para o utilizar a arrancar-me o bigode. Em dada altura, como resultado da grande dor e do desespero, consigo morder-lhe a mão, o que faz com que um carabineiro me dê uma coronhada na cara. Perco a consciência e, ao despertar, dou-me conta que sangro muito da cabeça, do nariz, da boca, e que me faltam oito dentes. Tinham-mos arrancado com o alicate ou com golpes. Não sei».

«Estava grávida de cinco meses. Obrigaram-me a ficar nua e a ter relações sexuais com a promessa de uma pronta libertação. Apalparam-me os seios, deram-me choques eléctricos nas costas, na vagina, no ânus. Arrancaram-me as unhas dos pés e das mãos. Agrediram-me com bastões de plástico e com a coronha de espingardas. Drogaram-me. Simularam fuzilar-me. Deitada no chão, com as pernas abertas, introduziram-me ratos e aranhas na vagina e no ânus. Sentia que era mordida e acordava banhada no meu próprio sangue. Conduzida a lugares onde era violada vezes sem conta, chegaram a obrigar-me a engolir o sémen dos violadores. Enquanto me agrediam na cabeça, no pescoço, na cintura, obrigavam-me a comer excrementos».

Entre 35.686 testemunhas, estes são apenas dois depoimentos de vítimas de tortura da Junta Militar do Chile durante o regime de Pinochet que voluntariamente se dirigiram à “Comissão Nacional sobre Prisão Política e Tortura”.
Esta comissão foi criada no Chile em 2003 para dar a conhecer em toda a sua extensão, aos chilenos e ao mundo, os horrores praticados pela ditadura militar e pela adopção da tortura e do horror como uma política de Estado no período compreendido entre 1973 e 1990.

Como pode isto acontecer?
Como podem tantos seres humanos praticar actos de uma barbárie indescritível?

Recordo-me então da experiência realizada em 1974 por Stanley Milgram, professor de psicologia social na Universidade de Yale, com o objectivo de estudar a «Obediência à Autoridade».
Entre pessoas comuns (operários, estudantes, secretárias, empresários, lojistas, etc.) foram recrutados voluntários a quem foi atribuído o papel de “professores”.
Esses “professores” foram instruídos a aplicar choques eléctricos de intensidade crescente (de 15 a 450 Volts) num outro indivíduo (que estava amarrado a uma cadeira com eléctrodos numa sala adjacente), e que era designado "estudante". Os choques seriam administrados todas as vezes que o "estudante" errava uma resposta a um questionário previamente determinado.
Milgram tinha explicado aos "professores" recrutados que o objecto daquele estudo residia precisamente nos efeitos da punição sobre a memória e sobre aprendizagem.
Como é óbvio, o "professor" não sabia que o "estudante" da pesquisa era afinal um actor, que convincentemente interpretava e manifestava desconforto e dor a cada aumento da potência dos “choques eléctricos” que lhe eram infligidos.
O resultado da experiência foi absolutamente perturbador e mais “chocante” que qualquer voltagem aplicada: nada menos do que 65% das pessoas envolvidas – os "professores" – chegaram mesmo, e sem qualquer hesitação, a administrar ao "estudante", sob ordens do cientista (que na experiência representava a “autoridade”) os choques mais potentes, dolorosos e claramente identificados como perigosos e potencialmente mortais (450 volts).
E todos os "professores" - mas todos eles - administraram pelo menos 300 volts!
Em muitos casos houve "professores" que a determinada altura da aplicação dos choques eléctricos se preocuparam com o bem-estar do "estudante" e até perguntaram ao cientista quem se responsabilizaria caso algum dano viesse a ocorrer.
Mas quando o cientista os descansou, afiançando-lhes que assumiria qualquer responsabilidade do que acontecesse e os encorajou a continuar, todos os "professores" persistiram na aplicação dos choques com as voltagens mais elevadas, mesmo enquanto ouviam gritos de dor e súplicas dos “estudantes” para que os parassem.

É esta “obediência”, firmada em primeiro lugar na ausência de um consciência individual, e que é cega a qualquer noção de ética, censura moral ou até à mais básica dignidade humana, que leva às barbaridades praticadas nas ditaduras latino americanas, na União Soviética, na Alemanha de Hitler, ou noutro país qualquer, até mesmo em Portugal, e que conduziu ao Holocausto e ao frio extermínio de milhões de pessoas.

As ditaduras podem ser instituídas por uma “Junta Militar” ou por um qualquer punhado de indivíduos que assumiram num país uma tal concentração de poderes que lhes permite a prática impune de tudo o que lhes vem à ideia. Mas só é possível – sejamos claros – com a complacência, com a cumplicidade de toda a estrutura da sociedade. De todos nós.
De facto, Stanley Milgram repetiu a sua famosa experiência em mais de uma dezena de outros países, de todos os continentes, sempre com resultados absolutamente idênticos.
Do Chile de Pinochet ao Cambodja de Pol Pot, passando pelo Portugal da Pide e dos Tribunais Plenários, será talvez a “obediência” e a "falta de sentido crítico" que explica por que motivo pessoas comuns, colocadas em determinadas circunstâncias e sob a influência de uma autoridade, que nem sequer se lembram de questionar, sejam capazes de cometer os crimes mais hediondos.

E é até irónico que virtudes humanas como lealdade, disciplina, e sacrifício próprio, que tanto valorizamos, sejam as mesmas propriedades que criam máquinas destrutivas de guerra e corrupção e ligam homens e mulheres a sistemas perversos.
Sistemas que são, ainda hoje, incondicionalmente apoiados por tantas e tantas pessoas.

É a este planeta, habitado pelos humanos, que desejo um bom ano de 2005.




 

I dreamt music...



quinta-feira, 30 de dezembro de 2004

 

A Imbecil


Li no «BLOGotinha» (onde também roubei a foto) que a SIC Notícias apresentou uma reportagem onde foram entrevistados vários portugueses que, mesmo depois da tragédia ocorrida no Sudeste Asiático, decidiram manter as suas férias e partiram para a Tailândia como se nada tivesse acontecido.
Foi entrevistada a nossa compatriota Dulce Ferreira, que declarou à SIC que tinha decidido partir para a Tailândia «porque já tinha as suas férias marcadas». Disse ainda que não tinha ficado nada preocupada com o que tinha acontecido «porque os pais lá estavam e lhe tinham enviado uma mensagem a dizer que tinha havido uns tsunamis e umas coisas, mas que estavam bem».
Quando a jornalista lhe perguntou se estava triste com toda a situação Dulce Ferreira respondeu:
«Sim, claro, agora já não vou ter todas as condições de férias que iria ter se por acaso não tivesse acontecido nada disto. Por outro lado, estou contente, porque vejo as coisas mais ao natural, como elas são».

Palavras para quê?

quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

 

Silêncio, que se vai cantar o fado!


aqui comentei que o PSD ofereceu nada menos que quatro deputados a dois partidos cuja força eleitoral não representa, em conjunto, mais de 0,5%.
Trata-se do «Movimento Partido da Terra» e de um célebre grupo de fadistas às vezes também conhecido como «Partido Popular Monárquico».

Sabe-se já que quem vai representar o P.P.M. na Assembleia da República serão Miguel Pignatelli Queiroz, presidente do partido, e o fadista Nuno da Câmara Pereira.
E podemos desde já conhecer quais os principais contributos que na sede do Poder Legislativo podemos esperar destes «adeptos da Coroa».
Pignatelli Queiroz afirmou que «o PPM não vai incluir o referendo sobre a monarquia no programa, embora esta seja a linha de força do partido e a primeira prioridade do PPM», sem se esquecer de dizer que considera a Constituição Portuguesa como «completamente antidemocrática».
E sem explicar com que intenção vai jurar cumpri-la quando for eleito.

Por sua vez, Nuno da Câmara Pereira, que como toda a gente sabe é um artista, referiu que o acordo eleitoral que o transformará em legislador foi sem dúvida um bom acordo, tanto para o PPM como para o PSD.
O futuro deputado, cujo sucesso artístico, a julgar pelo número de discos vendidos, deverá encontrar o seu público exclusivamente nos eleitores do P.P.M., ficou conhecido nas últimas eleições autárquicas pelas denúncias de casos de corrupção na Câmara de Sintra.
Embora nos últimos tempos se mantenha estranhamente silencioso, mesmo perante o escândalo recentemente vindo a público e envolvendo já a gestão de Fernando Seara, como foi o caso do estranho loteamento do «Belas Clube de Campo», de André Jordan, que aqui relatei em pormenor.
O fadista referiu ainda que tem uma visão «muito pessimista» do cargo de deputado, não explicando, contudo, o que vai fazer para o melhorar.

 

2004 MN4


O «2004 MN4» é um asteróide que tem cerca de 400 metros de diâmetro, e que atingirá o seu ponto mais próximo da Terra no dia 13 de Abril de 2029.

O problema é que não se sabe ainda a que distância da Terra ficará esse “ponto mais próximo” já que, embora seja descrita como «extremamente remota», não está completamente posta de parte a possibilidade de colisão com o nosso planeta.
Para se obter uma certeza absoluta, serão ainda necessários estudos mais aprofundados e uma vigilância mais atenta a este intruso espacial, que bem poderia causar danos muito sérios à Terra em caso de colisão.

No desenho à direita, a linha azul representa a trajectória do asteróide 2004 MN4 e a posição em que provavelmente se encontrará no dia 13 de Abril de 2029.
Contudo, uma vez que a posição do 2004 MN4 no espaço não está ainda perfeitamente determinada, o pequeno risco branco (no fim da linha azul) representa as localizações possíveis do asteróide naquele dia.

De realçar que nem a trajectória do asteróide, nem nenhum dos seus prováveis posicionamentos, tocam o nosso planeta, de onde se deduz que a probabilidade de um impacto está, por agora, posta de lado.

De qualquer modo, e não vá o Diabo tecê-las, a agência espacial norte-americana (NASA) tem vindo a estudar o uso de energia nuclear em missões espaciais num futuro muito próximo, estando em avançado estado de projecto uma nave que possa aterrar em asteróides considerados perigosos e desviá-los da sua rota, quer utilizando uma espécie de “rebocador espacial”, quer mesmo com o recurso a projécteis atómicos.

terça-feira, 28 de dezembro de 2004

 

Personalidades e Personagens


No «Acidental» o Paulo Pinto Mascarenhas respondeu com elegância digna de nota ao meu post sobre a nomeação de George W. Bush como personalidade do ano de 2004.
E à minha referência às nomeações feitas em anos anteriores de personalidades como Hitler, Estaline ou Khomeini, o Paulo lembra as nomeações de Gorbachev, Walesa ou Ghandi.
E lembra muito bem!

Ou seja: a nomeação de determinada pessoa como «Personalidade do Ano» pela revista «Time» não significa, só por si, uma referência elogiosa ou positiva, como se infere do post do «Acidental».
Uma vezes significa, outras não.
E, para mim, no caso de George W. Bush a referência deste ano não é mesmo nada elogiosa.

Por isso, caro Paulo, não coloco a nomeação de Bush ao lado das nomeações de Gorbachev, Walesa, Ghandi ou Martin Luther King.
Isso seria, de facto, muito insultuoso para eles.

 

As previsões anuais


Já em tempos contei aqui que James Randi oferece um prémio de um milhão de dólares a quem consiga demonstrar, sob rigorosas condições de observação, qualquer tipo de poderes de origem sobrenatural, paranormal ou do oculto.
No site James Randi Educacional Foundation" estão detalhadamente explicadas as regras deste atractivo desafio, que é dirigido a quem se reclame possuidor de qualquer tipo de “poderes”, ou até simplesmente conheça casos de milagres, curas, visões, astrologia, tarot, cartomância, búzios, dobragem de colheres, telequinésia, psicoquinésia, visão de auras, etc. etc.

Vem isto a propósito das costumeiras previsões feitas normalmente nesta época, que pretendem adivinhar os acontecimentos mais significativos do próximo ano.
Que fique claro que nada tenho contra aqueles, que respeito, que acreditam em toda a parafernália de poderes mais ou menos ocultos que hoje estão à disposição do público consumidor.
Como é óbvio, e até porque nada tenho nada a ver com isso, aceito respeito, e até defendo, o direito à fé e à livre crença dos demais cidadãos (seja em Deus, seja nas mais diversas formas do oculto), embora esteja ciente de que, frequentemente, não me é reconhecida reciprocidade. Mas isso é outra questão.
E aceito plenamente a boa fé, sinceridade e honestidade daqueles que acreditam.

Mas uma coisa é certa: confesso que tenho muita dificuldade em acreditar na sinceridade, na boa fé e na honestidade intelectual daqueles que fazem do “oculto” a sua profissão.

Se entendo a boa fé e a sinceridade da pessoas que acreditam naquilo que um astrólogo ou um cartomante lhes diz, frequentemente em situações de desespero e angústia pessoal absolutamente compreensíveis, já tenho muita dificuldade, por outro lado, em admitir a honestidade e a sinceridade do próprio astrólogo ou cartomante.
E isto sem falar nos “bruxos” com misteriosos nomes, mais ou menos africanos, que com o maior despudor se anunciam nos jornais ao lado das linhas eróticas.
E cuja actividade, de acordo com a actual formulação do Código Penal, preenche o tipo legal do crime de burla.

Se é frequente criar-se um ascendente emocional e intelectual de um astrólogo, por exemplo, sobre o seu “cliente”, é também normal que este acredite que uma determinada conjugação de Marte com Vénus, mostrada num misterioso quadro cheio de riscos ilegíveis para o comum dos mortais, lhe vai influenciar a vida amorosa ou profissional durante o ano que aí vem.
Que haja quem acredita que a morte do Papa, um cataclismo, a decadência de uma actriz famosa, ou outras desgraças que tais, estão prenunciadas numa críptica enunciação astral, eu entendo.

O que eu não entendo é o astrólogo que as profere.
Por muito sucesso mediático de que se revista ou por muito que cobre por cada “consulta”.
Porque a formulação das previsões por um «profissional» é antes de mais um acto consciente e intelectual, e tem à partida de obedecer a premissas lógicas e muito concretas.

Peço imensa desculpa, mas não acredito que alguém que consegue encontrar a formulação verbal da previsão de uma determinada catástrofe natural, ou descortina o estado de saúde ou a previsão da vida profissional ou amorosa de um cidadão terrestre, e que as fundamenta na posição de planetas e estrelas distantes ou até em cartas atiradas aleatoriamente para cima de uma mesa, e consegue transmitir tudo isto às outras pessoas sem sequer se rir, esteja sinceramente de boa fé.
Nem acredito que alguém não esteja simplesmente a tomar por papalvo quem se dispõe a ouvir teorias tão fantasmagóricas quanto inconsistentes e cuja principal «base científica» de sustentação reside unicamente no facto de ter origem na Mesopotâmia, há mais de 10.000 anos.

Como não entendo a “Direcção de Programas” ou a Administração da televisão do Estado que permite que uma “astróloga” dê consultas em directo e aconselhe e influencie um cidadão a não investir num determinado negócio porque os «astros não são propícios».

Não concebo a honestidade intelectual de alguém cuja profissão é dizer às pessoas coisas como estas:
«Na maioria dos casos o regente da “Casa 6” refere-se ao modo como o indivíduo conduz a sua alimentação e os seus cuidados com a saúde, bem como a sua capacidade de prestar serviços» mas que «se Saturno estiver na “Casa 6” isso significa que vamos ter uma artrose».
Ou que «se o “nosso planeta” estiver em Caranguejo, os nossos problemas de saúde são derivados de problemas de família, de neuroses ou de reminiscências de traumas infantis que podem gerar problemas no aparelho digestivo e na linfa».

Pode ser que exista algures, até admito. E então o defeito é meu.
Mas pura e simplesmente não entendo que alguém que diz isto seja intelectualmente honesto e possa estar de boa fé.
Porque se estiver, desafio-o aqui desde já a concorrer ao prémio de um milhão de dólares oferecido por James Randi, e a que acima me referi.

Por isso, quando na televisão vejo um astrólogo a «actuar», já sabem o que penso dele.
E onde penso que devia estar...

 

Arquipélago de Gulag


No dia 28 de Dezembro de 1973, o escrito russo Aleksandr Solzhenitsyn publica o livro «O Arquipélago de Gulag».

Aleksandr Isayevich Solzhenitsyn nasceu no dia 11 de Dezembro de 1918 em Kislovodsk, na Rússia. Foi galardoado com o Prémio Nobel da literatura em 1970. Em 1974 foi privado da sua cidadania e exilado da União Soviética, até 1994.
Combateu na Segunda Guerra Mundial, onde chegou ao posto de capitão, e foi preso em 1945 por ter ousado criticar Estaline numa carta escrita a um cunhado. Foi condenado a 8 anos de prisão com trabalhos forçados, que cumpriu em campos de trabalho do sistema prisional soviético conhecido como «Gulag».
O «Gulag» é o acrónimo de “Directoria Principal dos Campos de Trabalho Correcional», e foi criado especificamente para punir os opositores políticos do Estado Soviético.

O tempo que passou nos campos de concentração serviu-lhe de inspiração para os seus primeiros livros: «O Primeiro Círculo» e «Um dia na Vida de Ivan Denisovich», que pela primeira vez chamaram à atenção do Ocidente para a feroz repressão que se vivia no interior da União Soviética.
Mas foi «O Arquipélago de Gulag», a sua monumental história do sistema de campos de trabalho forçado soviéticos para prisioneiros políticos, que tornou impossível quer nos países ocidentais quer também na própria União Soviética ignorarem-se as brutais realidades do regime comunista.

No entanto, ainda hoje, e decorridos já 15 anos sobre a queda do «Muro de Berlim», muita gente não sabe que os seus livros foram escritos.
Ou então, não quer saber...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2004

 

Peço desculpa, foi engano


Quando na passada quinta-feira Bagão Félix anunciou a passagem de mil milhões de euros do fundo de pensões da Caixa Geral de Depósitos para o orçamento de Estado, de imediato Vítor Martins, o presidente do conselho de administração da Caixa e toda a restante equipa administrativa apresentaram a sua demissão ao ministro das Finanças.

Esta decisão foi unanimemente reconhecida como «uma atitude de dignidade pessoal e profissional de toda a administração».

Contudo, as mais recentes notícias dão conta de que o presidente da Caixa Geral de Depósitos e todos os restantes administradores voltaram atrás na sua decisão, tendo retirado os seus pedidos de demissão, ao que parece porque consideraram que a sua saída causaria «uma instabilidade muito negativa» e também em consideração aos «muitos pedidos» de Santana Lopes.

Entendo perfeitamente esta mudança de posição.
Como diz o ditado, só os burros é que não mudam de opinião.
Por isso, estou sinceramente convicto de que esta atitude dos senhores administradores tem exclusivamente a ver com uma nova e distinta maneira de ver o problema, provavelmente porque agora dão como boa a medida do Governo.
Como estou convencido de que esta decisão não tem absolutamente nada a ver com os montantes dos salários que deixariam de auferir.

 

Person of the Year





A «Time» escolheu George W. Bush como a personalidade do ano de 2004.


No «Acidental» concordaram com a escolha porque, de facto, a personalidade do ano de 2004 foi o Presidente americano.
E até dizem: «quem não o percebeu, não percebeu nada».



Mas recordo que a «Time» escolheu como personalidade do ano de 1938 Adolf Hitler.






E que em 1939 e em 1942 a «Time» escolheu Estaline.






Como em 1979 escolheu Khomeini.


Pois é.
Se no «Acidental» não perceberam isto, de facto não perceberam nada...

 

Beagle


No dia 27 de Dezembro de 1831 Charles Darwin (então com 22 anos) partiu de Inglaterra com destino às ilhas Galápagos, a bordo do bergantim «Beagle» naquela que seria uma das mais importantes viagens da história da Humanidade.

Charles Robert Darwin nasceu no dia 12 de Fevereiro de 1809 e tornou-se um dos mais famosos cientistas de todos os tempos, pelas suas teorias da evolução e da selecção natural das espécies.
Darwin defendeu que toda a vida na Terra evoluiu e se desenvolveu, gradualmente durante milhões de anos a partir de antepassados comuns, através de um processo que denominou «selecção natural», e afirmou que os milhões de espécies que já povoaram o nosso planeta têm origem numa única forma de vida original diferenciadas a partir de um complexo processo a que chamou «especialização».
A teoria da evolução das espécies de Darwin sustenta que a variação dentro das diferentes espécies ocorreu aleatoriamente e que a sobrevivência ou extinção de cada organismo é determinada pela sua capacidade de adaptação ao meio.

Na elaboração da sua teoria foram determinantes os estudos de Darwin nas ilhas Galápagos, onde as espécies existentes, apesar de endémicas, lhe lembraram outras que vivem em locais muitos distantes, e ainda a correlação com os estudos anteriores feitos por Lamarck (1744-1829), quanto à adaptação das espécies ao meio ambiente em que vivem, e também por Thomas Malthus (1766-1834).
No seu livro “Ensaio sobre o Princípio da População”, Malthus defendeu que ao longo das gerações a competição por alimentos é cada vez maior entre os indivíduos de uma determinada população, já que, apesar do aumento do número de indivíduos, as fontes de alimentação se mantêm constantes.
Isso levou Darwin a pensar que, nestas condições, somente os indivíduos mais aptos poderiam sobreviver, à custa dos indivíduos menos aptos, num processo a que chamou “Selecção Natural”.
Em 1859 Charles Darwin publicou o livro «On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life», ou simplesmente «A Origem das Espécies», a que se seguiram algumas outras obras publicadas até à sua morte em 19 de Abril de 1882.
A teoria de Darwin só recebeu pleno acolhimento no meio científico já no século XX, e somente após as descobertas de Mendel sobre a transmissão hereditária de caracteres, e revolucionou definitivamente o modo como o mundo científico e o homem de uma maneira geral compreendem e encaram hoje a existência da vida no nosso planeta.

A obra de Darwin causou um extraordinário impacto, principalmente nos meios religiosos. E é curioso como ainda hoje, 145 anos depois da publicação do seu livro, tantas pessoas se oponham tenazmente à ideia da evolução, simplesmente porque... acreditam que ela "contradiz" as suas convicções religiosas.


domingo, 26 de dezembro de 2004

 

Tsunami


No Sudeste Asiático um maremoto de grau 8,9 na escala de Richter, com epicentro ao largo da ilha indonésia de Sumatra, provocou um tsunami que causou já dezenas de milhar de mortos no Sri Lanka, Índia, Tailândia, Indonésia, Malásia e Maldivas.

Uma vez mais a natureza nos lembrou da nossa pequenez e insignificância.



 

Samuel Beckett







Samuel Barclay Beckett
(13 de Abril de 1906 – 26 de Dezembro de 1989)
«Every word is like an unnecessary stain on silence and nothingness».

Samuel Beckett nasceu perto de Dublin, na Irlanda, e foi Prémio Nobel da literatura em 1969.
São célebres algumas das suas citações:
«A vida é um mistério a viver».
«Encontrar a forma que acomode o caos, essa é agora a tarefa do artista»
A propósito da crescente influência da Igreja Católica no Estado irlandês:
«Eu não aceito nem nego nenhum dogma. Concedo a toda a gente completa liberdade de fé. Mas quando a Igreja – qualquer Igreja – se excede e deita abaixo as leis que não lhe dizem respeito, protesto e oponho-me».
E no final da sua vida:
«God? The bastard! He doesn't exist!».

 

O Auto




 

Túnel do Marquês


No «Público» um um excelente artigo de Manuel João Ramos, presidente da «Associação dos Cidadão Auto-Mobilizados» (Blog «Paz na Estrada»).

De que, sem mais comentários, cito o seguinte excerto:
«O malfadado caso do "Túnel do Marquês" é um verdadeiro manual de maus procedimentos (...), e de desavergonhada sobreposição da teimosia individual de um político - e do seu pateticamente agrilhoado herdeiro na Câmara Municipal de Lisboa - sobre o parecer dos técnicos, os condicionalismos administrativos e, sobretudo, os imperativos ético-legais que definem o serviço público como prioridade absoluta dos decisores políticos.
«A construção do túnel começou (e recomeçou) sem que tenha sido realizada uma avaliação dos riscos e dos impactes vários: hidrogeológicos, sísmicos, de segurança rodoviária, de tráfego, de desmoronamento do túnel do Metro, etc. O LNEC, o INETI e outras entidades não se pronunciaram sobre os seus riscos. Não foi feita qualquer auditoria de segurança rodoviária em fase de projecto.
«Não houve, até hoje, um engenheiro de transportes que, em consciência, tenha justificado a utilidade da obra. Até mesmo o próprio estudo de impacte ambiental, claramente submisso ao seu contratante, que é a CML, alerta para as paradoxais consequências da sua abertura ao público: irá induzir mais tráfego em toda a zona e provocar novos congestionamentos no Marquês. Em suma, ninguém, com qualificações técnicas e científicas, negou até hoje que o túnel seja perigoso, paradoxal, inútil e economicamente iníquo.
«Mas, enquanto o responsável político pela abstrusa ideia de o construir flana etereamente sobre os efeitos da sua decisão, uma população amorfa de três milhões de almas (os habitantes da região metropolitana de Lisboa, que serão os mais directamente interessados no processo) assobia para o ar e aguarda fatalista o fim do processo, que se iniciou com uma aparentemente simples delegação de poderes e direitos civis legitimada por via eleitoral.
«A articulista Clara Ferreira Alves escreveu recentemente ("Diário Digital", 05.12.04) que a conclusão das obras do túnel é bem vinda por causa dos transtornos actuais e porque lhe "custa a crer que toda a gente que planeou este túnel se tenha enganado e vá construir um túnel [...] perigoso".
«Ninguém reclama sequer do facto de a presidência da CML, numa clara expressão de fobia persecutória, ter dispendido mais de 50 mil euros em 30 "outdoors" de auto-publicidade ("Eles queriam acabar com ele, nós vamos conclui-lo").
«Quando os decisores políticos se virem obrigados a prestar contas, a justificar as suas decisões, a fundamentá-las através de estudos de custo-benefício, começarão a perceber que "fazer obra" não tem de significar esbanjarem o dinheiro dos contribuintes em projectos infundados, com o objectivo egoísta de dar lustro ao seu ego e de se auto-beneficiar na hora das consultas eleitorais».

 

A. A. P.


No «Jornal de Notícias»:

«Ateus criam associação nacional em Janeiro».
«Cerca de 300 ateus vão criar uma associação nacional (Associação Ateísta Portuguesa) para defender o seu pensamento, apologista da liberdade religiosa, mas avesso a todas as Igrejas, que consideram "violentas e falsas".
«A oficialização da associação, em Janeiro, surge na sequência da aprovação dos estatutos durante o 3º Encontro Nacional de Ateus, que decorreu no domingo em Coimbra. O grupo tem vindo a formar-se há cinco anos, para debater o pensamento ateísta (que nega a existência de Deus) em encontros e no site www.ateismo.net.
«Segundo um dos organizadores, Carlos Esperança, os ateus portugueses "defendem a liberdade religiosa e o direito de se praticar qualquer religião ou até nenhuma". "A religião é uma droga, que contém em si um espírito de violência, demonstrado nos próprios livros ditos sagrados, como a Bíblia ou o Alcorão".
«Carlos Esperança critica ainda o Governo português por ter assinado este ano uma nova Concordata com o Vaticano, o que "viola" os princípios de laicismo da Constituição e "prevê certos privilégios para a Igreja Católica". Acrescentou ainda que em Portugal, "país predominantemente católico, os ateus têm receio de se assumir como tal.»

sábado, 25 de dezembro de 2004

 

I've seen things you people wouldn't believe...




I've seen things you people wouldn't believe:
Attack ships on fire off the shoulder of Orion; I watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser gate.
All those moments will be lost in time, like tears in rain.
Time to die…


->
ouvir

 

O Natal


O Natal é a celebração cristã do nascimento de Jesus Cristo.
De acordo com a Bíblia, Jesus Cristo nasceu em Belém, na Judeia, para onde os pais de Jesus se tinham dirigido para se registarem no censo romano.
Embora alguns historiadores situem o nascimento de Cristo provavelmente em Outubro do ano 4 d.C., a maioria das igrejas cristãs celebra o Natal do dia 25 de Dezembro. A Igreja Ortodoxa comemora o nascimento de Cristo no dia 7 de Janeiro, por não aceitar o calendário gregoriano.

A celebração do Natal foi instituída no ano de 354 pelo Papa Libério, numa tentativa de cristianizar as diversas festividades pagãs ligadas à fertilidade e ao Solstício de Inverno, assim evitando proibi-las.
A palavra “Natal” designa nas línguas latinas “natividade” ou “nascimento”.
Nas línguas anglo-saxónicas “Christmas” significa literalmente "missa de Cristo".
Em alemão, “Weihnachten” significa "noite bendita".

A construção do primeiro presépio é atribuída a São Francisco de Assis, em 1223.
Curiosamente, o início da tradição da árvore de Natal é frequentemente atribuído a Martinho Lutero, autor da reforma protestante, que pretendia ilustrar como seria o céu na noite do nascimento de Cristo.
Embora na Roma antiga os romanos já pendurassem máscaras de Baco em pinheiros como forma de celebrarem uma festa realizada na mesma época do ano, a “Saturnália”.

 

Charlie Chaplin












Charles Spencer Chaplin
(16 de Abril de 1889 – 25 de Dezembro de 1977)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2004

 

Então assim está bem!


Nos últimos dias assistimos às mais violentas críticas dos partidos do Governo ao Secretário Geral do PS, José Sócrates pelo facto de este continuar a defender a co-incineração como método preferencial de eliminação de resíduos tóxicos e industriais.

No auge destas críticas, o «Expresso» noticia hoje que o ministro do ambiente, Luís Nobre Guedes autorizou em segredo a destruição de mais de 200.000 toneladas de resíduos na cimenteira do Outão, na Arrábida, utilizando para esse efeito... a co-incineração!

Indignado, Nobre Guedes apressou-se a desmentir a notícia do «Expresso» e declarou:
«Não sou nenhum bandido, nem nenhum mafioso, que decide as coisas em segredo», já que «tudo foi feito da melhor maneira, às claras e na maior das transparências».

Ah! Não foi em segredo?
Então assim está tudo bem!!!

 

A Ambulância


No discurso proferido durante o jantar de Natal do PSD, e depois de mais umas ferroadas estratégicas ao Presidente da República, Pedro Santana Lopes desafiou José Sócrates a esclarecer qual vai ser a sua política de alianças caso o PS vença as eleições de 20 de Fevereiro.
Provavelmente deve querer que lhe expliquem mais devagarinho...

Depois, anunciou solenemente a celebração de um acordo de “colaboração política e eleitoral” com o «Movimento Partido da Terra», e também com um grupo de fadistas genericamente conhecido como «Partido Popular Monárquico».

Finalmente, Santana Lopes, cada vez mais especialista em iluminadas metáforas, comparou o executivo que liderou com «uma ambulância» que transportou «o país doente em consequência da governação socialista».

Ouve lá, pá: explica lá à malta porque é que ao fim de vocês andarem quase três anos ao volante, tu resolveste estampar a porcaria da ambulância?

 

Isto é Connosco!


Em meados de Novembro a Inspecção Geral do Ministério da Segurança Social realizou uma auditoria à «Casa do Gaiato» de Paços de Sousa, que é gerida pela Diocese do Porto.
A auditoria revelou inúmeros casos de maus tratos, trabalho infantil e «abusos sexuais generalizados» às crianças internadas. De tal modo, que originou mesmo uma recomendação da Segurança Social a todas as instituições de solidariedade e organismos estatais para que não enviem mais rapazes para as várias “Casas” da obra fundada pelo Padre Américo.

O director nacional da «Obra da Rua», padre Acílio Fernandes, teceu duras críticas à inspecção realizada, pois não admite «ser substituído por assistentes sociais que só elaboram relatórios» e que «querem que nós fiquemos no gabinete», disse.
E acrescentou: «não estamos cativos dos métodos do Padre Américo, mas sim do Evangelho que ele viveu».

Por sua vez, o Bispo do Porto, Armindo Lopes Coelho, disse que já leu o relatório da auditoria, mas declarou que prefere não fazer por agora qualquer avaliação do documento.
Mas lamentou «tudo isto que tem andado no ar» e que a Casa do Gaiato «apareça de um momento para o outro tão criticada», tanto mais que se trata de uma inspecção «que foi já amplamente discutida pelos padres».
Contudo, o Sr. Bispo não deixou de criticar a realização da Inspecção da Segurança Social, questionando de forma veemente a legitimidade do Governo para intervir desta forma na Casa do Gaiato.
Já que, disse ainda o Sr. Bispo, «isto é connosco, pois o Estado nunca teve qualquer intervenção naquele espaço» e «nunca proporcionou à Casa do Gaiato quaisquer ajudas ou subsídios».

 

Dois Votos


O ministro do ambiente, Luís Nobre Guedes, anunciou que o Governo optou por uma solução de tratamento mecânico e biológico dos resíduos sólidos urbanos da Região Centro.
Nobre Guedes declarou ainda defender que os aterros devem ser a última solução.

Também acho!

Por isso, nesta quadra natalícia faço desde já dois votos:
Primeiro, espero que o Sr. Ministro defenda que os aterros deverão ser a última solução também para o caso dos resíduos tóxicos e industriais;
Segundo, espero que o Sr. Ministro não tenha nenhuma casa na Região Centro...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2004

 

Dedicada à Incineração


O Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, declarou que a solução que deverá ser adoptada para a eliminação dos lixos e resíduos tóxicos «não pode ser política, pois tem de ser científica e com respeito pelas populações».
Embora logo tenha lamentado que se tenha voltado a falar da co-incineração.

É absolutamente compreensível e coerente esta posição do Sr. Bispo.

De facto, como lembra o «Diário Ateísta», é sabido que a Igreja Católica tem sido tradicionalmente, e ao longo da sua história, fervorosa adepta da... incineração dedicada!

 

A Dedicatória


«Com a minha sincera homenagem ao dr. Alberto João Jardim, pelo seu carácter, pela sua frontalidade e pela sua fantástica obra nesta maravilhosa Madeira, com votos de o poder ver, em breve, pôr o seu talento ao serviço de todo o Portugal».

Esta foi a dedicatória que o Presidente do Futebol Clube do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, escreveu no livro que ofereceu ao Presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim.

Apesar de tudo, tinha melhor ideia de Pinto da Costa.
Até agora, claro.

 

A Conferência II


É já hoje que se vai realizar a célebre conferência de imprensa que teve honras de ser anunciada em... conferência de imprensa.

Não será novidade que Bagão Félix anuncie o rapinanço do Fundo de Pensões da Caixa Geral de Depósitos, para tapar o buraco orçamental.
De facto, existem nos cofres das pensões dos trabalhadores da Caixa mais de 1,2 mil milhões de euros.
Mesmo que surjam “pequenas” dificuldades legais (decorrentes da determinação do Banco de Portugal, que obriga todas as instituições bancárias a possuir fundos de pensões, e por isso o ministro das finanças seja obrigado a deixar na Caixa alguns “restos” justificativos), o que é facto é que faltam «somente» 760 milhões para fazer o défice descer abaixo dos 3%.
Ou seja, até vai sobrar dinheiro.

Por isso, acho que tenho de me preparar psicologicamente para que no seu próximo discurso de campanha eleitoral Santana Lopes venha gabar a competência e a eficiência financeira do seu Governo.
Mas, sinceramente, vai ser mesmo muito difícil. Não sei sequer se consigo preparar-me a tempo...

 

O momento


Pai Natal: - Eu não discuto o princípio, digo apenas: não é o momento!


(Gamado ao «Renas e Veados»)

 

Os Três Reis

Depois de muita insistência, e como singela homenagem ao meu amigo José Ramos, aqui fica uma referência a um filme, de que aparentemente gostou muito: «Os Três Reis».

 

Gato Fedorento


Anda a gente tempos e tempos a ver se ganha inspiração para escrever sobre o «Gato Fedorento» e depois, vai-se a ver, escrevem tudo por nós.
O «Amor e Ócio» faz uma fabulosa crítica a esta equipa extraordinária, que arrancou o humor português do marasmo da “ordinarice” e da “paneleirice” mais vulgar.
Sempre perguntei a mim mesmo porque carga de água Portugal não tinha ainda merecido um humor à «Monty Python».
Até que apareceram Miguel Góis, Tiago Dores, Ricardo Araújo Pereira e Zé Diogo Quintela, que em tão pouco tempo são já uma referência no humor português.

Oxalá o DVD esgote depressa. Para ver se eles fazem outro.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2004

 

O Prémio

No «Acidental» o Rodrigo Moita de Deus resolveu distribuir os seus prémios 2004.
E obsequiou o «Random Precision» com o prémio «direi o que for necessário para te irritar».


Obrigado ao Rodrigo e a toda a família dos «Acidentais».

De facto, é muito gratificante quando o nosso esforço é reconhecido!...


 

O Suplemento


O Governo fez hoje distribuir com os principais jornais diários um suplemento que «visa esclarecer os portugueses sobre as principais decisões e as principais linhas mestras do Orçamento do Estado».
A oposição em uníssono critica a iniciativa, que classificou de «um escândalo e uma pequena política» de quem acha que os dinheiros públicos são propriedade privada e servem para campanha eleitoral.
O porta voz do PS declarou ainda que «há alturas em que não se deve andar a escolher muito as palavras: isto é uma pouca vergonha, um insulto aos contribuintes, fazerem publicidade de luxo paga nos jornais» e pediu ainda a Santana Lopes e a Paulo Portas um «mínimo de decência ao menos nestes últimos dias de mandato».

De facto, a atitude é escandalosa e é mais um exemplo do quão baixo se pode descer em política e de como pode ser tão pouco dignificante a decadência e o desespero de um Governo.
Em sua defesa, Santana Lopes enviou Nuno Morais Sarmento, agora muito mais «importante» depois da sua recente promoção a «opositor» de Sócrates no distrito de Castelo Branco, convite que lhe foi feito não pelo PSD, segundo declarou, mas pessoalmente pelo próprio Sr. Primeiro-ministro, o que, sob todos os aspectos, é de facto notável.
Morais Sarmento, à míngua de qualquer justificação política, ou sequer de uma explicação da oportunidade para a distribuição deste panfleto de simples publicidade aos partidos do Governo que não sejam as próximas eleições, veio dizer que se trata de «uma medida preparada ao longo de muito tempo» e que «tem já muitas semanas».
Como se o simples decurso de muitas semanas o pudesse legitimar ou justificar...

Temos uma vez mais o nosso Governo cessante no seu melhor.
E, não sei porquê, nos últimos tempos cada vez que oiço o Sr. ministro Morais Sarmento, lembro-me sempre destas sábias palavras das Sagradas Escrituras:
«Do pó vieste, ao pó hás de voltar».

 

Lusitanas idiossincrasias – IV


A Direcção-Geral de Saúde anunciou que quer clarificar as situações em que é obrigatória a apresentação de atestados médicos, pretendendo uniformizar a sua emissão a nível nacional.
De facto, uma das mais significativas particularidades lusas reside precisamente no “atestado médico”.
O atestado médico é um pedacinho de papel assinado por alguém que tem a felicidade de ser licenciado em medicina, e por isso recebeu da sociedade misteriosos poderes que lhe permitem “certificar” que alguém está doente, embora por questões de óbvia deontologia profissional não seja obrigatório dizer qual é a doença.
E nem sequer seja preciso ver o "doente".
Porque, como toda a gente sabe, para se obter um atestado médico não é preciso sequer estar doente. Isso é só um pequeno pormenor sem interesse.
O atestado médico, depois de assinado pelo senhor doutor, reveste-se de características mágicas, pois torna o seu beneficiário apto a livrar-se das mais diversas agruras desta vida, e que sejam decorrentes de faltas ao trabalho ou a um julgamento, ou sirvam simplesmente para um estudante poder ir à segunda chamada do exame.
Se há coisa que é característica dos portugueses é a sugestão amiga que não pode deixar de ser feita a alguém que desabafa connosco uma desavença qualquer com o patrão, com o encarregado ou simplesmente com o chefe lá da repartição:
- Mete um atestado, pá!
E lá vai o felizardo ao médico.
Ciente de que, se há alguma coisa certa neste mundo, é que de lá virá munido do seu “salvo conduto”, com aquele aspecto sério e burocrático que lhe é conferido pela assinatura do médico e pela certificação de uma doença qualquer, que depois, se for preciso, logo se vê qual é.

E que o médico solenemente atesta.
Atesta por sua honra, claro!...

 

It's too bad she won't live...


...but then again, who does?



terça-feira, 21 de dezembro de 2004

 

A Co-Incineração


É lamentável que um assunto tão importante como o destino dos resíduos industriais perigosos em Portugal se tenha transformado numa mera arma de arremesso política, que tem separado as pessoas não pelo discernimento mais correcto sobre o assunto, mas antes pela sua filiação partidária.
Mas o que é certo é que se quisermos dar um destino aos resíduos industriais somente três soluções são possíveis:
- A incineração dedicada (que prevê a sua queima em locais criados especificamente para esse efeito)
- A co-incineração (que prevê a sua queima e utilização como combustível em cimenteiras)
- O depósito em aterros (que relega para as próximas gerações a solução do problema).

Como é sabido, quando José Sócrates foi Ministro do Ambiente implementou a co-incineração como solução para os resíduos.
Mas foi imediatamente criticado pelos partidos da oposição que, muito habilidosamente, utilizaram a polémica que qualquer das soluções sempre traria, para dela retirarem dividendos políticos.
Sem nunca apontarem qual seria a solução desejável, o PSD e o CDS anunciaram que eram contra a co-incineração e mobilizaram as populações para as mais diversas manifestações.
Assustado, Guterres recuou, como sempre fazia, aliás.
Nomearam-se então comissões de sábios - que decidiram pela co-incineração.
Auscultou-se a União Europeia - que aconselhou a co-incineração.
Investigou-se nos países mais desenvolvidos - que adoptaram a co-incineração.
Nisto, Guterres caiu das autárquicas abaixo, e foi-se embora.
Como não podia deixar de ser, Durão Barroso suspendeu imediatamente o processo da co-incineração.
Mas "esqueceu-se" de escolher qualquer outro método... Sabendo somente que estava refém das críticas feitas até então a José Sócrates, de repente Durão Barroso encontrou-se entre a espada e a parede: ou escolhia a incineração dedicada ou os aterros, ou vinha dar razão a Sócrates.
Mas não: tudo menos isso!!!
Fez-se então pior do que Guterres tinha feito: adiou-se uma decisão sobre o assunto e, durante dois anos, varreu-se o lixo para debaixo do tapete.

Estamos agora novamente em campanha eleitoral e os estrategos partidários não demoraram a “provocar” Sócrates sobre o assunto.
Mas Sócrates agarrou o touro pelos cornos, e sem qualquer temor anunciou que se o PS for Governo, adoptará novamente a co-incineração. E declarou:
«O país não pode continuar sem solução. É bom que não haja enganos, o PS tem uma posição muito clara e há muito tempo sobre este assunto, o que tem sido absolutamente irresponsável é que ao longo destes dois anos e meio se tenha deitado fora a co-incineração e não se tenha construído uma outra solução capaz de responder aos problemas».
Caiu o Carmo e a Trindade!
Os partidos do Governo, presidentes de Câmara, presidentes de junta vários e até a «Quercus» saíram a terreiro, dizendo que o melhor sistema é agora uma coisa chamada CIRVER, que é a alternativa que o Governo social-democrata colocou em marcha para substituir a co-incineração.
Não sei que “lobbys” ou interesses económicos estão em jogo. Mas o que é facto é que até a «Quercus» saiu em defesa das empresas interessadas, declarando:
«Há seis meses, talvez a proposta do PS fizesse sentido, mas actualmente o processo está muito avançado, pois já foi aberto o concurso público para construir dois CIRVER e que os oito consórcios de empresas concorrentes são muito conceituados e investiram muito nas suas propostas».
Admirável.
E espantoso até como a própria «Quercus» se esqueceu de analisar a solução mais ecologicamente aconselhável, falando somente no dinheiro que algumas empresas já investiram.

Mas afinal o que é isto do CIRVER???
Esta sigla misteriosa representa a solução que o Governo do PSD encontrou como mais adequada e ambientalmente correcta para o tratamento dos resíduos perigosos.
Quer tal sigla dizer: «Centros Integrados de Recuperação e Valorização e Eliminação de Resíduos Perigosos».

Mas o que esta misteriosa designação significa, e que as opções político-partidárias que determinaram já um pré-juízo sobre este assunto se têm esquecido de dizer, é que esta opção implica o seguinte:
Para os resíduos inorgânicos: o aterro;
Para os resíduos orgânicos: a inertização através do adicionamento de compostos químicos variados e, depois... o aterro.
De realçar que a inertização só é possível para cerca de 90% dos resíduos orgânicos. Para os restantes 10% está prevista... a exportação...
A pagar, claro!
Ou seja: a solução encontrada pelo Governo é só uma: enterrar os resíduos!

E só mais uma coisa: o Governo não disse ainda quais as zonas do país escolhidas para terem a honra de receber os aterros, e passarem a ser os depósitos de lixo do resto do país.
Nem sequer se sabe se os aterros se situarão em Souselas ou no Outão, cujas populações tanto se têm manifestado ultimamente contra a co-incineração.

Não obstante as críticas dos últimos dias, José Sócrates reafirmou-se uma vez mais adepto da co-incineração.
O Secretário Geral do PS declarou sobre o assunto que Portugal não pode adiar mais a solução que é a tecnicamente mais correcta para resolver o problema dos resíduos.
E que um futuro Governo do PS não quererá simplesmente tomar medidas simpáticas e que agradem a todos. Decidirá recorrendo à melhor tecnologia e fará o que é legítimo.

Até que enfim!

 

A Conferência


O Primeiro-ministro iniciou hoje uma nova fase de comunicação com os portugueses e de relacionamento com os órgãos de comunicação social.
Pedro Santana Lopes convocou hoje uma conferência de imprensa especificamente para anunciar que dentro de dois dias vai dar... uma conferência de imprensa!

É, de facto, simplesmente brilhante!

 

U.R.S.S.


No dia 21 de Dezembro de 1991 a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (U.R.S.S.) deixou formalmente de existir.
Neste dia, as onze repúblicas que ainda permaneciam na União acordaram em constituir a «Comunidade de Estados Independentes».

Dois anos antes, no dia 9 de Novembro de 1989 tinha já caído o Muro de Berlim, o que marca simbolicamente não só a reunificação das duas Alemanhas, como também o fim da divisão do mundo em dois blocos e o termo da Guerra Fria.

Apesar de tanto tempo ter já decorrido, muita gente não sabe ainda destes acontecimentos...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

 

A Conta


Em Janeiro deste ano a pequena Ana Raquel, de 10 anos de idade, entrou no Hospital Amadora-Sintra para fazer uma simples e rotineira operação às amígdalas.
Durante a operação foi administrada à Ana Raquel uma tal quantidade de “sódio hipertónico”, que lhe provocou lesões neurológicas irreversíveis, e que conduziu à sua morte.
Segundo o relatório da Inspecção Geral de Saúde (I.G.S.) esta administração «directa e excessiva» ocorreu porque alguém (que ainda não se conseguiu identificar) trocou os frascos do soro que estava a ser aplicado à criança.
Às três médicas envolvidas no caso, a I.G.S. imputa «comportamentos eventualmente infractórios»: a uma otorrinolaringologista, porque não compareceu no Hospital quando foi confrontada com o estado anormal da criança; a duas anestesistas, porque fizerem uma deficiente interpretação dos sinais já evidentes do estado da Ana Raquel, o que impediu qualquer possibilidade de reversão do seu estado clínico.

Quando, no próprio quarto da criança foi informado do trágico desfecho da operação à filha, o pai da Ana Raquel desmaiou por duas vezes, e teve de ser imediatamente assistido no local.
Depois, no próprio dia do funeral, o pai da Ana Raquel recebeu do Hospital Amadora-Sintra uma «nota de débito», informando-o que era devedor da quantia de € 20,10, que deveria pagar no prazo de 15 dias, referente à assistência que lhe tinha sido prestada no dia da morte da sua filha.

A eficiência dos nossos hospitais é, de facto, notável!

 

Carl Sagan








Carl Sagan
(9 de Novembro de 1934 – 20 de Dezembro de 1996)

Carl Sagan, o famoso astrónomo e biólogo norte-americano, desde 1960 doutorado pela Universidade de Chigago, dedicou-se principalmente à pesquisa e divulgação da astronomia e é frequentemente considerado o maior divulgador da ciência que o mundo já conheceu.
Sagan deixou-nos obras de excelência na divulgação científica, entre as quais figuram clássicos como «Cosmos» (adaptado a uma série televisiva), «Os Dragões do Éden» ou «Um Mundo Infestado de Demónios» e, mais recentemente, «Contacto» (adaptado ao cinema).

Carl Sagan teve um papel significativo no programa espacial americano desde o seu início. Em 1971 a NASA aceitou a sua proposta de incluir na nave exploradora «Pioneer 10» projectada para recolher dados sobre o sistema solar, uma placa concebida para enviar uma mensagem a uma possível civilização extra-terrestre que eventualmente contactasse.
Morreu no dia 20 de Dezembro de 1996 aos 62 anos, vítima de pneumonia e depois de uma batalha de mais de dois anos com uma rara e gravíssima doença na medula óssea.

No seu livro «Contacto», Carl Sagan escreveu:
«Acho que o celibato do clero é uma excelente ideia, porque tende a suprimir qualquer propensão hereditária para o fanatismo».

sábado, 18 de dezembro de 2004

 

Lusitanas idiossincrasias – III


O «Random Precision» continua hoje a desenvolver o seu espaço de serviço e interesse públicos, sempre esperançado nos tradicionais subsídios estatais, analisando mais uma pequena particularidade do povo lusitano.
Desta vez refiro-me à importante franja dos cidadãos portugueses que são felizes proprietários de um cão.
Principalmente àqueles que estão convencidos de que o seu cão está dotado de uma espécie de cidadania (obviamente cidadania portuguesa, ainda que se trate de cães mais adaptados aos climas árcticos) que o torna superior aos restantes concidadãos, ainda que da espécie humana.
Assim sendo, e como é óbvio, o elevado estatuto social desses cães permite-lhes fazer “as suas necessidades” no mesmo e preciso local onde emerge a vontade de as produzir.
Quanto ao xixi, temos de nos conformar não só com a eliminação do líquido propriamente dito, mas também com as circunstâncias sociais decorrentes da marcação territorial associada a tão salutar exercício de cidadania.
Ainda que manchas escuras de úricos ácidos vão alindando os postes de iluminação pública, recantos variados e também jantes de automóveis.

Mas quanto ao cocó, já a coisa é bem diferente.
Aqui, o exercício dos direitos, liberdades e garantias constitucionalmente garantidos aos cães é muito mais importante: é que, como toda a gente sabe, os cidadãos-canídeos e os seus prestimosos donos estão absolutamente persuadidos de que constitui um direito constitucionalmente garantido pejar os passeios, pátios, vielas, ruas, travessas e avenidas, dos exemplos da mais variada consistência desse inalienável exercício de cidadania.
E que os demais cidadãos, os humanos, são obviamente subalternos desses direitos constitucionais.
E ai de quem questionar o proprietário de um cão, ou até o próprio cão, sobre algo do que aqui foi dito, pois arrisca-se a ouvir o mais popular comando civilizacional português: vai à merda, pá!

Temos pois de nos conformar: teremos para todo o sempre de caminhar de olhos pregados no chão pelas ruas das nossas cidades, em gincanas ziguezagueantes, intercaladas com pequenos e graciosos saltinhos, não vá o diabo tecê-las. E, como é óbvio, evitar o trânsito nocturno pelos locais menos iluminados, que os canídeos não têm culpa das negligências da E.D.P.
E muito menos têm culpa das distracções dos transeuntes que culminem com o esborrachar do glorioso produto de um mero e singelo exercício de um direito.
Ora essa: cada qual cuida de si!

E se aqui ao pé existe um infantário que tem o desagradável costume de trazer os miúdos a brincar no relvado próximo quando está bom tempo, e se esse relvado é também partilhado pelos canídeos dos prédios vizinhos, que entre outras coisas, colaboram desinteressadamente no seu adubo, assim favorecendo a natureza e o ambiente contra os fertilizantes químicos, teremos agora de pressionar a Junta de Freguesia a pôr cobro a esta desagradável situação e, a bem da saúde pública, a colocar no local - com a máxima urgência possível - uma tabuleta com os seguintes dizeres :

“É PROIBIDA A UTILIZAÇÃO POR CRIANÇAS”


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