terça-feira, 21 de dezembro de 2004

 

A Co-Incineração


É lamentável que um assunto tão importante como o destino dos resíduos industriais perigosos em Portugal se tenha transformado numa mera arma de arremesso política, que tem separado as pessoas não pelo discernimento mais correcto sobre o assunto, mas antes pela sua filiação partidária.
Mas o que é certo é que se quisermos dar um destino aos resíduos industriais somente três soluções são possíveis:
- A incineração dedicada (que prevê a sua queima em locais criados especificamente para esse efeito)
- A co-incineração (que prevê a sua queima e utilização como combustível em cimenteiras)
- O depósito em aterros (que relega para as próximas gerações a solução do problema).

Como é sabido, quando José Sócrates foi Ministro do Ambiente implementou a co-incineração como solução para os resíduos.
Mas foi imediatamente criticado pelos partidos da oposição que, muito habilidosamente, utilizaram a polémica que qualquer das soluções sempre traria, para dela retirarem dividendos políticos.
Sem nunca apontarem qual seria a solução desejável, o PSD e o CDS anunciaram que eram contra a co-incineração e mobilizaram as populações para as mais diversas manifestações.
Assustado, Guterres recuou, como sempre fazia, aliás.
Nomearam-se então comissões de sábios - que decidiram pela co-incineração.
Auscultou-se a União Europeia - que aconselhou a co-incineração.
Investigou-se nos países mais desenvolvidos - que adoptaram a co-incineração.
Nisto, Guterres caiu das autárquicas abaixo, e foi-se embora.
Como não podia deixar de ser, Durão Barroso suspendeu imediatamente o processo da co-incineração.
Mas "esqueceu-se" de escolher qualquer outro método... Sabendo somente que estava refém das críticas feitas até então a José Sócrates, de repente Durão Barroso encontrou-se entre a espada e a parede: ou escolhia a incineração dedicada ou os aterros, ou vinha dar razão a Sócrates.
Mas não: tudo menos isso!!!
Fez-se então pior do que Guterres tinha feito: adiou-se uma decisão sobre o assunto e, durante dois anos, varreu-se o lixo para debaixo do tapete.

Estamos agora novamente em campanha eleitoral e os estrategos partidários não demoraram a “provocar” Sócrates sobre o assunto.
Mas Sócrates agarrou o touro pelos cornos, e sem qualquer temor anunciou que se o PS for Governo, adoptará novamente a co-incineração. E declarou:
«O país não pode continuar sem solução. É bom que não haja enganos, o PS tem uma posição muito clara e há muito tempo sobre este assunto, o que tem sido absolutamente irresponsável é que ao longo destes dois anos e meio se tenha deitado fora a co-incineração e não se tenha construído uma outra solução capaz de responder aos problemas».
Caiu o Carmo e a Trindade!
Os partidos do Governo, presidentes de Câmara, presidentes de junta vários e até a «Quercus» saíram a terreiro, dizendo que o melhor sistema é agora uma coisa chamada CIRVER, que é a alternativa que o Governo social-democrata colocou em marcha para substituir a co-incineração.
Não sei que “lobbys” ou interesses económicos estão em jogo. Mas o que é facto é que até a «Quercus» saiu em defesa das empresas interessadas, declarando:
«Há seis meses, talvez a proposta do PS fizesse sentido, mas actualmente o processo está muito avançado, pois já foi aberto o concurso público para construir dois CIRVER e que os oito consórcios de empresas concorrentes são muito conceituados e investiram muito nas suas propostas».
Admirável.
E espantoso até como a própria «Quercus» se esqueceu de analisar a solução mais ecologicamente aconselhável, falando somente no dinheiro que algumas empresas já investiram.

Mas afinal o que é isto do CIRVER???
Esta sigla misteriosa representa a solução que o Governo do PSD encontrou como mais adequada e ambientalmente correcta para o tratamento dos resíduos perigosos.
Quer tal sigla dizer: «Centros Integrados de Recuperação e Valorização e Eliminação de Resíduos Perigosos».

Mas o que esta misteriosa designação significa, e que as opções político-partidárias que determinaram já um pré-juízo sobre este assunto se têm esquecido de dizer, é que esta opção implica o seguinte:
Para os resíduos inorgânicos: o aterro;
Para os resíduos orgânicos: a inertização através do adicionamento de compostos químicos variados e, depois... o aterro.
De realçar que a inertização só é possível para cerca de 90% dos resíduos orgânicos. Para os restantes 10% está prevista... a exportação...
A pagar, claro!
Ou seja: a solução encontrada pelo Governo é só uma: enterrar os resíduos!

E só mais uma coisa: o Governo não disse ainda quais as zonas do país escolhidas para terem a honra de receber os aterros, e passarem a ser os depósitos de lixo do resto do país.
Nem sequer se sabe se os aterros se situarão em Souselas ou no Outão, cujas populações tanto se têm manifestado ultimamente contra a co-incineração.

Não obstante as críticas dos últimos dias, José Sócrates reafirmou-se uma vez mais adepto da co-incineração.
O Secretário Geral do PS declarou sobre o assunto que Portugal não pode adiar mais a solução que é a tecnicamente mais correcta para resolver o problema dos resíduos.
E que um futuro Governo do PS não quererá simplesmente tomar medidas simpáticas e que agradem a todos. Decidirá recorrendo à melhor tecnologia e fará o que é legítimo.

Até que enfim!



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