domingo, 26 de dezembro de 2004

 

Túnel do Marquês


No «Público» um um excelente artigo de Manuel João Ramos, presidente da «Associação dos Cidadão Auto-Mobilizados» (Blog «Paz na Estrada»).

De que, sem mais comentários, cito o seguinte excerto:
«O malfadado caso do "Túnel do Marquês" é um verdadeiro manual de maus procedimentos (...), e de desavergonhada sobreposição da teimosia individual de um político - e do seu pateticamente agrilhoado herdeiro na Câmara Municipal de Lisboa - sobre o parecer dos técnicos, os condicionalismos administrativos e, sobretudo, os imperativos ético-legais que definem o serviço público como prioridade absoluta dos decisores políticos.
«A construção do túnel começou (e recomeçou) sem que tenha sido realizada uma avaliação dos riscos e dos impactes vários: hidrogeológicos, sísmicos, de segurança rodoviária, de tráfego, de desmoronamento do túnel do Metro, etc. O LNEC, o INETI e outras entidades não se pronunciaram sobre os seus riscos. Não foi feita qualquer auditoria de segurança rodoviária em fase de projecto.
«Não houve, até hoje, um engenheiro de transportes que, em consciência, tenha justificado a utilidade da obra. Até mesmo o próprio estudo de impacte ambiental, claramente submisso ao seu contratante, que é a CML, alerta para as paradoxais consequências da sua abertura ao público: irá induzir mais tráfego em toda a zona e provocar novos congestionamentos no Marquês. Em suma, ninguém, com qualificações técnicas e científicas, negou até hoje que o túnel seja perigoso, paradoxal, inútil e economicamente iníquo.
«Mas, enquanto o responsável político pela abstrusa ideia de o construir flana etereamente sobre os efeitos da sua decisão, uma população amorfa de três milhões de almas (os habitantes da região metropolitana de Lisboa, que serão os mais directamente interessados no processo) assobia para o ar e aguarda fatalista o fim do processo, que se iniciou com uma aparentemente simples delegação de poderes e direitos civis legitimada por via eleitoral.
«A articulista Clara Ferreira Alves escreveu recentemente ("Diário Digital", 05.12.04) que a conclusão das obras do túnel é bem vinda por causa dos transtornos actuais e porque lhe "custa a crer que toda a gente que planeou este túnel se tenha enganado e vá construir um túnel [...] perigoso".
«Ninguém reclama sequer do facto de a presidência da CML, numa clara expressão de fobia persecutória, ter dispendido mais de 50 mil euros em 30 "outdoors" de auto-publicidade ("Eles queriam acabar com ele, nós vamos conclui-lo").
«Quando os decisores políticos se virem obrigados a prestar contas, a justificar as suas decisões, a fundamentá-las através de estudos de custo-benefício, começarão a perceber que "fazer obra" não tem de significar esbanjarem o dinheiro dos contribuintes em projectos infundados, com o objectivo egoísta de dar lustro ao seu ego e de se auto-beneficiar na hora das consultas eleitorais».



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