quarta-feira, 22 de dezembro de 2004

 

Lusitanas idiossincrasias – IV


A Direcção-Geral de Saúde anunciou que quer clarificar as situações em que é obrigatória a apresentação de atestados médicos, pretendendo uniformizar a sua emissão a nível nacional.
De facto, uma das mais significativas particularidades lusas reside precisamente no “atestado médico”.
O atestado médico é um pedacinho de papel assinado por alguém que tem a felicidade de ser licenciado em medicina, e por isso recebeu da sociedade misteriosos poderes que lhe permitem “certificar” que alguém está doente, embora por questões de óbvia deontologia profissional não seja obrigatório dizer qual é a doença.
E nem sequer seja preciso ver o "doente".
Porque, como toda a gente sabe, para se obter um atestado médico não é preciso sequer estar doente. Isso é só um pequeno pormenor sem interesse.
O atestado médico, depois de assinado pelo senhor doutor, reveste-se de características mágicas, pois torna o seu beneficiário apto a livrar-se das mais diversas agruras desta vida, e que sejam decorrentes de faltas ao trabalho ou a um julgamento, ou sirvam simplesmente para um estudante poder ir à segunda chamada do exame.
Se há coisa que é característica dos portugueses é a sugestão amiga que não pode deixar de ser feita a alguém que desabafa connosco uma desavença qualquer com o patrão, com o encarregado ou simplesmente com o chefe lá da repartição:
- Mete um atestado, pá!
E lá vai o felizardo ao médico.
Ciente de que, se há alguma coisa certa neste mundo, é que de lá virá munido do seu “salvo conduto”, com aquele aspecto sério e burocrático que lhe é conferido pela assinatura do médico e pela certificação de uma doença qualquer, que depois, se for preciso, logo se vê qual é.

E que o médico solenemente atesta.
Atesta por sua honra, claro!...



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