sexta-feira, 30 de junho de 2006

 

O Ilhéu da Triste Figura



As notícias que dizem respeito ao Bokassa da Madeira, o inefável presidente do Governo Regional Alberto João Jardim já não surpreendem ninguém.

Perdido há longos anos o sentido de Estado, Alberto João Jardim demonstra agora que também perdeu definitivamente o sentido do ridículo.
Ele e todos aqueles (e quem conhece a Madeira bem o sabe), que gravitam à sua volta e o bajulam como vulgares sabujos à espreita de umas migalhas do orçamento regional que lhes caia no chão.

Por isso, ninguém ficará admirado com a notícia de que este presidente da Região Autónoma das Bananas acabou de manifestar a sua inteira solidariedade com o Presidente da Câmara de Viseu, Fernando Ruas, que sugeriu que os funcionários do Ministério do Ambiente fossem corridos à pedrada.
Estão mesmo bem um para o outro, não há dúvida.

Mas o deslumbramento místico da criatura vai muito mais longe!

Provavelmente convencido que é assim uma espécie de semi-deus nem se apercebe, coitado, que não tem um único amigo.
E nem sonha o papel profundamente ridículo que desempenha em todo o país – e até mesmo na Madeira – quando os que o rodeiam se riem fingida e cinicamente das suas piadas de mau gosto e dos seus actos de grande inspiração política, sem se aperceber da sua triste figura e de que ninguém se atreve a dizer-lhe que não pelo simples medo cobarde de perder o seu quinhão do bolo.
Deve ser por isso que anda convencido que não é uma besta!

Será também por isso que depois de se ter recusado a comemorar o 25 de Abril na Madeira, Alberto João Jardim vai celebrar amanhã os 30 anos de autonomia regional, e organizou uma cerimónia oficial onde os partidos da oposição estão impedidos de usar da palavra.

Não contente com isto, Alberto João Jardim vai ainda mais longe nas suas patéticas provocações aos «cubanos» do «Contenente», e desta vez à lei do Protocolo de Estado, mais uma lei em que se resolveu borrifar, ao atribuir no protocolo regional das comemorações um lugar de destaque ao bispo do Funchal, ao mesmo tempo que impediu o Ministro da República, que é o representante do Governo Central e do país no seu conjunto, de ter assento oficial na cerimónia.


E eu confesso que estou farto deste gajo!
E estou farto que ninguém tenha tomates para o meter na ordem!

Nem os sucessivos presidentes da República, nem a Assembleia da República, nem os Governos, uns atrás dos outros, nem a Justiça.
Nem sequer o seu próprio partido político tem a dignidade de sequer se pronunciar.
Lá a meter-se com o Valentim Loureiro e com o Isaltino, Marques Mendes atreveu-se; agora chatear o Alberto João, é que está quieto!
E o nosso ilustre Presidente da República, Prof. Aníbal Cavaco Silva, o «mais alto magistrado da Nação» e também «o garante do regular funcionamento das instituições democráticas», tem pelos vistos tanta coragem como os presidentes que o antecederam para dar umas palmatoadas àquele ditadorzeco de meia tigela, e então anda a fingir que não sabe o que se passa.

Por isso, e para acabar com esta vergonha nacional, das três uma:

- Ou metem depressa o indivíduo na linha;
- Ou lhe dão um pontapé no rabo e correm com ele para as Selvagens pregar às gaivotas;
- Ou dão a independência àquela porcaria.

E então, não só se poupava uma pipa de massa, ao mesmo tempo deixava de haver motivo para uma chantagem mesquinha que dura há trinta anos, e ainda por cima deixava de existir a autêntica vergonha nacional que é associarem-me por esse mundo fora à perfeita idiotia deste ilhéu da triste figura.


quinta-feira, 29 de junho de 2006

 

O Post Anterior



Comentei no post anterior o bárbaro assassinato de três meninas perpetrado pelo tenebroso cabo Costa, aposentado da GNR.

Aproveitei para falar da coincidência das convicções políticas e religiosas do sujeito, ilustradas pela iconoclastia que ele tinha pendurada na parede lá de casa.

Falei da lata do indivíduo em ir a Fátima em romaria com a família de uma das suas vítimas, escassos quatro dias depois de a ter assassinado.

Finalmente, e também pelo catolicismo que demonstra ter quem faz uma romaria a Fátima, conjecturei sobre o perdão divino (é o título do post) que o facínora terá implorado à respectiva divindade.

Agora vamos lá a ver se a gente se entende:

Ninguém defendeu que pelo facto de o homem ser católico teria ele de ter uma obrigatória afinidade com todos os restantes católicos do mundo.
Nem muito menos se disse que uma vez que um homem, lá porque é católico e é um assassino sanguinário, todos os outros católicos o são também.
Ou sequer disse que a Igreja Católica, pelos mesmos motivos, é um antro de assassinos sanguinários.

Seria a mesma coisa que descobrir que o homem é, por exemplo, do Benfica e defender o mesmo quanto aos restantes benfiquistas ou quanto ao próprio clube em si (debruçar-me-ei mais tarde quanto ao caso particular do Sporting).
Ou fazer o mesmo raciocínio se ele fosse ateu, advogado, médico, homossexual, decorador de interiores ou qualquer outra coisa assim do género.

Pois bem:
À parte da óbvia provocação que faço nesse e em muitos outros posts (às vezes com muito sucesso, pelos vistos), a crítica, agora mais a sério, que está subjacente no texto é precisamente à hipocrisia de tantas pessoas que por esse mundo fazem todas as barbaridades que lhes passa pela cabeça, para mais tarde correrem à Igreja a bater com a mão do peito e a pedir perdão, para no dia seguinte começarem tudo de novo.

E isso é um facto!
Obviamente não extensivo a TODOS os católicos, mas é um facto.

E, pelos vistos, o cabo Costa é um exemplo paradigmático do que digo: já ia na terceira criança assassinada e lá vai ele como se nada fosse, e ainda por cima com o desplante de ir na companhia da família de uma delas, em piedosa romaria à sua divindade.
Conjectura perfeitamente legítima é pensar que quando de lá voltou vinha com a consciência limpa do perdão divino que é concedido a todos os pecadores, pois com toda a certeza vinha muito arrependido do que tinha feito, embora sem prejuízo, claro, de o planear fazer outra vez.

Mas repito: não é o cabo Costa, por muito católico que seja, que faz da Igreja Católica um antro de bandidos.

Mas atenção!
O inverso também é verdade: também não são a Madre Teresa de Calcutá ou a Santa Teresinha do Menino Jesus que fazem da Igreja Católica uma fonte de piedosas virtudes.

Pois se não é uma atitude isolada que define uma instituição milenar e com milhões de pessoas, esse argumento é válido nos dois sentidos.
Porque o que define uma instituição, qualquer que ela seja, é precisamente a sua História, a ideologia propagandeada e a recorrência dos actos dos seus membros.

Então, e se assim é, meus caros amigos, a Igreja Católica é uma instituição absolutamente tenebrosa!

E não é necessário dar aqui muitos exemplos quanto à famigerada História da Igreja Católica, quer a mais vetusta quer a mais recente, da Inquisição ao Banco Ambrosiano.
Nem sequer é preciso falar da sua ideologia, que ora consta de um determinado livro tido como sagrado e revelador da palavra de Deus aos Homens, ora só lhe interessa algumas passagens criteriosamente escolhidas de acordo com as épocas mais favoráveis.
Nem quero falar do culto do medo como adubo da fé. Ou do abjecto auto-amesquinhamento em orações e ladainhas perante a divindade que praticam todos os «fiéis», inqualificavelmente aviltante para um Homem livre, digno desse nome.

Mas é principalmente uma instituição tenebrosa, e para mim uma inqualificável associação de malfeitores, porque não só pretende que os seus membros pratiquem um determinado estilo de vida (o que, apesar de tudo, acho muito bem e está na liberdade individual de cada um praticá-lo ou não), só porque ele consta de um qualquer catecismo elaborado por uma caterva de tarados sexuais de saias e alucinados pela falta de sexo, mas pretende também formatar as sociedades em que está inserida de forma a que todas as restantes pessoas deste mundo vivam obrigatoriamente de acordo com a sua ideologia e os seus cânones religiosos.

Incluindo eu.

E isso, meus caros amigos, isso eu não permito!


quarta-feira, 28 de junho de 2006

 

O Perdão Divino



O cabo Costa, agora aposentado da G.N.R., deve ser uma pessoa de profundas convicções políticas e religiosas.
Aliás, os quadros pendurados nas paredes de sua casa confirmam-no plenamente: Salazar, Américo Tomás, João Paulo II, a irmã Lúcia e Santo António.
Tudo muito coerente, claro.

Foi este homem de fé e tão saudoso do regime fascista que chocou Santa Comba Dão e todo o país.
É acusado da morte de três meninas: a Mariana, a Cristina Isabel e, por fim, a Joana.

Foi no passado dia 8 de Maio que o cabo Costa apanhou a Joana, de 17 anos de idade, no trajecto entre a escola e a sua casa.
Como já tinha feito com as outras duas crianças, assassinou-a brutalmente e atirou o seu corpo à barragem da Aguieira.
Neste momento ainda se desconhecessem as circunstâncias exactas dos três homicídios.

Escassos quatro dias depois, o cabo Costa teve mesmo a coragem de ir com a família da Joana em romaria pé ao santuário de Fátima.

Ali, certamente rezou e pediu perdão à virgem imaculada, e comungou.
E Deus, na sua infinita misericórdia, mais a mais com esta cunha tão poderosa da própria mãe, perdoou-lhe, como é de norma, e amnistiou-lhe todos os seus pecados.

O cabo Costa está preso e vai agora prestar contas à justiça dos Homens.
Mas que lhe interessa isso, se a sua consciência está tranquila face à justiça de Deus?
Acertadas as contas com o Criador, mesmo que morresse agora, iria direitinho para o Céu, sentar-se à direita do Pai, não era?
Provavelmente mesmo ali pertinho de onde estão as suas vítimas, as três crianças que assassinou impiedosamente.

A Polícia Judiciária suspeita que o cabo Costa se preparava para matar mais uma vítima quando finalmente foi preso. Desta vez seria a Ana, uma jovem vizinha que ele já andava a seguir para todo o lado.

E porque não haveria de a matar?
Afinal de contas, não era nada que uma nova romaria a Fátima não fizesse novamente perdoar todos os seus pecados a este bom católico, pois não?...


segunda-feira, 26 de junho de 2006

 

Terra Queimada



Aqui há um bom par de anos todo o país ficou surpreendido com a súbita iminência do encerramento da «Auto Europa», a fábrica da Ford e da Volkswagen em Palmela.

Até o Governo entrou em pânico: só aquela fábrica representava quase 1% do PIB nacional.
Para além disso, o seu encerramento significaria a ruína de milhares de famílias, dependentes directa e indirectamente dos postos de trabalho que a fábrica proporcionava.
Seriam gigantescos os custos sociais.

O motivo do encerramento era simples: a feroz concorrência internacional tornava incomportáveis os custos de produção dos modelos de automóveis fabricados na «Auto Europa». Era absolutamente necessária a "deslocalização" da fábrica para outro país onde a mão de obra fosse mais barata, aparentemente a única solução para se reduzirem os custos de produção.

Então, perante esta catástrofe anunciada, o que fizeram os trabalhadores e os representantes sindicais com influência na fábrica?
Muito simplesmente negociaram com a entidade patronal, entre outros, o congelamento temporário de salários e promoções, o compromisso de pacificação social e o aumento da produtividade individual.
Em contrapartida, a administração da empresa comprometia-se a não encerrar a fábrica.

Alguns anos mais tarde, verificou-se que ambas as partes tinham deitado mãos à obra e cumprido escrupulosamente os seus compromissos. Como resultado, a fábrica mantém-se aberta.
A administração viu subir os lucros da empresa, que agora até é considerada um modelo internacional a seguir, os trabalhadores mantiveram os seus postos de trabalho, e o país mantém uma importante fatia do seu PIB.

Agora, em 2006 a história repete-se, mas com ligeiras diferenças.

Desta vez acontece um pouco mais a Norte, na Azambuja; a marca de automóveis é outra, agora é a Opel; mas os fundamentos são precisamente os mesmos: os custo de produção são demasiado altos para a concorrência internacional.

As consequências do encerramento são igualmente aterradoras: milhares de postos de trabalho directos e indirectos que se perdem, e o Estado só com o encerramento desta fábrica perde 0,6% do PIB.

Mas outras diferenças há entre as duas histórias.
Ao contrário do que aconteceu em Palmela, mal ouviram falar na perspectiva da encerramento da fábrica, motivada pelos altos custos de produção, que fizeram os trabalhadores da Opel da Azambuja?
Negociaram com a administração qualquer aumento de produtividade?
Não!
Propuseram algum compromisso de pacificação social?
Não!
Sugeriram o congelamento temporário de salários, a recuperar mais tarde como em Palmela, para fazer descer os custos de produção dos automóveis?
Não!

O que fizeram então?
É simples: fizeram greve!

E num passe de mágica, os custos de produção dos automóveis na Azambuja subiram mais um pouco.
E não ficam por aqui: para ajudar mais ainda, está já convocada outra greve para dia 29.

Para tentarmos perceber um pouco melhor do que aqui se passa, diga-se de passagem que os trabalhadores da fábrica da Opel da Azambuja têm sido representados por sindicatos tidos como acérrimos e ferozes defensores de políticas muito parecidas com as que o Partido Comunista Português normalmente preconiza.

Por isso mesmo, é difícil imaginar o que pretendem os trabalhadores da Opel da Azambuja e todos aqueles que os têm representado sindicalmente nesta forma luta: se o encerramento da fábrica se a manutenção dos postos de trabalho.
Porque, pelo que andam a fazer, parece mesmo que o que querem é precisamente o encerramento da fábrica!

É que, pelos vistos, ainda há quem continue a ver o mundo como há 100 anos atrás e a pensar que quanto maior for «a contradição entre as forças produtivas e as relações de produção» mais perto estamos da “Revolução”.
E a ver os empresários, grandes e pequenos, não como uma força geradora de riqueza de um país, não como parceiros económicos criadores de postos de trabalho, mas antes como inimigos figadais, a abater numa interminável luta de classes que ainda busca um modelo político e económico que nunca funcionou.

Por isso, é para mim difícil entender se a atitude dos sindicatos da Opel na Azambuja – que concorre a passos largos, isso é certo, para o inevitável encerramento da fábrica – é consequência da pura e simples estupidez de nem sequer olharem para o lúcido exemplo da «Auto Europa».

Ou se, pelo contrário, é o resultado de uma política de terra queimada, bem consciente e determinada, que visa não mais do que retirar dividendos políticos de um eventual encerramento da fábrica e do caos social que se lhe seguirá: uma política do quanto pior, melhor.


sábado, 24 de junho de 2006

 

Direitos de Autor






sexta-feira, 23 de junho de 2006

 

A Lógica da Batata



Numa recente entrevista televisiva Dan Henninger, o editor de opinião do «Wall Street Journal», disse que a defesa do casamento homossexual pode conduzir ao casamento das pessoas com os seus animais de estimação.

Diz ele assim:
«Isto vem a talhe de foice a propósito do casamento homossexual: uma mulher na Índia casou na passada semana com uma cobra.
«Eu gostaria de perguntar aos defensores do casamento homossexual – que, afinal, viola todas as tradições e nos faz recuar para além de toda a História da Humanidade – se podem garantir absoluta e positivamente que a sua próxima luta não vai ser defender que as pessoas se possam casar com o seu cavalo, cão ou gato de estimação.
«E sabem que mais? Dada esta cultura do “tudo está bem” em que nós vivemos actualmente, não penso que os defensores do casamento homossexual nos possam dar essa garantia».

Contra esta lógica da batata, contra a perfeita imbecilidade deste tipo de argumentos, nada há, de facto, a dizer.

Mas talvez o bom do Dan Henninger não estivesse à espera que o já nosso conhecido Stephen Colbert pegasse nesta história.

Em mais uma das suas fabulosas intervenções Colbert refere:

«Não tenho nenhum problema em que as pessoas casem com cobras, mas desde que não se casem com cobras homossexuais... devemos é defender o casamento com répteis do sexo oposto».

Mas o melhor mesmo é mesmo ver o vídeo integralmente.

Clicar sobre imagem à direita -->

(Ou em alternativa neste LINK)


quinta-feira, 22 de junho de 2006

 

Uma Mancha no Passado



O Papa Bento XVI nomeou como novo Secretário de Estado do Vaticano o Cardeal Tarcisio Bertone.

Bertone, que é também Arcebispo de Génova e tem 72 anos de idade, irá suceder neste cargo (que é assim uma espécie de Primeiro-ministro do Vaticano), ao Cardeal Sodano que aos 78 anos atingiu o limite de idade de 75 anos que está estipulado no Código de Direito Canónico.

O Cardeal Tarcisio Bertone parece indiscutivelmente ser a pessoa indicada para este cargo de altíssima responsabilidade.
De facto, Bertone foi de 1995 a 2002 o braço direito do Papa Ratzinger na Congregação para a Doutrina da Fé, que como toda a gente sabe é o eufemismo actualmente utilizado para a Santa Inquisição.
Mais recentemente, Tarcisio Bertone ficou conhecido por ter dado a cara pela campanha desenvolvida pelo Vaticano contra a exibição do filme «O Código da Vinci».
É, na verdade, um currículo invejável.

Como é óbvio, o Papa está no seu pleno direito de nomear quem muito bem lhe apetecer e quem ache mais adequado para o desempenho dos mais diversos cargos no Vaticano.
Até porque a sua infalibilidade lhe garante sempre uma escolha acertada.

Mas há uma indelével mancha no passado do Cardeal Tarcisio Bertone, uma maldade por si impiedosamente praticada, que eu não posso de forma alguma tolerar, e muito menos entendo que tenha sido esquecida pelo Rotweiller de Deus, o Papa Bento XVI.

Foi no final dos anos 90:
O arcebispo de Lusaka, na Zâmbia, o Monsenhor Emanuele Milingo resolveu um belo dia aderir a uma seita animista e esotérica, com ligações à célebre «Igreja da Unificação», do famoso e inefável Reverendo Moon.

Vai daí, o bom do Emanuele Milingo largou a Igreja Católica e casou-se em Nova York, numa cerimónia religiosa colectiva, com uma grande-sacerdotisa da tal seita animista, uma senhora de nome Maria Sung Ryae Soon, tida como pessoa de grandes dotes e ainda por cima especialista em acupunctura.

Estava o Emanuele posto em sossego, a desfrutar os prazeres e colhendo o doce fruto do leito e dos conhecimentos esotéricos da sua nova consorte, e a preparar já a fundação de uma «Igreja Paralela» em África, quando a galhofa internacional obrigou o Papa João Paulo II a fazer alguma coisa.

Foi precisamente o novo Secretário de Estado do Vaticano, o Cardeal Tarcisio Bertone, quem na ocasião foi escolhido para a delicada missão de recolher a ovelha tresmalhada.

Então, apelando aos seus melhores dotes de argumentação, e certamente com a ajuda do Divino Espírito Santo, que sozinho não ia lá, Bertone lá conseguiu convencer o coitado do Emanuele Milingo a abandonar a seita animista, a desistir dos seus planos de criação de uma Igreja Paralela, a divorciar-se da grande-sacerdotisa e a abandonar o seu leito conjugal e os prazeres da carne e da acupunctura que ela lhe proporcionava e, pasme-se, a regressar ao seu cargo de arcebispo e ao seio da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana.

Ora, isto não se faz!!!




(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)

quarta-feira, 21 de junho de 2006

 

Hipocrisia Política



Noticia o «Público» que o Ministério da Educação quer reduzir de 450 para 300 o número de professores com funções sindicais a tempo inteiro, e que por esse motivo estão dispensados de dar aulas, mas que apesar disso continuam a ser pagos integralmente pelo erário público como se as dessem.

Ora, a lei prevê que um dirigente sindical tem direito somente a quatro dias por mês de dispensa de aulas.
Mas, muito curiosamente, a mesma lei prevê também que os créditos dessas dispensas semanais possam ser concentrados, isto é, permite que um determinado dirigente sindical mais sortudo possa «receber» créditos de outros dirigentes sindicais, de forma a obter sozinho uma dispensa total dos dias de aulas.

Quer isto dizer que para um dirigente sindical estar a tempo inteiro nas suas funções, e integralmente dispensado de dar aulas, é necessário que cinco outros abdiquem dos seus créditos a seu favor.

Por outras palavras, se há neste momento 450 professores com dispensa total de dar aulas mas a receber tal e qual como os seus restantes colegas, quer isto também dizer que actualmente existem nada mais nada menos do que 2.250 dirigentes sindicais!

Não professores sindicalistas, ou professores sindicalizados. Não!
São todos eles dirigentes sindicais, que em vez de serem pagos pelos respectivos sindicatos com as quotas dos seus associados, como em qualquer outra parte do mundo ou em qualquer outro sindicato, custam ao Estado a módica quantia de 20 milhões de euros anuais.

Perante este plano de redução do número de professores com funções sindicais a tempo inteiro, e que (para além de marcarem greves em dias que calhem bem para fazer pontes) ninguém sabe bem o que andam fazer o dia inteiro, mas que continuam dispensados de dar aulas, de preparar lições e corrigir testes, e que são pagos como tal, a Federação Nacional de Professores (Fenprof) – em que tantos e tantos professores, pelos vistos, se revêem – já se manifestou veementemente contra.

E acusou o Governo de... isso mesmo: hipocrisia política!


 

A Entrevista…


…ou como mais depressa se apanha um idiota que um coxo.
(Principalmente se o idiota for um fanático religioso).



Clicar na imagem à direita ->
para ver a entrevista de Stephen Colbert ao congressista republicano Lynn Westmoreland.



segunda-feira, 19 de junho de 2006

 

A Palavra de Deus



Não há dúvida que vivemos num planeta onde a homofobia assume frequentemente foros de política oficial do Estado (incluindo mesmo em países que recentemente aderiram à União Europeia).

No entanto, é curioso como é precisamente nos países onde se verifica uma maior influência das religiões (quaisquer que elas sejam), quer nas pessoas em particular quer no próprio aparelho de Estado, que, por estranha «coincidência», se constata que a homofobia é mais cruel e violenta.

Conta-nos o «Independent» que um belo dia, em Inglaterra, Jody Dobrowski, um barman homossexual de 24 anos de idade, seguia tranquilamente para casa depois do trabalho quando dois homens o atacaram.
Tendo como único e singular pretexto o facto de Dobrowski ser homossexual, os dois atacantes sovaram-no selvaticamente.
Até à morte.
Mas foi tão violentamente espancado que nem os seus familiares o conseguiram reconhecer. O seu corpo teve mesmo de ser identificado pelas suas impressões digitais.

A violência e a barbaridade deste assassinato, e também o crescente número de crimes com semelhantes motivações homofóbicas, decerto contribuíram para a pesada pena a que os dois assassinos foram condenados, e que ouviram impassivelmente e sem qualquer reacção ser pronunciada pelo tribunal: um mínimo de 28 anos de cadeia.

E pronto: foi feita a justiça dos homens!

Mas, para compreender a crescente influência da religião nas políticas de segregação e perseguição dos homossexuais, e a feroz oposição da Igreja Católica em particular a todas as leis e medidas governamentais que conduzam a uma verdadeira integração destes cidadãos, seria interessante saber o que diz a «Lei de Deus» sobre este assunto.

Que visão terá o Deus dos cristãos sobre a homossexualidade?
E que terá pensado este Deus sobre aquele hediondo crime, onde um ser humano é barbaramente espancado até à morte, pura e simplesmente por causa da sua orientação sexual?
Terá o Deus dos cristãos ou, por assim dizer, terá Jesus Cristo concordado com a pena de 28 anos de prisão a que aqueles dois assassinos foram condenados?

Consultemos então a «Bíblia Sagrada», o tal «livro dos livros», que é, como toda a gente sabe, onde está escarrapachada a palavra de Deus.

Vejamos o que sobre este assunto pensam Deus e, por assim dizer, Jesus Cristo e também todos os cristãos que prezam a sua palavra e seguem os seus ensinamentos.
Aliás, é por isso que se chamam «cristãos», não é?

Pois bem:
Diz-nos a Bíblia (levítico 18:22) que «a homossexualidade é uma abominação aos olhos de Deus».
Diz-nos também (levítico 20:13) que «o acto homossexual deve ser punido com a morte».

Aliás, o próprio Deus e, por assim dizer, Jesus Cristo, se encarregou (ou encarregaram?) de nos dar o exemplo, com a piedosa destruição de Sodoma e Gomorra e a merecida morte, sem apelo nem agravo, das pessoas que ali habitavam.

Também no Novo Testamento (Romanos 1:32) os exemplos não faltam:
«Não só os homossexuais mas também aqueles que os toleram são merecedores da morte»

Ou seja:
Por muito que aqueles bárbaros assassinos tenham sido condenados pela Justiça dos Homens a uma pena 28 anos de prisão, que verdadeiro cristão os poderá condenar?

Que interessa o que dizem a Lei e a Justiça dos Homens?
Pois não estavam eles a cumprir a Lei e a Justiça de Deus e, por assim dizer, Jesus Cristo, quando espancaram até à morte, até mesmo deixarem irreconhecível o seu cadáver, aquele homossexual, aquela “abominação aos olhos de Deus”?

Não é verdade que por isso mesmo, no fim, será deles o Reino dos Céus?


sábado, 17 de junho de 2006

 

Os Desígnios do Divino Espírito Santo



O «Correio da Manhã» relata que na passada quarta-feira cerca de 70 emigrantes portugueses rezavam o terço em celebração do "Divino Espírito Santo", no Centro Comunitário de Fall River, em Boston.

Provavelmente pela pouca exuberância nas manifestações de fé dos crentes, talvez por causa de alguma ladainha menos inspirada, uma bajulação menos sentida ou, quem sabe, pela exiguidade das celebrações lumínicas que lhe eram dedicadas, o Espírito Santo chateou-se e resolveu fazer das suas:
De súbito, uma das velas tombou e imediatamente pegou fogo aos lençóis e telas de papel que se encontravam junto à coroa da imagem de Jesus Cristo.

Os crentes ainda tentaram combater o incêndio pelos seus próprios meios. Mas em vão.
Com toda a certeza impelidas pela vontade misteriosa e irresistível do vento do Espírito Santo, a chamas depressa se propagaram inevitavelmente a todo o edifício.

E o resultado destes inesperados e imperscrutáveis desígnios do Espírito Santo para com os desgraçados dos próprios fiéis que o bajulavam e louvaminhavam, foi horrivelmente trágico: miseravelmente confundidas com meia dúzia de vulgares judeus condenados à fogueira nos bons velhos tempos pela Santa Inquisição, morreram quatro pessoas queimadas e outras treze ficaram feridas, algumas em estado grave.

Moral da História:
A fé move montanhas;
Mas, não vá o Espírito Santo tecê-las, para apagar incêndios é melhor chamar os bombeiros.


quinta-feira, 15 de junho de 2006

 

As mini-férias



E pronto: lá houve mais uma greve dos professores!

Desta vez, na base destas "mini-férias" está o protesto contra as políticas do Ministério da Educação que visam a possibilidade de os pais virem a avaliar os professores, e ainda a imposição de quotas para a progressão na carreira docente.

Não há dúvida que esta greve veio a calhar: mesmo no meio de dois feriados.
Pena foi o tempo de chuva que estragou os planos balneares dos nossos ilustres professores.

De qualquer modo, confesso que não entendo porque raio os professores persistem em fazer greve só para irem a banhos.
Basta reparar no caso da estudante do ensino secundário cá de casa:

- Na segunda-feira, só teve duas aulas;
- Na terça-feira, só teve uma aula, apesar de não ser feriado cá no concelho;
- Na quarta-feira, houve greve, não teve aulas;
- Na quinta-feira, é feriado.
- Na sexta-feira não vai ter aulas: os seus professores já tiveram a amabilidade de lhe dizerem que vão todos fazer ponte.
- Na próxima semana não tem aulas: a escola já está de férias antecipadas.

É uma pena, de facto, que em Portugal os professores persistam em manifestar uma imensa pena de si próprios, exibindo publicamente como troféus de caça os colegas que são espancados nas escolas, ou as turmas de alunos inadaptados e sociopatas, como pretexto para lutarem por privilégios corporativos anacrónicos e absolutamente injustificados.

Esta greve é mais um exemplo disso mesmo.

Sob a capa de engraçadas caricaturas, que já circulam na Internet, de pais analfabetos a darem notas negativas a professores que não trataram bem os seus meninos, passando, assim, um atestado de estupidez a quem acredita que é isso que o Ministério quer, o que os professores pretendem afinal é continuarem o seu regabofe de semanas de 16 horas e de 4 dias de trabalho, e de três meses de férias por ano.

Por isso mesmo é que querem que eu continue sem poder ter uma simples palavra sobre a educação escolar das minhas filhas, e fazem greve para que não haja ninguém que me aceite uma reclamação que eu pretenda fazer sobre a assiduidade dos seus professores – e que obviamente não seja totalmente inconsequente como até agora.

Nem sobre a assiduidade dos professores, nem sobre a sua competência ou desempenho!

De facto, não me surpreende que haja professores que persistam fanaticamente em protestar contra qualquer tipo de propósito de serem avaliados, e lutem com todas as suas forças para que se mantenha o actual estado de coisas.

E não me surpreende, porque em todas as profissões há bons e maus profissionais.
E, por isso, é absolutamente compreensível que aqueles que bem sabem "que não têm vida para aquilo" não queiram ser avaliados e queiram continuar a progredir nas suas carreiras, não pelo mérito profissional que demonstrem, mas unicamente pela sua simples antiguidade.
E que, assim, lá vão continuando a criar gerações de alunos que não aprendem a ponta de um corno, sem que ninguém disso se aperceba e lhes possa pedir contas.
E sem que haja alguém que pura e simplesmente os despeça por indecente e má figura: como são incompetentes há muitos anos, já são «efectivos» nas escolas.

É como se fosse assim uma espécie de direito à incompetência adquirido pela antiguidade dessa mesma incompetência.

E se nada disto me surpreende já, o que me continua a espantar é que uma grande e imensa maioria – quero crer – de excelentes e dedicados professores continue a deixar-se levar por meia dúzia de incompetentes e que, ano após ano, permita que os metam com eles no mesmo saco.

Por isso mesmo acho que a solução para toda esta polémica, para todos estes protestos e greves, estaria nas respostas a estas duas simples perguntas:

- Haverá alguém que defenda que os professores incompetentes devem continuar impunemente a dar aulas e a progredir nas respectivas carreiras pela sua simples antiguidade?

- Na classe dos professores, quem tem medo de ser avaliado?


terça-feira, 13 de junho de 2006

 

A Rebaldaria



A notícia não é nova, pois foi publicada no «Correio da Manhã» já no passado dia 5 de Junho.

Relata-nos uma troca de mensagens por telemóvel entre dois deputados do PS: Paulo Pedroso e Ascenso Simões (este o actual secretário de Estado da Administração Interna).

O registo das mensagens consta e resulta de um exame pericial feito ao telemóvel de Paulo Pedroso pela Polícia Judiciária, e a gravidade do que foi escrito é absolutamente indesmentível:
«Queres que assine por ti a folha de presenças?», pergunta Ascenso Simões a Paulo Pedroso.

Pois é!
Mas deixemos de lado por momentos mais esta prova da rebaldaria que grassa pela nossa Assembleia da República, até porque estamos em vésperas do jogo Portugal-México e isso pode dar azar.

Falemos então do que significa na realidade este artigo do «Correio da Manhã»:

Significa, em primeiro lugar, que a Polícia Judiciária leu a troca de correspondência privada entre dois cidadãos.
Até aqui tudo bem, até porque um deles era arguido num processo crime, e tudo estava previamente autorizado por uma autoridade jurisdicional.

Mas, se recordarmos que o processo crime em que Paulo Pedroso era arguido foi avocado para a responsabilidade directa e pessoal do Procurador Geral da República, Souto Moura, então esta notícia do «Correio da Manhã» significa também que o Ministério Público manteve os registos dessa troca de correspondência (que em nada respeitava ao processo crime em questão), durante mais de três anos sem os destruir, tal como está determinado na lei.

E significa que nada de mais aconteceu aos procuradores do Ministério Público que violaram a lei, e que o Procurador Geral da República está perfeitamente conformado com esse facto.

Significa ainda que alguém ligado ao processo, e que ao mesmo tem acesso, passou esta informação, que está obviamente em segredo de justiça, aos jornalistas do «Correio da Manhã».

Significa também que tanto a deontologia dos jornalistas que receberam a informação como a política editorial do «Correio da Manhã» são perfeitamente compatíveis com a publicação e a divulgação pública da troca de correspondência privada entre dois cidadãos, ainda para mais obtida ilicitamente.

Se recordarmos que há tão pouco tempo, e por causa do célebre caso do «Envelope 9», foi feita uma rusga à redacção do jornal «24 Horas», em que foram apreendidos os computadores dos jornalistas, e os responsáveis pela publicação da respectiva notícia foram constituídos arguidos pelo crime de violação do segredo de justiça, então esta notícia do «Correio da Manhã» significa também que o Ministério Público lá conseguiu encontrar uma diferençazita entre os dois jornais e os seus jornalistas.

Significa, pois, que para o Ministério Público o «Correio da Manhã» pode publicar notícias que relatem informações protegidas pelo segredo de justiça, mas o «24 Horas» não pode.

Significa, enfim, que o Ministério Público e o Procurador Geral da República, ele próprio o responsável directo e pessoal pelo processo crime onde teve origem a informação, não mexeram uma palha para averiguar o que se passou, provavelmente porque acham tudo isto perfeitamente normal.

Significa, numa palavra, aquilo que já aqui disse uma vez:

Em Portugal, o Ministério Público pode muitas vezes não funcionar muito bem.
- Mas tem muita graça!


segunda-feira, 12 de junho de 2006

 

Saudades



Esta foto (de Miguel Madeira, do «Público» e gamada ao Daniel Oliveira no «Arrastão») mostra um dos polícias que participou na manifestação do Marquês de Pombal envergando uma bonita t-shirt com a fotografia de Marcelo Caetano, e onde se pode ler:

«Os direitos que o Estado Novo nos deu e os democratas injustamente aboliram».

O que é que o nosso garboso polícia quer dizer com a sua t-shirt e com os direitos que ele achava que tinha no Estado Novo e agora não tem?

Ora bem:
- Não será certamente o direito de associação sindical na Polícia, que isso o Estado Novo não permitia;
- Não será certamente o direito a um horário de trabalho semelhante ao da generalidade da função pública, que isso o Estado Novo não permitia;
- Não será certamente o direito de manifestação pública, que isso o Estado Novo não permitia;
- Não será certamente o direito de se expressar livremente, que isso o Estado Novo não permitia.
- Não será certamente o direito de escrever numa t-shirt aquilo que lhe dá na real gana, que isso o Estado Novo não permitia.

Que direitos havia então no Estado Novo e agora não há?

O que é que um polícia podia fazer na altura e agora não pode, de que aquele nosso ilustre representante da autoridade (e quem sabe se aqueles que o acompanham) tem afinal tantas saudades?...


sábado, 10 de junho de 2006

 

Mensagem de Fé





sexta-feira, 9 de junho de 2006

 

E quem não concordar…



Vai agora para sete anos, na bela cidade de Guimarães, os alunos resolveram zangar-se com o Ministério da Educação, se a memória não me falha, por causa das provas globais de final do ano.

O Ministério é que não podia ficar a ganhar, como é bom de ver.
Então, e como além do mais a cidade de Guimarães é o berço da nossa nacionalidade, toda a malta decidiu resolver o problema de forma tipicamente portuguesa.

Foi então que 300 alunos resolveram todos adoecer ao mesmo tempo, o que lhes permitiu faltar à prova.
Vai daí, todos os 300 apresentaram ao mesmo tempo atestados médicos, passados por 70 ilustres clínicos da cidade berço, todos afiançando – obviamente por sua honra – que os meninos estavam todos muito doentes, coitados.

Como o que é demais não presta, e o país inteiro já se ria à conta do esturro a que esta história cheirava, o Ministério Público lá decidiu intentar procedimento criminal contra esta malta toda.
Malta toda esta que, por diversas vicissitudes legais e processuais, acabou reduzida a 16 estudantes e 14 médicos, os únicos que foram a julgamento.
Sim, porque não ir ninguém até parecia mal.

Pois bem: o Tribunal de Guimarães decidiu absolver a malta toda por falta de provas, por ter sido impossível determinar se os alunos, todos ou apenas alguns, estavam de facto doentes e, consequentemente, saber se os atestados médicos correspondiam ou não à realidade.

E pronto: o problema está resolvido e toda a gente, como de costume, foi para casa em paz.

E quem não concordar, olhe... que meta atestado!


quarta-feira, 7 de junho de 2006

 

A Fé



Segundo a «Reuters», um homem dirigiu-se resolutamente à jaula dos leões no jardim zoológico de Kiev e gritou em voz alta para quem o quis ouvir:

- Se Deus existe, ele me salvará!

Dito isto, desceu por uma corda para dentro da jaula, descalçou-se, e dirigiu-se cheio de fé para os leões.

Vai daí, uma leoa, decerto menos crente, ou então surda (quem sabe?), avançou para ele e atirou-o ao chão.
Depois, cortou-lhe a artéria carótida e matou-o.

Moral da história:
- A tua fé te lixará!


terça-feira, 6 de junho de 2006

 

O Dia da Besta



Hoje é dia 6-6-6.

Ao longo dos tempos foi nascendo um pouco por toda a parte um estranho temor reverencial pelo número 666, com origem certamente na famosa passagem da Bíblia (Apocalipse 13:18) e no significado místico e satânico que lhe é atribuído:

«Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis».

E pronto: bastou uma passagem bíblica de significado duvidoso e o velho costume das pessoas de tentarem encontrar à força um padrão de relacionamento entre as coisas ou entre acontecimentos, por mais arbitrários ou aleatórios que sejam, para um simples número ganhar fama universal de demoníaco.
E ao mesmo tempo de estar de alguma forma ligado ao «Fim dos Tempos», o que, como toda a gente sabe, está cada vez mais próximo e do qual só Deus nos pode salvar.

Por isso, neste dia tão carregado de significado, nada melhor para o celebrar condignamente e realçar a sua importância do que citar Bertrand Russel:

«A religião baseia-se, penso eu, principalmente e antes de tudo, no medo.
«É, em parte, o terror do desconhecido e, em parte, o desejo de sentir que se tem uma espécie de irmão mais velho que se porá de nosso lado em todas as nossas dificuldades e disputas.
«O medo é a base de toda essa questão: o medo do mistério, o medo da derrota, o medo da morte.
«O medo é a fonte da crueldade e, por conseguinte, não é de estranhar que a crueldade e a religião tenham andado de mãos dadas.
«Isso porque o medo é a base dessas duas coisas».


segunda-feira, 5 de junho de 2006

 

Um dia de cão



O grupo parlamentar do PSD apresentou na Assembleia da República um projecto de resolução que pretende instituir em Portugal o «Dia Nacional do Cão».

Confesso que a princípio fiquei estupefacto!

Fui então, cheio de boa vontade, tentar compreender a razão de ser desta inédita iniciativa do principal partido da oposição em Portugal.

Porque razão quer o Partido Social Democrata instituir o «Dia Nacional do Cão» e se esquece do «Dia Nacional do Gato», do «Dia Nacional do Hamster», do «Dia Nacional do Coelho-Anão», ou até do «Dia Nacional do Touro», principalmente num país onde tanta gente ainda acha muita graça a espectáculos públicos dedicados a espetar ferros nas costas daqueles animais só para os ver a contorcerem-se de dor?

Num regime onde a mediatização das iniciativas políticas assume um papel cada vez mais importante, porque razão as mais publicitadas intervenções que o PSD escolheu nos últimos tempos para fazer na Assembleia da República foram a famosa e brilhante proposta de Marques Mendes de despedir funcionários públicos com o recurso a subsídios da União Europeia, e agora precisamente esta humanitária iniciativa de instituir o «Dia Nacional do Cão»?

Num país a braços com uma crise económica, financeira e social, que é já reconhecidamente estrutural, porque raio o PSD, como principal partido da oposição, não apresentou iniciativas legislativas com propostas alternativas credíveis e que verdadeiramente ajudassem e, sendo caso disso, confrontassem o Governo sobre a crise energética, o estado da Justiça, a educação, a saúde a segurança social, etc., etc., e escolheu antes esta piedosa iniciativa de reconhecimento nacional do «melhor amigo do homem»?

Estava, de facto, mesmo muito curioso por perceber tudo isto.

Num país que já tem milhares de jardins com fabulosos relvados, feitos e mantidos a rios de dinheiro, não para as crianças brincarem mas para os cães fazerem as suas necessidades, que poderia ter levado os deputados do PSD a sobrevalorizarem ainda mais o cão?

Que relevância terá o cão para os deputados do PSD, que proporção de valores justificará esta iniciativa?

Fui então consultar o site do Grupo Parlamentar do PSD.

E ali, finalmente, neste pequeno texto explicativo da iniciativa (e para além dum ou outro errozito de português sem importância) descobri a resposta para todas as minhas dúvidas:

«...um dia dedicado à sensibilização de todos para o importante papel que a relação com os cães tem na nossa vida, dia que pode ser particularmente interessante para uma importante pedagogia de valores de cidadania a incutir nas nossas crianças e nos nossos jovens, razão pela qual parece adequada fazer aproximar esta data do 1 de Junho, Dia da Criança».

Percebi então a tal relevância, a tal proporção de valores que justifica para os deputados do PSD esta iniciativa:
É que o dia «Dia da Criança» e o «Dia Nacional do Cão» serão, a partir de agora... “adequadamente aproximados”!


sexta-feira, 2 de junho de 2006

 

A Armadilha



Estávamos no princípio do ano de 2004.
Todos os dias o país fervilhava com novas notícias do «Caso Casa Pia», e em todo o lado se comentava e tomava partido sobre o envolvimento ou a inocência das figuras públicas que a comunicação social acusava persistentemente de pedofilia.

A reunião de condomínio daquele dia não foi excepção: entre duas deliberações, lá acabou toda a gente a falar do caso, ainda para mais com o entusiasmo que nos trazia a presença na reunião de uma amiga íntima e reconhecida camarada de partido de Pedro Namora.

Como não podia deixar de ser, lá acabou toda a gente a falar de quem não acreditava que estivesse envolvido no caso, e até da orientação sexual das pessoas mais faladas na comunicação social, de Carlos Cruz a Paulo Pedroso, de Hugo Marçal a Adelino Granja e, claro está, de Pedro Namora.

Talvez duas ou três semanas mais tarde, liga-me um jornalista desse brilhante paradigma da comunicação social portuguesa que é o semanário «O Crime».
Queria entrevistar-me, disse-me, sobre o «Caso Casa Pia».
Quando lhe disse que não sabia mais sobre o caso do que o que toda a gente lia nos jornais e lhe manifestei a minha estranheza sobre o interesse jornalístico da minha humilde opinião, respondeu-me prontamente que queria somente o parecer novo de alguém que era simultaneamente advogado e militante do P.S.

Fingi entender perfeitamente o imenso interesse jornalístico que eu podia trazer ao caso, e lá fui respondendo cautelosamente, medindo cada palavra, sempre à procura de ver onde é que afinal o gajo queria chegar.

Até que, de repente, lá se fez luz!
Sem mais nem menos, perguntou-me de chofre:

- Então e o que pensa sobre a orientação sexual do Dr. Pedro Namora? Acha que ele é homossexual?

Pimba!
Lá estava, claro como água, o motivo da minha famosa entrevista: a camarada e amiga do inefável Pedro Namora tinha-lhe ido contar as interessantíssimas conversas da reunião de condomínio.
Depois, claro está, o mesmo Pedro Namora tinha encontrado um jornalista com uma interpretação mais engraçada sobre a deontologia da sua classe e que, pelos vistos, se tinha prestado a armar-me esta brilhante armadilha.
Tudo isto provavelmente com o objectivo de algum processo crime por difamação que pudesse exibir ao país, caso eu caísse na asneira de «acusar» o inebriante e varonil Pedro Namora de ser homossexual, roto, paneleiro, de pegar de empurrão, atracar de popa ou qualquer coisa assim do género.

Continuando, como até aí, a mostrar a mais completa naturalidade, respondi-lhe prontamente que, como é óbvio, não tinha opinião sobre o assunto pois não só não conhecia o homem de lado nenhum, como nem sequer ainda o tinha visto (até então) mais gordo à minha frente.
Mas sempre lhe fui dizendo que, apesar de tudo, estava-me positivamente nas tintas para que o tal de Pedro Namora fosse ou não homossexual e que não atribuiria nenhum interesse a qualquer informação que nesse sentido me fosse dada, pois poderiam acusar-me de tudo menos de ser homofóbico.
(O que, penso, talvez já tenha demonstrado à saciedade...).

E conclui, brincando, dizendo-lhe que teria mais relevância para mim saber, por exemplo, que o sujeito tinha a desgraça de ser do Sporting.
E lá acabou a entrevista.

Vai daí, poucos dias depois tive a honra de ver publicada na edição do dia 8 de Abril de 2004 dessa brilhante referência do jornalismo nacional que é «O Crime», e dedicada exclusivamente à minha humilde pessoa, esta notícia que reproduzo aqui à direita (clicar na imagem para a ampliar).

Não há dúvida:
Não há pior imbecil do que aquele que pensa que os outros são imbecis.


quinta-feira, 1 de junho de 2006

 

A Pergunta Certa



No passado domingo o Papa Bento XVI, visitou o campo de concentração de Auschwitz.

Foi neste campo de concentração, célebre pela ironia cruel das palavras «Arbeit Macht Frei» (o trabalho liberta) inscritas no alto do portão de ferro da sua entrada, que durante os anos de ocupação alemã foram praticados os mais horrendos crimes que a História da Humanidade já conheceu.

Decerto impressionado pelo tremendo peso histórico daquele local e tocado pela memória de quase dois milhões de seres humanos, a maior parte judeus, que ali morreram no meio do mais indizível sofrimento, o Papa Bento XVI perguntou, claramente comovido:

«Onde estava Deus naqueles dias? Porque ficou Deus silencioso? Como pode Deus permitir este infindável massacre, este triunfo do mal?»

Mas Bento XVI não fez certamente as perguntas correctas!
Visitando como Papa, enquanto líder máximo da Igreja Católica, um local de tanto sofrimento, talvez a pergunta mais adequada que Bento XVI deveria ter feito era:

- Durante os massacres de Auschwitz, onde estava Pio XII? Onde estavam todos os responsáveis do Vaticano? Como puderam eles ficar silenciosos perante este infindável massacre, este triunfo do mal?

E então, talvez bem a propósito, lhe surgissem tantas outras perguntas, há tanto tempo ainda sem resposta.
Por exemplo:

- Durante os massacres de Lenine e Estaline, onde estava Pio XI? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?

- Durante as ditaduras em Portugal e Espanha, durante as ditaduras militares da América do Sul, durante os massacres de Pinochet, Videla e outros que tais, onde estava Paulo VI? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?

- Durante os massacres de Mao Tse Tung e de Pol Pot, onde estava João XXIII? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?

- Durante os piores anos destas mesmas ditaduras, durante todos estes massacres em todos os continentes, onde estava João Paulo II? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?

- Durante os mais negros anos da Inquisição, por exemplo durante Tomás de Torquemada, onde estava Inocêncio VIII? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?

- Durante o processo de Galileu, onde estava Urbano VIII? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?

- Durante a imolação pelo fogo de Giordano Bruno, onde estava Clemente VIII? Como pode ele ficar silencioso perante este infindável massacre, este triunfo do mal?

Ou seja:
A pergunta certa não é, pois, “onde estava Deus?”.
Esse, como é hábito, tem as costas largas e nós já sabemos onde estava:
- Estava no sítio do costume!

Muito pelo contrário, a pergunta certa deveria antes ser:
- Onde estavam os homens?



(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)


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