sexta-feira, 2 de junho de 2006

 

A Armadilha



Estávamos no princípio do ano de 2004.
Todos os dias o país fervilhava com novas notícias do «Caso Casa Pia», e em todo o lado se comentava e tomava partido sobre o envolvimento ou a inocência das figuras públicas que a comunicação social acusava persistentemente de pedofilia.

A reunião de condomínio daquele dia não foi excepção: entre duas deliberações, lá acabou toda a gente a falar do caso, ainda para mais com o entusiasmo que nos trazia a presença na reunião de uma amiga íntima e reconhecida camarada de partido de Pedro Namora.

Como não podia deixar de ser, lá acabou toda a gente a falar de quem não acreditava que estivesse envolvido no caso, e até da orientação sexual das pessoas mais faladas na comunicação social, de Carlos Cruz a Paulo Pedroso, de Hugo Marçal a Adelino Granja e, claro está, de Pedro Namora.

Talvez duas ou três semanas mais tarde, liga-me um jornalista desse brilhante paradigma da comunicação social portuguesa que é o semanário «O Crime».
Queria entrevistar-me, disse-me, sobre o «Caso Casa Pia».
Quando lhe disse que não sabia mais sobre o caso do que o que toda a gente lia nos jornais e lhe manifestei a minha estranheza sobre o interesse jornalístico da minha humilde opinião, respondeu-me prontamente que queria somente o parecer novo de alguém que era simultaneamente advogado e militante do P.S.

Fingi entender perfeitamente o imenso interesse jornalístico que eu podia trazer ao caso, e lá fui respondendo cautelosamente, medindo cada palavra, sempre à procura de ver onde é que afinal o gajo queria chegar.

Até que, de repente, lá se fez luz!
Sem mais nem menos, perguntou-me de chofre:

- Então e o que pensa sobre a orientação sexual do Dr. Pedro Namora? Acha que ele é homossexual?

Pimba!
Lá estava, claro como água, o motivo da minha famosa entrevista: a camarada e amiga do inefável Pedro Namora tinha-lhe ido contar as interessantíssimas conversas da reunião de condomínio.
Depois, claro está, o mesmo Pedro Namora tinha encontrado um jornalista com uma interpretação mais engraçada sobre a deontologia da sua classe e que, pelos vistos, se tinha prestado a armar-me esta brilhante armadilha.
Tudo isto provavelmente com o objectivo de algum processo crime por difamação que pudesse exibir ao país, caso eu caísse na asneira de «acusar» o inebriante e varonil Pedro Namora de ser homossexual, roto, paneleiro, de pegar de empurrão, atracar de popa ou qualquer coisa assim do género.

Continuando, como até aí, a mostrar a mais completa naturalidade, respondi-lhe prontamente que, como é óbvio, não tinha opinião sobre o assunto pois não só não conhecia o homem de lado nenhum, como nem sequer ainda o tinha visto (até então) mais gordo à minha frente.
Mas sempre lhe fui dizendo que, apesar de tudo, estava-me positivamente nas tintas para que o tal de Pedro Namora fosse ou não homossexual e que não atribuiria nenhum interesse a qualquer informação que nesse sentido me fosse dada, pois poderiam acusar-me de tudo menos de ser homofóbico.
(O que, penso, talvez já tenha demonstrado à saciedade...).

E conclui, brincando, dizendo-lhe que teria mais relevância para mim saber, por exemplo, que o sujeito tinha a desgraça de ser do Sporting.
E lá acabou a entrevista.

Vai daí, poucos dias depois tive a honra de ver publicada na edição do dia 8 de Abril de 2004 dessa brilhante referência do jornalismo nacional que é «O Crime», e dedicada exclusivamente à minha humilde pessoa, esta notícia que reproduzo aqui à direita (clicar na imagem para a ampliar).

Não há dúvida:
Não há pior imbecil do que aquele que pensa que os outros são imbecis.




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