quarta-feira, 29 de novembro de 2006
SIM!
Descubra as Diferenças
Segundo o «Público» e a «TSF», Fátima Felgueiras acaba de ser acusada pelo Ministério Público pelos crimes de corrupção, peculato e participação económica em negócio.
Em causa estará o financiamento feito pela autarquia presidida por Fátima Felgueiras ao clube de futebol local.
Concordo plenamente com esta acusação do Ministério Público: o despudorado financiamento de clubes de futebol pelo poder político é um autêntico escândalo nacional que tem de terminar de uma vez por todas.
De facto, segundo a acusação do Ministério Público, a Câmara Municipal de Felgueiras transferiu sob a forma de subsídios e de contratos-programa quase 4 milhões de euros para o «Futebol Clube de Felgueiras», que assim se viu ilegitimamente beneficiado com dinheiros públicos.
Mas, e ao mesmo tempo, de uma singela leitura do «Orçamento da Região Autónoma da Madeira para 2006», aprovado pelo decreto legislativo regional nº 21-A/2005-M de 30 de Dezembro, constato que o Governo Regional de Alberto João Jardim só este ano entregou aos clubes de futebol da Região as seguintes quantias:
- Subsídios directos aos clubes de Futebol «Marítimo» e «Nacional»: € 21.358.448,00;
- Subsídios indirectos aos clubes de Futebol «Marítimo» e «Nacional», na forma de ajudas para deslocações: € 10.157.800,00
- Apoio a atletas e clubes em competição regional: € 11.902.357,00
- Apoios a outros clubes de futebol: € 21.060.936,00
- Apoio aos clubes na construção de infra-estruturas: € 13.582.967,00
- Arrelvamento de campos de futebol: € 275.000,00
-Total: € 78.337.508,00.
Ou seja:
Fátima Felgueiras é arguida num processo crime, e bem, não porque tenha cometido uma qualquer irregularidade orçamental, mas porque beneficiou com quase 4 milhões de euros de dinheiros públicos uma entidade privada, neste caso o clube de futebol lá da terra.
Ao mesmo tempo, Alberto João Jardim beneficia com mais de 78 milhões de euros de dinheiros públicos outras entidades privadas, neste caso os clubes de futebol lá da Região.
Então, será que o que separa as duas realidades e transforma uma delas em crime e a outra num comportamento perfeitamente lícito e politicamente aceitável é a sua inscrição às claras no orçamento?
- Apoios a outros clubes de futebol: € 21.060.936,00
- Apoio aos clubes na construção de infra-estruturas: € 13.582.967,00
- Arrelvamento de campos de futebol: € 275.000,00
-Total: € 78.337.508,00.
Ou seja:
Fátima Felgueiras é arguida num processo crime, e bem, não porque tenha cometido uma qualquer irregularidade orçamental, mas porque beneficiou com quase 4 milhões de euros de dinheiros públicos uma entidade privada, neste caso o clube de futebol lá da terra.
Ao mesmo tempo, Alberto João Jardim beneficia com mais de 78 milhões de euros de dinheiros públicos outras entidades privadas, neste caso os clubes de futebol lá da Região.
Então, será que o que separa as duas realidades e transforma uma delas em crime e a outra num comportamento perfeitamente lícito e politicamente aceitável é a sua inscrição às claras no orçamento?
segunda-feira, 27 de novembro de 2006
A Maravilha da Técnica
O avanço tecnológico a que assistimos todos os dias não cessa de me surpreender.
Desta vez a maravilha da técnica que acaba de ser posta à disposição dos seres humanos é este fabuloso e fantástico... rebobinador de DVD’s!
Quem estiver interessado pode comprá-lo -> aqui.
sábado, 25 de novembro de 2006
Learning to Fly
PINK FLOYD - Learning to Fly
Into the distance, a ribbon of black
Stretched to the point of no turning back
A flight of fancy on a windswept field
Standing alone my senses reeled
A fatal attraction holding me fast,
How can I escape this irresistible grasp?
Can't keep my eyes from the circling sky
Tongue-tied and twisted
Just an earth-bound misfit, I
Ice is forming on the tips of my wings
Unheeded warnings,
Ice is forming on the tips of my wings
Unheeded warnings,
I thought I thought of everything
No navigator to guide my way home
Unladened, empty and turned to stone
A soul in tension that's learning to fly
Condition grounded but determined to try
Can't keep my eyes from the circling skies
Tongue-tied and twisted
No navigator to guide my way home
Unladened, empty and turned to stone
A soul in tension that's learning to fly
Condition grounded but determined to try
Can't keep my eyes from the circling skies
Tongue-tied and twisted
Just an earth-bound misfit, I
Above the planet on a wing and a prayer,
My grubby halo, a vapour trail in the empty air,
Across the clouds I see my shadow fly
Out of the corner of my watering eye
A dream unthreatened by the morning light
Could blow this soul right through the roof of the night
There's no sensation to compare with this
Suspended animation,
A state of bliss
Can't keep my mind from the circling sky
Tongue-tied and twisted just an earth-bound misfit, I
Above the planet on a wing and a prayer,
My grubby halo, a vapour trail in the empty air,
Across the clouds I see my shadow fly
Out of the corner of my watering eye
A dream unthreatened by the morning light
Could blow this soul right through the roof of the night
There's no sensation to compare with this
Suspended animation,
A state of bliss
Can't keep my mind from the circling sky
Tongue-tied and twisted just an earth-bound misfit, I
quinta-feira, 23 de novembro de 2006
O Paradoxo Sexual da Opinião
Descobri no «Expresso» um artigo de opinião intitulado «O Paradoxo Sexual do Casamento» da autoria de um tal João Espírito Santo, identificado como «advogado e docente universitário».
Constata a certa altura o mestre opinador que enquanto a instituição do casamento está em crise e enquanto os heterossexuais parecem preferir cada vez mais a união de facto, os homossexuais reclamam para si o direito ao casamento.
Depois de lamentar a «partilha de informação sobre a situação legislativa de outros países quanto à matéria» que aquilo a que chama «a rede mundial» tem vindo a propiciar, o docente universitário veio advogar:
«A tendência social heterossexual para a união de facto compreende-se... afinal, no direito português vigora um regime jurídico da união de facto que permite aos paracônjuges todas as vantagens civis do casamento, sem os respectivos inconvenientes».
Como não podia deixar de ser, depois de uma tirada tão iluminada como esta, a que uma inspiração provinda do seu próprio nome não poderá ser estranha, continua o mestre-escola que:
«os pares homossexuais portugueses têm já as vantagens civis do casamento, sem que suportem os respectivos gravames».
Então, decerto temendo a estupefacção que as suas palavras pudessem causar, e para que não restassem as mínimas dúvidas sobre onde quer chegar com o seu brilhante texto, conclui esplendorosamente o advogado e docente universitário:
«A reivindicação homossexual é, entre nós, mais uma questão de afirmação de um princípio — de gay pride — do que de fundo» e do que «algo com significado material».
Vejamos:
Não vou cometer a tremenda injustiça de pensar que este João, iluminado pelos ventos do Espírito Santo, é um advogado ou um docente universitário incompetente.
Assim sendo, e sendo competente, saberá o ilustre e discente causídico, dentro da sua inquestionável e indiscutível competência, que transmitirá com orgulho aos seus alunos e que no foro exibirá, ufano, em representação dos seus clientes, que a persistente falta de regulamentação do Regime Jurídico das Uniões de Facto (Lei n.º 7/2001 de 11 de Maio) significa que, na prática, os efeitos da vida em união de facto e os benefícios mútuos para os respectivos "companheiros" não têm nada de parecido com aquilo a que chama «as vantagens civis do casamento».
Por outras palavras, não tenho quaisquer dúvidas que o Dr. Espírito Santo ensinará aos seus alunos que se num casamento qualquer dos cônjuges pode exigir judicialmente do outro uma contribuição para as despesas domésticas e que, mesmo em caso de divórcio, lhe pode pedir alimentos, isso já não acontece na união de facto.
Também não tenho dúvidas que o Dr. Espírito Santo advogará em tribunal que qualquer cônjuge tem, em caso de divórcio, uma palavra a dizer sobre o destino da casa de morada de família, ou até sobre a sua venda ou qualquer outra forma de alienação, ainda que tal casa seja bem próprio do outro cônjuge, enquanto nada disso se passa na união de facto.
Imagino até o Dr. Espírito Santo a arengar numa aula aos seus alunos que em caso de morte de um dos cônjuges o outro tem direito a uma pensão da Segurança Social, e a explicar-lhes, coitados, que na união de facto isso só acontece se o companheiro sobrevivo demandar judicialmente o Centro Nacional de Pensões, se conseguir demonstrar que necessita dessa pensão para sobreviver, que não tem quaisquer outros meios de subsistência, que fez prova de uma coisa chamada «incapacidade de subsistência» e que nenhuma das pessoas da sua família tem possibilidades de lhe prestar alimentos.
Depois, calculo que o Dr. Espírito Santo advogue aos seus clientes que na esmagadora maioria dos casos só o casamento proporciona aos cônjuges o acesso a sistemas ou sub-sistemas de saúde e de segurança social, que só o casamento franqueia as portas de um hospital para um apoio eficaz a um cônjuge doente, e que só o casamento possibilita o acompanhamento de um filho do outro cônjuge, seja hospitalar seja escolar, sem que ninguém faça perguntas.
Um dia que publique uma obra académica na Universidade onde é docente, o Dr. Espírito Santo não se esquecerá de explicar que no caso de uma doença incapacitante grave, só no casamento o cônjuge é chamado a decidir sobre o desligar de uma máquina de suporte de vida, por exemplo e que numa união de facto um companheiro de uma vida tem menos a dizer que um sobrinho que venha da terra e mande desligar a máquina só para receber a herança mais rapidamente ou até para receber também o seguro de vida!
Também não me passa pela cabeça que o Dr. Espírito Santo não explique a um cliente que lhe apareça lá no escritório que só em caso de casamento o cônjuge sobrevivo é herdeiro legitimário, tal como os filhos (ou, na falta destes, os pais), e tem mesmo um direito especial, por exemplo, a preferir na herança da casa que foi da família.
Ora bem:
Se o Dr. João Espírito Santo (faço-lhe justiça) sabe bem tudo isto, então só posso concluir uma coisa:
Mais abjecto ainda que a homofobia, a discriminação ou o preconceito, é não ter a coragem, a verticalidade e a hombridade de, ao menos e apesar de tudo, os assumir, antes preferindo, sob a invocação de um título académico ou de uma profissão, a cobardia infame de os disfarçar sob a capa de uma pretensa opinião técnica.
terça-feira, 21 de novembro de 2006
O mundo maravilhoso da cura pela fé
Uma das actividades mais lucrativas que o homem já inventou é a religião.
De facto, haverá sempre pessoas capazes de darem o que têm (e até o que não têm), para comprar um lugar no Paraíso, para assegurarem a concessão de um favor divino ou até a cura de uma doença.
Claro está que os profissionais da exploração da fé – qualquer que seja a sua religião – não hesitam em aproveitar-se da frequente fragilidade emocional das pessoas para lhes extorquirem dinheiro.
Quantas pessoas em desespero tentam tudo e mais alguma coisa, e se arruinam autenticamente na esperança de conseguirem que alguém interceda junto de uma divindade qualquer, e lhes consiga a cura para a doença terminal de um filho.
A profissão da exploração da fé das pessoas é de tal forma lucrativa, que não faltam habilidosos que criam as suas próprias religiões.
Há lugar para todos, e todos se passeiam nos seus jactos particulares exibindo fortunas colossais armazenadas em contas bancárias off-shore à custa de incautos «fiéis», que lá vão acreditando que os seus gurus são capazes de milagrosas curas pela fé.
Claro que só «os outros» é que aparecem curados. Porque se alguma doença não se cura, a culpa não é do santo milagreiro, mas unicamente de quem não tem uma fé «suficientemente forte».
Pois bem:
Um dos mais famosos desses free-lancers da religião pululou nos Estados Unidos nos anos 80 do século passado, e dava pelo nome de Peter Popoff.
Durante anos ficaram célebres as suas curas pela fé e as suas extraordinárias exibições em recintos desportivos adaptados para o efeito.
Até que um belo dia... apareceu James Randi, que resolveu desmascarar a habilidosa marosca.
Como uma imagem vale mil palavras, o filme abaixo mostra e conta melhor do que ninguém as habilidades do Peter Popoff.
Chegando a facturar, naquela altura, mais de 4 milhões de dólares anuais com as suas curas milagrosas, Peter Popoff parecia sem qualquer dúvida dotado de extraordinários poderes divinos.
E as pessoas não cessavam de se maravilhar: não só curava cancros com as mãos como ainda adivinhava de longe os nomes das pessoas que o procuravam e quais as doenças que as afligiam. Por vezes adivinhava até as suas moradas!
«Desconfiado» de que as divinas iluminações de Popoff teriam uma explicação mais terrena, James Randi decidiu levar para uma das suas exibições um «scanner» de frequências de emissões de rádio.
Como é óbvio, não tardou a descobrir que as milagrosas inspirações de Peter Popoff se deviam a um auricular sem fios e a preciosas dicas que de longe lhe eram ditadas pela sua mulher, que lia as «fichas de oração» que os fiéis preenchiam antes das sessões.
O esquema foi desmascarado por James Randi no «Tonight Show», e em 1987 Peter Popoff declarou falência.
Mas se desta vez o mundo se livrou de um aldrabão que impiedosamente se aproveitava das fragilidades das pessoas para lhes extorquir dinheiro, muitos outros aldrabões continuam a pulular impunemente por todo o lado.
Uns exercem a sua profissão de forma mais rudimentar, em templos insufláveis, outros em velhos cinemas adaptados, outros ainda em gigantescas basílicas.
Mas, ao fim e ao cabo, e tirando isso, nada mais os distingue...
(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)
segunda-feira, 20 de novembro de 2006
Uma Longa Experiência
O Alto-Comissário das Nações Unidas para os refugiados, António Guterres, foi recebido em audiência no Vaticano pelo Papa Bento XVI, a quem foi agradecer as sucessivas «tomadas de posição» que Ratzinger tem levado a cabo em defesa dos refugiados e do seu acolhimento nos países europeus.
Na verdade, como fervoroso católico que é, António Guterres conhece bem a longa experiência do Vaticano no que se refere a refugiados.
Uma experiência adquirida ainda há bem pouco tempo a ajudar e a apoiar os refugiados nazis no fim da II Guerra Mundial, principalmente na sua fuga para a América do Sul.
Uma ajuda preciosa, por exemplo, para Adolf Eichmann, que foi comandante do campo de concentração de Dachau e que esteve escondido alguns meses no Vaticano antes de fugir para a Argentina.
Mas Adolf Eichmann não era ingrato, nem pessoa para se esquecer de quem o ajudou enquanto viveu a difícil vida de refugiado.
Provavelmente em nome de todos os refugiados do mundo, no final do seu julgamento em Israel Eichmann não hesitou em agradecer publicamente a ajuda recebida do Vaticano, tendo mesmo declarado que, em sinal de agradecimento, se considerava um «católico honorário».
De facto, a solidariedade com os refugiados é uma coisa muito bonita...
sábado, 18 de novembro de 2006
The God Delusion
«Hoje qualquer um de nós poderia dar uma aula a Aristóteles. Poderíamos mesmo maravilhá-lo até ao mais profundo do seu ser. É este o imenso privilégio de termos vivido depois de Newton, Darwin, Einstein, Plank, Watson, Crick e todos os seus colegas».
- Richard Dawkins
Richard Dawkins nasceu em Nairóbi, no Quénia, no dia 26 de Março de 1941.
É actualmente professor na Universidade de Oxford.
Ateu convicto, Richard Dawkins tornou-se famoso com a publicação em 1976 do seu livro «O Gene Egoísta» em que defende uma visão evolucionista centrada no gene, e mais tarde, em 1982, com o livro «O Fenótipo Estendido».
Autor de uma extensa bibliografia, Richard Dawkins publicou recentemente o livro «The God Delusion», onde, numa palavra, se manifesta exasperado com os seus colegas que procuram na ciência uma justificação para as suas convicções religiosas.
No dia 23 de Outubro de 2006 Richard Dawkins fez uma extraordinária apresentação precisamente do seu último livro «The God Delusion», numa Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos.
Nestes dois filmes Richard Dawkins lê (no primeiro) alguns excertos do livro, e depois responde (no segundo) a algumas perguntas dos alunos.
Absolutamente imperdível!!!
The God Delusion:
Perguntas e Respostas:
sexta-feira, 17 de novembro de 2006
As Aulas de Substituição
Noticia o «Público» que em vários pontos do país os alunos do ensino secundário protestaram ontem contra as «aulas de substituição».
Têm razão os alunos.
Vejamos:
As aulas de substituição destinam-se a ocupar os tempos lectivos dos alunos durante as faltas às aulas dos seus professores.
Como é óbvio, estas aulas são ministradas por outros professores da escola que naquela ocasião não estejam ocupados em actividades lectivas.
Deste modo, os alunos deixariam de estar desocupados durante os períodos das faltas dos seus professores. Então, em vez de andarem pelos corredores da escola sem fazer nada ou até de andarem pelos cafés ali à volta a fazer não se sabe bem o quê, enquanto os pais pensam que eles estão nas aulas, passariam a ter aulas complementares ou períodos de estudo acompanhado, dependendo também do professor substituto que estivesse disponível.
Como é óbvio também, desde a primeira hora que os professores se manifestaram contra estas aulas de substituição, que consideram uma autêntica afronta à sua dignidade profissional.
Assim, e num peculiar exercício dessa dignidade profissional, os professores decidiram dar as aulas, sim, mas apenas a fazer de conta. Então, deixam os alunos fazer o que muito bem lhes apetece, enquanto eles próprios lêem o jornal, corrigem testes ou jogam «sudoku», e transformam essas aulas num período de imensa rebaldaria.
Como não podia deixar de ser os alunos acabaram por se cansar deste jogo de faz de conta inútil, e dizem que preferem tudo menos servir de instrumento desta espécie de «greve de zelo» dos professores às aulas de substituição.
Decidiram então, cheios de razão, fazer greve e protestar contra toda esta situação, apoiados e até mesmo instigados pelos seus próprios professores, que lá encontraram mais esta curiosa forma de interpretação da sua dignidade profissional.
Aliás, não é por acaso que estas manifestações dos alunos ocorreram precisamente no dia em que foram retomadas as negociações sobre o Estatuto da Carreira Docente.
Como também não é por acaso que um dos pontos do Estatuto em que o Ministério da Educação se tem manifestado mais inflexível é precisamente no modo em que procura tornar efectivamente consequentes as faltas dos professores às aulas, incluindo mesmo fortes reflexos na sua progressão nas respectivas carreiras.
Mas o que é curioso no meio de toda esta confusão, é que parece que ainda ninguém reparou que é precisamente nos professores que se verificam os mais baixos níveis de assiduidade de todas as classes profissionais do país.
E que bastava que a assiduidade dos professores fosse simplesmente «normal», e então a própria necessidade das aulas de substituição nem sequer se punha!
A situação é de tal ordem que se forem contabilizadas estatisticamente as faltas dos professores, durante os sete anos de escolaridade de um aluno médio (entre 5º ao 11º ano), esse aluno tem menos um ano inteiro de aulas!
Mas mais curioso ainda é ver como os Sindicatos e tantos dos professores que os apoiam parecem conformados com os baixíssimos níveis de assiduidade da classe.
E como procuram simultaneamente não só acabar com as aulas de substituição como manter o actual estado de coisas, em que um professor pode muito bem passar incólume e progredir normalmente na sua carreira mesmo que, graças a um criterioso jogo de atestados médicos, dê num ano menos de metade das aulas que lhe estavam destinadas.
Mas o que é absolutamente chocante é ver como tantos professores competentes, que durante anos e anos não dão uma única falta e que procuram desempenhar a sua profissão de um modo eticamente irrepreensível, interpretam qualquer crítica ou até o mínimo reparo como uma afronta directa e pessoal, ao mesmo tempo que parecem silenciosamente conformados e até estranhamente solidários com a meia dúzia de nababos que estão a manchar o nome e a dignidade de toda uma classe.
Senhora ministra: por favor, não desista!
quarta-feira, 15 de novembro de 2006
O Deus da Bíblia
A Bíblia é o livro sagrado de todos os cristãos.
Tanto, que o «Catecismo da Igreja Católica» lhe dedica uma inequívoca importância, e não se poupa a explicações quanto à sua natureza divina.
Por exemplo:
§81:
«A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto redigida sob a moção do Espírito Santo».
§121:
«O Antigo Testamento é uma parte indispensável da Sagrada Escritura. Os seus livros são divinamente inspirados e conservam um valor permanente, pois a Antiga Aliança nunca foi revogada».
§123:
«Os cristãos veneram o Antigo Testamento como verdadeira Palavra de Deus».
§105:
«Deus é o autor da Sagrada Escritura. As coisas divinamente reveladas, que se encerram por escrito e se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob inspiração do Espírito Santo».
§106:
«Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados. Na redacção dos livros sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades, a fim de que, agindo ele próprio neles e por meio deles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que ele próprio queria».
§138:
«A Igreja recebe e venera como inspirados os 46 livros do Antigo e os 27 livros do Novo Testamento».
E pronto!
Agora conhecemos sem sombra de dúvida e compreendemos perfeitamente o que é a Bíblia:
- É a palavra de Deus, dita aos Homens pelo próprio Deus!
Assim sendo, talvez fosse interessante saber o que diz a Bíblia para, do mesmo modo, procurarmos também conhecer e compreender quem é esse Deus.
Vejamos então alguns exemplos ao acaso:
- Quando um homem se deitar com outro homem, devem ser mortos os dois (Levítico, 20:13);
- Se uma mulher usar roupa de homem, ou um homem usar roupa de mulher, isso é uma «abominação perante Deus» (Deuteronómio, 22:5):
- «Os homossexuais (os varões que se inflamaram na sua sexualidade uns com os outros)... são dignos de morte» (Romanos, 1, 27-32);
- «E viu o Senhor a maldade do homem... Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra...» e então, salvando apenas Noé e quem lá ia na sua arca, Deus lá matou todos os homens, mulheres, crianças e animais que havia sobre a face da terra. (Génesis, 6:5-21);
- «Feriu, porém o Senhor o faraó com grandes pragas» (Génesis, 12:17); e com o cadastro que já tinha, aproveitou e matou todos os filhos primogénitos, independentemente das suas idades, e não só de homens mas também de animais, que havia por todo o Egipto (Êxodo, 12:29 e Números, 33:4);
- Se alguém matar um escravo à paulada, mas o desgraçado não morrer logo e ainda «ficar vivo por um ou dois dias, não será castigado, porque é o seu dinheiro» (Êxodo, 21:21-22);
- «Mas se houver morte, então darás vida por vida. Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé» (Êxodo, 21:23-24);
- Se alguém roubar e não puder restituir o que roubou, será vendido como escravo (Êxodo, 22:3);
- «A feiticeira não deixarás viver» (Êxodo, 22:18);
- «Também o homem que adulterar com a mulher de outro... certamente morrerá o adúltero e a adúltera» (Levítico, 20:10);
- «E quando a filha de um sacerdote se prostituir, profana a seu pai; com fogo será queimada» (Levítico, 21:9);
- «E aquele que blasfemar o nome do Senhor, certamente morrerá; toda a congregação certamente o apedrejará» (Levítico, 24:16);
- «Estando, pois, os filhos de Israel no deserto, acharam um homem apanhando lenha num dia de sábado. Então toda a congregação o tirou para fora do arraial, e com pedras o apedrejaram, e morreu, como o Senhor ordenara a Moisés» (Números, 15:32-36);
- Se uma moça virgem for violada por um homem, devem ser os dois apedrejados até à morte. O homem porque humilhou a mulher do seu próximo; «a moça porquanto não gritou». (Deuteronómio, 22:23);
- «Minha é a vingança» (Deuteronómio, 32:35);
- «Pecando o homem contra homem, os juizes o julgarão; pecando, porém, o homem contra o Senhor, quem rogará por ele? Mas não ouviram a voz do seu pai, porque o Senhor os queria matar» (I Samuel, 2:25);
- «E feriu o Senhor os homens de Beth-semes, porquanto olharam para dentro da arca do Senhor, até ferir do povo 50.070 homens: então o povo se entristeceu, porquanto o Senhor fizera tão grande estrago entre o povo» (I Samuel, 6:19);
- «Se eu, pois, sou , homem de Deus, desça fogo do céu, e te consuma a ti e aos teus cinquenta. Então fogo desceu do céu, e o consumiu a ele e aos seus cinquenta» (II Reis, 1:10);
- «Porque a minha espada se embriagou nos Céus» (Isaías, 34:5);
- «Então saiu o anjo do Senhor, e feriu, no arraial dos assírios, a cento e oitenta e cinco mil; e, quando se levantaram pela manhã cedo, eis que eram corpos mortos» (Isaías, 37:36);
- «Então saiu o anjo do Senhor, e feriu, no arraial dos assírios, a cento e oitenta e cinco mil; e, quando se levantaram pela manhã cedo, eis que eram corpos mortos» (Isaías, 37:36);
- «... assim diz o Senhor, o Deus dos exércitos...» (Jeremias, 5:13);
- «E escolher-se-á antes a morte do que a vida, de todo o resto dos que restarem desta raça maligna, que ficar nos lugares onde os lancei, diz o Senhor dos Exércitos» (Jeremias, 8:3);
- «Pelo que assim diz o Senhor: eis que te lançarei de sobre a face da terra, este ano morrerás, porque falaste em rebeldia contra o Senhor» (Jeremias, 28:16);
- «Pelo que assim diz o Senhor: eis que te lançarei de sobre a face da terra, este ano morrerás, porque falaste em rebeldia contra o Senhor» (Jeremias, 28:16);
- «Porque este dia é o dia do Senhor Jeová dos Exércitos, dia de vingança para se vingar dos seus adversários: e a espada devorará e fartar-se-á e embriagar-se-á com o sangue deles» (Jeremias, 46:10).
É este, pois, o Deus da Bíblia!
É um Deus homofóbico, que decreta a morte das pessoas em razão da sua orientação sexual; é um Deus tarado sexual; é um Deus egocentrista, hipócrita e egoísta, que não tolera, sob pena de morte, que os homens venerem outros deuses; é um Deus com um complexo de inferioridade tão grande que não pode deixar de matar quem blasfeme contra si; é um Deus tão mesquinho que gosta que lhe façam sacrifícios em altares; é um Deus vingativo; é um Deus de ódio; é um Deus racista; é um assassino em série, que ora é capaz de dizimar todos os seres vivos do planeta, por ser tão estúpido que é incapaz de reconhecer a imperfeição da sua própria obra, ora é capaz de matar os filhos primogénitos de todo um país; é um Deus tão misógino, que não suporta sequer a ideia de que uma mulher, que considera um ser de segunda categoria, possa ter sido violada sem ter de ser apedrejada até à morte; é um Deus de crendices infantis, mas também de superstições primitivas e bárbaras, que acredita que há mulheres feiticeiras e as manda imolar pelo fogo; é um Deus que admite a escravatura com naturalidade e sobrevaloriza o dinheiro em relação aos homens; é um Deus para quem o dogma do dia de descanso tem mais importância que uma vida humana.
É, numa palavra, um Deus de MORTE.
Mas é também um Deus que se alimenta de rezas e ladaínhas, de súplicas infames repetidas vezes e vezes sem conta, até à exaustão, sempre de um modo convenientemente suplicante, de joelhos e de cabeça baixa, e num tom babado de um abjecto auto-amesquinhamento, de quem não tem a coragem suficiente para enfrentar a sua própria morte e que, sem sequer ter a noção de que vende a sua própria dignidade humana, troca glorificações imbecis, abstinência sexual e às vezes auto-flagelações, pela ilusão de um lugar num Paraíso.
É este, pois, o Deus católico!
É este, pois, o Deus da Bíblia!
É um Deus homofóbico, que decreta a morte das pessoas em razão da sua orientação sexual; é um Deus tarado sexual; é um Deus egocentrista, hipócrita e egoísta, que não tolera, sob pena de morte, que os homens venerem outros deuses; é um Deus com um complexo de inferioridade tão grande que não pode deixar de matar quem blasfeme contra si; é um Deus tão mesquinho que gosta que lhe façam sacrifícios em altares; é um Deus vingativo; é um Deus de ódio; é um Deus racista; é um assassino em série, que ora é capaz de dizimar todos os seres vivos do planeta, por ser tão estúpido que é incapaz de reconhecer a imperfeição da sua própria obra, ora é capaz de matar os filhos primogénitos de todo um país; é um Deus tão misógino, que não suporta sequer a ideia de que uma mulher, que considera um ser de segunda categoria, possa ter sido violada sem ter de ser apedrejada até à morte; é um Deus de crendices infantis, mas também de superstições primitivas e bárbaras, que acredita que há mulheres feiticeiras e as manda imolar pelo fogo; é um Deus que admite a escravatura com naturalidade e sobrevaloriza o dinheiro em relação aos homens; é um Deus para quem o dogma do dia de descanso tem mais importância que uma vida humana.
É, numa palavra, um Deus de MORTE.
Mas é também um Deus que se alimenta de rezas e ladaínhas, de súplicas infames repetidas vezes e vezes sem conta, até à exaustão, sempre de um modo convenientemente suplicante, de joelhos e de cabeça baixa, e num tom babado de um abjecto auto-amesquinhamento, de quem não tem a coragem suficiente para enfrentar a sua própria morte e que, sem sequer ter a noção de que vende a sua própria dignidade humana, troca glorificações imbecis, abstinência sexual e às vezes auto-flagelações, pela ilusão de um lugar num Paraíso.
É este, pois, o Deus católico!
segunda-feira, 13 de novembro de 2006
A falta que faz a matemática...
Uma acção executiva para cobrança de despesas de condomínio.
O título executivo, como é normal, é constituído por uma acta da Assembleia de Condóminos de onde consta a comparticipação de cada um dos condóminos.
Da acta dada a esta execução consta o montante específico da comparticipação para o ano de 2001 da fracção autónoma do condómino que estava a ser executado, e consta ainda a deliberação da Assembleia que aumentou as comparticipações dos condóminos em 4% para os anos de 2002 (a partir de Fevereiro) e seguintes.
Qualquer coisa assim: «as comparticipações das fracções A, B, e C, que desde 1999 se encontram fixadas em "X" escudos mensais, são aumentadas em 4% a partir do mês de Fevereiro do corrente ano de 2002, inclusive».
Assim, o apuramento do montante exacto da dívida exequenda, isto é, a sua «liquidação», dependia apenas de simples cálculo aritmético.
Como não podia deixar de ser, o juiz aceitou normalmente a execução das despesas de condomínio nos montantes base, nomeadamente do ano de 2001, tal como estão fixados e constam da acta.
Mas o mesmo juiz já não aceitou o aumento de 4%, e explicou porquê no seu despacho (clicar na imagem para a ampliar).
Como não podia deixar de ser, o juiz aceitou normalmente a execução das despesas de condomínio nos montantes base, nomeadamente do ano de 2001, tal como estão fixados e constam da acta.
Mas o mesmo juiz já não aceitou o aumento de 4%, e explicou porquê no seu despacho (clicar na imagem para a ampliar).
Que reza assim:
«... pretende a exequente obter do executado o pagamento coercivo das mesmas, sem que o montante das mensalidades por ele devidas conste de qualquer das actas que aquela juntou. Com efeito, na assembleia de condóminos de 22.2.2002 foi aprovado um aumento de 4% das comparticipações mensais a cargo dos condóminos, mas a respectiva acta é omissa quanto ao montante que resultou da aplicação dessa percentagem».
«Equivale isto a dizer que a exequente não dispõe de título executivo que lhe permita assegurar por meio do processo executivo o pagamento do referido acréscimo sobre as mensalidades de Janeiro de...».
Ou seja:
Considera o juiz que, embora conste da acta o montante inicial das despesas de condomínio e conste ainda que estas despesas foram aumentadas em 4%, o que é facto é que da acta não consta especificamente escarrapachado o resultado aritmético da aplicação desta percentagem.
E, por isso, considerou que este acréscimo de 4% não está dotado de título executivo e, assim, não pode ser exigido numa acção executiva.
E, por isso, considerou que este acréscimo de 4% não está dotado de título executivo e, assim, não pode ser exigido numa acção executiva.
Mas os montantes base, esses sim, podem...
A falta que faz a matemática!!!
A falta que faz a matemática!!!
sábado, 11 de novembro de 2006
Bohemian Rhapsody
Às vezes alguém resolve fazer listas, sondagens e pesquisas sobre quais as dez melhores músicas da história do «rock and roll».
Como é óbvio, nunca se chegará a acordo sobre a composição de uma classificação desse género.
Mas não será surpresa para ninguém que em primeiro lugar fique quase sempre a mesma música: a «Bohemian Rhapsody», dos Queen.
quinta-feira, 9 de novembro de 2006
O Relativismo Moral
Noticia o «Público» que o Vaticano apelou à anulação do «Desfile do Orgulho Gay» previsto para a próxima sexta-feira em Jerusalém, para não ferir «os sentimentos de milhões de crentes judeus, muçulmanos e cristãos».
E acrescenta:
«O direito à liberdade de expressão é submetido a justas limitações, em particular quando o exercício desse direito ofende os sentimentos dos crentes».
É fabuloso, de facto, este relativismo moral tão típico da Igreja Católica.
Enquanto as mais altas hierarquias do Vaticano, incluindo o Papa, são muito bem capazes de proteger um sem número de padres pedófilos, ocultando-os através de sucessivas mudanças de paróquia, só para os ver praticar novos abusos em cada nova paróquia, agora querem fazer-se passar por virginais donzelas, todas muito ofendidas por causa de um mero desfile de pessoas a quem não apetece esconder a sua orientação sexual por um dia.
E como se para relativismo não bastasse, claro que esta tão honrosa instituição, sempre tão orgulhosa do seu passado glorioso, acha-se mesmo no direito e na autoridade moral de declarar, para descanso da população mundial, que reconhece perfeitamente o direito à liberdade de expressão dos outros.
Como se eu precisasse para alguma coisa que a Igreja Católica reconhecesse o meu direito à liberdade de expressão...
MAS ATENÇÃO: a liberdade de expressão é reconhecida, sim, mas... só desde que não ofenda os sentimentos dos crentes!
O que, só por si, já justifica esta «pequena excepção» à liberdade de expressão.
Sim, porque para a Santa Sé os crentes são gente muito simples e de sentimentos muito delicados, que não podem ser ofendidos, coitados.
Claro que o relativismo moral desta gente não lhes dá para ver que, por essa mesma ordem de ideias, o direito à liberdade de expressão de um crente poderia também ser «submetido a justas limitações, em particular quando o exercício desse direito ofende os sentimentos dos... ateus»!
E embalados no relativismo moral, lá caía o Carmo e a Trindade se aparecesse para aí uma organização ateísta a querer impedir a realização de um evento religioso qualquer.
Podia até ser um certo evento que se caracteriza por constituir um dos maiores exemplos de degradação humana e de um aviltante amesquinhamento perante uma divindade e que, por isso, e sem qualquer dúvida, é susceptível de indignar e ofender os sentimentos não só dos ateus em particular, mas até mesmo também de qualquer ser humano que se preze e seja digno desse nome.
E que se realiza várias vezes por ano... em Fátima!...
It’s the war, stupid!
Acabo de ver anunciado que nas eleições intercalares de terça-feira nos Estados Unidos, e depois de terem já conseguido a maioria na Câmara dos Representantes, os Democratas asseguraram também uma maioria no Senado, após uma renhida contagem de votos no Estado de Virginia.
Não sei até que ponto estas eleições e estas duas nova maiorias, que antes de mais significam uma humilhante derrota para George W. Bush, vão trazer uma significativa e radical mudança na política norte americana por esse mundo fora, desde o Iraque ao Afeganistão, passando pelo Irão ou pela Coreia do Norte.
Ou até pelo protocolo de Quioto.
Mas, para já, o Rumsfeld já foi à vida.
O que é, sem dúvida, um bom princípio!
quarta-feira, 8 de novembro de 2006
A Objecção de Consciência
É sabido que desde a primeira hora que os sectores católicos mais conservadores procuram reagir contra a legalização dos casamentos homossexuais em Espanha.
Primeiro resolveram realizar algumas manifestações públicas de protesto e de grande indignação que, como é óbvio, se revelaram completamente inócuas perante um Governo forte, corajoso e ciente do que anda a fazer, que não está refém de conservadorismos bacocos nem anda a reboque de ninguém, e muito menos está dependente de agendas parlamentares mais ou menos misteriosas e obscuras.
Depois, foi a vez de um vogal do «Conselho Geral do Poder Judicial» de Espanha, e ao mesmo tempo um ilustre membro da Opus Dei (como não podia deixar de ser), de seu nome José Luis Requero, lembrar-se de propor a possibilidade dos Conservadores do Registo Civil poderem invocar «objecção de consciência» para não celebrarem os casamentos homossexuais que lhes fossem requeridos.
Aliás a homofobia militante e fanática deste emérito católico (que nos dias que correm pode mesmo levantar grandes suspeitas) já o havia levado a comparar o casamento entre pessoas do mesmo sexo com o casamento entre humanos e animais.
Mas nem a prestimosa intervenção do arcebispo de Valladolid, Braulio Rodriguez, nem o inestimável apoio espiritual que, sem sombra de dúvida, São José Maria Escrivá lhe deve ter dado lá do alto do Olimpo católico, lhe valeram de alguma coisa.
De facto, o «Conselho Geral do Poder Judicial» decidiu por maioria recusar a piedosa proposta, considerando que os Conservadores do Registo Civil devem sempre actuar como agentes do Estado e que, como tal, devem «estar submetidos unicamente ao império da lei», recusando atribuir-lhes qualquer direito a uma objecção de consciência, ainda que por motivos religiosos.
De facto, é muito curiosa esta ideia tão tipicamente católica, e tão persistente ao longo dos séculos, de que há pessoas que, assim de repente, se acham dotadas de uma espécie de poder divino que lhes permite desobedecer às leis de um Estado de Direito, só por invocarem motivos estritamente religiosos.
terça-feira, 7 de novembro de 2006
A Condenação
Cláudio Araneda é um jovem de 18 anos residente na cidade de Ercilla, no sul do Chile, e que um belo dia resolveu roubar algumas botijas de gás vazias de uma igreja católica.
Submetido a julgamento, o jovem acabou por ser condenado pelo tribunal, ainda por cima por influência do pároco lá do sítio, a uma pena absolutamente inédita: foi condenado a assistir à missa durante um ano inteiro.
Assistir à missa, pelos vistos há quem o reconheça, trata-se, de facto, de um castigo muitíssimo severo, principalmente tratando-se de um jovem, mas também inegavelmente injusto e sem qualquer respeito pelos direitos humanos, pela «Convenção de Genebra» ou pela «Declaração Universal dos Direitos do Homem».
Estou até convencido que o jovem Cláudio Araneda nunca mais voltará a praticar qualquer crime, só de pensar que pode voltar a ser condenado a... ir à missa!
segunda-feira, 6 de novembro de 2006
Um embusteiro e um mentiroso
A história conta-se em três tempos:
O pastor Ted Haggard notabilizou-se como presidente da «Associação Nacional Evangélica» dos Estados Unidos e como pastor da sua própria igreja evangélica.
Ficou também conhecido pela veemência com que se manifestava contra os casamentos homossexuais, e pela extrema violência dos seus argumentos em tudo o que se relacionava com os homossexuais de um modo geral, a quem vaticinava a morte e as penas do Inferno por toda a eternidade, tal como está previsto na Bíblia, que sempre defendeu que deve ser interpretada literalmente.
E tal como se pode ver aqui:
Agora, depois de algumas hesitações e desmentidos pouco convincentes, o pastor Ted Haggard acabou por se demitir da sua nobre missão à frente da presidência da «Associação Nacional Evangélica» e por admitir aquilo que um conhecido prostituto homossexual de nome Mike Jones tinha revelado sobre ele em directo e ao vivo na televisão: que há mais de três anos que o bom pastor lhe pagava regularmente para manterem relações homossexuais e para lhe fornecer a sua dose diária de anfetaminas.
E numa brilhante auto-crítica revolucionária, declarou publicamente:
«Sou culpado de imoralidade sexual, e assumo toda a responsabilidade. Sou um embusteiro e um mentiroso».
Pelos vistos, uma coisa é certa:
A homofobia e a veemência com que tantas pessoas se manifestam contra os direitos dos homossexuais não deixa de revelar, antes de mais, uma extrema hipocrisia e uma muito suspeita insegurança dessas mesmas pessoas quanto à sua própria heterossexualidade...
sábado, 4 de novembro de 2006
Tears in rain
«Blade Runner» é, sem qualquer dúvida ou hesitação, o filme da minha vida.
Nesta sequência, a mais significativa do filme, Roy, o «Replicant» revoltado, profere antes de “morrer” as palavras que servem de subtítulo a este Blog:
«I've seen things you people wouldn't believe: attack ships on fire off the shoulder of Orion; I watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain. Time to die...»
São palavras que, muito provavelmente, só um ateu poderá compreender inteiramente...
sexta-feira, 3 de novembro de 2006
O Sexo Para Além da Morte
Uma coisa é certa: a Eternidade é, de facto, muito tempo!
Por isso, é perfeitamente natural que tanta gente se preocupe como vai viver para além da sua morte.
Assim, não admira que o fundamento básico das religiões seja o medo, esse terrível pavor que as pessoas têm de morrer e que, por isso, o objectivo fundamental de todas elas seja precisamente a comercialização da vida eterna.
É assim que às pessoas que em vida «se portaram bem» e obedeceram aos mandamentos divinos, todas as religiões prometem uma vida eterna, um Paraíso concebido à medida da personalidade de cada um dos deuses que idolatram.
Por isso, e de acordo com o Deus que lá manda, a vida num Paraíso pode ser de uma grande animação ou, ao invés, de um aborrecimento e de um tédio terríveis.
Assim, desde logo não é de estranhar, por isso, que os devotos islâmicos que se façam explodir a si próprios no meio do inimigo entrem imediatamente no Paraíso e lhes sejam logo concedidas, ao que consta, 40 virgens a cada um.
O Corão descreve o Paraíso como um jardim esplendoroso, um oásis em que cada homem se pode casar com quantas mulheres bonitas lhe apetecer, todas elas virgens e criadas por Deus especificamente para o prazer dos homens, que as poderão desflorar sempre que quiserem que elas se manterão sempre virgens.
Numa palavra, um muçulmano que alcance o Paraíso passará a vida eterna num oásis a desflorar mulheres virgens.
Não encontrei qualquer referência no Corão a um Paraíso específico das mulheres, pelo que presumo que para Alá este seja também o conceito de Paraíso feminino.
Tal como acontece com os muçulmanos, também para os judeus o sexo não é encarado como um «pecado», ou uma coisa suja e anti-natural.
Assim, e como para o judaísmo a vida eterna é passada em corpo e alma, não é de estranhar que a noção de Paraíso judaico seja geralmente entendida pelos teólogos como admitindo perfeitamente a prática de relações sexuais entre os seus «habitantes».
Para os cristãos a coisa já é bem diferente:
Como para o cristianismo a noção de vida eterna passa também pela ressurreição do corpo no dia do «Juízo Final», desde logo também se colocou a questão da prática de relações sexuais entre os beneficiários do Paraíso cristão.
Mas logo Santo Agostinho veio a terreiro explicar como são as coisas.
Depois da ressurreição dos cristãos que mereçam a vida eterna, todos eles manterão os seus órgãos sexuais, embora somente por razões... estritamente estéticas.
O seu uso está absolutamente fora de questão!
No Novo Testamento um homem pergunta a Jesus Cristo com quem viverá no Paraíso um homem que se casou e enviuvou várias vezes e com qual das suas mulheres viverá a vida eterna.
A resposta de Jesus foi suficientemente esclarecedora: no Reino dos Céus ninguém se casará, pois todos viverão como anjos.
Mas será que os anjos têm relações sexuais?
Nem pensar!
Se para os cristãos o sexo é pecado, então o sexo pelo simples prazer não é mais do que uma abjecta depravação.
Por isso, e como para os cristãos o sexo não faz verdadeiramente parte da natureza humana e não se põe a necessidade da reprodução da espécie, está absolutamente posta de parte qualquer possibilidade de haver relações sexuais no Paraíso dos cristãos.
Em suma:
Se o Paraíso que está destinado a uma pessoa depende da religião que ela professa, talvez seja ocasião para muito boa gente equacionar o modo como pretende passar a vida eterna!...
quarta-feira, 1 de novembro de 2006
A Gazeta da Semana
Noticia o «Público» que os sindicatos dos professores e o Governo cessaram as negociações sem terem chegado a um acordo de fundo sobre o «Estatuto da Carreira Docente».
Perante a "falta de cedência" da ministra da educação às suas principais objecções, as estruturas sindicais ameaçam agora com novos protestos.
Na base das principais divergências entre o Governo e os sindicatos estão agora a divisão da carreira em duas categorias (professor e professor titular), a introdução de quotas para aceder à categoria mais elevada de professor titular (o que impedirá mais de dois terços dos professores de chegar ao topo da carreira), e a não contagem de tempo de serviço em caso de uma avaliação de desempenho de nível "regular" ou de situações de faltas, ainda que justificadas.
Ora, esta notícia fez-me lembrar cá uma coisa mesmo muito curiosa.
A adolescente cá de casa (que frequenta o 11º ano numa escola perto daqui), passou assim a semana passada:
- Na segunda-feira, devia ter tido 6 aulas, teve 4;
- Na terça-feira, devia ter tido 8 aulas, teve 2;
- Na quarta-feira, devia ter tido 8 aulas, teve 2;
- Na quinta-feira, devia ter tido 6 aulas, teve 2;
- Na sexta-feira, devia ter tido 6 aulas, teve 2.
Ou seja, enquanto durante toda a semana devia ter tido 34 horas de aulas, teve somente 12.
Quer isto dizer que durante a semana passada teve somente 35% das aulas previstas no seu horário, isto é, pouco mais de um terço.
Os professores faltaram nas restantes...
Senhora ministra: por favor, não desista!