sexta-feira, 17 de novembro de 2006

 

As Aulas de Substituição



Noticia o «Público» que em vários pontos do país os alunos do ensino secundário protestaram ontem contra as «aulas de substituição».

Têm razão os alunos.
Vejamos:
As aulas de substituição destinam-se a ocupar os tempos lectivos dos alunos durante as faltas às aulas dos seus professores.
Como é óbvio, estas aulas são ministradas por outros professores da escola que naquela ocasião não estejam ocupados em actividades lectivas.
Deste modo, os alunos deixariam de estar desocupados durante os períodos das faltas dos seus professores. Então, em vez de andarem pelos corredores da escola sem fazer nada ou até de andarem pelos cafés ali à volta a fazer não se sabe bem o quê, enquanto os pais pensam que eles estão nas aulas, passariam a ter aulas complementares ou períodos de estudo acompanhado, dependendo também do professor substituto que estivesse disponível.

Como é óbvio também, desde a primeira hora que os professores se manifestaram contra estas aulas de substituição, que consideram uma autêntica afronta à sua dignidade profissional.
Assim, e num peculiar exercício dessa dignidade profissional, os professores decidiram dar as aulas, sim, mas apenas a fazer de conta. Então, deixam os alunos fazer o que muito bem lhes apetece, enquanto eles próprios lêem o jornal, corrigem testes ou jogam «sudoku», e transformam essas aulas num período de imensa rebaldaria.

Como não podia deixar de ser os alunos acabaram por se cansar deste jogo de faz de conta inútil, e dizem que preferem tudo menos servir de instrumento desta espécie de «greve de zelo» dos professores às aulas de substituição.

Decidiram então, cheios de razão, fazer greve e protestar contra toda esta situação, apoiados e até mesmo instigados pelos seus próprios professores, que lá encontraram mais esta curiosa forma de interpretação da sua dignidade profissional.
Aliás, não é por acaso que estas manifestações dos alunos ocorreram precisamente no dia em que foram retomadas as negociações sobre o Estatuto da Carreira Docente.

Como também não é por acaso que um dos pontos do Estatuto em que o Ministério da Educação se tem manifestado mais inflexível é precisamente no modo em que procura tornar efectivamente consequentes as faltas dos professores às aulas, incluindo mesmo fortes reflexos na sua progressão nas respectivas carreiras.

Mas o que é curioso no meio de toda esta confusão, é que parece que ainda ninguém reparou que é precisamente nos professores que se verificam os mais baixos níveis de assiduidade de todas as classes profissionais do país.
E que bastava que a assiduidade dos professores fosse simplesmente «normal», e então a própria necessidade das aulas de substituição nem sequer se punha!

A situação é de tal ordem que se forem contabilizadas estatisticamente as faltas dos professores, durante os sete anos de escolaridade de um aluno médio (entre 5º ao 11º ano), esse aluno tem menos um ano inteiro de aulas!

Mas mais curioso ainda é ver como os Sindicatos e tantos dos professores que os apoiam parecem conformados com os baixíssimos níveis de assiduidade da classe.
E como procuram simultaneamente não só acabar com as aulas de substituição como manter o actual estado de coisas, em que um professor pode muito bem passar incólume e progredir normalmente na sua carreira mesmo que, graças a um criterioso jogo de atestados médicos, dê num ano menos de metade das aulas que lhe estavam destinadas.

Mas o que é absolutamente chocante é ver como tantos professores competentes, que durante anos e anos não dão uma única falta e que procuram desempenhar a sua profissão de um modo eticamente irrepreensível, interpretam qualquer crítica ou até o mínimo reparo como uma afronta directa e pessoal, ao mesmo tempo que parecem silenciosamente conformados e até estranhamente solidários com a meia dúzia de nababos que estão a manchar o nome e a dignidade de toda uma classe.


Senhora ministra: por favor, não desista!




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