terça-feira, 21 de novembro de 2006

 

O mundo maravilhoso da cura pela fé



Uma das actividades mais lucrativas que o homem já inventou é a religião.
De facto, haverá sempre pessoas capazes de darem o que têm (e até o que não têm), para comprar um lugar no Paraíso, para assegurarem a concessão de um favor divino ou até a cura de uma doença.

Claro está que os profissionais da exploração da fé – qualquer que seja a sua religião – não hesitam em aproveitar-se da frequente fragilidade emocional das pessoas para lhes extorquirem dinheiro.
Quantas pessoas em desespero tentam tudo e mais alguma coisa, e se arruinam autenticamente na esperança de conseguirem que alguém interceda junto de uma divindade qualquer, e lhes consiga a cura para a doença terminal de um filho.

A profissão da exploração da fé das pessoas é de tal forma lucrativa, que não faltam habilidosos que criam as suas próprias religiões.
Há lugar para todos, e todos se passeiam nos seus jactos particulares exibindo fortunas colossais armazenadas em contas bancárias off-shore à custa de incautos «fiéis», que lá vão acreditando que os seus gurus são capazes de milagrosas curas pela fé.

Claro que só «os outros» é que aparecem curados. Porque se alguma doença não se cura, a culpa não é do santo milagreiro, mas unicamente de quem não tem uma fé «suficientemente forte».

Pois bem:
Um dos mais famosos desses free-lancers da religião pululou nos Estados Unidos nos anos 80 do século passado, e dava pelo nome de Peter Popoff.
Durante anos ficaram célebres as suas curas pela fé e as suas extraordinárias exibições em recintos desportivos adaptados para o efeito.

Até que um belo dia... apareceu James Randi, que resolveu desmascarar a habilidosa marosca.

Como uma imagem vale mil palavras, o filme abaixo mostra e conta melhor do que ninguém as habilidades do Peter Popoff.

Chegando a facturar, naquela altura, mais de 4 milhões de dólares anuais com as suas curas milagrosas, Peter Popoff parecia sem qualquer dúvida dotado de extraordinários poderes divinos.
E as pessoas não cessavam de se maravilhar: não só curava cancros com as mãos como ainda adivinhava de longe os nomes das pessoas que o procuravam e quais as doenças que as afligiam. Por vezes adivinhava até as suas moradas!

«Desconfiado» de que as divinas iluminações de Popoff teriam uma explicação mais terrena, James Randi decidiu levar para uma das suas exibições um «scanner» de frequências de emissões de rádio.
Como é óbvio, não tardou a descobrir que as milagrosas inspirações de Peter Popoff se deviam a um auricular sem fios e a preciosas dicas que de longe lhe eram ditadas pela sua mulher, que lia as «fichas de oração» que os fiéis preenchiam antes das sessões.

O esquema foi desmascarado por James Randi no «Tonight Show», e em 1987 Peter Popoff declarou falência.

Mas se desta vez o mundo se livrou de um aldrabão que impiedosamente se aproveitava das fragilidades das pessoas para lhes extorquir dinheiro, muitos outros aldrabões continuam a pulular impunemente por todo o lado.
Uns exercem a sua profissão de forma mais rudimentar, em templos insufláveis, outros em velhos cinemas adaptados, outros ainda em gigantescas basílicas.

Mas, ao fim e ao cabo, e tirando isso, nada mais os distingue...







(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)




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