quinta-feira, 9 de novembro de 2006
O Relativismo Moral
Noticia o «Público» que o Vaticano apelou à anulação do «Desfile do Orgulho Gay» previsto para a próxima sexta-feira em Jerusalém, para não ferir «os sentimentos de milhões de crentes judeus, muçulmanos e cristãos».
E acrescenta:
«O direito à liberdade de expressão é submetido a justas limitações, em particular quando o exercício desse direito ofende os sentimentos dos crentes».
É fabuloso, de facto, este relativismo moral tão típico da Igreja Católica.
Enquanto as mais altas hierarquias do Vaticano, incluindo o Papa, são muito bem capazes de proteger um sem número de padres pedófilos, ocultando-os através de sucessivas mudanças de paróquia, só para os ver praticar novos abusos em cada nova paróquia, agora querem fazer-se passar por virginais donzelas, todas muito ofendidas por causa de um mero desfile de pessoas a quem não apetece esconder a sua orientação sexual por um dia.
E como se para relativismo não bastasse, claro que esta tão honrosa instituição, sempre tão orgulhosa do seu passado glorioso, acha-se mesmo no direito e na autoridade moral de declarar, para descanso da população mundial, que reconhece perfeitamente o direito à liberdade de expressão dos outros.
Como se eu precisasse para alguma coisa que a Igreja Católica reconhecesse o meu direito à liberdade de expressão...
MAS ATENÇÃO: a liberdade de expressão é reconhecida, sim, mas... só desde que não ofenda os sentimentos dos crentes!
O que, só por si, já justifica esta «pequena excepção» à liberdade de expressão.
Sim, porque para a Santa Sé os crentes são gente muito simples e de sentimentos muito delicados, que não podem ser ofendidos, coitados.
Claro que o relativismo moral desta gente não lhes dá para ver que, por essa mesma ordem de ideias, o direito à liberdade de expressão de um crente poderia também ser «submetido a justas limitações, em particular quando o exercício desse direito ofende os sentimentos dos... ateus»!
E embalados no relativismo moral, lá caía o Carmo e a Trindade se aparecesse para aí uma organização ateísta a querer impedir a realização de um evento religioso qualquer.
Podia até ser um certo evento que se caracteriza por constituir um dos maiores exemplos de degradação humana e de um aviltante amesquinhamento perante uma divindade e que, por isso, e sem qualquer dúvida, é susceptível de indignar e ofender os sentimentos não só dos ateus em particular, mas até mesmo também de qualquer ser humano que se preze e seja digno desse nome.
E que se realiza várias vezes por ano... em Fátima!...