sábado, 28 de fevereiro de 2009

 

Alternativa





quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

 

Confissão





terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

 

The times they are a-changin'



A História dos Homens demonstra-nos que todas as conquistas no sentido da evolução da ética, do humanismo e da igualdade entre todos os seres humanos são conseguidas passo a passo, e frequentemente à custa do sofrimento de tantas pessoas.

Reproduzo abaixo os discursos de aceitação proferidos por Sean Penn e por Dustin Lance Black, vencedores dos Óscares, respectivamente para o melhor actor e para o melhor argumentista original, do filme «Milk».

Uma coisa é certa:
Entre dois debates televisivos, entre dois textos em blogues, entre dois comentários homofóbicos, as coisas estão de facto a mudar.

E, no final, do casamento inter-racial ao casamento homossexual, do fim da escravatura ao voto das mulheres, da liberdade religiosa à liberdade de expressão, da igualdade de género à igualdade da raça, somente permanecerá na História a repulsa que nos trará a memória difusa e indistinta das pessoas que resistiram e se opuseram a cada uma das mudanças.
Cada uma à sua maneira, mas todas iguais.

Mas todas em vão!

Há por aí muito boa gente que talvez devesse começar por se habituar à ideia…





segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

 

Problemas de Identidade Pessoal



Como se isso lhe dissesse respeito, a Conferência Episcopal Portuguesa publicou uma coisa chamada «nota pastoral» que contesta o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Segundo o «Público», ao mesmo tempo que rejeitam «todas as formas de discriminação ou marginalização das pessoas homossexuais», os bispos portugueses afirmam que «o prolongamento da homossexualidade pela idade jovem e adulta denota a existência de problemas de identidade pessoal».

Não é fácil de comentar a imbecilidade de responsáveis hierárquicos de uma organização eclesiástica que são capazes de afirmar que rejeitam todas as formas de discriminação entre os seres humanos, enquanto ao mesmo tempo defendem a sua discriminação no acesso a bens jurídicos de natureza exclusivamente civil.

Para já, isto revela bem que os próprios bispos portugueses são capazes de insultar a inteligência das ovelhas que estão encarregues de apascentar.

Mas o que isto demonstra principalmente é a mais completa insanidade e a mais confrangedora idiotia de um grupo de velhos tristes e bacocos vestidos de saias e de paramentos ridículos e que desde logo se caracterizam pela sua opção pelo celibato e pela renúncia à sua própria vida sexual – que é de onde lhes vem aquele olhar alucinado – mas também pelo fanatismo com que comandam as suas vidas à volta de moralismos primitivos estabelecidos na Idade do Bronze e de rituais sobre mulheres virgens que dão à luz ou de paus que se transformam em cobras.
Mas que, ainda assim, têm a autêntica lata de imputar «problemas de identidade pessoal» a determinados cidadãos que se distinguem dos demais pelas suas peculiaridades biológicas, pela sua orientação sexual e, enfim, pela sua identidade.

Mas os senhores bispos não se ficam por aqui:
Afirmam ainda que «a vida humana assenta na complementaridade do homem e da mulher», consideração que é óbvio que eles próprios não seguem, pois pelos vistos reúnem-se regularmente em conferências episcopais para se complementarem uns aos outros…

Sobre a adopção de crianças por homossexuais os senhores bispos acham que são contra. E veja-se só a forma tão bonita como o dizem:
«Tal constituiria uma alteração grave das bases antropológicas da família e com ela de toda a sociedade, colocando em causa o seu equilíbrio».

Vê-se mesmo que é uma típica formulação que saiu da cabeça de um bispo: é uma frase que tem pompa e circunstância, mas que bem vistas as coisas não significa rigorosamente nada.

Se os senhores bispos saíssem das sacristias, onde andam a gastar os joelhos das calças a rezar a entidades imaginárias e a complementarem-se uns aos outros e olhassem para a sociedade que têm à sua volta, saberiam perfeitamente que em Portugal já há muito que há adopção por homossexuais, nem que seja a coberto da adopção monoparental.

Mas é sobre o problema da adopção que se revela a mais abstrusa homofobia, desta vez pretensamente justificada pelo «interesse da criança».

Pois é verdade:
Há de facto pessoas que acham que «o interesse da criança» reside na Casa Pia.

E pura e simplesmente recusam conceber sequer a possibilidade de uma criança que foi abandonada numa instituição qualquer, vir a ser adoptada por uma família homossexual.
Tudo isto, claro está, por causa do «interesse da criança».

Pois bem:
Se assim é, se é pelo «interesse da criança» que são contra a sua adopção por famílias homossexuais, era bom então que os senhores bispos e os fiéis que os seguem acriticamente tivessem ao menos a coragem e a mais básica honestidade intelectual de vir a público defender que as crianças nascidas de um relacionamento heterossexual anterior, por exemplo, mas que vivem actualmente com progenitores homossexuais, devem ser imediatamente retiradas aos seus pais pelo Estado para serem internadas em instituições de acolhimento públicas.

Pois se o impedimento da adopção por homossexuais tem em vista o «interesse da criança» e não resulta de meros preconceitos homofóbicos, então qual é a diferença entre os dois casos?

Do exclusivo ponto de vista do seu «interesse», qual é a diferença entre uma criança ser filha adoptiva de um homossexual ou sua filha biológica?

A explicação é simples:
E, como é óbvio, nem sequer passa pelo «interesse da criança».
É que pura e simplesmente a discriminação, a homofobia e o preconceito são conaturais à ausência de ética e de coerência lógica, e até à mais abjecta falta de honestidade e de coragem intelectual.


 

Já temos um novo santo!





domingo, 22 de fevereiro de 2009

 

To be or not to be…





sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

 

A oblíqua palavra «tolerância»



Do debate do «Prós e Contras» dedicado ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, aos comentários mais ou menos resignados à pobreza confrangedora dos argumentos do «não», passando pelos comentários abertamente homofóbicos agora assumidos despudoradamente e às claras pelas hierarquias católicas, não pude deixar de me lembrar do «parecer» que o Prof. Júlio Machado Vaz elaborou (pro bono) e que teve a inestimável amabilidade de me entregar para melhor sustentar os argumentos das alegações do recurso para o Tribunal Constitucional do processo de casamento da Teresa e da Helena.

Para quem quiser, e quando entramos agora no 17º mês de espera por uma decisão do Tribunal Constitucional, as alegações do recurso podem ser lidas na íntegra no Blog «O Advogado do Diabo».

Por isso, não resisto a publicar aqui um excerto das palavras do Prof. Júlio Machado Vaz, que provam bem não só a sua invulgar lucidez, mas também que os mais fundamentais critérios éticos, de racionalidade e de humanismo mantêm sempre uma inegável actualidade.

*

«O casamento foi sempre uma instituição baseada em interesses económicos, alianças familiares e, sobretudo, no que se convencionou apelidar de imperativo procriativo, sinónimo de projecção no futuro de nome e posses. (Como é óbvio, falo das classes dominantes, as mais desfavorecidas tinham muitos filhos e poucos bens para dividir, razão pela qual certos especialistas lhes atribuem o duvidoso privilégio de poderem casar por amor!).

«Na segunda metade do século XIX, com a progressiva hegemonia do conceito de Amor Romântico, o panorama começou a mudar. Dessa época datam expressões como “o homem/mulher da nossa vida”, “as almas gémeas”, “viveram felizes para sempre”.
«Pese embora a clara divisão entre esfera pública e privada, com a primeira proporcionando todas as liberdades aos homens e a segunda a ser imposta às mulheres respeitáveis, promovidas (?) a assexuadas fadas do lar, o casamento passava a ter como razão primeira o sentimento.

«Acresce o surgir de outras variáveis: o direito à felicidade individual; a maior importância dada ao ambiente afectivo familiar para o crescimento de futuros adultos psicologicamente saudáveis; o estilhaçar do binómio casamento/filhos, até aí granítico.

«Um século volvido, deparamo-nos com um casamento herdeiro da ideologia burguesa, ninho de poucos filhos e aspirando a uma felicidade que não se consubstancia na resistência da instituição às intempéries da vida, mas no equilíbrio bem sucedido entre duas liberdades.

«Dir-se-ia que a metáfora adequada já não é a de um só corpo e alma e sim a de duas pessoas olhando na mesma direcção durante o maior número de anos possível. Se o projecto falhar, cada uma procurará uma nova relação conseguida, num processo que os sociólogos apelidam de “monogamia seriada”.

«A mudança de um paradigma apoiado no imperativo procriativo para outro de partilha sentimental retira força ao argumento nuclear contra o casamento homossexual - se esquecermos os interditos religiosos -, que, de resto, é cada vez menos consensual entre os heterossexuais - ter filhos passou a ser uma (doce) hipótese a contemplar e não uma inevitabilidade, quase inerente à condição humana.

«O casamento de hoje é uma relação tentada entre duas pessoas, dois afectos, duas liberdades, dois projectos de vida, muitas vezes ensaiada previamente numa experiência de coabitação.
«E não a moldura, ainda que emocional, para dois aparelhos reprodutores…

«Ouço muitas vezes reivindicar soluções diversas para realidades diversas.

«Pois bem, estou firmemente convencido que existem muito mais diferenças entre as faces da instituição casamento separadas pelos últimos cento e vinte anos do que entre os cidadãos heterossexuais, homossexuais e bissexuais, rótulos que apenas traduzem a nossa triste e preguiçosa nostalgia de melhor catalogar o mundo, ainda que no processo sacrifiquemos as cores do arco-íris ao simplismo do preto e branco.

«É tempo de substituir uma palavra tão oblíqua como tolerância pela prática fraternal da aceitação da diversidade que, biológica e psicologicamente, nos garante e enriquece o futuro».


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

 

«O Horror do Vazio»



Saladino, que viveu entre 1138 e 1193, foi sultão da Palestina, da Síria e do Egipto e notabilizou-se tanto pela sua ferocidade como pelo seu génio militar, principalmente nas inúmeras batalhas que travou contra os cristãos, organizados em sucessivas Cruzadas, algumas delas comandadas por Ricardo Coração de Leão.

Um belo dia estava Saladino muito descansado em Jerusalém, quando chegou um mensageiro que lhe anunciou apressadamente que um poderoso exército cristão se aproximava para vir tentar conquistar a cidade.

Conta-se (será uma lenda?) que Saladino ficou tão furioso com a notícia que acabava de ouvir que não achou nada melhor do que isto: num ápice pegou numa espada e... de um só golpe cortou a cabeça ao mensageiro!


*

Vem isto a propósito da última crónica de Mário Crespo no «Jornal de Notícias» com o título «O Horror do Vazio».

Nesta crónica Mário Crespo debruça-se sobre os temas do casamento homossexual e da eutanásia. E faz muito bem, que são dois temas «fracturantes» e é sempre intelectualmente gratificante conhecer a opinião de Mário Crespo sobre assuntos polémicos.

O pior, é que a certa altura do texto deixamos de perceber se Mário Crespo opina verdadeiramente sobre os tais temas fracturantes, ou se pura e simplesmente os critica por causa das pessoas que os defendem.
Diz Mário Crespo que «a união desejada por Sócrates, por muitas voltas que se lhe dê, é biologicamente estéril. A eutanásia preconizada por Almeida Santos é uma proposta de morte».

Mas se tivesse esperado um pouco mais antes de cortar a cabeça aos mensageiros, talvez Mário Crespo tivesse percebido como está enganado na interpretação da mensagem que lhe trouxeram.

Porque ao contrário do que Mário Crespo pensa, não é o casamento que é o mecanismo continuador das sociedades: é a família!
E é até curioso que no seu texto Mário Crespo não se refira uma única vez à família.

Facto insofismável e que, isso sim, é o mais milenar dos institutos, é que é a família quem deve merecer a consideração e a protecção mais fundamental das sociedades.
E o casamento – obviamente o casamento civil – não é mais do que a garantia da atribuição de determinada juridicidade que o Estado concede às famílias que por ela optem.

E se a família é, antes de mais, um núcleo fundamental de partilha de afectos, se significa uma assunção de compromissos mútuos e de um projecto de vida, tanto pessoal como patrimonial, o problema é que Mário Crespo parece não entender que não lhe compete – nem a ele nem a ninguém – restringir esse conceito e a abrangência da definição de família, se para isso recorre a argumentos que ele próprio não está disposto a conceder à definição de casamento, como seja a «finalidade da procriação».

É que já vai sendo altura de Mário Crespo perceber que nem o conceito de casamento está ligado à procriação (pois teria de defender a proibição de casamentos urgentes ou de pessoas estéreis), nem o conceito de procriação está ligado ao casamento (sob pena de ter de dar muitas explicações a milhares de famílias que vivem em união de facto).

Se assim é, deixa de ser eticamente defensável distinguir os cidadãos uns dos outros na sua intenção de atribuir juridicidade à sua família e discriminá-los no acesso a um bem jurídico que a Constituição coloca expressamente ao alcance de todos.

Atribuir uma “sacralização” à própria palavra «casamento» e defender a criação de «outros tipos de união» para os casamentos homossexuais, passa a ser então uma dupla discriminação:
- Primeiro porque com isso se reconhece expressamente, afinal, a utilidade, a necessidade e a legalidade da atribuição de juridicidade aos relacionamentos familiares homossexuais;
- Segundo porque isso significa um juízo apriorístico de desvalor de cidadãos de pleno direito, acusando-os de, pela sua própria natureza, estarem a «infectar» ou até a «conspurcar» um instituto que mais não é do que um simples e mero contrato de natureza exclusivamente civil. Como um contrato de arrendamento ou um contrato de compra e venda.

Mas se, ainda assim, o Mário Crespo pretender chamar ao casamento «o mais milenar dos institutos», não sei, confesso, que prestígio é que isso lhe confere ao ponto de pretender torná-lo imune à «infecção homossexual».
É que ao longo da sua «milenar vigência», o casamento não foi mais do que um triste sinónimo da oficialização do sacrifício de mulheres à prepotência dos maridos e até da sua venda em nome da consolidação de tratados políticos entre potências rivais.

Não será, decerto este tipo de casamento que o Mário Crespo defende que deve ser «o mecanismo continuador das sociedades»!
Porque a própria noção de casamento evolui, na razão directa da evolução dos critérios éticos das sociedades modernas. É por isso que este casamento que nos dias de hoje temos em Portugal não só não é «milenar» como é um «jovem de 30 anos», e deixou para trás, isso sim, a «tradição milenar» do chefe de família, da proibição do divórcio, da administração pelo marido do salário da mulher, que somente poderia reter para si os seus «alfinetes», e que nem sequer podia ser comerciante sem autorização do marido…

O que é preciso entender é que este que é «o mais milenar dos institutos» ainda terá de continuar a evoluir, sempre e uma vez mais na medida da evolução da ética civilizacional e societária.
Mas, por enquanto, nenhuma nova evolução se preconiza.
Para já, basta unicamente tornar este «milenar» casamento civil conforme com a evolução ética e civilizacional... que a nossa Constituição já reflecte!

Talvez o Mário Crespo devesse começar a habituar-se a esta ideia.
Vai é custar-lhe mais, se persistir em querer cortar a cabeça aos políticos que a anunciam à sociedade portuguesa…

*

Só mais duas palavras quanto à Eutanásia:
Chama-lhe Mário Crespo «o facilitismo da morte-na-hora» e «a recusa da continuação da existência».

Não cabem agora aqui neste texto, que já vai longo demais, grandes perorações sobre a eutanásia e as diversas formas ou denominações em que pode consistir.

Mas uma coisa é certa:
É preciso que se entenda que se a vida é um direito, não é por isso que deve ser uma obrigação.

E é preciso que se reconheça a cada cidadão a faculdade de decidir por si, pessoal e individualmente, sobre o fim desse direito, obviamente quando se reconheça a existência de determinadas condições que, caso a caso, só à ética caberá encontrar.

E é aqui que talvez resida a definição do bem mais precioso que cada um de nós pode encontrar em toda a sua vida:
- Alguém que tenha a humanidade e nos conheça o suficiente para, quando chegar a altura, nos ter um amor tão grande e tão profundo que lhe permita decidir por nós que chegou a altura de nos desligar uma porcaria de uma ficha que nos prende inutilmente a uma vida que na verdade já não existe.

A isso talvez o Mário Crespo devesse entender que não se chama «a morte-na-hora», mas sim... «a hora da morte»…


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

 

Debate



Hoje o programa «Prós & Contras» da RTP1 será dedicado ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Talvez fosse boa ideia a produção do programa distribuir um exemplar da Constituição a cada um dos intervenientes no debate…



sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

 

Métodos





quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

 

Um Peculiar Conceito de Ética



A questão é até surpreendentemente simples:
Diz o artigo 36º n.º 1 da Constituição da República Portuguesa:
«TODOS têm o direito de constituir família e de contrair casamento em condições de plena igualdade».

Todos?
Sim, todos!
É o que estabelece a Constituição.

E todos, quer dizer isso mesmo: «todos».
Ou seja:
Todos os cidadãos têm o direito de constituir família e de contrair casamento, sem que ninguém os possa condicionar no acesso a esses direitos constitucionalmente estabelecidos.
E sem que ninguém os possa discriminar no exercício desses direitos qualquer que seja a razão invocada, incluindo, por exemplo, a sua orientação sexual. É o que estabelece o nº 2 do artigo 13º da Constituição.

São pois estas as determinações Constitucionais que estão vigentes, são estes os Direitos, Liberdades e Garantias que vigoram no Estado de Direito que TODOS NÓS pretendemos ver cumprido em Portugal.

Todos?
Não!
De facto, nem a todos interessa ver cumprido o Estado de Direito, nem todos acham que se deva dar relevância aos Direitos, Liberdades e Garantias estabelecidos na Constituição Portuguesa.

Explica-nos a «Agência Ecclesia» que a Conferência Episcopal Portuguesa está a preparar uma coisa chamada «nota pastoral» que começa por nos explicar que os cristãos, coitados, precisam muito que lhes expliquem quais são os partidos políticos em que devem ou não votar nas próximas eleições.
É assim como se fosse uma espécie de mistura entre um atestado de estupidez e um atestado de menoridade política que a Conferência Episcopal passa ao seu próprio rebanho.
Enfim, eles lá sabem!

Depois, os bispos portugueses deixaram bem claro que acham que devem ser eles a determinar não só já o Direito Canónico, o seu Catecismo, o tamanho das hóstias ou as músicas que se cantam nas missas, mas agora também a forma como são definidos e legalmente regulados alguns dos contratos tipificados no Código Civil.

Finalmente, estes ilustres prelados querem deixar bem claro que a Constituição da República Portuguesa não é coisa que valha a pena levar em consideração, tanto assim que defendem que é à Igreja Católica que compete definir o conceito de «família» mesmo que o direito à sua constituição esteja previsto no artigo 36º da nossa Lei Fundamental.

Como se não bastasse, o próprio secretário da Conferência Episcopal Portuguesa parece também querer deixar bem claro o que é que a Igreja Católica entende por ÉTICA.
Com efeito, aquele emérito especialista em família e em casamento afirmou que «a Igreja acolhe no seu seio todas as pessoas, incluindo os homossexuais, e condena “toda a discriminação”».

Toda?
Mesmo TODA a discriminação?
Não! Claro que não.

Para que não restassem dúvidas o Sr. Bispo afirma que condena toda a discriminação, sim, mas… “CONTUDO” – e, para certas pessoas, nestas coisas de direitos fundamentais dos cidadãos é sempre bom deixar uma ou outra excepção em aberto, não é? – explica-nos que, vejam só, «a família não é aquilo que nós queremos que seja»!

E, logo a seguir, cá fica a determinação da Igreja Católica que toda a sociedade deve obviamente prosseguir acriticamente: «a família é constituída pela união de amor entre um homem e uma mulher».

E cá temos a Igreja Católica no seu melhor:
- Uma instituição absolutamente tenebrosa, que se acha no direito de definir e estabelecer onde começa e acaba o amor entre os seres humanos, que não respeita os fundamentos do Estado de Direito em que vive, que diz que condena as discriminações entre os seres humanos, mas não “todas” as discriminações, que pretende determinar as condições e a regulamentação dos contratos de natureza exclusivamente civil e que já tem mesmo o desplante de querer impor a toda a sociedade o seu peculiar e paleolítico conceito que tem de «família».

E tudo isto nos é explicado no meio de uma chantagem político-eleitoral por um sujeito qualquer que aparece de repetente na comunicação social vestido de saias e que eu não conheço de lado nenhum, mas que se acha no direito de determinar a sociedade em que eu vivo.

E que ainda por cima, de acordo até com as definições que nos pretende impor, nem sequer ele próprio tem… família!


terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

 

«Está bem… façamos de conta»



É este o título da última crónica de Mário Crespo no «Jornal de Notícias».

Com a fluência a que já nos habituou e com uma lucidez tão imensa como a amizade que com orgulho aqui afirmo, constato que Mário Crespo começa por dizer:

«Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal.
«Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões…».

Depois, ao correr da pena e não sem usar aqui e ali um toque da mordaz ironia que lhe é peculiar, Mário Crespo faz-nos uma enumeração de mais de uma dezena de assuntos que pelos vistos o têm preocupado nos últimos tempos, do SIS ao professor Charrua, passando por telefonemas de ministros, e conclui assim:

«Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas.
«Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja.
«Votemos por unanimidade porque de facto não interessa.
«A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos».

Mas o Mário Crespo está enganado!
Muito enganado.

Não caberia aqui analisar exaustivamente e ponto por ponto cada um dos assuntos que o Mário Crespo nos aponta, e saber se tem mais ou menos razão neste ou naquele.
Até poderia ter toda a razão em todos eles. Não dou conta que o professor Charrua tenha sofrido qualquer penalização, não sei se o Mário Crespo defende a extinção do SIS, mas sei que qualquer telefonema ministerial que lhe façam é, antes de mais e para quem o conhece bem, ridiculamente inútil.

Onde Mário Crespo se engana é na sua conclusão.

Porque se a nossa democracia não está a funcionar, então a última coisa que devemos fazer é andar por aí a votar de olhos fechados e a fazer de conta que está tudo bem.
Porque se o fizermos, então sim: aí acabaremos a votar em Chavez, em Mugabe ou em qualquer outro facínora do género.
E então deixarão de interessar as unanimidades e já nem a fazer de conta poderemos votar.

Se a nossa democracia não está a funcionar, o que devemos fazer é precisamente aquilo que paradoxalmente o Mário Crespo acaba por fazer nesta sua crónica: é falar!

Porque se nos resignarmos e dissermos «está bem… façamos de conta», esse será o dia em que deixaremos de assistir a crónicas que, por muito que enumerem crítica e exaustivamente os defeitos e as perplexidades do regime, ainda assim são feitas todos os dias nos jornais em perfeita e total liberdade, sem que se conheçam por aí exemplos de perseguição pessoal ou profissional a um único jornalista.

E o Mário Crespo ainda recentemente disso foi exemplo, quando as suas palavras certeiramente mordazes mereceram um ofício presidencial dirigido à sua administração, mas que foi convenientemente arquivado... no caixote do lixo.

Não!
Não façamos de conta.
Porque no dia em que o fizermos, a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa serão as primeiras vítimas e isso seria algo de tão absurdo como absolutamente inadmissível e intolerável.

E serão essas as primeiras liberdades que todos nós temos a obrigação de defender.

E porque «a democracia é o pior de todos os sistemas, com excepção de todos os outros», teremos de as defender intransigentemente, mesmo que essas liberdades tragam frequentemente consigo o regular julgamento na praça pública - e sem possibilidade de defesa - à honorabilidade de tantos cidadãos.

Autênticos assassínios de carácter a que já nos vamos habituando a assistir, e a ver impunemente publicados tanto em crónicas jornalísticas de opinião, como principalmente em tendenciosas primeiras páginas de tantos jornais.

Não, Mário: não façamos de conta!


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

 

Grandes Xenófobos e Racistas da História



Mateus 15:21-26

«Partindo Jesus dali, retirou-se para os lados de Tiro e Sidom.
«E eis que uma mulher Cananéia, que viera daquelas regiões, clamava: Senhor, Filho de David, tem compaixão de mim! A minha filha está horrivelmente atormentada pelo Demónio.

«Ele, porém, não lhe respondeu palavra.

«E os seus discípulos, aproximando-se, rogaram-lhe: despede-a, pois vem clamando atrás de nós.
«Mas Jesus respondeu: eu não fui enviado senão para cuidar das ovelhas perdidas da casa de Israel.

«Ela, porém, veio e o adorou, dizendo: Senhor, socorre-me!
«Então, ele, respondendo, disse: não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cães».

*

É nas situações extremas que se distinguem os grandes homens.

Nestes dias de invulgar recessão económica e financeira que se vive já em todo o mundo isso será, decerto, particularmente verdade.
Principalmente no que se refere às suas primeiras e mais vulneráveis vítimas: os trabalhadores que de um dia para o outro se vêem desempregados e sem poderem prover ao sustento e à subsistência das suas famílias.

Em Portugal já assistimos a declarações xenófobas da líder do principal partido da oposição, que teceu considerações sobre a ocupação de postos de trabalho por estrangeiros.
Agora foi a vez de Gordon Brown, em Inglaterra, quando é até curioso que estão em causa trabalhadores portugueses.

Num mundo que se transformou numa aldeia e numa economia global e sem fronteiras, será grande o risco de assistirmos a manifestações cada vez mais frequentes das mais diversas formas de discriminações.

E será então, de facto, que se distinguirão aqueles que, acima de primitivos e grotescos sentimentos de racismo e xenofobia, ou até de mesquinhas considerações oportunistas de mero populismo eleitoralista, farão prevalecer princípios e valores éticos e, isso sim, de verdadeiro humanismo.


sábado, 7 de fevereiro de 2009

 

Autocarro Ateísta



«Provavelmente Deus não existe. Agora deixa de te preocupar e aproveita a vida».

Esta é a frase da campanha publicitária que foi lançada por iniciativa de Richard Dawkins em autocarros de várias cidades dos Estados Unidos e da Europa.

Como não podia deixar de ser, de imediato esta campanha foi condenada pela Igreja Católica, que numa peculiar perspectiva do que é a liberdade de expressão – e até a liberdade religiosa – defendeu a sua imediata proibição e a considerou uma “blasfémia”.

Mas, estranhamente, e tal como o noticia o site «Fátima Missionária», isso não impediu diversas organizações católicas de lançarem uma «campanha pró-Deus», para já em 183 autocarros londrinos com frases como estas:
«Certamente Deus existe. Por isso junta-te ao Partido Cristão e aproveita a vida»
«Diz o insensato em seu coração, não há Deus»
«Deus existe. Acredita. Não te preocupes e aproveita a vida».

Estas belas palavras serão igualmente acompanhadas por algumas citações com versículos da Bíblia, embora não se saiba ainda quais serão os que vão ser escolhidos.

Por isso, não hesito em deixar aqui algumas sugestões, retiradas desse belo «livro dos livros» que é a Bíblia e que, segundo o Catecismo da Igreja Católica contém «a palavra de Deus enquanto redigida sob a moção do Espírito Santo»:

«Não penseis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada» - Mateus 10:34

«Vós, mulheres, sede submissas a vossos maridos» - I Pedro 3:01

«E aquele que blasfemar o nome do Senhor certamente morrerá» - Lv. 24:16

«Se eu sou homem de Deus, desça fogo do céu e te consuma a ti e aos teus cinquenta. Então, o fogo de Deus desceu do céu e o consumiu a ele e aos seus cinquenta» - II Rs. 1:12

«Mandou, pois, o Senhor a peste a Israel; e caíram de Israel setenta mil homens» - I Cr. 21:14

«Samaria virá a ser deserta, porque se rebelou contra o seu Deus; cairão à espada, seus filhos serão despedaçados, e as suas mulheres grávidas serão abertas pelo meio» - Os. 13:16

«Inteiramente consumirei tudo sobre a face da terra, diz o Senhor» - Sf. 1:2

«Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim» - Mateus 10:37


E pronto.
Aqui ficam estas bonitas sugestões.
Muitas mais haverá. Mas, para já, qualquer uma destas citações ficará muito bem nos anúncios que forem colocados nos «Autocarros de Deus».

Não só serão a resposta adequada a essa blasfémia horrível que são os «Autocarros Ateístas», como qualquer uma delas deixará certamente cheios de orgulho todos os cristãos dignos desse nome.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

 

Uma simples declaração…



Como aqui comentei, o Papa Bento XVI decidiu levantar a excomunhão a quatro bispos ultra-conservadores que haviam sido consagrados pelo ultra-fanático arcebispo Marcel Lefebvre.

Mas certamente não contava com a indignação que se levantou um pouco por todo o mundo, principalmente quando se soube que um desses bispos, Richard Williamson, tem a singular particularidade de partilhar com o presidente iraniano e com os mais afamados partidos neo-nazis a ideia de que o Holocausto não existiu, e que não passa de «um esquema dos judeus para extorquir dinheiro aos alemães».

Mas o Papa Bento XVI não é pessoa para se ir abaixo facilmente, e num instantinho já resolveu o problema.

De facto, segundo noticia o «El País» o Vaticano ordenou ao bispo Richard Williamson que se retracte das suas palavras «inequívoca e publicamente». Isto, se quiser continuar a ser prelado da Igreja Católica.
E pronto. Com esta simples declaração o assunto fica resolvido!

Pois é:
Repare-se que o Vaticano não se retractou, ele próprio, da revogação da excomunhão ao bispo Richard Williamson quando afinal soube que tipo de pessoa tinha acabado de acolher no seio do seu clero.

Claro está que também não ordenou ao bispo que mudasse de opinião. Como é óbvio, isso não seria possível.
A solução encontrada pelo Vaticano foi bem mais simples:
- O ilustre bispo terá simplesmente de se retractar «inequívoca e publicamente» das suas afirmações.

Acontece que toda a gente sabe que, por muitas declarações que faça, este bispo continuará a ter a mesma opinião e continuará a ser precisamente a mesma pessoa.

Só que, pelos vistos, nada mais é preciso do que uma simples declaração pública que toda a gente saberá que é absolutamente falsa, hipócrita e inequivocamente desonesta, para que estejam finalmente reunidas todas as condições para que o bispo Richard Williamson continue a fazer parte do ilustre clero da Igreja Católica.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

 

Audiências





segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

 

Novidades e Coincidências



Na FNAC :

Está já disponível o livro «O Professor Sem Diploma» de António Raposo, o falso professor que deu aulas durante 30 anos, e foi até presidente de um Conselho Directivo, sem que ninguém tivesse notado que não tinha sequer habilitações para frequentar as suas próprias aulas.




No site da «FENPROF»:

A declaração de que os professores continuam a defender «a eliminação da espúria prova de ingresso na profissão docente que foi imposta pelo Ministério da Educação no âmbito da última revisão do Estatuto da Carreira Docente».



Senhora ministra: por favor, não desista!


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