terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
«Está bem… façamos de conta»
É este o título da última crónica de Mário Crespo no «Jornal de Notícias».
Com a fluência a que já nos habituou e com uma lucidez tão imensa como a amizade que com orgulho aqui afirmo, constato que Mário Crespo começa por dizer:
«Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal.
«Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões…».
Depois, ao correr da pena e não sem usar aqui e ali um toque da mordaz ironia que lhe é peculiar, Mário Crespo faz-nos uma enumeração de mais de uma dezena de assuntos que pelos vistos o têm preocupado nos últimos tempos, do SIS ao professor Charrua, passando por telefonemas de ministros, e conclui assim:
«Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas.
«Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja.
«Votemos por unanimidade porque de facto não interessa.
«A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos».
Mas o Mário Crespo está enganado!
Muito enganado.
Não caberia aqui analisar exaustivamente e ponto por ponto cada um dos assuntos que o Mário Crespo nos aponta, e saber se tem mais ou menos razão neste ou naquele.
Até poderia ter toda a razão em todos eles. Não dou conta que o professor Charrua tenha sofrido qualquer penalização, não sei se o Mário Crespo defende a extinção do SIS, mas sei que qualquer telefonema ministerial que lhe façam é, antes de mais e para quem o conhece bem, ridiculamente inútil.
Onde Mário Crespo se engana é na sua conclusão.
Porque se a nossa democracia não está a funcionar, então a última coisa que devemos fazer é andar por aí a votar de olhos fechados e a fazer de conta que está tudo bem.
Porque se o fizermos, então sim: aí acabaremos a votar em Chavez, em Mugabe ou em qualquer outro facínora do género.
E então deixarão de interessar as unanimidades e já nem a fazer de conta poderemos votar.
Se a nossa democracia não está a funcionar, o que devemos fazer é precisamente aquilo que paradoxalmente o Mário Crespo acaba por fazer nesta sua crónica: é falar!
Porque se nos resignarmos e dissermos «está bem… façamos de conta», esse será o dia em que deixaremos de assistir a crónicas que, por muito que enumerem crítica e exaustivamente os defeitos e as perplexidades do regime, ainda assim são feitas todos os dias nos jornais em perfeita e total liberdade, sem que se conheçam por aí exemplos de perseguição pessoal ou profissional a um único jornalista.
E o Mário Crespo ainda recentemente disso foi exemplo, quando as suas palavras certeiramente mordazes mereceram um ofício presidencial dirigido à sua administração, mas que foi convenientemente arquivado... no caixote do lixo.
Não!
Não façamos de conta.
Porque no dia em que o fizermos, a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa serão as primeiras vítimas e isso seria algo de tão absurdo como absolutamente inadmissível e intolerável.
E serão essas as primeiras liberdades que todos nós temos a obrigação de defender.
E porque «a democracia é o pior de todos os sistemas, com excepção de todos os outros», teremos de as defender intransigentemente, mesmo que essas liberdades tragam frequentemente consigo o regular julgamento na praça pública - e sem possibilidade de defesa - à honorabilidade de tantos cidadãos.
Autênticos assassínios de carácter a que já nos vamos habituando a assistir, e a ver impunemente publicados tanto em crónicas jornalísticas de opinião, como principalmente em tendenciosas primeiras páginas de tantos jornais.
Não, Mário: não façamos de conta!
Depois, ao correr da pena e não sem usar aqui e ali um toque da mordaz ironia que lhe é peculiar, Mário Crespo faz-nos uma enumeração de mais de uma dezena de assuntos que pelos vistos o têm preocupado nos últimos tempos, do SIS ao professor Charrua, passando por telefonemas de ministros, e conclui assim:
«Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas.
«Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja.
«Votemos por unanimidade porque de facto não interessa.
«A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos».
Mas o Mário Crespo está enganado!
Muito enganado.
Não caberia aqui analisar exaustivamente e ponto por ponto cada um dos assuntos que o Mário Crespo nos aponta, e saber se tem mais ou menos razão neste ou naquele.
Até poderia ter toda a razão em todos eles. Não dou conta que o professor Charrua tenha sofrido qualquer penalização, não sei se o Mário Crespo defende a extinção do SIS, mas sei que qualquer telefonema ministerial que lhe façam é, antes de mais e para quem o conhece bem, ridiculamente inútil.
Onde Mário Crespo se engana é na sua conclusão.
Porque se a nossa democracia não está a funcionar, então a última coisa que devemos fazer é andar por aí a votar de olhos fechados e a fazer de conta que está tudo bem.
Porque se o fizermos, então sim: aí acabaremos a votar em Chavez, em Mugabe ou em qualquer outro facínora do género.
E então deixarão de interessar as unanimidades e já nem a fazer de conta poderemos votar.
Se a nossa democracia não está a funcionar, o que devemos fazer é precisamente aquilo que paradoxalmente o Mário Crespo acaba por fazer nesta sua crónica: é falar!
Porque se nos resignarmos e dissermos «está bem… façamos de conta», esse será o dia em que deixaremos de assistir a crónicas que, por muito que enumerem crítica e exaustivamente os defeitos e as perplexidades do regime, ainda assim são feitas todos os dias nos jornais em perfeita e total liberdade, sem que se conheçam por aí exemplos de perseguição pessoal ou profissional a um único jornalista.
E o Mário Crespo ainda recentemente disso foi exemplo, quando as suas palavras certeiramente mordazes mereceram um ofício presidencial dirigido à sua administração, mas que foi convenientemente arquivado... no caixote do lixo.
Não!
Não façamos de conta.
Porque no dia em que o fizermos, a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa serão as primeiras vítimas e isso seria algo de tão absurdo como absolutamente inadmissível e intolerável.
E serão essas as primeiras liberdades que todos nós temos a obrigação de defender.
E porque «a democracia é o pior de todos os sistemas, com excepção de todos os outros», teremos de as defender intransigentemente, mesmo que essas liberdades tragam frequentemente consigo o regular julgamento na praça pública - e sem possibilidade de defesa - à honorabilidade de tantos cidadãos.
Autênticos assassínios de carácter a que já nos vamos habituando a assistir, e a ver impunemente publicados tanto em crónicas jornalísticas de opinião, como principalmente em tendenciosas primeiras páginas de tantos jornais.
Não, Mário: não façamos de conta!