quarta-feira, 31 de maio de 2006
O Prémio
De vez em quando um artista agraciado com um prémio honorífico qualquer, normalmente acompanhado por uma generosa quantia em dinheiro, resolve recusá-lo.
Confesso que me irrita um bocado esta mania que alguns artistas têm de recusar Óscares, Prémios Nobel, Pessoa ou Camões.
Em Portugal, que me lembre, isso aconteceu já com Herberto Hélder e volta agora novamente a suceder com Luandino Vieira.
Há quem veja estas recusas como uma manifestação de grandiosidade artística, assim como que misturada com um altivo desapego aos bens materiais.
Um atributo que, como é bom de ver, está vedado ao comum dos mortais e somente ao alcance de uma restrita elite intelectual.
Não as vejo assim.
Pelo contrário, quando um artista recusa um prémio isso significa para mim não mais do que uma profunda arrogância e um enorme desprezo por quem, tantas vezes desinteressadamente, pretende não mais do que reconhecer a grandiosidade de uma obra ou de uma carreira artística e, claro está, promovê-la incentivando a sua continuação futura.
Quando o recusa, é como se o artista estivesse a dizer que a porcaria do prémio e o mísero dinheiro oferecido não são suficientes nem dignos de alcançar a sua enorme e inatingível grandeza.
E ao mesmo tempo a dizer que essa grandeza só pode ser alcançada pelo desapego aos bens materiais e às honrarias terrenas e, principalmente, através de uma opção de vida em completa pobreza.
Como se a opção consciente pela indigência possuísse uma espécie de beleza poética só ao alcance de alguns eleitos.
Quando recusa um prémio literário, um escritor transmite uma clara e inequívoca mensagem de que a sua obra é grandiosa demais para ser compreendida e, por isso, para ser associada à mesquinhez de um prémio indigno de si.
Mas, ao mesmo tempo, esquece-se que quando uma obra artística, qualquer que ela seja, não alcança o público, a culpa não é do público... é do artista!
Por isso, talvez se exigisse de Herberto Hélder e Luandino Vieira a coerência de recusarem pôr os seus livros à venda por essas livrarias fora, retirando-os do alcance dos imbecis mortais, indignos da sua incomensurável grandiosidade intelectual de semi-deuses.
Tão grande que nem sequer pode ser alcançada por um prémio qualquer.
Como se dissessem: «Vêem como eu sou um dos grandes escritores da humanidade, que até recuso prémios e tudo?...»
Caso contrário, sou livre de pensar que a recusa de prémios literários, principalmente prémios com o prestígio como têm estes que aqueles brilhantes escritores recusaram, não é mais do que uma forma fria consciente e calculista de cultivar uma imagem de excentricidade e de uma artificial grandeza humana.
Ou será que essa recusa não significa mais do que uma mesquinha manobra publicitária que se antevê que renda mais ainda que o valor monetário do próprio prémio?...
Não as vejo assim.
Pelo contrário, quando um artista recusa um prémio isso significa para mim não mais do que uma profunda arrogância e um enorme desprezo por quem, tantas vezes desinteressadamente, pretende não mais do que reconhecer a grandiosidade de uma obra ou de uma carreira artística e, claro está, promovê-la incentivando a sua continuação futura.
Quando o recusa, é como se o artista estivesse a dizer que a porcaria do prémio e o mísero dinheiro oferecido não são suficientes nem dignos de alcançar a sua enorme e inatingível grandeza.
E ao mesmo tempo a dizer que essa grandeza só pode ser alcançada pelo desapego aos bens materiais e às honrarias terrenas e, principalmente, através de uma opção de vida em completa pobreza.
Como se a opção consciente pela indigência possuísse uma espécie de beleza poética só ao alcance de alguns eleitos.
Quando recusa um prémio literário, um escritor transmite uma clara e inequívoca mensagem de que a sua obra é grandiosa demais para ser compreendida e, por isso, para ser associada à mesquinhez de um prémio indigno de si.
Mas, ao mesmo tempo, esquece-se que quando uma obra artística, qualquer que ela seja, não alcança o público, a culpa não é do público... é do artista!
Por isso, talvez se exigisse de Herberto Hélder e Luandino Vieira a coerência de recusarem pôr os seus livros à venda por essas livrarias fora, retirando-os do alcance dos imbecis mortais, indignos da sua incomensurável grandiosidade intelectual de semi-deuses.
Tão grande que nem sequer pode ser alcançada por um prémio qualquer.
Como se dissessem: «Vêem como eu sou um dos grandes escritores da humanidade, que até recuso prémios e tudo?...»
Caso contrário, sou livre de pensar que a recusa de prémios literários, principalmente prémios com o prestígio como têm estes que aqueles brilhantes escritores recusaram, não é mais do que uma forma fria consciente e calculista de cultivar uma imagem de excentricidade e de uma artificial grandeza humana.
Ou será que essa recusa não significa mais do que uma mesquinha manobra publicitária que se antevê que renda mais ainda que o valor monetário do próprio prémio?...
terça-feira, 30 de maio de 2006
Anúncio
Para quem acredita nas medicinas alternativas (naturopatia, homeopatia, herbologia, medicina tradicional chinesa e outras merdas do género), as notícias não podiam ser melhores:
Pode agora a preços incrivelmente módicos tirar o seu próprio curso de medicina alternativa... por correspondência!!!
Basta consultar o site indicado neste anúncio (clicar na imagem para a ampliar):
É só boas notícias:
Para já, a credibilidade de um profissional das medicinas alternativas está absolutamente garantida pelo número incontável de tansos que nelas acreditam piamente.
Mesmo que o profissional tenha tirado o curso por correspondência.
(E, se calhar, nem é preciso acabar a porcaria do curso).
Depois, basta abrir um consultório e... é só facturar!
E mais:
E em Portugal tudo isto é perfeitamente legal.
Mesmo até a venda de “medicamentos alternativos” é perfeitamente lícita.
E, quem sabe, tudo isto até venha um dia a ser comparticipado pela Caixa de Previdência.
Mas o melhor ainda está para vir:
Mesmo que alguém não fique curado, mesmo que veja a sua saúde em perigo e mesmo que até morra, a mais completa impunidade dos impolutos profissionais das medicinas alternativas está rigorosamente assegurada em Portugal!
É só vantagens!
É só vantagens!
segunda-feira, 29 de maio de 2006
Novidades editoriais para lorpas
Eis, respigadas ao acaso, algumas das novidades editoriais que se podem encontrar no site da "FNAC".
Aceitam-se sugestões de actualização.
«Este Jesus Cristo que vos fala – 3»
de Alexandra Solnado
de Paulo Cardoso
«Histórias reais de reincarnações»
de Clara de Almeida
de Carla Isidro
de Silvia Browne
de Andrew Lockie
de Margarida Rebelo Pinto
de Joseph Ratzinger
de Manuel Maria Carrilho
domingo, 28 de maio de 2006
Por quem os sinos dobram
sábado, 27 de maio de 2006
Músicas de Outros Tempos
quinta-feira, 25 de maio de 2006
Mas afinal…
…para estar a haver tanta contestação à nova lei sobre o protocolo de Estado...
...quem é que este gajo pensa que é?
E o que é que ele acha que está ali a fazer?...
quarta-feira, 24 de maio de 2006
Código de Processo Penal
Como o Direito deve acompanhar a evolução da sociedade, eis a minha proposta de alteração da redacção do nº 3 do artigo 283º do Código de Processo Penal.
Para o tornar mais consentâneo com a actual realidade portuguesa e com a forma como o Sr. Procurador Geral da República, Dr. Souto Moura, a tem interpretado ultimamente:
1. Se durante o inquérito tiverem sido recolhidos indícios suficientes de se ter verificado crime e de quem foi o seu agente, o Ministério Público, no prazo de dez dias, deduz acusação contra aquele.
2. O despacho de acusação é comunicado ao arguido, ao assistente, ao denunciante com a faculdade de se constituir assistente e a quem tenha manifestado o propósito de deduzir pedido de indemnização civil, bem como ao respectivo defensor ou advogado.
3. Nos casos mediáticos a notificação prevista no número anterior poderá ser substituída por uma declaração do Procurador Geral da República a um semanário de referência nacional.
terça-feira, 23 de maio de 2006
Campo Pequeno
Estão prontas as obras da praça de touros do Campo Pequeno.
Ficou tudo muito bonito, moderno e arejado.
Uma maravilha!
Está agora novamente pronta para isto:
PARABÉNS!!!
segunda-feira, 22 de maio de 2006
Às vezes...
domingo, 21 de maio de 2006
Fahrenheit 451
Li no «Corriere Dela Sera» que a última novidade nas formas de protesto que os bons católicos escolheram para manifestar a sua oposição a um simples romance e à sua adaptação ao cinema foi nada mais nada menos do que a queima simbólica na praça pública do livro «O Código da Vinci», da autoria de Dan Brown.
Vai daí, andei à procura por essa Internet fora de algumas imagens que pudessem ilustrar melhor este piedoso evento.
Mas infelizmente, pelo menos por enquanto, não encontrei nada.
Só encontrei esta fotografia que retrata a queima simbólica de livros praticada por fanáticos nazis.
Sem hesitar, resolvi publicá-la para acompanhar este texto sobre a queima simbólica de livros praticada por fanáticos católicos.
Ao fim e ao cabo é precisamente a mesma coisa...
sábado, 20 de maio de 2006
MP acusado de homofobia
É este o título do artigo de Sofia Branco no «Público» (link para assinantes), que também não resisto a transcrever na íntegra:
«O advogado do casal de lésbicas que em Fevereiro tentou casar-se numa conservatória portuguesa, Luís Grave Rodrigues, acusa o Ministério Público (MP) de homofobia por ter afirmado que “o Estado não pode tratar da mesma maneira casais heterossexuais e casais homossexuais”.
Em causa estão as contra-alegações do MP a propósito da intenção de Teresa Pires e Helena Paixão de se casarem pelo civil, caso iniciado a 1 de Fevereiro numa conservatória de Lisboa e seguido para tribunal após a recusa do conservador.
“À criação e educação dos filhos preside um modelo masculino e um feminino onde as crianças aprendam a unidade e a diversidade, a interdependência e a independência, a exclusividade e a complementaridade dos dois sexos, de uma forma bem clara e transparente, sem equívocos ou ficções mais ou menos sofisticadas” escreve o procurador do MP, no quadro do recurso para a Relação de Lisboa, após confirmada a decisão do conservador do Registo Civil pelo tribunal de primeira instância.
E remata dizendo que “é preferencialmente no seio do casamento que deve ser feita a procriação” e que “só através do casamento de pessoas de sexo diferente é que o Estado consegue o objectivo de preservação da espécie e da socialização das crianças”.
A confirmar-se a decisão da primeira instância, Grave Rodrigues reitera que avançará com o caso para o Supremo e para o Tribunal Constitucional e, esgotados os meios nacionais, para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
As declarações “inconcebíveis” do procurador levam o advogado a ter “mais esperança numa decisão política do que numa decisão judicial”.
Mas, reconheceu ao PÚBLICO, “não estava à espera de ver esta homofobia num magistrado do MP”.
A acusação de “homofobia” foi, entretanto, reforçada pelo BE, que enviou uma carta aos procurador-geral da República, na qual a deputada Helena Pinto pede a Souto Moura que se pronuncie sobre a posição “profundamente ignorante e serôdia” expressa pelo magistrado do MP e diga se esta corresponde a “directiva ordem ou instrução da Procuradoria-Geral da República” e se reflecte “a posição do MP relativamente aos casais homossexuais”.
A assessora de imprensa da Procuradoria, Ana Lima, adiantou ao PÚBLICO que a carta ainda não chegou à instituição, e que, portanto, não pode pronunciar-se “oficialmente” sobre o assunto.
O assessor do BE, Pedro Sales, confirmou que a carta seguiu pelo correio apenas ontem».
sexta-feira, 19 de maio de 2006
Bloco de Esquerda quer Souto Moura a explicar discriminação
É este o título do artigo de Fernanda Câncio no «Diário de Notícias», que não resisto a transcrever na íntegra:
«O procurador-geral da República, Souto Moura, é chamado pelo BE a pronunciar-se sobre a defesa da discriminação dos homossexuais pelo Estado português, protagonizada por um magistrado do Ministério Público (MP) nas suas alegações no processo das duas mulheres, Teresa Pires e Helena Paixão, que tentaram casar em Fevereiro numa Conservatória de Lisboa e recorreram da recusa.
Frases como "O Estado não pode tratar da mesma maneira casais heterossexuais e casais homossexuais", que fazem parte das ditas alegações e foram ontem citadas pelo DN, são consideradas pela deputada do BE Helena Pinto, numa carta a Souto Moura, como estando "em contradição directa com muita da legislação vigente, a começar pela Constituição".
Para Helena Pinto, está em causa uma violação do artigo 13º, que consagra o princípio da não discriminação em função da orientação sexual.
"Não compreendemos como pode um magistrado do MP, que tem por função defender a legalidade democrática nos termos da Constituição, fazer tábua rasa deste imperativo da lei fundamental", escreve a deputada, solicitando a Souto Moura que esclareça se as posições expressas pelo seu inferior hierárquico nas alegações correspondem a alguma "directiva, ordem ou instrução da Procuradoria-Geral da República, ou se de algum modo reflectem a posição do MP relativamente aos casais homossexuais".
Posição que, a existir, a bloquista reputa de "profundamente ignorante e serôdia", constituindo "um acto de violência gratuita sobre escolhas e direitos individuais". E exemplifica com outras frases retiradas das alegações em causa: "o casamento é o ponto de partida para a família"; "é preferencialmente no seio do casamento que deve ser feita a procriação"; "só através do casamento de pessoas de sexo diferente é que o Estado consegue o objectivo de preservação da espécie e da socialização das crianças".
Assumindo que se trata de uma tentativa de "dar força legal aos preconceitos de quem redigiu" e de "fazer a pedagogia da discriminação e do conservadorismo", vertendo-se "num documento legal considerações pessoais ou julgamentos morais", o BE acaba por responder às suas próprias perguntas.
"Não compreendemos como pode um magistrado do MP, que tem por função defender a legalidade democrática nos termos da Constituição, fazer tábua rasa deste imperativo da lei fundamental", escreve a deputada, solicitando a Souto Moura que esclareça se as posições expressas pelo seu inferior hierárquico nas alegações correspondem a alguma "directiva, ordem ou instrução da Procuradoria-Geral da República, ou se de algum modo reflectem a posição do MP relativamente aos casais homossexuais".
Posição que, a existir, a bloquista reputa de "profundamente ignorante e serôdia", constituindo "um acto de violência gratuita sobre escolhas e direitos individuais". E exemplifica com outras frases retiradas das alegações em causa: "o casamento é o ponto de partida para a família"; "é preferencialmente no seio do casamento que deve ser feita a procriação"; "só através do casamento de pessoas de sexo diferente é que o Estado consegue o objectivo de preservação da espécie e da socialização das crianças".
Assumindo que se trata de uma tentativa de "dar força legal aos preconceitos de quem redigiu" e de "fazer a pedagogia da discriminação e do conservadorismo", vertendo-se "num documento legal considerações pessoais ou julgamentos morais", o BE acaba por responder às suas próprias perguntas.
Pelo que convida Souto Moura a fazer uso do seu poder disciplinar: "Gostaríamos de saber se V. Exa., no exercício das competências de coordenação e fiscalização da actividade do MP, irá desencadear algum procedimento fundado nessas declarações."
A interpelação do BE foi tornada pública ontem, quando se celebrou o Dia Mundial Contra a Homofobia. O processo de Teresa e Helena está no Tribunal da Relação (onde funciona o magistrado em causa), após o tribunal de primeira instância ter confirmado a justeza da recusa da conservatória».
A interpelação do BE foi tornada pública ontem, quando se celebrou o Dia Mundial Contra a Homofobia. O processo de Teresa e Helena está no Tribunal da Relação (onde funciona o magistrado em causa), após o tribunal de primeira instância ter confirmado a justeza da recusa da conservatória».
quinta-feira, 18 de maio de 2006
O sentido do ridículo
Um projecto de lei do Partido Socialista sobre as novas regras a que deverá passar a estar submetido o protocolo de Estado exclui o cardeal patriarca de lugares de honra nas cerimónias oficiais, como ainda tinha recentemente sucedido na tomada de posse de Cavaco Silva.
Segundo o próprio grupo parlamentar do PS a nova lei não fará mais do que respeitar a Lei da Liberdade Religiosa, que impõe expressamente o «princípio da não confessionalidade do actos oficiais e no protocolo de Estado.
Como não podia deixar de ser, logo veio o Patriarcado lamentar-se «não ter sido objecto de qualquer informação ou consulta».
E não só: com aquele ar alucinado pelo voto de castidade, Mota Amaral declarou à comunicação social que está a preparar um projecto de lei alternativo sobre esta matéria, dizendo que a proposta do PS «não faz sentido».
E acrescenta: «O lugar dos membros da Igreja nas cerimónias oficiais não tem a ver com a separação entre o Estado e as Igrejas, mas com a História e com o conhecimento da sociedade portuguesa».
Não estranho que ao fim de tantos anos de inexplicáveis privilégios a Igreja Católica ainda pense e mantenha a ilusão de que tem o direito de ser consultada pelo Parlamento antes da votação de uma lei, qualquer que ela seja.
Mas já estranho que alguém que foi durante tantos anos presidente da Assembleia da República tenha os sentidos tão embotados pelas hóstias e pela falta de sexo que não conheça a Constituição Portuguesa, e que não saiba o que significa a expressão «Estado laico».
Já acho um pouco esquisito que um fervoroso católico venha invocar a História de Portugal como argumento para a continuação dos privilégios protocolares da Igreja nas cerimónias oficiais, escassas semanas após a passagem dos 500 anos sobre aquele que ficou conhecido como o «Pogrom» ou o «Massacre de Lisboa».
Já acharia mais engraçado, confesso, ver, numa cerimónia oficial qualquer, uma frisa de líderes religiosos muito bem vestidos a preceito e alinhadinhos ao lado uns dos outros, todos muito ufanos a querer marcar uma posição que não sei qual é, desde muçulmanos a judeus, passando por um bispo da IURD e, claro está, pelo inefável Jorge Tadeu, tudo isto abrilhantado por um sujeito vestido com umas saias ridículas e um chapeuzinho vermelho no alto da cabeça.
Mas porque será que, tantas e tantas vezes, aquilo a que as pessoas chamam orgulhosamente a sua “fé” as faz desde logo perder o sentido do ridículo?
segunda-feira, 15 de maio de 2006
As alegações do Ministério Público
Fui notificado das contra-alegações que o Ministério Público fez no âmbito do recurso interposto para o Tribunal da Relação de Lisboa do caso do casamento da Teresa e da Lena, e onde é defendida a manutenção da decisão do Conservador do Registo Civil.
Diz o ilustre Procurador do Ministério Público que, de facto, o nº 1 do artigo 36º da Constituição estabelece que «todos têm o direito de constituir família e de contrair casamento em condições de plena igualdade».
Contudo, diz também o Sr. Procurador que esta disposição não pode ser extensiva aos casamentos homossexuais porque o conceito de "família" não pode ser aplicado a pessoas do mesmo sexo que pretendam, nas palavras da lei, «constituir família em plena comunhão de vida».
Acrescenta ainda o ilustre Sr. Procurador que é somente pelo casamento, a que chama “o ponto de partida para a família”, que as pessoas se consciencializam da importância dessa mesma família e que sem o casamento jamais se alcançaria «uma plena comunhão de vida».
Continua, dizendo que só dentro do casamento o Estado consegue assegurar que «à criação e educação dos filhos preside um modelo masculino e um feminino, onde as crianças aprendam a unidade e a diversidade, a interdependência e a independência, a exclusividade e a complementaridade dos dois sexos, de uma forma bem clara e transparente, sem equívocos ou ficções mais ou menos sofisticadas».
Finalmente, remata dizendo que «é preferencialmente no seio do casamento que deve ser feita a procriação».
Pois bem:
Não vou comentar aqui nem as ideias que o ilustre Sr. Procurador Adjunto do Ministério Público deixa transparecer das suas palavras nem o rigor técnico-jurídico do seu parecer.
Até porque cada um tem direito a ter as suas ideias e a manifestá-las, quer do ponto de vista pessoal quer do ponto de vista técnico.
Por esse motivo não vou aqui dizer que a procriação nada tem nada a ver com a noção de casamento.
E que é por isso que são perfeitamente válidos os casamentos celebrados por pessoas estéreis.
Por isso mesmo, não vou aqui tecer considerações sobre os milhares de casais (mesmo heterossexuais) que em Portugal vivem em união de facto, muitos há dezenas de anos e com filhos.
Nem lhes vou dizer que o Ministério Público acha que eles não são uma família.
Também não vou aqui falar sobre os milhares de famílias monoparentais que existem em Portugal.
Nem lhes vou dizer que o Ministério Público acha que nessas casas (onde não existe, obviamente, uma família), as crianças são educadas sem modelos de masculino e de feminino e que, por isso, essas crianças não aprendem «a unidade e a diversidade, a interdependência e a independência, a exclusividade e a complementaridade dos dois sexos, de uma forma bem clara e transparente, sem equívocos ou ficções mais ou menos sofisticadas».
Nem lhes vou dizer que, a bem do «Princípio da Legalidade», que forçosamente obriga o Ministério Público a agir sempre que tenha conhecimento de uma ilegalidade (muito mais tratando-se de crianças), que se arriscam a que essas crianças lhes sejam retiradas e, muito provavelmente, colocadas em instituições onde esses valores lhes sejam finalmente assegurados.
Nem sequer vou aqui ironizar sobre a cultura científica que ilustre magistrado do Ministério Público deixa antever enquanto psicólogo amador.
Muito menos sobre a sua afirmação de que «é preferencialmente no seio do casamento que deve ser feita a procriação».
Mas não resisto a dizer uma coisa:
Em Portugal, o Ministério Público pode muitas vezes não funcionar muito bem.
Mas tem muita graça!
Mas não resisto a dizer uma coisa:
Em Portugal, o Ministério Público pode muitas vezes não funcionar muito bem.
Mas tem muita graça!
sábado, 13 de maio de 2006
Às vezes...
...e por estranho que isso pareça, o Deus de uma religião professa, ele próprio, outra religião...
quinta-feira, 11 de maio de 2006
O anti-boicote
Dentro de poucos dias estreará em quase todo o mundo o filme «O Código da Vinci», inspirado no romance do mesmo nome de Dan Brown.
Mas a estreia deste filme tem sido tudo menos pacífica:
Nas Filipinas, o ministro da presidência Eduardo Ermida afirmou que, como bom católico, não pode tolerar que o filme seja exibido em nome da liberdade de expressão, considerando-o blasfemo.
No Brasil, o piedoso deputado Salvador Zimbaldi procura impedir a exibição do filme através de uma providência cautelar que requereu nos tribunais brasileiros, e que já foi derrotada em primeira instância.
No Peru, o cardeal arcebispo de Lima, Juan Luis Ciprianim exortou os católicos a rechaçar o Demónio que atenta contra a fé e se manifesta nestes dias com uma versão que desmente a traição de Judas a Jesus, e que é precisamente esse mesmo Demónio, que está solto e cobiça as almas, quem está por trás do filme.
Na Inglaterra, a própria Opus Dei trava uma batalha judicial para evitar a estreia do filme, e insiste que a Sony Pictures deveria tomar a iniciativa de a cancelar ou, pelo menos, incluir no filme um aviso aos espectadores católicos mais atrasados mentais que o filme não passa de uma obra de ficção.
Numa ameaça perfeitamente explícita, esta ilustre organização de bons e fervorosos católicos parece querer fazer jus ao modo como é retratada no livro e, numa alusão à reacção muçulmana aos cartoons dinamarqueses, dá-se ao luxo de alertar para «as possíveis reacções que nestes tempos conturbados a exibição do filme pode ainda vir a causar».
Na Índia, o “Forum Social Católico” convocou uma cruzada de orações e também uma greve de fome por tempo indeterminado, como protesto pela estreia do filme naquele país.
Como se não bastasse, estes bons e piedosos católicos – e porque a fé move montanhas – oferecem ainda uma recompensa em dinheiro a quem capturar o escritor Dan Brown, vivo ou morto.
No Vaticano, três importantes cardeais lamentaram a ignorância religiosa que alimenta o interesse pelo romance. O próprio ministro da cultura do Vaticano, o cardeal francês Paul Poupard, dizendo que o livro distorce gravemente a história da Igreja e que as pessoas, coitadas, não têm conhecimentos religiosos suficientes para separar a realidade da ficção, apelou juntamente com outros cardeais e com o arcebispo Angelo Amato, a um boicote generalizado ao filme por parte de todos os bons católicos.
Pois bem:
Se é possível o apelo a um boicote, porque não será também possível o apelo a um “anti-boicote”?
Por mim, e independentemente da curiosidade que tenho de ver as interpretações de Tom Hanks e Audrey Tautou e de apreciar como Ron Howard transpôs para a tela a história de Dan Brown, irei logo que possa ver o filme.
Nem que seja só para marcar uma posição.
É esse precisamente o apelo que aqui deixo:
O “anti-boicote” ao filme «O Código da Vinci»!
quarta-feira, 10 de maio de 2006
A Associação Natural
A Associação das agências funerárias portuguesas tem vindo a reclamar do favorecimento que a Igreja Católica tem proporcionado à multinacional funerária «Servilusa», a quem concede privilégios e exclusividade no arrendamento de capelas mortuárias, enquanto dificulta, ou impede mesmo, o seu acesso à generalidade das restantes agências.
Segundo o «Diário de Notícias», as agências funerárias podiam até agora usar qualquer capela funerária pagando à Igreja 60 euros por cada serviço funerário, um negócio que representava já uma receita de cerca de 5 milhões de euros anuais.
Mas o negócio da Igreja com a «Servilusa», de contornos e quantitativos que ambas as partes se recusam a revelar, veio possibilitar àquela multinacional a cobrança de quantias que podem ir até a 377 euros por dia, apenas pelo velório.
Embora as capelas mortuárias continuem a poder ser usadas por todas as agências funerárias, o que é facto é que estas têm de pagar preços muito superiores aos que as 40 agências que compõem a «Servilusa» pagam, e que, por isso, podem praticar preços mais atractivos para o conjunto de todo o funeral.
Enfim:
Não há nada de mais natural do que esta lucrativa e milionária associação da multinacional da exploração do medo da morte com a multinacional da exploração dos enterros...
terça-feira, 9 de maio de 2006
Ou há moral... ou comem todos!
Resolvemos os dois ir ao Bingo das Amoreiras até à hora do cinema. Só para «bater umas bolas», como dizia o Zé.
A certa altura, no intervalo de duas jogadas, entram dois rapazes, aí na casa dos vinte e poucos, e sentam-se na mesa ao lado. Um deles levava um boné com um logotipo de uma marca de automóveis qualquer.
Aproximou-se logo o chefe de sala, a mandá-lo tirar o boné. Muito educadamente, diga-se de passagem.
Só que o rapaz não esteve pelos ajustes:
- Mas porque é que eu não posso estar de boné?
- Porque não pode estar na sala de cabeça coberta – retorquiu o chefe de sala pacientemente.
Mas o rapaz insistiu:
- Está bem; mas porque é que não posso estar na sala de cabeça coberta?
- Porque o regulamento não permite que as pessoas estejam de cabeça coberta a jogar nesta sala!
- E porque é que não permite?...
O que é certo é que com este tira-não-tira o chapéu, e com este tapa-destapa a cabeça, nada de começar a jogada seguinte.
E, como está bom de ver, logo começaram as bocas impacientes das pessoas, cada qual a tomar o seu partido: ora deixem o miúdo em paz, ora ponham-no mas é lá fora.
Como sempre, nestas situações aparece sempre alguém mais afoito e mais exuberante.
No nosso caso, mesmo à nossa mesa, estava um senhor muito bem posto: um fato com um corte distinto, relógio de ouro de marca e tudo. A coroar tudo isto, uma lindíssima cabeleira postiça, que lhe devia ter custado couro e cabelo.
Pois foi este nosso companheiro de mesa que se levantou e decidiu comandar as operações. Esbracejando exuberantemente, levantou a voz e anunciou para toda a sala:
- Ponham mas é o cabrão do puto lá fora e continuem a merda do jogo!
Foi então que o Zé não aguentou mais. Levantou-se também, pôs-se ao lado do homem e com aquele vozeirão com que ganhava a vida, declarou alto e bom som para toda a sala ouvir bem:
- Se não se pode estar nesta sala de cabeça coberta, o miúdo tira o chapéu; mas este cabrão tira também o capachinho!
E pronto!
A sala rebentou numa sonora gargalhada, a que o próprio chefe de sala não conseguiu resistir.
O nosso vizinho, corado até à raiz do capachinho, abandonou a sala a toda a pressa.
Menos de um minuto depois o jogo já tinha recomeçado.
E o rapaz continuou com o chapéu, claro está!
Como sempre, nestas situações aparece sempre alguém mais afoito e mais exuberante.
No nosso caso, mesmo à nossa mesa, estava um senhor muito bem posto: um fato com um corte distinto, relógio de ouro de marca e tudo. A coroar tudo isto, uma lindíssima cabeleira postiça, que lhe devia ter custado couro e cabelo.
Pois foi este nosso companheiro de mesa que se levantou e decidiu comandar as operações. Esbracejando exuberantemente, levantou a voz e anunciou para toda a sala:
- Ponham mas é o cabrão do puto lá fora e continuem a merda do jogo!
Foi então que o Zé não aguentou mais. Levantou-se também, pôs-se ao lado do homem e com aquele vozeirão com que ganhava a vida, declarou alto e bom som para toda a sala ouvir bem:
- Se não se pode estar nesta sala de cabeça coberta, o miúdo tira o chapéu; mas este cabrão tira também o capachinho!
E pronto!
A sala rebentou numa sonora gargalhada, a que o próprio chefe de sala não conseguiu resistir.
O nosso vizinho, corado até à raiz do capachinho, abandonou a sala a toda a pressa.
Menos de um minuto depois o jogo já tinha recomeçado.
E o rapaz continuou com o chapéu, claro está!
sábado, 6 de maio de 2006
O Casting
Esta é a minha adaptação pessoal do excelente cartoon de Bernhard Willem Holtrop que publiquei aqui um pouco mais abaixo.
*
Apesar da inegável actualidade do tema, o que inspirou a adaptação deste cartoon, não posso aqui deixar de o dedicar ao fantástico sentido de humor dos «Incontinentes Verbais» (porque sei que eles vão gostar muito), com votos de que a sua incomensurável fé em entes invisíveis e no criacionismo divino lhes decuplique as audiências (com a ajuda deste singelo link, claro).
Amen.
quinta-feira, 4 de maio de 2006
Um Mal Menor
Segundo o «Independent», a Igreja Católica poderá estar próxima de uma mudança histórica na sua atitude perante o uso do preservativo, «o que poderá trazer uma nova esperança para milhões de pessoas» em países subdesenvolvidos actualmente devastados pela SIDA.
Um responsável do Vaticano declarou mesmo que está a ser conduzido «um estudo científico, técnico e moral muito profundo».
Mas atenção: a ser aberta uma excepção o uso do preservativo só será permitido para casais devidamente unidos pelo matrimónio católico, e em que um deles, ou ambos, estejam infectados com o vírus do HIV.
Nesta situação a Igreja Católica poderá vir a considerar o uso do preservativo «um mal menor».
Para os restantes casos não serão abertas excepções!
Ora bem:
Não quero aqui falar da interessantíssima forma como a Igreja Católica, da escuridão fria dos corredores do Vaticano, continua a encarar a mulher e, sem sequer se aperceber bem daquilo que diz, declara com a certeza de um especialista na matéria: «se a sobrevivência de uma mulher estiver ameaçada pelos avanços sexuais do marido, ela terá a justificação de se defender a si própria, persuadindo o homem a usar um preservativo».
Absolutamente notável!
Também não quero falar da estupidez de uma instituição religiosa que nem sequer com os seus próprios erros aprende: ora queima Giordano Bruno ou excomunga Galileu, ora lhes «pede desculpa» séculos mais tarde.
Nem sequer da imbecilidade despropositada de meia dúzia de cretinos que se arrogam o direito de determinar a vida das pessoas – católicos e não católicos – e de friamente influenciar por esse mundo fora a sua vida e a sua morte.
Nem sequer quero falar do próprio reconhecimento de que a simples mudança da política da Igreja Católica perante o preservativo «poderia trazer uma nova esperança a milhões de pessoas», num planeta que conta já com 40 milhões de infectados e com 13.000 novas infecções todos os dias.
Mas é interessante realçar que para a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, e para os nababos de saias que vivem à sua sombra, os dogmas religiosos e uma encíclica anacrónica e imbecil continuam a ser mais importantes que as vidas dos milhões de seres humanos que «os restantes casos» não abrangidos pela «excepção» ainda representam.
terça-feira, 2 de maio de 2006
Um Reich de Mil Anos
Consta que em 1917 a própria mãe de Deus quis transmitir uma mensagem da maior importância à Humanidade.
Para isso, e como não é todos os dias que vem cá abaixo, a criatura resolveu escolher três pastores débeis mentais e, por causa das confusões, dividiu a mensagem em três partes: numa fez um prognóstico que só se conheceu no fim do jogo; noutra disse uma simples banalidade; na terceira, coitada... enganou-se.
Talvez por isso, o Reitor do Santuário de Fátima, Luciano Guerra, num exemplo da já costumeira falta de sensibilidade católica para as questões ecológicas, quer preservar os locais da aparições para os próximos mil anos.
E afirmou:
«Gostaria que os visitantes dessa altura encontrassem provas que pensámos neles com mil anos de antecedência».
O que eles se vão rir!...