quinta-feira, 4 de maio de 2006
Um Mal Menor
Segundo o «Independent», a Igreja Católica poderá estar próxima de uma mudança histórica na sua atitude perante o uso do preservativo, «o que poderá trazer uma nova esperança para milhões de pessoas» em países subdesenvolvidos actualmente devastados pela SIDA.
Um responsável do Vaticano declarou mesmo que está a ser conduzido «um estudo científico, técnico e moral muito profundo».
Mas atenção: a ser aberta uma excepção o uso do preservativo só será permitido para casais devidamente unidos pelo matrimónio católico, e em que um deles, ou ambos, estejam infectados com o vírus do HIV.
Nesta situação a Igreja Católica poderá vir a considerar o uso do preservativo «um mal menor».
Para os restantes casos não serão abertas excepções!
Ora bem:
Não quero aqui falar da interessantíssima forma como a Igreja Católica, da escuridão fria dos corredores do Vaticano, continua a encarar a mulher e, sem sequer se aperceber bem daquilo que diz, declara com a certeza de um especialista na matéria: «se a sobrevivência de uma mulher estiver ameaçada pelos avanços sexuais do marido, ela terá a justificação de se defender a si própria, persuadindo o homem a usar um preservativo».
Absolutamente notável!
Também não quero falar da estupidez de uma instituição religiosa que nem sequer com os seus próprios erros aprende: ora queima Giordano Bruno ou excomunga Galileu, ora lhes «pede desculpa» séculos mais tarde.
Nem sequer da imbecilidade despropositada de meia dúzia de cretinos que se arrogam o direito de determinar a vida das pessoas – católicos e não católicos – e de friamente influenciar por esse mundo fora a sua vida e a sua morte.
Nem sequer quero falar do próprio reconhecimento de que a simples mudança da política da Igreja Católica perante o preservativo «poderia trazer uma nova esperança a milhões de pessoas», num planeta que conta já com 40 milhões de infectados e com 13.000 novas infecções todos os dias.
Mas é interessante realçar que para a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, e para os nababos de saias que vivem à sua sombra, os dogmas religiosos e uma encíclica anacrónica e imbecil continuam a ser mais importantes que as vidas dos milhões de seres humanos que «os restantes casos» não abrangidos pela «excepção» ainda representam.