quarta-feira, 30 de maio de 2007

 

Uma República de Juizes



Por muitos anos que passem, será sempre nestas ocasiões que nos vem à memória aquele célebre acórdão do Supremo Tribunal de Justiça que, num caso de violação, considerou duas jovens violadas responsáveis pela sua própria violação.
Afinal eram elas as culpadas porque andavam a passear a pé numa região considerada a «Coutada do Macho Latino».

Desta vez, o nosso Supremo Tribunal de Justiça, uma vez mais igual a si próprio, decidiu reduzir a pena de prisão a um pedófilo condenado pela violação continuada de uma criança de 13 anos.

E se alguém pensasse que nestes tempos de raptos de menores e de sucessivas notícias de violações de crianças, algumas delas com apenas alguns meses de idade, deveriam ser os mais básicos princípios de «prevenção geral» a exigir-nos que qualquer tribunal aplicasse uma pena severa e exemplar, os senhores juizes Conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça consideraram precisamente o contrário: que o tribunal de primeira instância se tinha «deixado influenciar pela relevância mediática que acompanha estes casos...».

E para não nos esquecermos mesmo daquela da «coutada do macho latino», os senhores juizes Conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça ainda nos vieram graciosamente ensinar que a violação de uma criança de 13 anos é «menos grave» que a violação de uma criança de 7 anos.

Isto mesmo quando no julgamento se apurou que o criminoso violou a criança repetidamente e ao longo de quatro anos, obrigando-a sob ameaça a estar calada e a manter-se durante todo esse tempo refém do medo do que lhe poderia fazer.
Vai daí... reduziu-se-lhe a pena!

Confesso que não sei que bicho picou de repente aos juizes portugueses.
Todos os dias continuo a encontrar, felizmente, muitos juizes dotados de uma elevadíssima consciência profissional e que revelam um grau de conhecimentos técnicos muito acima da média.
Mas, de vez em quando, lá aparece mais um, convencido que é assim uma espécie de «reencarnação de Salomão», e que de repente foi divinamente dotado de uma sapiência e de um grau de discernimento inatingível para o «comum dos mortais».

E então, decidem primeiro e encaixam as fundamentações a martelo depois, porque há muito que já decidem «como lhes parece», borrifando-se na lei, na lógica e no bom senso, e até no facto de que, como membros de um Órgão de Soberania que não foi eleito, detêm uma legitimidade democrática que ainda tem muito que se lhe diga, pelo menos enquanto continuar a parecer que ela lhes provém unicamente... do C.E.J.

Não será este o caso, decerto.
Nem aqui vou agora falar do processo do casamento homossexual, cujo recurso, como já aqui referi, vai agora para o Tribunal Constitucional.
Logo que as alegações do recurso e toda a sua fundamentação estejam entregues, aqui tornaremos a falar do assunto de forma mais completa.

Mas, por agora, e a propósito desta decisão do Supremo Tribunal de Justiça, lembrei-me, não sei porquê, da seguinte passagem do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, já publicado, e que, a propósito do acrescento da expressão «e orientação sexual» à formulação do «Princípio da Igualdade» contida no artigo 13º da Constituição (que proíbe todas as formas de discriminação), e que a certa altura refere:
«Ademais, importa sublinhar que, ao invés do sustentado pelas recorrentes, tal acrescento efectuado pela revisão constitucional de 2004 não veio trazer qualquer elemento novo» e que, por isso, «não equivale a mais do que a uma explicitação, sem que daí possa extrair-se alguma consequência quanto a outras matérias...».

É bom de notar que não estamos aqui a falar do problema de fundo (o casamento homossexual) ou sobre a sua justeza ou legalidade. Isso é assunto diferente.
Nem estamos a referir algumas recentes revogações judiciais de decisões meramente administrativas do Governo, como se não estivesse constitucionalmente determinada uma separação de poderes.
Nem sequer nos referimos a uma qualquer consideração judicial que – obviamente contra a lei – tenha decidido julgar «desnecessários» um determinado decreto regulamentar ou uma qualquer portaria ministerial.

Não!
O que aquelas palavras do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa querem dizer, é que já estamos numa fase muito, mas muito mais avançada.
Já chegámos a um tal estádio de evolução do nosso sistema jurisdicional, que até os juizes do tribunais ordinários já se dão ao desplante e se julgam no direito de considerar que determinadas formulações constitucionais que são aditadas à redacção original de um artigo da Constituição, de forma a definir e a melhor concretizar na prática o princípio constitucional que lhe está subjacente, «não têm consequências» nem «nada trazem de novo».

E que, por isso, claro está, são... inúteis!

E vai daí, e como são «inúteis», não são obviamente para aplicar!

Não pode ir bem, de facto, um sistema judicial e não existe já Estado de Direito se os juizes, mais do que interpretar ou do que aplicar segundo os seus critérios meramente técnicos as normas da Constituição, têm o autêntico topete e se acham já no direito de considerar a oportunidade e até a utilidade das próprias formulações e dos princípios constitucionais.
E, por isso, é óbvio, não os aplicam!

O que parece é que, encerrados no escuro dos seus gabinetes e decerto atafulhados em processos empilhados até ao tecto, o juizes portugueses fecharam-se a eles próprios dentro dos seus alvéolos corporativos, e deixaram já de saber o que se passa no país e no mundo à sua volta.

E nem sequer se apercebem que aos poucos e poucos estão a perder e a afastar-se do próprio país em que vivem.
E que assim continuarão enquanto persistirem em decidir e em julgar de costas voltadas para os cidadãos, ignorando e desprezando os sentimentos de ética que a todos une e que lhes é racionalmente comum.

Vivemos agora autenticamente sob a égide e sob a autoridade de uma... «República de Juizes».
De juizes que, de repente e sem que ninguém saiba de onde vieram, apareceram a julgar «como lhes parece» e a decidir sobre as nossas vidas.
E que ninguém elegeu!...


terça-feira, 29 de maio de 2007

 

Liberdade religiosa, sim. Mas assim tanta, não...





segunda-feira, 28 de maio de 2007

 

Ne me quitte pas



Jacques Brel - Ne me quitte pas

Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit deja
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le coeur du bonheur
Ne me quitte pas...

Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'apres ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas...

Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants là
Qui ont vu deux fois
Leurs coeurs s'embraser
Je te racont'rai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas...

On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quitte pas...

Ne me quitte pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
À te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas...


 

Witchcraft



Frank Sinatra e Anita BakerWitchcraft

Those fingers in my hair
That sly come hither stare
That strips my conscience bare
Its witchcraft

And Ive got no defense for it
The heat is too intense for it
What good would common sense for it do

Cause its witchcraft,
Wicked witchcraft
And although, I know, its strictly taboo

When you arouse the need in me
My heart says yes indeed in me
Proceed with what your leading me to

Its such an ancient pitch
But one I wouldnt switch
Cause theres no nicer witch than you


 

Detalhes


Roberto Carlos - Detalhes



domingo, 27 de maio de 2007

 

Blog Com Tomates



O «Random Precision» foi honrado com a nomeação de «Um Blog com Tomates» e ainda por cima por dois dos Blogs que não só estão entre os que mais regularmente visito e que mais considero em toda a Blogosfera, mas também porque são dois Blogs que eu próprio teria nomeado se não parecesse mal (parece-me) devolver-lhes a nomeação: o «Esquerda Republicana» e o «Ponte Europa».

Resta-me agora colaborar com esta curiosa iniciativa que considera um «Blog com Tomates» aquele “que luta pelos direitos fundamentais do ser humano”, e nomear eu próprio cinco Blogs que considero imprescindivelmente “tomatáveis”.

São eles:

«Câmara Corporativa»

«Murcon»

«De Rerum Natura»

«Diário Ateísta»

«Renas e Veados»


sexta-feira, 25 de maio de 2007

 

O recurso para o Tribunal Constitucional



Foi já no passado dia 1 de Fevereiro de 2006 que a Teresa e a Lena se apresentaram na 7ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa para requererem o início do processo do seu casamento.

Contudo, tal pretensão foi-lhes liminarmente recusada pelo Sr. Conservador, com o fundamento de que o artigo 1.577º do Código Civil restringe o direito à celebração do contrato de casamento civil a pessoas de sexo diferente.

Por isso, e defendendo desde logo a inconstitucionalidade dessa restrição contida na lei civil, uma vez que ela viola manifestamente o «Princípio da Igualdade» formulado no artigo 13º da Constituição (que proíbe expressamente todas as formas de discriminação dos cidadãos, incluindo expressamente a que resulte da sua orientação sexual), a Teresa e a Lena desde logo recorreram sucessivamente de tal decisão para os Tribunais civis, embora não tenham ainda logrado fazer valer os seus argumentos.

Agora, um ano e quatro meses passados sobre aquela data, estão finalmente esgotados todos os meios e recursos jurisdicionais ordinários que são os processualmente adequados para, nesta fase, se poder reagir contra a aplicação de normas consideradas inconstitucionais.

Deste modo, e de acordo com o disposto na Lei do Tribunal Constitucional, a Teresa e a Lena finalmente puderam e, por isso, acabam de interpor recurso para o Tribunal Constitucional, onde vão requer a declaração de inconstitucionalidade dos artigos do Código Civil cuja actual formulação as tem impedido de contrair casamento uma com a outra.

No Blog «O Advogado do Diabo» reproduzo o requerimento de interposição desse recurso para o Tribunal Constitucional, incluindo a sua justificação e os respectivos fundamentos processuais para a sua admissibilidade.

Como é óbvio, não se trata ainda das «alegações» do recurso ou da sua fundamentação substantiva, para cuja apresentação a Teresa e a Lena ainda nem sequer foram notificadas.
Contudo, logo que tal suceda e assim que essas alegações sejam entregues no Tribunal Constitucional, de imediato será proporcionada online uma reprodução das mesmas.


quinta-feira, 24 de maio de 2007

 

O Culto da Irresponsabilidade



Segundo o «Jornal de Notícias», a partir de agora as «provas de aferição» dos 1º e 2º ciclos deixam de ser feitas por amostragem e passam a abranger todos os alunos, tanto do ensino público como do privado, e os resultados serão todos afixados, tal como acontece com os exames nacionais.

Neste interminável confronto entre os professores e o Ministério da Educação, com mútuas e ácidas acusações, ora de arrogância, ora de cegueira corporativa, o que é facto é que todos os professores (muito honesta e responsavelmente, aliás), admitem que há nos projectos da ministra da Educação muitas coisas com que concordam e que acham extremamente positivas.

Mas então, de que é que os professores afinal se queixam e discordam, e que raio de políticas da ministra é que não estão dispostos a aceitar, pelo menos pacificamente?

Pois bem.
Para ver se nos entendemos, vejamos então o que pensam ambas as partes, o Ministério da Educação e os professores a este propósito das «provas de aferição»:

Entende o Ministério da Educação que a provas de aferição constituem «o meio mais adequado para avaliar a qualidade do currículo nacional e a prestação das escolas nos dois primeiros ciclos de escolaridade».
Por isso o Ministério vai exigir às escolas um «relatório de avaliação» de acordo com os resultados obtidos, para «verificar a qualidade das aprendizagens, a adequação dos programas e a conformidade das práticas pedagógicas».

Mas então, e o que entendem os professores sobre isto?
A resposta afinal é surpreendentemente simples: finalmente a FENPROF, a Federação Nacional dos Professores, respondeu de uma vez por todas a estas questões.

Com efeito, através desta sua competente organização sindical, todos os professores portugueses deixaram já claro a todo o país o seu protesto, e afirmaram já sem margem para dúvidas que são absolutamente contrários a esta generalização das provas de aferição, cujo processo, acusam, está a criar nas escolas um «clima de perturbação».

E o motivo é uma vez mais muito simples: porque, para a FENPROF, a ministra não pretende nada mais nada menos do que «alijar as responsabilidades do ministério» caso os resultados das provas sejam fracos.
E isto é, obviamente, inadmissível.

E sem papas na língua a FENPROF ainda afirma, desassombradamente e preto no branco:
«O Ministério de Maria de Lurdes Rodrigues pretende que as referidas provas sejam mais um mecanismo de avaliação e responsabilização das escolas e dos professores, caso as classificações dos alunos venham a ser baixas».
E por isso, e como não podia deixar de ser, a FENPROF é contra!

Ou seja:
Se os professores não têm qualquer problema em admitir que concordam com a oportunidade e com a justeza de muitas das políticas do Ministério da Educação, ficámos agora também a saber, e de uma vez por todas, quais são as políticas ministeriais a que os professores portugueses se opõem e que não estão de forma alguma dispostos a aceitar.

De facto, e se dúvidas houvesse, através da FENPROF ficámos de uma vez por todas a saber que os professores portugueses são terminantemente contra todas as medidas do Ministério da Educação que, por qualquer forma, constituam um... «mecanismo de avaliação e responsabilização das escolas e dos professores».


- Senhora ministra: por favor, não desista!


quarta-feira, 23 de maio de 2007

 

Father and Daughter



Cat Stevens - Father and Son

It's not time to make a change,
Just relax, take it easy.
You're still young,
That's your fault,
There's so much you have to know.
Find a girl, settle down,
If you want you can marry.
Look at me,
I am old, but I'm happy.
I was once like you are now,
And I know that it's not easy,
To be calm when you've found
Something going on.
But take your time, think a lot,
Why, think of everything you've got.
For you will still be here tomorrow,
but your dreams may not.

How can I try to explain,
when I do he turns away again.
It's always been the same,
Same old story.
From the moment I could talk
I was ordered to listen.
Now there's a way
And I know that I have to go away.
I know I have to go.

It's not time to make a change,
Just sit down, take it slowly.
You're still young, that's your fault,
There's so much you have to go through.
Find a girl, settle down,
If you want you can marry.
Look at me, I am old, but I'm happy.

All the times that I cried,
keeping all the things I knew inside,
It's hard, but it's harder to ignore it.
If they were right, I'd agree,
But it's them they know not me.
Now there's a way
and I know
that I have to go away.
I know I have to go.

terça-feira, 22 de maio de 2007

 

High Hopes



PINK FLOYDHigh Hopes

Beyond the horizon
Of the place we lived when we were young
In a world of magnets and miracles
Our thoughts strayed constantly and without boundary
The ringing of the division bell had begun

Along the Long Road and on down the Causeway
Do they still meet there by the Cut
There was a ragged band that followed in our footsteps
Running before time took our dreams away
Leaving the myriad small creatures trying to tie us to the ground
To a life consumed by slow decay

The grass was greener
The light was brighter
With friends surrounded
The nights of wonder

Looking beyond the embers of bridges glowing behind us
To a glimpse of how green it was on the other side
Steps taken forwards but sleepwalking back again
Dragged by the force of some inner tide
At a higher altitude with flag unfurled
We reached the dizzy heights of that dreamed of world

Encumbered forever by desire and ambition
There's a hunger still unsatisfied
Our weary eyes still stray to the horizon
Though down this road we've been so many times
The grass was greener
The light was brighter
The taste was sweeter
The nights of wonder
With friends surrounded
The dawn mist glowing
The water flowing
The endless river

Forever and ever...


segunda-feira, 21 de maio de 2007

 

O Catolicismo e a Democracia



Num artigo do «Expresso» desta semana que intitulou «A Propósito de Fátima», João Carlos Espada diz o seguinte:
«Um elemento importante do preconceito anticatólico continua a residir no argumento de que o catolicismo se opõe à democracia. Mas os factos também não corroboram esta tese».

Talvez tivesse sido melhor que o João Carlos Espada tivesse escrito isto e não dissesse mais nada. Tínhamos só ficado com pena dele e podíamos depois esquecer o assunto.
Mas o pior é que o João Carlos Espada resolveu passar à demonstração. E, como de costume, espalhou-se ao comprido, claro está!

Diz então ele que a prova inequívoca de que o catolicismo é «amigo» da democracia é o facto de que a maior parte dos trinta países que entre 1974 e 1989 transitaram de regimes autoritários para regimes democráticos eram, vejam só... maioritariamente católicos.
E põe-se a citar: fala dos dois primeiros, Portugal e Espanha; fala de seis países da América do Sul; de três países da América Central; fala das Filipinas e finalmente fala da Hungria e da Polónia.
De facto, todos eles maioritariamente católicos.

Só é pena que o João Carlos Espada se tenha «esquecido» de dizer que esses países já eram maioritariamente católicos antes de transitarem para a democracia e já eram maioritariamente católicos durante as décadas em que viveram sob os regimes autoritários anteriores, cada um deles constituindo um brilhante e salutar exemplo de convivência serena e pacífica entre os seus respectivos ditadores e a organização e a hierarquia católicas.

Deve ser por isso que o João Carlos Espada não estranha, e por isso não refere, que o Vaticano tenha um belo dia decidido excomungar Estaline (o que não o deve ter preocupado lá muito), e não tenha sequer beliscado a memória de um só dos ditadores desses países «maioritariamente católicos», de Salazar a Franco, de Pinochet a Videla.
Nem sequer de Adof Hitler ou de Mussolini, diga-se de passagem.

Mas o que, mais do que pena, é até absolutamente lamentável e revelador de uma já indisfarçável desonestidade intelectual, é que, quando falou da transição da Polónia para a democracia, o João Carlos Espada se tenha «esquecido» de falar dos muito piedosos e fanáticos católicos irmãos gémeos que actualmente a governam, e que andam a tratar de transformar a Polónia num Estado confessional e obediente a uma espécie de «sharia» cristã.
A tal ponto que já há quem comece a defender a incompatibilidade da permanência desta Polónia fanaticamente católica na União Europeia!

Mas, como se não bastasse, o João Carlos Espada escreve a seguir que «muito antes de Voltaire ter escrito sobre a tolerância, John Milton e John Locke fundaram "o dever da moral cristã"».

Desde logo, é engraçado como da formulação que dá às suas palavras João Carlos Espada parece querer encaixar Voltaire nas fileiras do seu catolicismo.
Logo Voltaire, que foi laico mais do que ninguém. Logo Voltaire, que dizia que os evangelhos tinham sido fabricados para inventar uma religião e que nem sequer acreditava que Jesus Cristo tivesse alguma vez existido!

Depois, e como se não bastasse, João Carlos Espada ainda consegue dizer sem se rir (e provavelmente sem sequer corar) que foram Milton e Locke que fundaram «o dever da moral cristã».
Ora, o que é lamentável é que João Carlos Espada não tenha encontrado na História mais ninguém que tenha sido capaz de fundar isso a que chama «o dever da moral cristã» antes de Milton e de Locke, que não só viveram 16 séculos depois de Jesus Cristo (como se ninguém antes deles soubesse o que isso era), como ainda marcaram indelevelmente a História da Humanidade precisamente pelas suas visões humanistas e profundamente racionalistas da sociedade.

Mas o que é mais lamentável ainda é que João Carlos Espada, para encontrar alguém a quem atribuir essa tal fundação do «dever da moral cristã», e mesmo assim mais de milénio e meio depois de Cristo, tenha tido o desplante e a autêntica lata de recorrer a dois autores cujas obras estão (ainda hoje) proibidas no «Index Librorum Prohibitorum» do Vaticano: a Locke, que defendia o liberalismo do “contrato social” e que, um dos mais acérrimos críticos de Santo Agostinho, defendia que a tolerância e a razão devem ser inerentes à própria natureza humana; e até a Milton, que ficou conhecido pelas suas perspectivas heréticas da religião, que defendia a poligamia e nem sequer acreditava na divindade de Cristo...

Mas, não fosse alguém pensar que o paroxismo do ridículo já tinha sido alcançado, o João Carlos Espada resolveu continuar a investir no seu lugar na Vida Eterna, firmemente persuadido de que o proselitismo só é eficaz quando é imbecil. Embora aqui esteja provavelmente cheio de razão...

Vai daí, afirma com todas as letras que foi São Tomás de Aquino quem lançou os fundamentos da «atitude liberal».
Logo o bom do Tomás que defendia a impossibilidade do conhecimento humano ou do alcance da razão sem a intervenção ou a ajuda de Deus e que, como achava que a fé e a razão são absolutamente indissociáveis, defendia que essa intervenção só era possível e materializável através da Igreja e das Escrituras, estas a quem competia definir as regras da vida em sociedade, das leis, da ética e até da estética.
De facto, dois bons democratas: o São Tomás de Aquino e o João Carlos Espada!

Finalmente, e depois disto tudo, o João Carlos Espada resolveu dar um final ao seu artigo de modo a que todos os seus leitores ficassem... tristes.
Sim porque não há nada mais triste do que uma ignorância tão profunda e até tão confrangedora...

Dá até que pensar se é a direcção do «Expresso» que paga ao João Carlos Espada pelos artigos que escreve, se é o próprio João Carlos Espada que paga para o «Expresso» lhe publicar os artigos.

Termina assim o João Carlos Espada o seu textículo:
«E o católico Alexis de Tocqueville observou, em páginas veementes, que a democracia na América não podia ser compreendida sem o contributo da fé cristã para alicerçar o ideal das limitações constitucionais ao poder político e do direito natural dos indivíduos “à vida, liberdade e busca de felicidade”».

Não há comiseração que chegue para dar ao João Carlos Espada.
É mau demais para ser verdade ver alguém defender que o ideal das limitações constitucionais da democracia americana se deve ao contributo... «da fé cristã».

Ó João Carlos Espada, pá:
Então tu não sabes que a Revolução Americana nasceu e é, antes de mais e na sua origem, a primeira consequência e a primeira concretização dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade (que se haveriam de tornar a concretizar 13 anos mais tarde na Revolução Francesa e quatro décadas depois em Espanha e em Portugal), e que esses ideais são tudo menos um contributo da «fé cristã»?
E que são – vê lá tu bem – precisamente o contrário?

Se a Revolução Americana, a Revolução Francesa e até o Vintismo em Portugal tiveram algum contributo, ele não veio da «fé cristã», pá. Ocorreram até mau grado e apesar dela, pá!
Se algum contributo essas Revoluções tiveram foi dos ideais do Iluminismo e do Racionalismo, e até de ideais de cariz vincadamente maçónicos, em franca progressão e desenvolvimento naquela época.
Já olhaste bem para os símbolos de uma nota de dólar?

Se houve coisas de que os ideais constitucionais americanos foram brilhantemente precursores, foram precisamente os princípios fundamentais da liberdade individual, da separação da Igreja do Estado, dos fundamentos do Estado laico absolutamente compatíveis com a liberdade de culto religioso – qualquer que ele seja – e que puderam proporcionar as raízes de um Estado verdadeiramente democrático e, isso sim, livre das loucuras dessa tua tal «fé cristã» como os julgamentos de Salem ou as imposições puritanas.

Mas que os teus colegas que contigo comungam nessa tal de «fé cristã», como o George W. Bush e outros que tais (para não falar outra vez dos gémeos polacos), parecem firmemente empenhados em fazer regressar, impondo as mais acérrimas formas de discriminação, homofobia e preconceito.

Mas fazes tu ideia, ó João Carlos Espada, pá, quantos iluministas, quantos racionalistas, quantos maçons, quantos livre-pensadores, quantos cientistas, quantos judeus foram julgados e barbaramente torturados em autos de fé pela Inquisição e depois imolados pelo fogo?

Contributo da «fé cristã» para «o direito à vida, liberdade e busca da felicidade»?
Ó João Carlos Espada, pá:
Deixa de fazer más figuras, rapaz.
Pede mas é a alguém que te leia os artigos antes de os mandares para o «Expresso» para publicação.
Vê se atinas, pá!


sábado, 19 de maio de 2007

 

Os Abutres



É absolutamente extraordinário impacto mediático que tem tido por todo o mundo o desaparecimento da pequena Madeleine McCann na Praia da Luz, no Algarve.
Como é incrível a onda de solidariedade internacional que se tem criado à volta deste drama infernal.

A polícia portuguesa, com o auxílio de peritos ingleses, tem afectado todos os seus recursos e meios técnicos e humanos à investigação do caso.
De tal forma que parece que há uma esperança generalizada que, quase milagrosamente, tudo seja finalmente esclarecido e que de um momento para o outro a pequena Madeleine apareça sã e salva e possa voltar para junto dos seus pais.

No meio das costumeiras críticas ao exagero da mediatização do caso e das longas perorações dos especialistas que sempre aparecem a comentar e a ensinar como é que a investigação devia ser feita, o que é certo é que a actuação da polícia portuguesa tem sido geralmente elogiada, como tem sido reconhecida a dedicação pessoal de muitos agentes, que chegam a passar vários dias sem dormir para não interromper a perseguição de uma ou outra pista.

Foi mesmo criado um fundo de auxílio que tem contado com a colaboração de muitos milhares de pessoas. De tal forma que tem sido noticiado que esse fundo recolheu já quase 4 milhões de euros.

Na verdade, é nas situações mais extremas que se conhece o melhor e o pior das pessoas.
E é por isso que era absolutamente inevitável que, uma vez mais, isso acontecesse.

E pronto:
Mal ouviram falar em tudo isto, principalmente do elevado montante que o fundo de auxílio já tinha atingido, os famosos “psíquicos” ingleses Amanda Hart (de St. Albans) e Ben Murphy (de Watford) apanharam imediatamente um avião para o Algarve.

Ali chegados, não cessam de rondar os pais e as pessoas mais chegadas à família da pequena Madeleine, fazendo-lhes crer que graças aos seus poderes psíquicos e às pistas que têm recebido do “além” estão na posse de preciosas e vitais informações sobre o destino e o paradeiro da criança.

De facto, há pessoas que não recuam perante nada.
Até quando será isto tolerado e permitido?

Até quando será tolerado que esta gente sem escrúpulos, estes burlões, estes facínoras criminosos, persistam em aproveitar-se da fragilidade emocional das pessoas?

Até quando será permitido que estes autênticos abutres continuem impunemente a explorar as desgraças das pessoas, impingindo-lhes falsas esperanças ou mentirosas desilusões com o único fito de lhes extorquirem dinheiro, seja em programas de televisão, seja em estâncias de férias, seja em luxuosos gabinetes, seja em sombrios apartamentos, ou seja mesmo em grandiosas e milionárias basílicas?

De facto, é nas situações mais extremas que se conhece o melhor e o pior das pessoas.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

 

Gente de Fé




terça-feira, 15 de maio de 2007

 

A carta que muda de cor



Richard Wiseman é um professor de psicologia britânico que publicou há já algum tempo um livro intitulado «The Luck Factor» ou «O Factor Sorte», onde defende que a «sorte» exerce uma influência real e dramática sobre a vida das pessoas.
E explica ainda como essa simples sorte pode transformar o improvável em possível e pode até marcar a diferença entre a vida e a morte, a fortuna ou a ruína e entre a felicidade e o infortúnio.

Mas Richard Wiseman dedica-se também a uma interessante pesquisa sobre a percepção.
De facto, é realmente extraordinária a forma como as pessoas percepcionam tudo o que as rodeia.

Este filme é um brilhante exemplo disso.
Chama-se «O Truque da Carta que Muda de Cor».

O desafio que nos é proposto no filme consiste em tentarmos descobrir a forma como um simples truque de cartas trocadas é executado, mas também até que ponto, na realidade, nos apercebemos ou não de tudo aquilo que se passa mesmo diante dos nossos próprios olhos.

O fim do filme dá-nos a resposta...



domingo, 13 de maio de 2007

 

Diz que é uma espécie de religião monoteísta...



Faz hoje 90 anos que a Virgem Maria apareceu pela primeira vez em Fátima a três crianças.

Foi assim:
A Virgem Maria é a mãe de Jesus Cristo, de quem engravidou de Deus por obra e graça do Divino Espírito Santo.
Ou seja, e como é óbvio, a Virgem Maria é a mãe de Deus.
Por outras palavras, Jesus Cristo engravidou a sua própria mãe, e é por isso pai de si próprio. E já agora, filho de si próprio também.
Tudo isto, claro, por obra e graça de si próprio.

Tudo isto parece muito complicado, mas não é: basta pensar que a Virgem Maria é a mãe desta gente toda e pronto.
Caso contrário, ainda nos pomos para aí a congeminar sobre a rebaldaria incestuosa que isto parece.

Ou a pensar que Maria Madalena, que andava embrulhada com Jesus Cristo, isto é com Deus, era por isso sogra de si própria. Mas também como andava embrulhada com o pai daquele com quem andava embrulhada, ao mesmo tempo era também nora de si própria.

Mas se assim é, isto quer dizer que Maria Madalena é também nora da Virgem Maria, uma vez que andava embrulhada com o seu filho. Mas, enquanto andava embrulhada como filho, ao mesmo tempo andava também embrulhada com o pai, de quem a Virgem Maria tinha engravidado, o que faz supor que Deus, ou Jesus Cristo (é a mesma coisa), enquanto andava embrulhado com a Maria Madalena, dedicava-se a engravidar a Virgem Maria, isto é a sua própria mãe.
Enfim: uma embrulhada!

Pois bem:
Um belo dia a mãe de Deus resolveu vir ao planeta Terra transmitir uma mensagem aos humanos.
Andava preocupada com a gente, coitada.

E então, decerto persuadida da enorme importância desta divina mensagem, a santa progenitora escolheu como seus interlocutores nada menos do que três pastores analfabetos e meio atrasados mentais.
Nunca ninguém lhe perguntou a razão desta escolha. Mas da parte de quem gostava de aparecer às pessoas em cima das árvores, também nada é de estranhar.

Dado o inegável significado simbólico e atenta até a enorme relevância para a História da Humanidade, a mensagem foi de início considerada um segredo divino.
Só foi conhecida aos bochechos.
E depois de cuidadosamente dividida em três partes:

Na primeira parte, esta senhora «mais brilhante que o Sol» resolveu dedicar-se às banalidades. E lá entendeu dizer aos visionários que deviam rezar muito.
Sim, porque Deus gosta muito que lhe rezem. Faz-lhe bem ao ego, dizem.

Na segunda parte, resolveu dedicar-se às previsões e à futurologia. E lá entendeu por bem prever que a Guerra acabava nesse ano de 1917 e que os soldados portugueses já estariam de volta ao solo pátrio pelo Natal.
O pior foi que a I Guerra Mundial, a tal guerra de 1914-18 acabou, tal como o próprio nome indica, no ano de 1918.
Então não querem lá ver que a mãe de Deus se enganou, coitada?

Finalmente, a terceira e última parte a ser conhecida, aliás mais de meio século depois, fazia mais uma previsão. Desta vez de um atentado a um tipo vestido de branco, que toda a gente viu logo que era o Papa.
O pior é que as previsões que são conhecidas depois dos acontecimentos que predizem ainda são piores que os prognósticos feitos no fim do jogo.

Ou seja, quer isto dizer que, nesta insigne e extraordinária mensagem transmitida aos Homens, a mãe de Deus numa parte fez um prognóstico no fim do jogo, noutra disse uma banalidade e na terceira, coitadita... enganou-se!

Dizem que depois de morrer a Virgem Maria subiu ao Céu em corpo e alma.

Dizem que faz hoje 90 anos que começou este extraordinário fenómeno que todos os anos arrasta a Fátima milhões de pessoas para adorar e rezar à Virgem Maria e para comemorar e celebrar a extrema razoabilidade e a lucidez de tudo isto.

Dizem também que a religião católica é monoteísta...


sexta-feira, 11 de maio de 2007

 

Um Bando de Macacos





quarta-feira, 9 de maio de 2007

 

É proibido discriminar... a discriminação



Há mais de seis anos que o senador americano Ted Kennedy tenta fazer aprovar uma lei que criminalize os actos injuriosos ou de violência praticados por motivos por ódio ou em razão de qualquer forma de discriminação, incluindo contra os homossexuais.

Agora, com uma nova maioria democrática, parece provável a aprovação desta legislação – a «Hate Crimes Bill» – na Câmara dos Representantes já na próxima quinta-feira.

Mas engana-se quem pensa que a aprovação desta lei seria consensual.
De facto, e como seria de esperar, os mais devotos cristãos republicanos dos Estados Unidos têm reagido violentamente contra esta proposta de lei, a que chamam «uma legislação insidiosa que vai silenciar e punir todos os cristãos pelas suas crenças morais» e também que, nada mais nada menos, «vai abrir caminho à perseguição religiosa» nos Estados Unidos.

Neste pequeno filme (clicar sobre a imagem à direita) --->

Steven Colbert,
sempre brilhante como de costume, fala sobre esta legislação, cuja aprovação aparentemente se previa pacífica e consensual num Estado livre e democrático.

E comenta a furiosa oposição – afinal tão tipicamente cristã – que contra ela se tem levantado, e que se baseia fundamentalmente na opinião de que esta nova lei «vai discriminar os cristãos conservadores porque vai privá-los do seu legítimo direito de... discriminar os homossexuais...».


terça-feira, 8 de maio de 2007

 

Adeus, Du’a!



Chamava-se Du’a Khalil Aswad.
Era uma menina curda de 17 anos que vivia na cidade iraquiana de Mosul.

Um dia, como tantas outras meninas de 17 anos, Du’a começou a namorar com um rapaz da sua idade por quem se tinha apaixonado.
Mas, acontece que a menina e o rapaz tinham religiões diferentes: ela era yezidi, uma antiga religião pré-islâmica; ele era um muçulmano sunita.

Até que um dia, quando regressava pacificamente a casa, Du’a foi subitamente emboscada por uma multidão de mais de mil homens em incontrolável fúria.
Tinham decido matá-la da maneira mais brutal que lhes era possível: apedrejando-a!

De imediato os homens apanharam-na de surpresa, rodearam-na e, sem sequer uma palavra, começaram a atirar-lhe grandes pedras à cabeça, enquanto eles próprios, num sádico gozo assassino, iam fotografando e filmando tudo com os seus telemóveis.

É possível encontrar na Internet alguns filmes da menina (embora me recuse a colocar aqui qualquer link), provavelmente sem sequer perceber o que lhe estava a acontecer, já caída no chão e coberta de sangue e a gritar desesperadamente por socorro, a voz cada vez mais fraca, enquanto ia sendo atingida pelas pedras.

Com uma violência cega e fanática, enquanto lhe atiram pedras todos lhe vão gritando insultos.
Nalgumas imagens podem mesmo ver-se alguns homens a pontapeá-la no corpo e na cabeça.

Depois, para simbolizar o quanto ela tinha desonrado a religião yezidi por namorar com um rapaz sunita e, por isso, por ter ofendido também toda a sua família, os homens rasgaram-lhe as roupas à força e despiram-na completamente.
Nas imagens seguintes vê-se a menina deitada no chão, já completamente nua, rodeada por um mar de sangue, com cabeça esmagada, a sua cara de menina inocente já irremediavelmente desfigurada pelas pedras.
Já não grita.
No entanto, embora já imóvel, é possível ver-se que ainda respira.

Até que, do meio da multidão, surge alguém que se aproxima e acaba de uma vez com o seu sofrimento, atirando-lhe do alto uma pedra mais pesada, directamente à cara.

E assim morreu Du’a Khalil Aswad.
Uma menina curda de 17 anos que vivia na cidade iraquiana de Mosul.

Morreu em nome de uma religião.
Morreu em nome da irracionalidade fanática da fé.
Morreu em nome de Deus.

Adeus, Du’a!


segunda-feira, 7 de maio de 2007

 

A Fórmula de Deus



É uma facto incontestável que ao longo da História dos Homens, quando se trata de explicar ou fundamentar filosoficamente a sua própria existência, a grande maioria das pessoas prefere optar pela irracionalidade da «fé» e pelo «conforto intelectual» de um deus, qualquer que seja a designação que lhe é atribuída.

Não é de estranhar, pois, que essas mesmas pessoas acabem por professar a religião que o acaso da época ou da localização geográfica do seu nascimento lhes ditou.

Depois, e como não podia deixar de ser, essas mesmas pessoas teimam em edificar toda a sua vida sobre essa irracionalidade, passando a viver de acordo com os critérios éticos e deontológicos que alguém lhes disse que o seu Deus já escolheu para si.
O que não seria mau e só a elas diria respeito, se ao mesmo tempo não persistissem em impô-los também a todas as outras pessoas, professem elas ou não a mesma religião, a mesma fé, ou a mesma irracionalidade.

Mas o que não cessa de me surpreender é a quantidade de pessoas que de vez em quando aparece a querer fundamentar a sua irracionalidade, a sua fé e a própria existência do seu Deus recorrendo a critérios de... lógica e de racionalidade!
O pior é que nem sequer se apercebem que isso, nem que seja só por definição, é completamente impossível (como aqui há uns dias já expliquei), acabando por cair em contradições e em paradoxos tão ridículos que dá até ideia que para ter «fé» e acreditar em Deus uma pessoa tem primeiro de se livrar de todas as réstias de lucidez e de bom senso que ainda lhe sobrem.

Depois, o inevitável acontece: da falta de lucidez à imbecilidade completa é só um pequeno passo.

E para quem duvide disso é só ver o pequeno filme abaixo, que mostra como é possível pensar convictamente que a existência de Deus pode ser demonstrada por métodos científicos.
É o caso de um tal professor, obviamente um fervoroso cristão, de nome Frank Tipler, da Universidade norte-americana de Tulane que afirma (sem sequer se rir) que o cristianismo e a ciência sempre estiveram «interligados».

E sendo assim, e recorrendo à «Relatividade Geral» e à «Mecânica Quântica», inventou uma fórmula matemática com que demonstra cientificamente e sem margem para dúvidas: Deus existe!

Uma coisa é certa:
Gostava de um dia perceber se entre os delírios religiosos e a imbecilidade há uma conexão necessária e natural, ou se isso é apenas uma simples e mera coincidência...



quarta-feira, 2 de maio de 2007

 

Ama o teu próximo como a ti mesmo; mas se não for assim muito próximo... lixa-o!





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