segunda-feira, 31 de julho de 2006

 

Escândalo!



O «Random Precision», divulga em rigoroso exclusivo aquele que será certamente um dos maiores escândalos políticos dos últimos tempos.

De facto, o Primeiro-ministro José Sócrates prepara-se para inscrever na Lei do Orçamento uma verba que dedica nada mais nada menos do que 3% de todo o Orçamento de Estado a ajudas financeiras aos clubes de futebol em especial aos dois principais clubes da capital: o Benfica e o Sporting.

Mas mais: como se não bastasse, Sócrates prepara-se ainda para dar uma ajuda de mais de um milhão de euros a um jornal que se dedica em exclusivo a publicitar e a elogiar as acções do Governo P.S.

Com tudo isto, Sócrates prepara-se ainda para aumentar ainda mais o défice, em vez de o diminuir.

Ora, isto é de uma gravidade extrema!

Quando em nome da contenção e do equilíbrio orçamental se retiram regalias a todas as classes profissionais, atribuir uma gigantesca ajuda de 3% de um Orçamento a dois clubes de futebol é um escândalo inadmissível.
Ainda mais quando todos os dias se exigem mais sacrifícios aos portugueses em nome desse malfadado equilíbrio orçamental, e verificamos que afinal, e sem qualquer pudor, se atribuem milhões para dois clubes de futebol pagarem ordenados milionários aos seus jogadores e gastarem à tripa-forra o dinheiro do erário público.
E ainda por cima temos de assistir à mais perfeita desonestidade política de um Governo que paga milhões em publicidade desnecessária a um jornal para este continue a lamber-lhe as botas diariamente.

Só resta uma esperança:
Que o presidente do PSD, Marques Mendes, manifeste veementemente a sua indignação e consiga pôr cobro a esta autêntica pouca-vergonha com todas as armas políticas que tem enquanto líder do maior partido da oposição.
E que o Presidente da República Cavaco Silva, com a coragem e a coerência políticas que lhe são conhecidas, faça uso em plena consciência dos seus poderes constitucionais e não defraude todos aqueles que o elegeram, vetando sem hesitar esta ignóbil Lei do Orçamento.

Pronto!
Calma!
Estava só a brincar!
É tudo mentira!

O que é verdade, é afinal o seguinte:

Numa altura em que se retiram regalias a todas as classes profissionais e se pedem mais e mais sacrifícios aos portugueses, Alberto João Jardim prepara-se para em pouco mais de quatro anos quase duplicar o défice da Região Autónoma da Madeira.
E, para que não haja problemas, todos os deputados eleitos pelas Regiões autónomas (aliás de todos os partidos), ameaçam votar contra o projecto da nova Lei das Finanças Regionais.

E para que não haja confusões, a lei de Orçamento da Região Autónoma da Madeira prevê uma verba de mais de 3% em ajudas aos dois principais clubes de futebol da Região: o Marítimo e o Nacional.
E para que não restem dúvidas está ainda prevista uma verba de mais de um milhão de euros para o «Notícias da Madeira» continuar todos os dias a bajular o presidente do Governo Regional e os seus muchachos.

Ao mesmo tempo, Alberto João Jardim «exige» o reforço das dotações do Orçamento Nacional para a Região Autónoma da Madeira, sob ameaças veladas de não se sabe bem o quê, feitas entre dois copos de “poncha” por um qualquer Jaime Ramos, enquanto condigno representante do povo da Madeira.
E em que o nobre povo da Madeira se revê plenamente.

Por isso, como é bom de ver, a tal notícia do «Escândalo!» era só a brincar.

E vai ficar tudo na mesma:
É que nem Marques Mendes se vai indignar nem Cavaco Silva vai vetar lei nenhuma...


sexta-feira, 28 de julho de 2006

 

Um problema de saúde pública



Como qualquer outro problema de saúde, a crença num Deus ou a prática de uma religião deveriam ser tratadas como uma doença.

É, de facto, uma epidemia, ou melhor, uma pandemia que paralisa as pessoas individualmente, e até as nações no seu conjunto, e as impede de agir de modo racional.
E constitui uma ameaça cada vez maior para quem pretende viver simplesmente como um homem livre.

Porque as pessoas que acreditam em Deus não se contentam em viver, elas próprias, de acordo com os cânones que imaginaram que lhes foram divinamente transmitidos e que lêem babados num livro que lhes transmite uma mensagem de morte, de raiva e de medo.

Não: pura e simplesmente desconhecem o significado da palavra tolerância, e exigem que todas as outras pessoas vivam da mesma forma.
E persistem em formatar as sociedades e todos os cidadãos, crentes ou não, de acordo com as leis de alguém que não passa, afinal, do produto da sua infantil imaginação.
E que, pobres coitados, não imaginam sequer que não existe!

Quem acredita em Deus nem sequer se apercebe de que não é livre.
Vive a sua vida com uma espécie de «câmara de vídeo» permanente atrás de si, que o vigia, que lhe espiolha os gestos e até mesmo os pensamentos.
Vive num medo constante.
E vive em constante remorso.
Vive diariamente em pânico de desagradar, de pecar, de sair dos eixos, de "cair em tentação".
E de pagar por isso na «vida eterna» que imagina que existe, sem sequer saber muito bem onde.

E, por isso, vive em constante troca de favores e em negociações abjectas com Deus, pedindo-lhe humildemente perdão de mãos respeitosamente postas e entre duas orações standardizadas, sem se aperceber da ridícula indignidade que isso representa para um ser humano.

Mas mais: quem acredita em Deus nunca saberá ao certo se é verdadeiramente uma pessoa honesta.
Porque se a honestidade é também «aquilo que as pessoas fazem quando ninguém está a ver», então um crente nunca saberá que não roubou, que não enganou, que não fez batota num jogo de cartas simplesmente por uma questão de ética ou de princípio pessoal, ou se não o fez porque algures "alguém o estava a ver" ou porque isso é "pecado".

E o "pecado" é uma coisa terrível: até o sexo é pecado!!!

E o que é mais triste, é que quem acredita em Deus nem sequer se apercebe de como tudo isto é tão ridículo, tão patético e tão pouco saudável.

Como é de facto muito pouco saudável passar a vida a pedinchar, a entoar cânticos ridículos, a auto-amesquinhar-se, a bajular e, das formas mais abjectas, a louvaminhar imbecilmente alguém que pura e simplesmente... não existe.

E tudo isto para quê?
Para endrominar Deus e comprar-lhe um lugar "no outro mundo"!

Contudo, ao longo da História dos Homens o que é verdade é que Deus tem servido de pretexto para a maior parte das guerras e como desculpa para os maiores e mais inimagináveis massacres.

Ao mesmo tempo, esse mesmo Deus, e ainda hoje assim é, tem servido de barreira e de persistente entrave ao desenvolvimento das ciências, das artes, da cultura e da civilização humanas.

Penso que já é tempo de se fazer uma verdadeira avaliação do papel que Deus desempenha nas sociedades modernas.
Porque Deus é, de facto, uma doença.
Uma doença com cura, mas uma doença.
Deus é um vírus.
Uma vírus que se espalha, que é contagioso, que infecta tudo, e corrói até a dignidade humana.

Por isso, mais ainda do que uma doença, Deus é, acima de tudo e cada vez mais, um problema de saúde pública!




(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)

quinta-feira, 27 de julho de 2006

 

Uma taxa na fogueira



Segundo noticia o «Público», a Provedoria de Justiça acusou a gestão da Câmara Municipal de Lisboa de favorecimento de um promotor imobiliário, com prejuízo do interesse público.

Ao que parece, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carmona Rodrigues, eleito nas listas do PSD, revogou um despacho de uma antiga vereadora, assim dispensando o tal promotor imobiliário de pagar a taxa de realização de infra-estruturas urbanísticas (TRIU).

Carmona Rodrigues, em entrevista à TSF, ainda tentou dizer que dorme descansado à noite.
E ainda afirmou que o mesmo promotor entregou dois imóveis à Câmara Municipal por conta da tal taxa.
Mas, ao que parece, esqueceu-se o Sr. Presidente de explicar porque motivo não tinham tais imóveis sido ainda avaliados e até que ponto o seu valor correspondia ao da taxa cujo pagamento foi perdoado.
Como se esqueceu também de explicar porque motivo tem a Câmara permitido a construção do tal empreendimento, sito na Avenida Infante Santo, em Lisboa, que nem sequer tem ainda licença de construção emitida e muito menos ainda paga.

Nem comentou o facto de o relatório da Provedoria de Justiça concluir pela prática de graves irregularidades repetidamente praticadas pelos responsáveis camarários, que poderão mesmo conduzir à perda do seu mandato.

Fiquemos, pois, a aguardar os desenvolvimentos deste caso.

Entretanto, com a coerência e a honestidade política que se lhe reconhecem, aguardam-se a todo o momento as mais rigorosas declarações do líder da oposição e do PSD, Marques Mendes sobre este delicado assunto.

Segundo fontes bem informadas, Marques Mendes poderá muito bem proferir as seguintes declarações:

«Se não houver uma explicação minuciosa e convincente pode parecer que estamos perante uma imoralidade, e aos olhos das pessoas, mesmo perante um escândalo».


quarta-feira, 26 de julho de 2006

 

A Bomba do Dia



A notícia bombástica do dia: Manuel Alegre recebe uma pensão de 3.219,95 euros.

A revelação bombástica do jornalismo português do dia: a pensão que Manuel Alegre recebe é relativa ao trabalho que durante três meses efectuou na RDP.

Claro que ninguém se preocupou em apurar a veracidade e a exactidão da notícia: o título era bom demais para ser desperdiçado!
Vai daí, sob a capa de uma espécie de combate político em que tudo vale, enlameia-se a honorabilidade de um cidadão só porque ele não encaixa lá muito bem nas cores políticas mais convenientes à linha editorial do jornal.

Para quê lembrar as pessoas que o cidadão tem mais de 70 anos de idade?
Para quê esclarecer que, como qualquer outra pessoa com essa idade que descontou mais de 30 anos para a Segurança Social, esse cidadão tem direito a uma reforma?
Para quê explicar que o tempo de trabalho na RDP, por pouco que seja, representa necessariamente uma parcela proporcional – e por isso exígua – da totalidade da sua pensão?
Para quê informar que, mesmo assim, Manuel Alegre só desfruta da pequena parcela da pensão a que tem direito que pode acumular com o seu salário de deputado?

Basta conhecer a pequenez e a mesquinhice típica de tanta gente, e a notícia espalha-se como pólvora.
E cola-se indelevelmente ao visado para o resto da vida.

E como cada país tem o jornalismo que merece, também cada país tem a oposição que merece.

Vai daí, uma vez mais a reboque dos tablóides, o nosso brilhante líder da oposição, Marques Mendes, veio exigir explicações sobre a reforma de Manuel Alegre, e não hesitou em declarar alto e bom som:
«Se não houver uma explicação minuciosa e convincente pode parecer que estamos perante uma imoralidade, e aos olhos das pessoas, mesmo perante um escândalo. Numa altura em que as pessoas estão preocupadas com as pensões e com a diminuição das pensões de reforma para o futuro».
Muito bem!

Por isso, com a coerência e a honestidade política que se reconhecem a Marques Mendes, aguardam-se a todo o momento as mais rigorosas declarações do líder do PSD sobre a reforma de Mira Amaral, que no tempo do Governo de que Marques Mendes fazia parte passou auferir a pensão de 18.156 euros mensais por dois anos de serviço na Caixa Geral de Depósitos.


 

Os Valores Cristãos



Como de costume, o brilhante comentário de Stephen Colbert a essa interessante mistura entre a política e os tais «valores cristãos».







Clicar na imagem para ver o vídeo ->



segunda-feira, 24 de julho de 2006

 

O Projecto de Lei



Noticia o «Expresso» deste fim de semana (não encontrei o link para a edição online) que, pela voz do seu secretário-geral Pedro Nuno Santos, a Juventude Socialista anunciou que logo a seguir ao referendo sobre a despenalização do aborto, que se prevê venha a ter lugar já no início de 2007, vai avançar logo de seguida com um projecto de lei para a legalização dos casamentos homossexuais.

Quando a iniciativa da Teresa e da Lena (as duas lésbicas que se apresentaram a casamento numa Conservatória do Registo Civil de Lisboa), marcou a agenda política nacional e monopolizou a informação portuguesa, a Juventude Socialista apressou-se a anunciar precisamente uma iniciativa legislativa semelhante.

Aliás, o mesmo sucedeu com o Bloco de Esquerda, que ora no próprio dia do casamento entregou ao Presidente da Assembleia da República um projecto de lei que visava a legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, ora veio mais tarde inquirir formalmente o Procurador Geral da República sobre a inqualificável posição tomada pelo Ministério Público nas alegações do recurso interposto pelas duas lésbicas contra o indeferimento do seu casamento civil.

Inquirição que, como é óbvio, mereceu o mais completo desprezo da Procuradoria Geral da República ao Bloco de Esquerda, e não teve qualquer resposta.
Desprezo esse com que o Bloco de Esquerda está, pelos vistos, muito conformado.

Mas, o que infelizmente seria de esperar aconteceu:
Acalmada a espuma mediática daqueles dias, e feito que estava o aproveitamento e a facturação política do caso, quer a J.S. quer o Bloco de Esquerda parecem ter-se envergonhado de andar a reboque de duas lésbicas anónimas, e desinteressaram-se do assunto.

Por isso, e para quem pensa que a solução ideal para este assunto é precisamente política e não judicial, este anúncio da Juventude Socialista, tantos meses depois, vem agora trazer nova esperança para a resolução de um problema que diz respeito a muitos mais portugueses do que aquilo que muita gente ousa pensar.

Esperemos então a iniciativa legislativa da Juventude Socialista já para o próximo ano de 2007.
A ver vamos!

A não ser que aqueles gajos porreiros que são os deputados da J.S. continuem a pensar que, apesar de terem sido tão eleitos como os outros, são assim uma espécie de deputados de segunda categoria, e voltem a levar umas palmatoadas e a ser metidos na linha pelos seus colegas mais velhos (com as mui católicas e piedosas, as inefáveis Maria do Rosário Carneiro e Teresa Venda à frente), e sejam todos obrigados a meter a viola no saco.

É que não seria a primeira vez...


sexta-feira, 21 de julho de 2006

 

O Veto



O comentário ao recente veto do presidente norte-americano George W. Bush à lei do Senado que previa o aumento de fundos federais para a pesquisa científica de células estaminais.


Um comentário como só John Stewart podia fazer!

- Clicar na imagem para ver o vídeo ->

 

O Top 10 de George W. Bush


Eis os 10 melhores momentos do Presidente norte-americano George W. Bush segundo David Letterman.



 

Actualização



A propósito do post de aqui há uns dias com o título «O Porco», chegou ao conhecimento do «Random Precision» um pormenor adicional daquela bela história que ainda não tinha sido contado.

É que, de facto, o Sr. Luís tinha mesmo para estas coisas um feitio levado de um raio.
Vai daí, logo que o apanhou em flagrante virou-se para o tal professor e disse-lhe:

- Desculpa lá que te diga, pá, mas vais mesmo ter de levar um estalo!


quinta-feira, 20 de julho de 2006

 

O Divórcio Católico



Como toda a gente sabe, o casamento católico é indissolúvel.

Por isso, está completamente fora de questão que a Igreja Católica permita a dissolução por divórcio de um casamento celebrado canonicamente.

Ou seja, numa escala de valores, mesmo em casos comprovados de infelicidade conjugal, mesmo em casos, por exemplo, de extrema violência doméstica, a Igreja Católica dá mais importância ao sacramento religioso e continua impor o casamento para toda a vida.

É como se dissesse a uma mulher que é regularmente sovada pelo marido:
- Casaste-te pela Igreja? Pois olha, ninguém te mandou. Agora aguenta-te à bronca, continua a levar no focinho para o resto da tua vida, e bico calado que a mulher deve obediência ao homem.

Que muitas pessoas que se casaram pela Igreja, e que são católicas, acatem esta santo princípio, acho muito bem: isso, apesar de tudo, compete à sua liberdade individual.

O pior é quando a Igreja Católica faz valer a sua doutrina num determinado país, através de concordatas celebradas com piedosos governantes, e consegue impô-la à generalidade dos cidadãos, proibindo-lhes mesmo a dissolução civil de um casamento que tenha sido simultaneamente celebrado pela Igreja.
Era precisamente o que sucedia em Portugal até ao 25 de Abril.

Mas enganam-se os que pensam que isto fica por aqui.
Porque se todas as leis têm excepção, as leis de Deus não lhes podem ficar atrás.

Com efeito, se o casamento católico não pode ser dissolvido por divórcio, pode em vez disso ser... anulado.

E o raciocínio é extremamente curioso:
O casamento canónico pode ser anulado em dois casos distintos: quando houve simulação ou incapacidade de um dos cônjuges.

E, no Código de Direito Canónico, o cânone 1095 estabelece que são incapazes de contrair matrimónio:
1º os que carecem do uso suficiente de razão;
2º os que sofrem de defeito grave de discrição do juízo acerca dos direitos e deveres essenciais do matrimónio, que se devem dar e receber mutuamente;
3º os que por causas de natureza psíquica não podem assumir as obrigações essenciais do matrimónio.

Então, se o divórcio é proibido pela Igreja Católica, engendram-se umas desculpas esfarrapadas quaisquer, nem que seja um atestado médico falso a atestar uma virgindade há muito perdida, e então recorre-se à anulação do casamento.
É tudo a fingir, tudo a fazer de conta, claro, à boa maneira católica, mas toda a gente vive feliz e contente.

Mas atenção que isto não é para toda a gente.
Não!
Esta brilhante solução está reservada somente para aquelas pessoas que tenham umas massas jeitosas para lubrificar a máquina da justiça católica e para contratar um bom advogado especialista em direito canónico, e o problema está resolvido.

E pronto: o que Deus uniu, já pode ser separado!

E já se podem casar outra vez pela Igreja, e começar tudo de novo.

De tal forma que as autoridades eclesiásticas estão já preocupadas com o crescente número de pedidos de anulação de casamento por esse mundo fora.
Só no ano 2000 foram feitos 56.236 pedidos de anulação, sempre com os tais fundamentos em simulação ou incapacidade.

Por isso, cada vez que passarmos por uma Igreja e virmos um casamento católico a decorrer, é bom pensarmos no alto grau de probabilidade de que um dos cônjuges possa ser maluco ou em vez disso, quem sabe, que esteja ali a fingir...


terça-feira, 18 de julho de 2006

 

O Casamento Católico



Durante todo este tempo que tem durado o processo do casamento entre duas pessoas do mesmo sexo, tenho ouvido, como é absolutamente normal, as mais díspares opiniões, quer contra quer a favor, seja do ponto de vista técnico jurídico, seja de uma perspectiva estritamente pessoal.

Mas o que mais me tem surpreendido é a frequência com que ouço, e leio até publicados em jornais, argumentos do tipo:
«Eu até acho que as pessoas deviam viver a sua vida como muito bem entendem, mas como sou católico não posso concordar com o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo».
Ou:
«O casamento homossexual é uma coisa contra-natura e vai contra as leis de Deus».
Ou ainda:
«Permitir o casamento homossexual viola a "tradição judaico-cristã" do povo português».

Como é óbvio, este tipo de argumentação encheu-me de curiosidade.
Resolvi então procurar saber em que medida o catolicismo não permite que duas pessoas do mesmo sexo celebrem um mero contrato de natureza estritamente civil, o que raio é isso da «tradição judaico-cristã», e também o que é que afinal a lei de Deus diz sobre o este assunto, que os católicos pretendem seguir e obedecer com tanta fé e tanto empenho.

Fui então consultar o livro sagrado e a fonte da palavra e da lei de Deus: a Bíblia.

Fiquei então a perceber melhor o que é que significa essa tal coisa de «tradição judaico-cristã» e qual o estilo e a filosofia de vida que os católicos afinal defendem.
E, finalmente, descobri também que se os católicos são ideologicamente contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo são, em contrapartida, a favor de outras coisas muitíssimo curiosas.

Então aqui vai:

O Casamento deve consistir na união entre um homem e uma ou mais mulheres (Génesis 29:17-28 e II Samuel 3:2-5);

O casamento não deve constituir impedimento ao direito de um homem tomar concubinas, mesmo para além da sua mulher ou mulheres (II Samuel 5:13; I Reis 11:3; II Crónicas 11:21);

Um casamento deve ser considerado válido somente se a mulher for virgem; se a mulher não for virgem para o casamento deverá ser condenada à morte e executada por apedrejamento (Deuteronómio 22:13-21);

O casamento entre pessoas de raças diferentes ou entre pessoas de credos distintos deve ser proibido (Génesis 24:3; Números 25:1-9; Esdras 9:12; Neemias 10:30);

Uma vez que o casamento deve ser celebrado para toda a vida, o divórcio deve ser completamente proibido (Deuteronómio 22:19; Marcos 10:9);

Se um homem casado morre sem ter deixado filhos, o seu irmão deve casar com a viúva. Se ele recusar a viúva do seu irmão ou se deliberadamente não lhe der filhos, deverá ser humilhado em público, pagar uma multa e para além disso ser condenado à morte (Génesis 38:6-10; Deuteronómio 25:5-10);

Se uma mulher não encontrar na sua terra um homem que ache adequado para com ele se casar, deve embebedar o seu pai e ter relações sexuais com ele, podendo ainda juntar à festa as irmãs que também se queiram divertir (Génesis 19:31-36).


Em suma:
Se é esta a lei e a palavra do Deus em que baseiam a sua filosofia de vida e o suporte da tal «tradição judaico-cristã», então os malandros dos católicos devem andar por aí a fazer belas coisas às escondidas...


segunda-feira, 17 de julho de 2006

 

O Engano



Noticia o «Expresso» que o PSD e o CDS, precisamente os partidos que tão entusiasticamente apoiaram a eleição do Presidente da República Cavaco Silva, estão tudo menos contentes com o seu desempenho.

Se dúvidas houvesse, nenhumas restariam agora, depois do recente editorial do “Povo Livre” que acusou o Presidente da República de ser «complacente com o Governo».
Curiosamente sem falar sequer de Marques Mendes a tal propósito.

Mas foi a recente decisão de Cavaco Silva de promulgar a “Lei da Procriação Medicamente Assistida” que levantou uma onda de indignação e de protestos entre os eleitos do CDS, que agora procuram à pressa os apoios necessários para, em desespero de causa, pedir a fiscalização sucessiva daquela lei ao Tribunal Constitucional, quer entre os deputados do PSD mais conservadores (Rui Gomes da Silva é um deles), quer mesmo até entre as próprias hostes do PS, onde as inefáveis Maria do Rosário Carneiro e Teresa Venda lá piedosamente continuam, sem se aperceberem que talvez estejam na bancada errada.

Sobre este assunto, o presidente do CDS, Ribeiro e Castro, disse mesmo que estava «desapontado» com Cavaco Silva.
E, no mesmo sentido, António Pires de Lima confessou há dias à TSF que sinceramente «não esperava» esta decisão de Cavaco Silva, e que «se tinha enganado a seu respeito».

E eu, pelo meu lado, também não esperava que Cavaco Silva promulgasse a lei.
Confesso que também eu me enganei!

Pois é!
Quando um candidato a Presidente da República está tão confiante que as pessoas votarão nele de olhos fechados, e por isso se apresenta às eleições sem sequer dizer o que pensa sobre os assuntos mais polémicos e delicados de uma sociedade, é precisamente isso que acontece quando é finalmente eleito:

Toda a gente se engana!...


domingo, 16 de julho de 2006

 

O Porco



O Sr. Luís era uma pessoa pacata.

Não era de se calar, não. Gostava de dizer o que lhe ia na alma, mas sempre dando a cara por aquilo que dizia, e exibindo com orgulho a liberdade de o dizer.

E responsabilizando-se por isso.

Nas horas vagas o Sr. Luís resolveu dedicar-se a um passatempo sem dúvida insólito: criar um porco.

Então, um belo dia, estava já o porco bem gordo e anafado, resolveu matá-lo, já se antevendo a saborear as febras e as belas costeletas do fundo grelhadas no carvão, sem ninguém a chateá-lo.
Lá matou o bicho e deixou a carcaça pendurada no quintal, para no dia seguinte a desmanchar.

Só que no dia seguinte a tragédia aconteceu: tinham-lhe roubado o porco!

E foi então que o Sr. Luís jurou a si próprio que havia de apanhar o facínora, a besta imunda que lhe tinha roubado o porco.

Ele bem desconfiava de um vizinho dali ao pé.
Apesar de ser professor de profissão (passe a expressão), o tal vizinho, toda a gente sabia, não deixava de ser um cobardolas como outro qualquer, e assim era conhecido entre os seus pares, sem a frontalidade de assumir o que fazia.
Em vez de o desafiar para uma troca honesta de entrecosto, o que o Sr. Luís teria provavelmente aceite de bom grado, refugiara-se num anonimato canalha e cobarde, atrás do qual pensava que, qual heterónimo de um qualquer Fernando Pessoa dos subúrbios, podia fazer aquilo que muito bem lhe desse na real gana.

O vizinho sempre tinha sido, de facto, o seu principal suspeito: como era professor, tinha tempo de sobra para aquelas aventuras nocturnas e, como morava ali ao pé, sabia com toda a certeza do seu novo passatempo.
E além do mais aquela barbicha de chibo e a reputação a condizer nunca o tinham enganado.

E então o Sr. Luís gizou um plano:
Em vez de chamar a polícia ou de tomar atitudes mais drásticas, pura e simplesmente não disse a rigorosamente ninguém que lhe tinham roubado o porco. Calou-se muito bem calado e esperou pacientemente.

De vez em quando lembrava-se do raio do porco e de quem lho tinha roubado, e pensava: hás de cá vir comer à mão, grande cabrão!
(A reputação do vizinho precedia-o insistentemente).

Meu dito meu feito!
Nem sequer tinha passado muito tempo quando se cruzou por mero acaso na rua com o tal vizinho, que nem morava muito longe.
Foi então que o vizinho, que apesar de ser professor era, pelos vistos, burro que nem uma bota da tropa, perguntou com aquele sorriso boçal das pessoas simples ao Sr. Luís:
- Então Sr. Luís, já sabe quem lhe roubou o porco?
Ao que o Sr. Luís lhe retorquiu imediatamente:
- Não, não sabia!!!



Ao que parece a história não acaba aqui.
Nem sei bem se o bom do professor, agora apanhado em flagrante em companhia da sua alvar imbecilidade, teve tempo de fazer contas com o Sr. Luís e apagar o assunto definitivamente e de uma vez por todas da sua memória.

É que, segundo consta, o Sr. Luís tinha para estas coisas um mau feitio levado de um raio...


sábado, 15 de julho de 2006

 

A União Faz A Força



Noticia o «Público» que os principais líderes religiosos de Jerusalém uma vez mais se uniram para tentar impedir a realização de uma parada homossexual programada para aquela cidade.

Num raro exemplo do que deve ser o verdadeiro ecumenismo, católicos, judeus e muçulmanos juntaram os seus piedosos esforços para impedir aquilo a que chamaram «esta desgraça na cidade sagrada».





Assim, todos os católicos, muçulmanos e judeus deste mundo estão de parabéns e devem estar, de facto, muito felizes e orgulhosos.

Porque ao fim de milhares de anos de ferozes e sangrentas guerras entre todas elas, em que os seus fiéis se chacinaram impiedosamente uns aos outros em nome de Deus, as três principais religiões do mundo estão agora unidas, após terem finalmente encontrado aquilo que efectivamente as une e têm em comum:
A intolerância e o preconceito!


quinta-feira, 13 de julho de 2006

 

A Rebaldaria



Segundo o «Correio da Manhã», dois terços dos alunos do 9º ano tiveram nota negativa nos exames de matemática, obtendo apenas um ou dois valores na escala de um a cinco.
Mas mais: não obstante uma ligeira melhoria em relação ao ano passado, ainda assim 13% das notas negativas não ultrapassaram sequer a nota mais baixa de 1 valor.

Perante estes resultados, que colocam Portugal entre os países do mundo com piores notas a matemática, a «Associação de Professores de Matemática» considerou que “a melhoria é positiva, mas apenas um caminho” e ainda que “a satisfação total só com 100% de positivas”.

Pois é.
Mas há muitas coisas que a «Associação de Professores de Matemática», os professores deste país e os iluminados sindicatos que os representam parecem desconhecer.
Desconhecem (ou muito corporativamente fazem de conta que desconhecem), e a título de mero exemplo, que a professora de matemática do ano passado da adolescente cá de casa faltava uma em cada três aulas.
Obviamente sem quaisquer consequências.

E que nas aulas que dava não explicava a ponta de um corno, conversava sobre banalidades a maior parte do tempo (que isto de dar aulas dá muito trabalho), e abespinhava-se mesmo com qualquer aluno que ousasse colocar-lhe uma dúvida.

Por isso, deve ter sido uma mera e singela coincidência que, de todos os alunos desta professora, foi precisamente a adolescente cá de casa a única que teve nota positiva no exame, e também por coincidência a única aluna que teve explicações particulares de matemática durante todo o ano.
À razão de 250 euros por mês!

Como é bom de ver, esta ilustre professora continuou este ano a dar aulas de matemática na mesma escola.
As faltas que deu durante todo o ano deverão ser provavelmente perdoadas se a professora teve o cuidado de «meter atestado», ou simplesmente ser descontadas nas férias.
Mas como a professora não é parva com toda a certeza, deve ter marcado as suas férias para Julho e Setembro, até porque em Agosto o Conselho Executivo dispensa particularmente a malta toda de ir à escola. E assim está tudo bem.

E durante este ano que agora acabou, esta iluminada profissional do ensino lá continuou a faltar impunemente às aulas, e a persistir no seu brilhante método pedagógico de ensino com o mínimo de esforço.

E lá continuou a criar mais uma geração de analfabetos em matemática, sem que ninguém se preocupe em avaliar o seu desempenho e a dizer-lhe que deveria era ir lavar escadas em vez de estar a dar aulas.

E assim, lá vai continuar a criar impunemente mais uma geração de analfabetos no próximo ano lectivo, e depois deste por mais alguns longos e felizes anos.

Sim, porque como já tem muitos anos de ensino, esta brilhante professora já tem alvará oficial para criar analfabetos:
É «efectiva» lá na escola!...


 

Cartas ao Director



De um assíduo leitor do «Random Precision», e a propósito do post «Como um ateu vê um crente», recebi o texto que não resisto a publicar.

Como também não resisto a fazer um pequeno e singelo comentário ao seu autor:
- Benza-te Deus, pá!

Pronto.
Feito o comentário, então aqui vai o copy/paste:

«Senhor Doutor LGRodrigues:

Permita-me Vosselência que me insurja contra o teor do post intitulado “Como um ateu vê um crente”.
Ter o topete (com a devida vénia ao ex-ministro DFA) de descrever como vê um ateu determinada realidade já é uma ousadia de monta, pois que o Mundo está cheio de pessoas que partilham tal qualidade mas que apresentam fortes divergências entre si. Um Ateu, como Vosselência bem sabe, é uma criatura que não acredita na existência de Deus. E não mais do que isso.
Vosselência não é mais ateu do que eu por se sentir no direito (e possivelmente até na obrigação) de passar a vida a insultar os crentes (num deus maior ou menor, para o caso tanto faz) e a tentar provar que Deus não existe – embora, como também sabe muito bem, seja difícil estender tal afirmação a outros deuses e deusas que por aí pululam.
Em certa perspectiva, poderá mesmo afirmar-se que Vosselência também é um crente. E ir mesmo mais longe: Vosselência é um crente evangelizador pois, qual testemunha de Jeová armada com bonitas brochuras contendo na capa leões confraternizando com antílopes ao lado de famílias inteiras cultivando gardénias - mas sem miscenização das raças – sente, como bem se comprova no post em referência, uma irreprimível necessidade de espalhar o seu credo pelos quatro ventos e de convencer essa “pobre gente” que crê a abandonar o(s) seu(s) deus(es).

Conheço-o o suficiente para saber que Vosselência é sincero e crê efectivamente nessa sua cruzada, crê na inexistência de Deus (quanto às deusas e em especial às santas milagreiras já teria mais dificuldade em fundamentar convicção análoga) e sente uma compulsão em espalhar essa sua “verdade” e fazer com que todos os outros creiam nela.
Ou seja: Vosselência é, de facto, um Crente! E um fiel devoto do Deus dos Ateus. Converteu-se num verdadeiro missionário do ateísmo.
O que o converte numa criatura apenas ligeiramente diferente de um qualquer taliban, não fora a escassa barba que só por vezes ostenta. (Um destes dias ainda descobrimos que tem uma avença com o espírito santo, mas isso são outras questões)
Muitos e variados argumentos poderiam ser aduzidos em sustentação desta minha teoria (e não crença, repare bem). Desde logo, essa tentação totalitária de presumir que pode falar por todos os ateus. E saber o que eles pensam e sentem.
Fique Vosselência sabendo que para mim, que sou ateu, o “Diário Ateísta” contém um acervo de disparates em tudo comparável aos diferentes livros sagrados das várias religiões, sendo que estes têm a seu favor o facto de terem sido escritos há muitos anos e poderem invocar por isso a conveniência de uma interpretação actualizada. E que me desagrada profundamente a atitude que transparece nos textos dos escribas de tal blog, patenteando a ousadia de se assumirem como porta-vozes dos ateus e levando-me por vezes a supor que seriam capazes de cremar vivos a todos aqueles que se negassem a reconhecer a inexistência de Deus.
Que eu saiba ninguém lhes conferiu mandato para tanto.
E tal atitude constitui, por outro lado, um radicalismo em tudo semelhante ao fanatismo religioso.
Oh meu deus! (com a devida vénia a um grande causídico da nossa praça).
Entre acreditar num Deus ou ser apóstolo de um Não-Deus, venha o diabo e escolha.
E, sobretudo, fale por si, Homem de deus! Se quiser escrever “como é que este Ateu Militante vê os crentes”, eu ainda lhe poderia dar uma cabeçada no peito (foi um gesto misericordioso que vi recentemente fazer da televisão e que me inspirou) por solidariedade para com pessoas que muito estimo e que acreditam em religiões várias, sentindo-me no direito de tirar desforço dos insultos sobranceiros que lhes dirige.
Embora, como é meu costume, estou convicto de que transigiria, relevando mais essa atitude intolerante de Vosselência.
Agora pretender que é assim que a generalidade dos ateus (entre os quais me conto) vê aqueles que Acreditam é uma veleidade insustentável, só comparável a pretender que um abichanado X5 merece ser considerado um jipe de verdade (esta é para a tt).

Permita-me, por outro lado, que comungue consigo numa outra perplexidade. Ao longo da minha vida tenho encontrado pessoas incontestavelmente inteligentes, muitas delas ligadas às ciências experimentais, que são profundamente religiosas. Nunca até hoje consegui compreender tal fenómeno. Não consigo descortinar o que leva tais criaturas a acreditarem num Ente Supremo, que transcende a ciência, o conhecimento e a razão. Mas não tenho dúvidas de que estou em presença de pessoas informadas, cultas e superiormente inteligentes.
Só posso imaginar que elas encarem o “mistério da Santíssima Trindade” com a mesma atitude que eu adopto perante o mistério que é para mim a sua “Fé”. O que lhe autoriza a si, Senhor Doutor, a tremenda ousadia de pensar e o topete (com a devida vénia ao ex-ministro DFA) de sustentar publicamente que os crentes são débeis mentais?
Seguramente o mesmo tipo de atitude que leva outras franjas da sociedade a condenarem tudo aquilo que não compreendem. A mim, que sou ateu, não me passaria pela cabeça atribuir a responsabilidade pelo facto de hoje chover ou não chover a um qualquer S. Pedro ou à respectiva Entidade Patronal.
Mas longe de mim condenar e chamar mentecapto a quem peça a Santa Bárbara que nos proteja dos raios que não nos partam. Mas também não me passaria pela cabeça estabelecer conexões entre a Nossa Senhora de Fátima ou a Igreja que a criou e os desvarios de um qualquer cabo, seja ele de esquadra ou da GNR (cfr. post de há alguns dias atrás).
De resto, mesmo acreditando piamente (deverá dizer-se agora “beneditamente”?) em que Deus não existe, Vosselência acredita em milagres. Já presenciou vários, pois há fenómenos que só por milagre se podem explicar. Cuido que Vosselência em pessoa já realizou mesmo alguns milagres. Vosselência tem clientes (e não só) que lhe atribuem qualidades milagreiras e que ficam em transe ou de olhos arregalados com as suas habilidades processuais. E Vosselência o que faz quando lhe imputam a autoria desses milagres? Remete-os para o Código de Processo? Não! Fica-lhes com a fama, quando não também com o proveito.

E não se atreva a pedir-me exemplos!
O facto de Vosselência não conseguir compreender convicções alheias não lhe dá o direito de achincalhar quem as professa. Tal como Vosselência até podia não gostar de homosexuais (o que sei não ser o caso, em particular na sua vertente feminina), mas isso não lhe daria o direito de andar pela ruas mimoseando-os com epítetos ofensivos (atitude da qual eu confesso saber que Vosselência seria incapaz).
A mim pouco me importa que Alá seja grande ou pequeno. Como ateu que sou, limito-me a não acreditar que ele exista. O que eu não gosto é de profetas. Sejam eles de Alá, de Jeová, de Deus ou dos Ateus. Escrevam eles na Bíblia, no Corão, ou no Diário Ateísta.
Porque, invariavelmente, os profetas são intolerantes para todos os que não crêem nas suas profecias. Mas ainda me chateia mais que façam profecias em meu nome.
Eu sou ateu e não me riu da fé dos que a têm - e muito menos dos que têm fé. E prefiro mil vezes (bem, talvez só 900...) um crente tolerante e que não me chame estúpido por entender que a existência de deus se mete pelos olhos adentro de qualquer pessoa, do que um profeta do Ateísmo convencido de que todos os crentes são curiosidades antropológicas.

Tenho Fé de que tu vais publicar este texto no teu blog. Para tentar mostrar - em vão - que afinal não és assim tão intolerante.

Já te chamei “palhaço” hoje? Desculpa mas tinha que ser... ».


Pronto!

Feito o copy/paste, só mais um pequeno comentário:

- Ouve lá, pá: alguma vez me ouviste chamar débeis mentais aos adoradores do Deus «Cágau» ou de qualquer outro Deus?

Eu até considero muitos crentes que conheço uns gajos porreiros.

Gente simples, sim. Mas uns gajos porreiros!


quarta-feira, 12 de julho de 2006

 

Shine On You Crazy Diamond!


















Roger Keith Barrett
(6 de Janeiro de 1946 – 7 de Julho de 2006)



Morreu Syd Barrett.

Embora anunciada somente alguns dias depois, a sua morte ocorreu já no passado dia 7 de Julho, aparentemente de complicações decorrentes da diabetes de que sofria há muitos anos.

Syd Barrett ficará para sempre na história da música moderna, e do rock and roll em particular.
No ano de 1965 Syd Barrett formou com Roger Waters uma das mais famosas e espectaculares bandas de todos os tempos: os Pink Floyd.

O nome da banda foi inspirado em dois músicos americanos de “blues” que ambos admiravam: Pink Anderson e Floyd Council.
A formação original dos Pink Floyd incluía ainda Richard William Wright (Rick Wright) e Nicholas Berkeley Mason (Nick Mason).

Syd Barrett tinha 60 anos e vivia pacificamente na sua casa de Cambridgeshire, em Inglaterra, de onde raramente saía, dedicando-se unicamente a escrever e a pintar, vivendo confortavelmente dos direitos musicais que os restantes membros dos Pink Floyd sempre lhe asseguraram.

Músico exímio e um compositor e letrista absolutamente notável, Syd Barrett começou já em 1968 a demonstrar sinais de completa deterioração física e mental, a que não seria estranho o abuso do mais variado tipo de drogas e químicos.
Em palco era frequente esquecer-se das músicas, das letras e muitas vezes até onde estava, permanecendo subitamente apático, para desespero dos outros membros do grupo.

Para o substituir, principalmente nos espectáculos ao vivo, foi então contactado David Gilmour, um amigo de infância de Syd Barrett e Roger Waters.
O segundo álbum dos Pink Floyd, «A Saucerfull of Secrets», inclui já músicas de Gilmour e Barrett, embora nenhuma onde ambos tenham tocado juntos.

Mas o estado mental de Syd Barrett foi-se agravando progressivamente.
Até que, ainda em 1968, os outros membros da banda, que iam a caminho de um concerto, pura e simplesmente... não o foram buscar.

A influência marcante de Syd Barrett na música dos Pink Floyd, e principalmente na peculiar tendência psicadélica dos primeiros anos, pode ser vista no vídeo «The Pink Floyd – London ’66 – ‘67».

(Clicar na foto para ver o vídeo) ->


A loucura de Syd Barrett foi de sobremaneira marcante na discografia dos Pink Floyd, com especial relevo nos álbuns “Atom Heart Mother”, “The Dark Side of the Moon” e muito especialmente em “Wish You Were Here”, onde se destaca a música «Shine On You Crazy Diamond», que lhe é inteiramente dedicada e de onde consta a expressão «Random Precision», que dá o título a este Blog.

A propósito de Syd Barrett, David Gilmour contou-me uma vez um acontecimento deveras chocante:

Em 1975 os Pink Floyd encontravam-se em estúdio para gravar o álbum «Wish You Were Here».
No dia em que procediam à gravação da música «Shine On You Crazy Diamond», David Gilmour foi surpreendido com a presença no estúdio de um homem andrajosamente vestido e com um aspecto miserável, que se encontrava a assistir aos trabalhos.
Sendo a admissão de pessoas estranhas às gravações rigorosamente interdita, de imediato David Gilmour inquiriu o engenheiro de som, Brian Humphries, sob a presença no estúdio de tão insólita personagem.
Foi então que Humphries lhe disse que aquele homem sentado a um canto, de ar apático e pobremente vestido, e que ele tinha convidado para assistir à gravação da música que lhe era dedicada, era precisamente Syd Barrett.

Mas que nenhum dos elementos da banda tinha sequer reconhecido...


terça-feira, 11 de julho de 2006

 

Como um ateu vê um crente



Acho que uma pessoa que crê em Deus, chame-lhe Jesus Cristo, Alá ou qualquer outra coisa parecida, ou o sinta somente como uma «força superior inexplicável», não se apercebe verdadeiramente do que pensa um ateu sobre a crença numa qualquer divindade.

Ainda há poucos dias um piedoso seguidor das virtudes místicas do Papa Bento XVI me declarou, e muito convictamente, que não acreditava que nenhum ser humano poderia, por natureza, ser verdadeira e inteiramente ateu.
Vai para o Céu, coitado...

Mas talvez o consiga explicar através desta singela história:

Durante a 2ª Guerra Mundial os americanos ocuparam uma pequena ilha do Pacífico para ali instalarem uma base militar de abastecimentos.
A ilha era habitada por uma pequena tribo que vivia praticamente ainda na Idade da Pedra.

Mal chegaram, os americanos construíram uma pista de aviação, uma torre de controle, alojamentos, e instalaram toda a parafernália de equipamentos que é possível imaginar.
Como é de calcular, os habitantes da ilha conheceram com os americanos uma inesperada época de prosperidade e abundância.

Quando terminou a guerra, os americanos embalaram a trouxa e foram-se embora.
E lá terminou a Coca-cola e a abundância para aquela gente, novamente isolada do resto do mundo.

Meia dúzia de anos mais tarde, alguém regressou à ilha e constatou uma realidade curiosíssima:

Os nativos da ilha tinham desenvolvido um culto religioso a um Deus a que chamavam «Cágau» uma corruptela de «Cargo» ou carga, em inglês.
Mantinham a velha pista de aviação limpa, construíram uma espécie de torre de controle em canas e tinham criado uma casta de sacerdotes e uma complexa mitologia que explicava que um dia haveriam de descer dos céus uns messias, uns deuses de pele branca que viriam novamente trazer grande prosperidade ao povo.
E diariamente realizavam cerimónias religiosas conduzidas por sacerdotes na pista de aviação, em que apelavam à descida à terra daqueles entes misteriosos, supremos e omnipotentes.

Posto isto,
Que pensa desta história um qualquer cristão, muçulmano ou judeu?
Que pensará desta história, por exemplo, um católico?

Presumo, em primeiro lugar, que não lhe passará pela cabeça proibir os nativos da ilha de praticarem livremente o seu culto ao Deus «Cágau».
Aqui há uns anos atava-os a uns postes e deitava-lhes fogo. Mas (Deus o livre), agora não.
Quanto muito, pensará em enviar para o local meia dúzia de missionários para os evangelizar, mas isso é outra história.

Decerto olhará para aqueles nativos, antes de mais, simplesmente como uma interessante curiosidade antropológica.
Decerto os olhará, não com sobranceria ou superioridade, mas com um sensação mista de “diferenciação” intelectual e pessoal pelo curioso primitivismo daquela “pobre gente” da Idade da Pedra.
Terá até alguma pena pelo desperdício de tempo gasto com o culto a um Deus inexistente, como é o Deus «Cágau» (que toda a gente sabe que não existe).
E terá também pena pela certeza absoluta da inutilidade dos ritos religiosos que, por mais sentidos que sejam, que por muita fé e fervor que revelem por parte dos «fiéis», não trarão nunca de volta a prosperidade dos "deuses" de pele branca.
E terá também assim uma espécie, e sem qualquer conotação pejorativa, de sensação de quase... ridículo.
Estou até convencido que quando pensa na infantilidade daquela “pobre gente” esboça até... um sorriso...


Pois bem:
Façam-me o favor de considerar que é precisamente assim que um ateu vê um cristão, um muçulmano, um judeu ou qualquer outro teísta, tenha ou não a sua fé uma designação atribuída, chame-lhe ou não «uma força superior inexplicável».

Vê-o exactamente, não com superioridade ou sobranceria, mas como uma mera e simples curiosidade antropológica, tão primitiva que é até oriunda da Idade da Pedra.
Vê os ritos e os cultos que o crente pratica como um lamentável desperdício de tempo e tem até pena daquela "pobre gente" pela infantilidade e completa inutilidade dessa prática.
Lamenta até as vidas humanas completamente perdidas e desperdiçadas em oração, em contemplação, em auto-amesquinhamento e em louvor do "Senhor" quando, de facto, não há "Senhor", não há Deus «Cágau» nenhum.

É assim, tão simples como isso!

Nem sequer são necessárias quaisquer considerações filosóficas ou explicações muito elaboradas.
Como nem sequer são precisas teologias, teosofias, teodiceias e outras coisas começadas por “teo”, ao fim e ao cabo completamente inúteis, porque sob a capa de grandes lucubrações intelectuais, e até com alguma graça, diga-se, procuram unicamente justificar e explicar a existência de algo... que não existe.

Simplesmente porque o ateu vê a religião que o crente pratica, a "fé" que orgulhosamente exibe e os ensinamentos de Deus que apregoa, assim como uma espécie (e sem qualquer conotação pejorativa) de sensação de quase... ridículo.

E quando pensa nisso, e na infantilidade daquela "pobre gente", o ateu muitas vezes esboça até um sorriso.

Mas não por muito tempo:
Porque pensar nos milhões de pessoas que ao longo dos tempos foram mortas em nome desse patético conto de fadas, desse culto ao nada, dessa mera curiosidade antropológica, inútil, mesmo infantil e até um pouco ridícula, não dá vontade de rir realmente nenhuma...




(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)


segunda-feira, 10 de julho de 2006

 

Os Últimos dos Primeiros



Finalmente terminou o campeonato do mundo de futebol!

Com a consolação de ao menos não ter sido a França a ganhar (como toda a gente sabe, eu ontem desde pequenino que sempre fui italiano), acabámos por ficar em quarto lugar, classificação honrosa mas com o sabor amargo de pensarmos que, com mais um bocadinho poderíamos, quem sabe, ter chegado um pouco mais longe.

E o quarto lugar num campeonato do mundo, como toda a gente sabe, é o último lugar dos primeiros, coisa bem melhor que... o primeiro dos últimos.

Contudo, acho que se não fosse a persistente teimosia de Scolari (por exemplo ao insistir num Pauleta sempre desinspirado em vez de dar oportunidade a Nuno Gomes), talvez o resultado com a França pudesse ter sido outro.
Mas como criticar a teimosia de Scolari, se foi precisamente essa mesma teimosia que levou a selecção nacional portuguesa a ombrear com as melhores selecções de todos os continentes e a ser olhada com respeito não só em todo o mundo, mas principalmente em Portugal?

Como criticar um homem, ainda por cima um estrangeiro, que pôs bandeiras de Portugal por todas as janelas do país e devolveu a dignidade à selecção nacional?

Como é possível não desejar que Scolari continue à frente dos destinos da selecção nacional por muitos mais anos, se foi ele precisamente quem nos fez esquecer tudo o que se passou no campeonato do mundo na Coreia, e nos faz parecer a imunda vergonha de Saltillo não mais do que um longínquo pesadelo?

Por muito que nos saiba a pouco, um quarto lugar num campeonato do mundo de futebol é um excelente e honroso resultado.
Até porque essa própria sensação de nos “saber a pouco”, bem vistas as coisas, também a devemos a Luís Felipe Scolari!

Tudo por muito que isso custe a alguns dos seus detractores, principalmente os que não se conformam com a sua decisão de não convocar Vítor Baía ou Quaresma, e num bairrismo bacoco, consideraram isso uma ofensa pessoal e elegeram Scolari como uma espécie de ódio de estimação.

Ora, se a medíocre prestação de Quaresma no Campeonato da Europa de sub-21 acabou por dar razão a Scolari, talvez fosse melhor entender os verdadeiros motivos que o têm levado a preterir sistematicamente Vítor Baía das suas convocatórias, por muitos considerado um dos melhores, se não o melhor guarda-redes português.

Pois bem.
Imagine o caro leitor deste Blog a seguinte situação:

Imagine que estamos de regresso ao último campeonato do mundo.
Imagine que na véspera do jogo com a Coreia (que, recordo, perdemos, e onde sucedeu aquele brilhante desempenho de João Pinto a dar um murro no árbitro), o seleccionador nacional António Oliveira comunica aos jogadores a sua decisão quanto à composição da equipa que vai defrontar a Coreia no dia seguinte.
Imagine que António Oliveira comunica aos jogadores que quem vai jogar na baliza de Portugal é Ricardo, a quem quer dar uma oportunidade de jogar no mundial, e não, como habitualmente, Vítor Baía.
Imagine que Ricardo telefona para casa e comunica, entusiasmado e orgulhoso, a notícia aos seus pais.
Imagine que Vítor Baía não se conforma com esta decisão e telefona a Pinto da Costa a fazer queixa.
Imagine que Pinto da Costa telefona imediatamente a António Oliveira a dar-lhe uma descasca pela sua decisão, e lhe ordena aos gritos que coloque Vítor Baía a jogar.

Imagine agora que, no dia seguinte, a poucos minutos do início da partida, na normal tensão do balneário que antecede estes jogos, Luís Figo descobre sal grosso e uns pós desconhecidos nas suas botas e atira com elas, furioso, para um canto, gritando que não alinha com feitiços, superstições e merdas desse género.
Imagine que é então que António Oliveira, sem quaisquer explicações, comunica aos jogadores a sua decisão de tornar a colocar Vítor Baía na baliza, deixando Ricardo e todos os restantes jogadores completamente boquiabertos.

Imagine agora o caro leitor que é o seleccionador nacional português e vem a saber desta história e do infame telefonema de Vítor Baía a Pinto da Costa.
Já imaginou?

Então pergunto-lhe:
- Tornava a convocar Vítor Baía para a selecção?

Eu não!


 

Já comprei!





Já em DVD - «PULSE», dos Pink Floyd.


sexta-feira, 7 de julho de 2006

 

Se non è vero... è bene trovato!






quarta-feira, 5 de julho de 2006

 

Ingénuos









segunda-feira, 3 de julho de 2006

 

A Evolução Inteligente






 

A Palavra de Honra



Conheço-o há muitos anos, e ele é, sem dúvida, um dos polícias mais conhecidos aqui da zona.

Não o via há já uns tempos quando o encontrei ontem no café.
Estava já com um bronze invejável, de calções, chinelas de dedo e imperial na mão.
Perguntei-lhe naturalmente:
- Já de férias?

Sorriu, deu um generoso golo na imperial e respondeu-me:
- Melhor do que isso, estou de baixa! Desde Março!
- De baixa? – Estranhei – Há tanto tempo? Está doente?
- Não! – respondeu como se eu fosse de outro planeta
E continuou a explicar-me como seu eu fosse uma criança de quatro anos:
- É que estou farto daquela gente. Como não me querem dar a reforma antecipada sem me cortar no ordenado, meti baixa.
- Meteu baixa, assim sem mais nem menos?
- Claro! Tenho um médico amigo que me arranjou uma dor aqui nas costas e pimba! Baixa com ele!

Portugal é de facto um país muito curioso com os seus costumes e tradições.
E uma das tradições mais interessantes é essa da baixa e do atestado médico.

Como toda a gente sabe, para se obter um atestado médico não é preciso sequer estar doente.
Mas isso é só um pequeno pormenor sem qualquer interesse.

Um atestado médico é um declaração feita por um médico, que é um português diferente dos outros pois recebeu poderes esotéricos para emitir documentos que, apesar de falarem da honra e da palavra de honra de quem os faz, toda a gente sabe que a maior parte das vezes são falsos.
Mas em que todo o país anda a fingir que acredita.

O atestado médico, depois de assinado e certificado pela palavra de honra do senhor doutor, reveste-se de características mágicas, pois torna o seu beneficiário apto a livrar-se das mais diversas agruras desta vida, quer sejam decorrentes de faltas ao trabalho ou a um julgamento, quer sirvam simplesmente para um estudante poder ir à segunda chamada do exame.

Às vezes um arguido falta ao julgamento ou a assiduidade e a produtividade dos trabalhadores podem estar a pôr mesmo em risco a sobrevivência de uma empresa e todos os seus postos de trabalho.
Mas o que se há de fazer? Todos eles «meteram atestado»!

Todos eles foram ao médico e pediram:
- Senhor doutor, preciso de faltar ao julgamento, o meu chefe anda a pôr-me a cabeça em água, fáxavor passe-me um atestado.
E o senhor doutor passa, claro! E ainda pergunta:
- Quantos dias precisa?
- Quinze já chegam senhor doutor!

Outras vezes, o trabalhador mete baixas sucessivas, mês após mês, até a entidade patronal não saber se o substitui se conta com ele.
E quando já tem a cabeça em água e lhe telefona para casa a perguntar, o trabalhador calmamente diz-lhe:
- Dê-me «os meus direitos» que eu vou-me embora. Se não quiser, eu por mim continuo a meter baixa.

Até há muito pouco tempo um Delegado de Saúde, muito pertinho daqui, passava atestados médicos para tudo e mais alguma coisa sem sequer ver as pessoas. Bastava deixar o bilhete de identidade com a empregada e ir lá buscar o atestado daí a umas horas. E pagar, claro! E não era nada barato, que o homem era o Delegado de Saúde, e tudo!

Quando comecei o estágio, uma das primeiras coisas que me ensinaram foi que para obter um atestado médico não havia nada mais simples: bastava ir ao senhor doutor que os passava em série dentro de um automóvel que lhe servia de consultório, e que diariamente estacionava em frente ao Tribunal da Boa-Hora.
Não fazia mais nada o dia todo, o bom do médico: só passava atestados médicos às pessoas que precisavam e que faziam bicha em frente à porta do lado do condutor, e que lá iam entrando e saindo do carro quando chegava a sua vez.

O atestado médico lá no fundo é a maior parte das vezes uma aldrabice, sim. E toda a gente sabe que é uma gigantesca aldrabice nacional.
Mas é uma aldrabice institucionalizada, e com isso não se brinca!

Embora toda a gente saiba que o atestado médico é muitas vezes falso, o que é verdade é que nada pode ser feito contra os seus poderes mágicos.
Como se de repente o que é falso tivesse misteriosa e inexoravelmente passado a ser verdadeiro, só porque está escrito num papel assinado e atestado pela palavra de honra de um médico.

Prova disso foi o recente escândalo dos 300 alunos que adoeceram todos ao mesmo tempo em Guimarães e não puderam ir às provas globais.
Toda a gente em Portugal sabia que não tinha havido epidemia nenhuma e que tudo aquilo era uma habilidade, a mesma aldrabice do costume, só que desta vez multiplicada por 300.
Mas como todos os alunos tinham os seus atestados médicos em ordem, o que lhes aconteceu a eles e aos médicos que lhos passaram?
Mas alguém tinha dúvidas?
Não aconteceu nada, claro está!

E toda a gente fala da assiduidade dos professores, e que os professores faltam muito.
Mas quando os professores faltam não metem atestado?
Então está tudo bem!

Por isso não é de estranhar que se há coisa que é característica dos portugueses é a sugestão amiga que não pode deixar de ser feita a alguém que desabafa connosco uma desavença qualquer com o patrão, com o encarregado ou simplesmente com o chefe lá da repartição:
- Mete um atestado, pá!

E lá vai o felizardo ao médico.
Ciente de que, se há alguma coisa certa neste mundo, é que virá de lá com toda a certeza munido do seu “salvo conduto”, com aquele aspecto sério e burocrático que lhe é conferido pela assinatura do médico e pela certificação de uma doença que nem é preciso saber qual é.

E que o médico solenemente atesta.
Atesta por sua honra, claro.
E com a honra de um médico toda a gente sabe que não se brinca!


sábado, 1 de julho de 2006

 

Marcar a diferença










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