sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

 

Que regime e que ideologia política defenderá verdadeiramente esta gente para Portugal?



Orlando Zapata Tamayo, um opositor à ditadura castrista, morreu no passado dia 23 de Fevereiro ao fim de 85 dias de greve de fome.
Cumpria nas prisões cubanas uma pena de prisão de 25 anos a que fora condenado por «desordem pública».

Orlando Zapata Tamayo, um corajoso combatente pela liberdade e pela democracia, morreu pelos seus ideais, vítima de uma ditadura feroz e anacrónica que ainda persiste em manter milhares de presos políticos e por delito de opinião nas macabras masmorras e nos campos de concentração que dos torcionários Raul e Fidel Castro.

No mundo inteiro, e Portugal não foi excepção, foi inegável o choque e a consternação com a barbaridade das circunstâncias da morte de Orlando Zapata Tamayo e foi a veemente condenação do feroz regime ditatorial cubano.

Mas, infelizmente, nem toda a gente pensa assim.

De facto, muita gente há em Portugal que pensa que em Cuba se vive num verdadeiro paraíso terrestre.
E há um partido político que se identifica claramente com o regime e com a filosofia política vigentes em Cuba: o Partido Comunista Português.

O P.C.P. é um partido político que se recusa a condenar a violência no Tibete para não afrontar a sua identidade ideológica com o regime chinês, que subscreve o narcoterrorismo das FARC, que vota contra um voto de pesar pela morte de Alexander Soljenitsin, um dos principais denunciadores das políticas torcionárias de Estaline, e que lamenta até a detenção de Radovan Karadzic.

E quanto a Cuba, o Partido Comunista Português refere-se à tenebrosa tirania dos irmãos Castro como merecendo «a activa solidariedade dos comunistas portugueses», louvando «o exemplo revolucionário de Cuba socialista» e defendendo que «a solidariedade com Cuba socialista é um imperativo de todas as forças revolucionárias e amantes da paz».

Enfim, o Partido Comunista Português é um partido político que considera que «importante realidade do quadro internacional, nomeadamente pelo seu papel de resistência à "nova ordem" imperialista, são os países que definem como orientação e objectivo a construção duma sociedade socialista – Cuba, China, Vietname, Laos e R.D.P. da Coreia».

Que regime e que ideologia política defenderá verdadeiramente esta gente para Portugal?...


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

 

Isto é que está uma crise…





terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

 

Um novo estudo relaciona a religião com comportamentos imorais






segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

 

A Parada dos Palhaços



No sábado passado um pouco mais de duas mil pessoas desceram a Avenida da Liberdade para se manifestarem contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, recentemente aprovado na Assembleia da República.

O «Portugal Diário», que curiosamente dá a esta notícia o título de “uma manifestação pela liberdade de opção”, quando tudo levaria a supor que se trata precisamente do contrário, relata-nos as opiniões de alguns dos manifestantes, que declararam pomposamente, por exemplo, que daqui a dez anos com esta lei “já não há Portugal” ou que com ela “vai aumentar o número de homossexuais”, o que bem demonstra a mais completa e abstrusa imbecilidade que pelos vistos os unia.

E lá foi descendo a avenida, toda aquela gente, exibindo para quem se quisesse impressionar as mais diversas inutilidades simbolizando a cretinice que ali os trazia, como sejam bíblias, terços, imagens de nossa senhora ou o D. Duarte de Bragança.

E foi assim que estes ilustres cidadãos decidiram exercer a liberdade de expressão que a Constituição Portuguesa lhes consagra, manifestando-se pateticamente contra uma lei maioritariamente aprovada na Assembleia da República, todos eles unidos pela causa comum da sua repugnante homofobia e pelo profundo ódio aos outros seres humanos: freiras e padres, militantes partidários famosos, militantes da extrema-direita mais xenófoba e racista e, pelo que me foi dado ver e pelos símbolos exibidos, todos, mas todos eles… católicos.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

 

Citação do Dia [7]



Eu nem sequer sou tão ateísta como sou anti-teísta.
Eu não só afirmo que todas as religiões são versões das mesmas inverdades, como mantenho que a influência das igrejas e o efeito das crenças religiosas é positivamente nefasto.
Analisando as falsas afirmações da religião, eu não desejo, como parece acontecer com alguns materialistas sentimentais, que elas fossem verdadeiras.
Eu não invejo os crentes na sua fé. Conforta-me antes pensar que toda essa história é um sinistro conto de fadas; a vida seria miserável se aquilo que os crentes afirmam fosse efectivamente verdadeiro.

- Christopher Hitchens


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

 

O Livro Mais Roubado



Segundo o «New York Times» nestes tempos de crise mundial em que assistimos a um recrudescimento até da pequena criminalidade e de roubos nos estabelecimentos comerciais, constatou-se que o livro mais roubado nas livrarias é… a Bíblia!

Mas se virmos bem, esta notícia faz todo o sentido.
Por um lado, bem demonstra o relativismo moral típico das religiões e a criteriosa selecção que os crentes fazem daquilo que lhes interessa seguir ou não na sua doutrina.
Pelos vistos o «Não Roubar» é uma das coisas que não lhes interessa seguir.

Por outro lado, significa que há cada vez mais pessoas que acham que se há inutilidades que não merecem que nelas gastemos o nosso dinheiro, a Bíblia é precisamente uma delas.


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

 

Uma campanha conscientemente organizada





Se alguma coisa é certa nesta confusão, é que assistimos a uma campanha de desinformação conscientemente organizada.
Uma campanha política orquestrada por quem sabe muito bem o que está a fazer.

Uma campanha levada a cabo por meia dúzia de órgãos de informação com a cumplicidade de alguns jornalistas com um muito peculiar sentido da ética profissional, obviamente coordenada com partidos da oposição e aproveitada pelos seus líderes, e com acesso a órgãos de justiça que não têm pejo em violar o segredo de justiça de processos judiciais.

Tudo muito bem pensado e criteriosamente organizado.

O sucesso desta campanha está no populismo de quem se aproveita de tudo isto – seja um aproveitamento partidário, seja do aumento das tiragens de alguns jornais.

Está também nas pessoas que se despojaram de todo o sentido crítico e engolem como papalvos tudo o que lhes põem à frente para comer.

Está, ainda, nas pessoas que, no ataque ignóbil que esta campanha constitui para o Estado de Direito, não se apercebem do perigoso precedente que tudo isto representa.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

 

Em defesa de Manuela Moura Guedes



Hoje vi a Manuela Moura Guedes na televisão a reclamar dos ataques à liberdade de expressão e a dizer que há censura em Portugal.
Mas ao olhar para aquela cara na televisão, pela primeira vez a entendi e me apercebi do autêntico drama humano que assola aquela pobre alma.

Acredito, de facto, que a Manuela Moura Guedes pensa sinceramente que era uma jornalista de renome, uma repórter de investigação de elevada competência, feroz e incómoda para os poderosos, mas que foi vítima de um ignóbil silenciamento por parte dos poderes instituídos que ela vinha afrontando com o seu telejornal das sextas-feiras.
A pobre coitada pensa mesmo que é uma vítima de um Governo tenebroso que a silenciou, ainda para mais quando tinha material explosivo novinho em folha para derreter uma vez mais o primeiro-ministro.

E é aqui que eu tenho pena da Manuela Moura Guedes.

Na verdade, enquanto ela pensar isso, não tem de se confrontar e sofrer com o choque da dura realidade: os verdadeiros motivos por que levou uma corrida em osso da sua entidade patronal.
Enquanto pensar que é uma vítima dos famigerados poderes instituídos, Manuela Moura Guedes continua a ter-se a si própria em alta conta. Vejam só: era uma jornalista tão competente e tão importante que tiveram até de ser os mais elevados poderes do Estado a despedi-la.
De facto, é bom de ver o raciocínio: quanto mais altos e poderosos são os poderes que silenciam um jornalista, mais incómodo e, por isso, mais competente é esse jornalista. A lógica é imbatível.

E o que é facto é que enquanto assim pensar, Manuela Moura Guedes não tem de se confrontar com a sua própria incompetência e lá vai vivendo numa doce ilusão, como que embriagada num sonho patético de grandeza mas que, se virmos bem, é até profundamente triste.

Já esquecida, por exemplo, da sova que levou em directo no seu próprio telejornal do Bastonário da Ordem dos Advogados, Manuela Moura Guedes continua iludida e embriagada na sua própria mediocridade, sem sequer se aperceber que foi despedida pura e simplesmente porque era uma profissional sem vergonha, sem o mínimo sentido da objectividade e de uma incompetência até constrangedora.

Estar ali a apresentar um telejornal num prime-time televisivo era até um insulto para toda a classe dos jornalistas. Manuela Moura Guedes era parcial, tendenciosa, e de uma estupidez tão gritante que até fazia pena.
Era até má locutora!

Foi até uma atitude misericordiosa da parte dos proprietários da TVI terem-na libertado daquele fardo pesado demais para ela.
É por isso que nos seus delírios de grandeza Manuela Moura Guedes não hesita em culpar o Governo e o primeiro-ministro de um despedimento a que são alheios (e que até os prejudicou politicamente) e que é da única e exclusiva responsabilidade de quem lhe paga o ordenado ao fim do mês.

Se há censura em Portugal, o que é que a Manuela Moura Guedes tem para nos contar que não consegue dizer-nos?...

Mas uma coisa mais: na sua patológica mania da perseguição, Manuela Moura Guedes acusa o Governo de a ter silenciado e de ter instituído a censura em Portugal, assim evitando a divulgação de notícias fresquinhas que tinha na manga contra o primeiro-ministro José Sócrates.
A pobre coitada nem se apercebe da ignomínia do insulto que isto representa para os jornalistas da TVI que ela deixou para trás, e que, assim, insinua que ou são incompetentes ou são vendidos ao Governo.

É que aquele telejornal continua a ir para o ar, mesmo sem ela, todas as sextas-feiras.
O que é que impede os jornalistas que agora o apresentam de divulgar as tais notícias chocantes que a Manuela Moura Guedes tinha prontinhas para fritar o primeiro-ministro?


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

 

Liberdade de Expressão





segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

 

Estou é farto disto!



Parece que é uma crise mundial, ou lá o que é.
O desemprego vai nos dois dígitos e o défice para lá caminha.
É uma crise a seguir à outra, ou então é o raio da mesma crise que não há meio de passar.

Já não sei se o Governo sabe o que está a fazer ou se está tudo a ir por água abaixo e se o Sócrates e o Teixeira dos Santos já nem controlam isto.
Parece que sim, que ainda vão sabendo o que estão a fazer.
Será?
É que se não sabem, o que é facto é que não imagino quem os substitua: a Ferreira Leite como primeira-ministra e o Bagão Félix como ministro das Finanças? Longe vá o agoiro!

As oposições de esquerda e de direita unem-se para governarem bem juntinhas a partir da Assembleia da República e humilham o Governo, que por sua vez ameaça ir-se embora. Mas parece que não querem que o Governo se vá embora…
Entretanto promovem tanto a divulgação de escutas ilegais em segredo de justiça, que ao que parece já conhecem com antecedência, como leis aberrantes que discriminam os cidadãos.

E de repente parece que ficou tudo doido. Os telejornais abrem com fugas ao segredo de justiça patrocinadas pelos próprios órgãos judiciais e ninguém faz nada. E toda a gente acha normal este autêntico deboche.

José Sócrates foi eleito o bombo da festa pelos partidos da oposição e pelos jornalistas, e de repente temos o primeiro-ministro de Portugal sob a permanente suspeita de que é um aldrabão.
Ora o acusam de receber dinheiro de um freeport qualquer, ou de ser escutado a atentar contra o Estado de Direito, ou de chamar nomes às pessoas.

As acusações são injectadas na opinião pública em bocadinhos criteriosos, só o suficiente para manter o primeiro-ministro a cozer em lume brando.
É uma espécie de suicídio nacional dos que não vêm o que isso fragiliza e diminui aquele em quem confiámos a tarefa de nos resolver os problemas do país.

O passatempo nacional é agora achincalhar o Sócrates, e de repetente todos se acham muito poderosos por poderem julgar o primeiro-ministro na praça pública e acusá-lo das maiores filhadaputices que se lêem nas primeiras páginas dos jornais.
É um ódio obsessivo, que tenho dúvidas que não seja patológico.
É o orgasmo supremo do portuguesinho de merda, invejoso e medíocre. O mesmo passatempo preferido do mesquinho ranhoso que se baba quando risca a porta do carro novo do vizinho que não tem nada que ter um carro melhor que o seu.

Qualquer bardamerda se sente muito importante por ter a oportunidade de arrastar pela lama o nome de alguém que vingou na vida. E ainda por cima com o bónus de ser o primeiro-ministro.
Nem sei como é que o homem ainda atura esta merda e não decide simplesmente mandar lixar isto tudo e não se vai embora e bate com a porta no focinho de todos estes lorpas.

Os jornais publicam escutas judiciais em segredo de justiça que dizem que provam que o primeiro-ministro quer derrubar o Estado de Direito.
A coisa vai a tal ponto que já ninguém acha estranho que se publiquem escutas de conversas privadas e em segredo de justiça, e já ninguém acha ridículas as acusações, por mais absurdas e infundamentadas que sejam, desde que o visado seja o primeiro-ministro.
O hábito de brincar com a honorabilidade do primeiro-ministro de Portugal já abafou até o sentido crítico de toda esta gente.
E o jornalismo de caixote de lixo vende como pãezinhos quentes.

E a cada nova indignidade, lá aparecem nas câmaras de televisão os mesmos idiotas do costume, a chafurdar na porcaria e a rebolarem-se na lama com aquela cara de gozo alvar a exigir «um cabal esclarecimento», sem sequer se aperceberem que um dia podem ser os próximos os escolhidos para o festim mediático.

Nunca se prova nada. Mas basta repetir tudo muitas vezes, outra e outra vez, conscientemente, desonestamente e de má fé, injectando de vez em quando coisas novas, e cá temos a famosa “asfixia democrática” e aqui d’el rei que o primeiro-ministro “tem um padrão” de atacar a liberdade de expressão.
Deve atacar muito mal, porque toda a gente diz o que lhe apetece e todos os dias lhe achincalham o nome na praça pública e nunca vi ninguém lixar-se por causa disso. Mas enfim…

O que é verdade é que anda tudo ao contrário.
De repente parece que alguém decidiu envenenar-me e intoxicar-me nos jornais, nas revistas, nas televisões, nas rádios, sempre com as mesmas notícias, as mesmas acusações, as mesmas calúnias, o mesmo nojo, o mesmo vómito.
A mesma falta de ética, a mesma falta de vergonha, a mesma indecência.
E é disto que agora se faz a política em Portugal!

Esta merda perdeu a piada.
Já nem compro jornais, nem vejo telejornais nem vejo debates, nem coisa nenhuma.
Estou farto disto.
Farto!
Puta que os pariu a todos!


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

 

Os Seguidores da Igreja de Cristo



Neil Beagley tinha 16 anos de idade quando morreu, em Junho de 2008.
Sofria de complicações de um bloqueio congénito do tracto urinário, que inundou o seu organismo com ureia, o que lhe causou uma paragem renal, um ataque cardíaco e finalmente a morte.

Acontece que a vida de Neil Beagley poderia ter sido salva se os seus pais não se tivessem recusado a procurar tratamento médico.
De facto, Jeff e Marci Beagley, do estado norte-americano do Oregon, estão agora a ser julgados por homicídio por negligência, acusados de terem ignorado os sucessivos avisos de que o seu filho corria risco de vida e necessitava de cuidados médicos urgentes, antes tendo preferido “tratá-lo” com orações.

E a coisa parece ser de família, pois no mesmo ano a sua neta Raylene Worthington, de 15 meses de idade, morreu de pneumonia e infecção sanguínea que os seus pais resolveram igualmente tratar com orações.

Jeff and Marci Beagley são membros da «Igreja dos Seguidores de Cristo», que se tem celebrizado por rejeitarem a medicina e os cuidados médicos em favor das orações e da cura pela fé.
Na defesa que apresentaram em Tribunal, alegaram que o filho já tinha completado os 16 anos de idade e que, por isso, já tinha todo o direito de se recusar a receber os cuidados médicos de que necessitava e que tinha sido ele próprio a escolher livremente a cura pela fé e pela oração.

É confrangedor este argumento, tantas vezes repetido, de que é a própria vítima da irracionalidade da fé quem se submete de livre vontade à indignidade que essa mesma fé tantas vezes significa.

E é triste a quantidade de pessoas que ainda submetem não só as suas vidas como principalmente as vidas dos seus filhos à irracionalidade da fé e das religiões, e as submetem desde crianças à mais ignóbil lavagem ao cérebro e as condicionam na sua mais básica liberdade de determinação.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

 

O Sumo Patife



Talvez como preparativo da sua visita à Grã-Bretanha prevista para Setembro deste ano, o Papa Bento XVI decidiu criticar a legislação que já desde Janeiro de 2009 proíbe as agências de adopção – incluindo as agências católicas – de praticarem qualquer forma de discriminação em razão da orientação sexual.

Diz ele assim:
«A Grã-Bretanha é justamente conhecida pelo seu firme empenho na igualdade de oportunidades. Mas algumas leis aprovadas com esse objectivo têm como efeito impor limitações injustas à liberdade das comunidades religiosas actuarem de acordo com as suas crenças».
«Nalguns aspectos essas leis violam a lei natural sobre a qual a igualdade de todos os seres humanos está baseada e pela qual é garantida».

Fazendo jus ao seu papel de homófobo-supremo da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, Ratzinger acha que as leis que promovem a igualdade entre os seres humanos afrontam a liberdade de culto e, por isso, defende que as Igrejas devem poder discriminar os cidadãos de acordo com a sua moralidade religiosa.

É pois este energúmeno que vem a Portugal em Maio próximo, e que vai ser recebido pelo Presidente da República com honras de Chefe de Estado.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

 

A Pior das Burcas



Ainda não tinham começado as reuniões daquele dia, quando ela tocou à porta do escritório.
Pediu-me que a recebesse com muita urgência, ao mesmo tempo que dizia que não tinha dinheiro ali com ela, e que me pagaria mais tarde.

Era mulher ainda jovem, talvez 35 anos de idade e até bastante bonita.
Foi directa ao assunto: queria tratar do divórcio.
Baixou os olhos envergonhada e mostrou-me uma imensa nódoa negra na cara que a maquilhagem mal disfarçava.
As lágrimas corriam-lhe silenciosamente pela cara e contou-me:
Casada há quase 10 anos, um filho de 6 anos e um marido com uns ciúmes doentios e de uma inusitada violência.
Não havia um único dia do seu casamento em que não tivesse apanhado. Até na noite de núpcias, porque tinha dançado com não sem quem no copo-d’água.

Trabalhar estava fora de questão. Tinha até medo de falar no assunto.
Tinha cada minuto do seu dia rigorosamente controlado, e até aquela ida ao meu escritório naquele dia era o risco de mais uma sova.

Poderia eu ajudá-la?
Bem: o processo de divórcio era até fácil. E a nova lei, por muito que o nosso Presidente não goste dela, até lhe abria algumas oportunidades.

O pior era o resto.
Sair de casa? Nem pensar. Ir para onde?
Os pais já tinham morrido.
Não podia impor a sua presença na casa de uma amiga. Nem tinha amigas para isso. O marido tinha-se encarregado de lhe limitar as amizades ao longo dos anos.

E o filho? Não podia abandonar o filho!
Abriu muito os olhos: preferia continuar a ser sovada todos os dias a abandonar o filho!

Lembrei-me desta história a propósito da polémica da burca e da sua proibição.
E do argumento de que tal proibição constituía um atentado à liberdade religiosa e até à liberdade de determinação da mulher que pura e simplesmente escolha usar uma burca.

Uma mulher que escolha usar uma burca?
Mas será que essa escolha existe mesmo?
Mas que diferença existe entre uma mulher que usa uma burca e aquela mulher que estava ali à minha frente a chorar, uma mulher prisioneira na sua própria casa, refém do seu amor pelo filho e do seu próprio sustento?

Será que o uso da burca é um exercício de liberdade individual, cultural e religiosa, ou é precisamente um símbolo da privação dessas mesmas liberdades?
Não será que a burca é, antes de mais, um símbolo da opressão da mulher e da sua resignação a um estado de submissão de que não pode libertar-se?
Será que a proibição da burca não significaria o fim de um instrumento de aviltamento da dignidade e da liberdade da mulher?

Que escolha têm verdadeiramente estas duas mulheres?
Será que uma mulher que usa burca tem a mesma liberdade de não a usar que aquela mulher à minha frente tem a liberdade de fazer as malas, pegar no filho e sair de casa e abandonar aquele energúmeno?
Será que essa escolha existe mesmo?

Ela nem sequer o sabia: mas a mulher que ali estava à minha frente usava, de facto, uma autêntica burca…


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