sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

 

Um bom ano de 2007!



O «Random Precision» vai passar o fim-do-ano fora, lá fora.
Por isso, cá fica com alguma antecedência o tradicional post de fim-de-ano, e que (com algumas diferenças) publico pela terceira vez.
Cá vai:

Stanley Milgram, professor de psicologia social na Universidade de Yale, levou a cabo em 1974 uma experiência com o objectivo de estudar a «Obediência à Autoridade»:

Entre pessoas comuns (operários, estudantes, secretárias, empresários, lojistas, etc.) foram recrutados voluntários a quem foi atribuído o papel de “professores”.
Esses “professores” foram instruídos a aplicar choques eléctricos de intensidade crescente (de 15 a 450 Volts) num outro indivíduo (que estava amarrado a uma cadeira com eléctrodos numa sala adjacente), e que era designado "estudante".
Os choques seriam administrados todas as vezes que o "estudante" errava uma resposta a um questionário previamente determinado.

Milgram tinha explicado aos "professores" recrutados que o objecto daquele estudo residia precisamente nos efeitos da punição sobre a memória e sobre aprendizagem.
Como é óbvio, o "professor" não sabia que o "estudante" da pesquisa era afinal um actor, que convincentemente interpretava e manifestava desconforto e dor a cada aumento da potência dos “choques eléctricos” que lhe eram pretensamente infligidos.

O resultado da experiência foi absolutamente perturbador e mais “chocante” que qualquer voltagem aplicada:
Nada menos do que 65% das pessoas envolvidas – os "professores" – chegaram mesmo, e sem qualquer hesitação, a administrar ao "estudante", sob ordens do cientista (que na experiência representava a “autoridade”) os choques mais potentes, dolorosos (de 450 volts) e claramente identificados como perigosos e... potencialmente mortais!

E todos os "professores" - mas todos eles - administraram pelo menos 300 Volts!
Em muitos casos houve "professores" que a determinada altura da aplicação dos choques eléctricos se preocuparam com o bem-estar do "estudante" e até perguntaram ao cientista quem se responsabilizaria caso algum dano viesse a ocorrer.
Mas quando o cientista os descansou, afiançando-lhes que assumiria toda e qualquer responsabilidade do que acontecesse e os encorajou a continuar, todos os "professores" persistiram na aplicação dos choques com as voltagens mais elevadas, mesmo enquanto ouviam gritos de dor e súplicas dos “estudantes” para que os parassem.

É esta “obediência”, firmada em primeiro lugar na ausência de um consciência individual, e que é cega a qualquer noção de ética, censura moral ou até à mais básica dignidade humana, que leva às barbaridades praticadas pelos Homens.
Seja em nome de uma ideologia, de uma política e até mesmo de uma religião;
Seja nas ditaduras latino americanas, na União Soviética, na Alemanha de Hitler, ou noutro país qualquer, até mesmo em Portugal.

E que conduz ao Holocausto ou aos Gulags e ao extermínio de milhões de pessoas.
Que conduz a uma Inquisição ou a um terrorismo frio e sem rosto que torturam e matam em nome de Deus.
As ditaduras podem ser instituídas por uma “Junta Militar”, por uma religião, ou por um qualquer punhado de indivíduos que assumiram num país uma tal concentração de poderes que lhes permite a prática impune de tudo o que lhes vem à ideia.
Mas só é possível – sejamos claros – com a complacência, com a cumplicidade de toda a estrutura da sociedade.
De todos nós!

De facto, Stanley Milgram repetiu a sua famosa experiência em mais de uma dezena de outros países, de todos os continentes, sempre com resultados absolutamente idênticos.
Do Chile de Pinochet ao Cambodja de Pol Pot, passando pelo Portugal da Pide e dos Tribunais Plenários, será talvez a “obediência” e a "falta de sentido crítico" que explicam porque motivo pessoas comuns, colocadas em determinadas circunstâncias e sob a influência de uma autoridade – política, ideológica ou religiosa – que nem sequer se lembram de questionar (e que antes procuram impor aos outros), sejam capazes de cometer os crimes mais hediondos.

E é até irónico que virtudes humanas como a lealdade, o sacrifício próprio, a disciplina ou o amor ao próximo, e que tanto valorizamos, sejam as mesmas propriedades que criam máquinas destrutivas de guerra, corrupção e morte, e ligam homens e mulheres a sistemas, ideologias, religiões e princípios perversos.

Ideologias e princípios, quer políticos quer religiosos que são, ainda hoje, cega, acrítica e incondicionalmente apoiados e seguidos por tantas e tantas pessoas.


É a este planeta, habitado pelos humanos, que desejo um bom ano de 2007!


quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

 

Coerência? Não, obrigado!



«Abortar como opção quando já bate um coração? Não, obrigada»
- Cartaz publicitário da campanha do «não» no referendo sobre o aborto.


«O ensino tradicional da Igreja não exclui, depois de comprovadas cabalmente a identidade e a responsabilidade de culpado, o recurso à pena de morte»
- Parágrafo 2.267 do «Catecismo da Igreja Católica».


quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

 

You don’t know the power of the Dark Side!





sábado, 23 de dezembro de 2006

 

Algumas citações no Solstício de Inverno



«God? He doesn’t exist, the bastard!»
- Bertrand Russell

«Acreditar em Deus é desprezar todos os mistérios do mundo e todos os desafios à nossa inteligência.
Simplesmente desliga-se a mente e diz-se: foi Deus que o fez».
- Carl Sagan

«A fé é a grande escapatória, a grande desculpa para se fugir à necessidade de pensar e avaliar as evidências. A fé é acreditar “apesar de”, e até talvez precisamente “por causa”, da falta de provas».
- Richard Dawkins

«Com ou sem religião teremos sempre boas pessoas a fazer coisas boas e más pessoas a fazer coisas más. Mas para termos boas pessoas a fazer coisas más, para isso é preciso uma religião».
- Steven Weinberg

«Eu sou contra a religião porque ela nos ensina a contentarmo-nos com a nossa incompreensão do mundo»
- Richard Dawkins

«Eu não tento imaginar um Deus pessoal; para mim é suficiente contemplar em admiração a estrutura do mundo na medida em que os nossos inadequados sentidos nos permitirem apreciá-lo».
- Albert Einstein

«A ideia de Deus sempre me foi completamente estranha e parece-me até muito ingénua»
- Albert Einstein

«Talvez haja fadas no fundo do jardim. Não há provas disso, mas como também não podemos provar que não as há, deveremos então ser agnósticos no que respeita a fadas?».
- Richard Dawkins

«Se por Deus se entender um conjunto de leis da física que regem o Universo, então esse Deus claramente existe. Mas esse Deus é emocionalmente insatisfatório... não faz muito sentido rezar à lei da gravidade»
- Carl Sagan

«Penso que na discussão dos problemas da natureza deveríamos começar não pelas escrituras, mas antes pelas experiências e demonstrações».
- Galileo Galilei

«Penso que nenhuma forma de religião deveria ser ensinada nas escolas públicas»
- Thomas Edison

«A maior parte das pessoas pensa que é preciso Deus para explicar a existência do mundo e especialmente a existência da vida. Estão erradas, embora a educação que recebem não lhes permita aperceberem-se disso».
- Richard Dawkins

«Eu não acredito na imortalidade do homem; e considero que a ética é um conceito exclusivamente humano e não diz respeito nem depende de qualquer autoridade sobrenatural».
- Albert Einstein

«Se as pessoas são boas porque temem uma punição ou porque esperam uma recompensa, então somos todos, de facto, uma espécie lamentável».
- Albert Einstein

«Sempre que a moralidade se basear na teologia, sempre que a razão estiver dependente de uma autoridade divina, as coisas mais imorais, injustas e infames podem ser estabelecidas e justificadas»
- Ludwig Feuerbach

«Quando as pessoas não aprendem os instrumentos para julgarem por si próprias e seguem unicamente as suas esperanças, então estão semeadas as sementes para a sua manipulação política»
- Stephen Jay Gould

«Se foi algum espírito que criou o Universo, então foi um espírito muito malévolo».
- Quentin Smith

«Qualquer das grandes religiões da actualidade é, no sentido Darwiniano, uma vencedora na sua luta entre as culturas; de facto, nenhuma delas floresceu por tolerar as suas rivais».
- Edward O. Wilson.

«Podemos citar centenas de referências que demonstram que o Deus bíblico é um tirano sanguinário; mas basta alguém encontrar duas ou três passagens que digam que Deus é amor, para nos acusarem de fazer citações fora do contexto».
- Dan Barker

«Pensar que Deus vai acorrer em auxílio de alguém e vai violar as leis da natureza para o ajudar, é o cúmulo da arrogância»
- Dan Barker

«Acredito que muitas pessoas se afastam daquilo que está estabelecido como religião simplesmente pelas suas implicações morais e intelectuais»
- John Dewey

«É às religiões que se deve esta inédita disparidade entre o homem e a mulher»
- Taslima Nasrin

«Toda a concepção de Deus é derivada dos antigos despotismos orientais. É uma concepção inteiramente indigna de homens livres. Quando vemos na igreja pessoas a menosprezarem-se a si próprias e a dizerem que são miseráveis pecadores e tudo o mais, isso parece-me desprezível e indigno de criaturas humanas que se respeitem».
- Bertrand Russell

«A ideia de Deus é um conceito antropológico que eu não consigo levar a sério»
- Albert Einstein

«Eu não preciso do conceito de Deus para explicar o mundo em que vivo»
- Salman Rushdie

«Vocês acreditam num livro que fala de feiticeiros, bruxas, demónios, paus que se transformam em cobras, animais que falam, comida que cai do céu, pessoas que caminham sobre a água e toda a espécie de histórias mágicas absurdas e primitivas e depois vêm dizer que nós é que precisamos de ajuda?»
- Dan Barker

«O que eu fiz foi demonstrar que é possível determinar pelas leis da ciência o modo como o Universo começou. Neste caso, não é necessário apelar a Deus para explicar como começou o Universo. Se isto não prova que Deus não existe, pelo menos prova que Deus não é preciso para nada»
- Stephen Hawking

«Um assunção generalizada, e que a maior parte das pessoas da nossa sociedade aceitam, é que a fé religiosa é especialmente vulnerável à ofensa e deve ser protegida por uma parede de respeito incrivelmente espessa; um respeito tal, que é até diferente daquele que as pessoas devem umas às outras».
- Richard Dawkins

«Acusam-me repetidamente de blasfémia. Mas o que é facto é que eu não posso ser condenado por um crime contra uma vítima inexistente».
- Dan Barker

«O ridículo é a única arma que pode ser usada contra proposições ininteligíveis»
- Thomas Jefferson

«Deus não passa de uma infame chantagem de medo, de um amesquinhamento ignóbil e indigno de quem tem um mínimo de respeito por si próprio, não é mais do que uma desculpa cobarde de quem não tem a coragem e a dignidade suficientes para olhar a morte de frente e para, antes, aproveitar e desfrutar em liberdade cada um dos momentos que a vida nos proporciona».
- LGR




(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

 

Uma sugestão



O site noticioso israelita «Haaretz.com» relata que Miriam Shear, uma judia americana de visita a Israel, foi repetidamente agredida por um grupo de fanáticos judeus ultra-ortodoxos, simplesmente porque, quando viajava num autocarro em Jerusalém, se recusou a dar o seu lugar a um homem e a mudar-se para os bancos traseiros.

Foi no dia 1 de Dezembro de 1955 que Rosa Parks que viajava num autocarro em Montgomery, no estado norte-americano do Alabama, se recusou a levantar-se para dar o seu lugar a um passageiro de raça branca.
O seu posterior julgamento e condenação por «desobediência civil» despoletou o mais famoso movimento de resistência contra a segregação racial nos Estados Unidos, liderado por Martin Luther King, Jr.

Mais de 50 anos depois desta atitude incrivelmente corajosa de Rosa Parks, estão pelos vistos muito longe de, por esse mundo fora, terminarem estes abjectos comportamentos de segregação e discriminação e esta imbecil persistência na intolerância e no preconceito, sejam em razão da raça, da religião, do sexo ou até da orientação sexual.

Por isso, não posso deixar de me dirigir às deputadas Maria do Rosário Carneiro e Teresa Venda, da bancada do PS, que têm conseguido evitar o agendamento por parte da maioria parlamentar de que fazem parte de qualquer forma de solução legislativa que reconheça efectivamente os direitos dos homossexuais e possibilite o seu casamento, e a quem faço uma pequena sugestão:
- Que dêem um pulinho até Jerusalém, que façam uma viagem de autocarro e se sentem nos bancos da frente.
Talvez aprendam qualquer coisa!...




(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)


quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

 

Carl Sagan



Carl Sagan
(9 de Novembro de 1934 – 20 de Dezembro de 1996)




Neste dia em que se comemora o 10º aniversário da morte de Carl Sagan, o «Random Precision» associa-se à iniciativa de fans e bloggers de todo o mundo de celebrar em conjunto esta efeméride, publicitada no site da Cornell University, onde Sagan foi professor e também no blog «Celebrating Sagan», criado especialmente para esse efeito.

Carl Sagan, o famoso astrónomo e biólogo norte-americano, desde 1960 doutorado pela Universidade de Chigago, e um dos mais brilhantes ateus de todos os tempos, dedicou-se principalmente à pesquisa e divulgação da astronomia e é frequentemente considerado o maior divulgador da ciência que o mundo já conheceu.

Na «Wikipedia» pode encontrar-se uma biografia bastante completa de Carl Sagan.

Sagan deixou-nos obras de excelência na divulgação científica, entre as quais figuram clássicos como «Cosmos» (adaptado a uma série televisiva), «Os Dragões do Éden» ou «Um Mundo Infestado de Demónios» e, mais recentemente, «Contacto» (adaptado ao cinema).

Carl Sagan teve um papel significativo no programa espacial americano desde o seu início. Em 1971 a NASA aceitou a sua proposta de incluir na nave exploradora «Pioneer 10» projectada para recolher dados sobre o sistema solar, uma placa concebida para enviar uma mensagem a uma possível civilização extra-terrestre que eventualmente contactasse.

Morreu no dia 20 de Dezembro de 1996 aos 62 anos, vítima de pneumonia e depois de uma batalha de mais de dois anos com uma rara e gravíssima doença na medula óssea.

No seu livro «Contacto», Carl Sagan escreveu:
«Acho que o celibato do clero é uma excelente ideia, porque tende a suprimir qualquer propensão hereditária para o fanatismo».





terça-feira, 19 de dezembro de 2006

 

Entregue à Bicharada



Quase quatro anos e muitas centenas de milhar de mortos depois da invasão, a pergunta mantém-se:
Se George W. Bush e a sua administração sempre souberam que o Iraque não tinha armas de destruição maciça e que Saddam Hussein nada teve a ver com o 11 de Setembro, argumentos que justificaram a invasão, por que carga de água e com que objectivo Bush invadiu afinal o Iraque?

Mas talvez a invasão do Iraque tenha, afinal, um objectivo claro, preciso e bem determinado.
De facto, a explicação para esta aparentemente insólita política de defesa norte-americana é, pelos vistos, extremamente simples.

E tem até um nome: chama-se «Christian Embassy».






(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

 

Atestado de Incompetência



É como o processo «Casa Pia»: haverá alguém neste país que possa dizer que nunca tinha visto miúdos a prostituírem-se no Parque Eduardo VII ou nos Jerónimos?
Só que ninguém falava no assunto. Era como se as escâncaras e a vulgaridade com que toda a gente via crianças de 12 ou 13 anos a entrarem em carros de luxo tornassem a coisa normal e perfeitamente aceitável.

E então, de repente, bastou uma notícia num jornal e uma criança ser entrevistada numa televisão para toda a gente finalmente se indignar e ter uma palavra a dizer.
E, só então é que o Ministério Público e a Polícia Judiciária parece terem acordado para a realidade do país em que afinal vivem.

Do mesmo modo, toda a gente sabe que o futebol é uma indústria que há vinte ou trinta anos nos anda a impingir um produto podre e completamente estragado.
Basta assistirmos a meia dúzia de jogos para todos ficarmos com suspeitas sobre a venalidade dos árbitros, ou pelo menos com a certeza da sua incompetência, e com a impressão que aquilo que nos querem mostrar num campo de futebol não corresponde, nem de perto nem de longe, à realidade dos factos.
Quantas vezes tudo aquilo é viciado, falso, comprado e encomendado?

Depois apareceu o «Apito Dourado».
Mas haverá alguém neste país que possa dizer que, por um momento só que fosse, chegou a ter esperanças que o Ministério Público e a Polícia Judiciária chegassem a alguma conclusão, e tivessem engenho e arte para acabar sequer com a promiscuidade entre o futebol e a política ou os meios judiciais?

Alguma vez alguém achou sequer estranho que Pinto da Costa soubesse com antecedência que ia ser detido para interrogatório e que a sua casa ia ser revistada?
Alguém estranhou que Pinto da Costa se refugiasse na casa de um juiz na véspera de se apresentar no Tribunal para ser interrogado?
Alguém achou inverosímil que Pinto da Costa seja acusado de práticas típicas de polvo siciliano e de agressões encomendadas por 10.000 euros?

E alguém algum dia esperou que todo este caso, independentemente das implicações judiciais, algum dia viesse a ter consequências disciplinares no âmbito da Federação Portuguesa de Futebol ou da Liga?
Isso é que era bom!!!

Até que, de repente, e ao fim de quase três anos de «Apito Dourado» e de aturadas investigações que obviamente nunca deram em nada, foi preciso aparecer um livro de cordel publicado por uma «alternadeira» despeitada para toda a gente falar no caso.
E para o Ministério Público e a Polícia Judiciária acordarem e começarem a levar o assunto a sério.

Tão a sério, que o novo Procurador Geral da República, Pinto Monteiro, acabou de encarregar Maria José Morgado (elevada assim a uma espécie de «jóia da coroa» do Ministério Público), de «dirigir e coordenar a investigação de todos os inquéritos já instaurados ou a instaurar conexos com o processo “Apito Dourado”».

Mas será que a corporação do Ministério Público ao menos se apercebe que, ao fim de quase três anos de investigações e inquéritos infrutíferos, a nomeação de Maria José Morgado para a condução do caso «Apito Dourado» é uma bofetada, um pano encharcado, um autêntico atestado de incompetência que, de uma só vez, Pinto Monteiro passa a Souto Moura, a António Cluny, a Jorge Costa, a Cândida Almeida e a todo o Ministério Público no seu conjunto?...


sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

 

A Complacência



Esta foto foi retirada da edição (impressa) de ontem da revista «Visão».

Retrata uma história de uma simplicidade assombrosa:
Funcionários da Câmara Municipal de Lisboa andavam a calcetar os passeios, mais exactamente no cruzamento da Avenida 5 de Outubro com a Avenida Elias Garcia, até que depararam com uma moto estacionada no local, em muito mau estado e aparentemente ali abandonada há já vários anos.
Então os nobres trabalhadores autárquicos não hesitaram: calcetaram o passeio à volta da moto!

Se há imagens que valem mil palavras, esta é uma delas.
Porque ela representa três coisas infelizmente tão típicas na sociedade portuguesa.

Representa, em primeiro lugar, a profunda displicência com que tantos trabalhadores portugueses encaram a sua profissão.
Representa, depois, a mais inqualificável falta de respeito e consideração de tantos trabalhadores não só por quem lhes proporciona um posto de trabalho, mas também pelas pessoas a quem esse trabalho se dirige.
E, finalmente, e se calhar a mais importante, representa a impunidade com que em Portugal se encara a mais abjecta incompetência profissional, seja nas profissões mais simples, seja nas tecnicamente mais exigentes.

É, sem sombra de dúvida, esta enorme e incompreensível complacência pela mediocridade e pela incompetência profissional que nos traz na cauda da Europa.


quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

 

Is that a newspaper in your lap, or are you just happy to see me?



Parece que a moda pegou!

Primeiro foi o pastor Ted Haggard.
Conhecido pela sua homofobia e pela veemência com que se manifestava em tudo o que se relacionasse com os homossexuais e os seus direitos, Ted Haggard acabou por se demitir da presidência da «Associação Nacional Evangélica» e por reconhecer que mantinha há vários anos um relacionamento homossexual.

Depois foi a vez do Reverendo Paul Barnes.
Igualmente célebre pelas suas arengas homofóbicas e pelo apoio às recentes campanhas contra os casamentos homossexuais naquele estado norte-americano, Paul Barnes, pastor principal de uma igreja evangélica do Colorado, acabou se demitir depois de confessar ser homossexual e de sentir sexualmente atraído pelo mesmo sexo desde os cinco anos de idade.

Como se não bastasse, a «moda» chegou à Suécia.
Uma vez que a Suécia é normalmente tolerante no que respeita à orientação sexual dos seus cidadãos, que é normalmente encarada com toda a naturalidade, não são vulgares os escândalos relacionados com a homossexualidade ou com figuras mais ou menos públicas que subitamente resolvem «sair do armário».

Mas quando é um alto quadro do Partido Democrata Cristão, apesar de a sua identidade não ter sido revelada, que está envolvido num «escândalo homossexual», até na Suécia isso é notícia.
Principalmente porque se trata de um partido ultra-conservador que pugna ferozmente pelos «valores tradicionais da família» e que não simpatiza mesmo nada com a tolerância sueca pelos direitos dos homossexuais.

Pois o bom do democrata cristão foi primeiramente visto num carro com outro homem a, digamos assim, manipular-lhe o pénis.
(De facto, há eufemismos fabulosos!)
A coisa podia bem ter ficado por aqui, não fosse o manipulado não estar ainda satisfeito com o desempenho do manipulador.
Vai daí o nosso democrata cristão resolveu estacionar o carro noutro local mais recatado onde acabou por ser apanhado, enfim... com a boca na botija.
(Eu não digo que há eufemismos fabulosos?)

Chamada a polícia, o ilustre democrata cristão negou veementemente que estivesse envolvido em qualquer actividade sexual, embora pudesse perfeitamente parecer isso pois, explicou, não estava mais do que inclinado para ler o jornal que o seu companheiro tinha pousado no colo...

Como dizem os nossos amigos do «Renas e Veados»:

A homofobia é tão gay!...


terça-feira, 12 de dezembro de 2006

 

O Lobo Mau



E pronto: nove euros e cinquenta e 157 páginas depois, lá acabei de ler, confesso humildemente, o livro de Carolina Salgado.

Confesso também que o li esperando grandes revelações de quem, durante meia dúzia de anos, viveu de cama e pucarinho com aquele que é geralmente tido como a personagem mais influente no meio futebolístico português e que, quer se queira quer não, faz já parte do folclore nacional: o presidente do Futebol Clube do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa.

Mas a desilusão foi total!
Depois de tentar justificar a lógica de um percurso de vida que a levou a uma casa de alterne, o que é bem lá com ela, a autora começa por cometer a indignidade de contar intimidades do casal e por publicar bilhetinhos românticos, que a mais ninguém deveriam dizer respeito.

Mas, como novidade, fiquei a saber que Pinto da Costa gosta de brincar ao lobo mau e ao capuchinho vermelho e que tem grandes problemas de flatulência que Carolina Salgado, decerto com imenso prejuízo para a sua própria saúde, se via obrigada a disfarçar acendendo sucessivos cigarros.

O resto, do pouco mais do que o livro conta, já afinal toda a gente sabia: que Pinto da Costa influencia a arbitragem dos jogos de futebol, que soube com antecedência a intenção que a Polícia Judiciária vinha a caminho de o deter para interrogatório, o que lhe possibilitou escapulir-se para Espanha, e que mandou sovar um antigo vereador da Câmara de Gondomar, Ricardo Bexiga, tido como o responsável pelo despoletar da «Operação Apito Dourado».
Agora só ficou a conhecer-se o preço da encomenda: 10.000 euros.

Ficou ainda a saber-se que o bom do Jorge Nuno gosta de selar o fim dos seus relacionamentos amorosos pespegando na desgraçada uma solene e ritual carga de porrada.

E é tudo o que o livro conta.
Assim, depois de se falar no caso durante mais uns tempos, tudo ficará na mesma.

Ou alguém pensa que destas revelações de tráfico de influências, de manipulações, ano após ano, de resultados desportivos, de violações de segredo de justiça e respectivas fugas para países estrangeiros, de agressões monumentais, dadas pelo próprio ou por encomenda, resultará mais alguma coisa para Pinto da Costa ou para o clube que dirige, do que das revelações sobre as suas brincadeiras de lobo mau ou das suas agrestes flatulências?...


domingo, 10 de dezembro de 2006

 

Augusto Pinochet



Augusto Pinochet
(25 de Novembro de 1915 – 10 de Dezembro de 2006)


Augusto Pinochet Ugarte liderou a Junta Militar que governou o Chile de 1973 a 1990 depois de, através de um golpe de estado que comandou, ter deposto pela força das armas o presidente Salvador Allende, que havia sido democraticamente eleito três anos antes.

Pouco depois de chegar ao poder, Augusto Pinochet implementou um sistema político económico normalmente referido como um balão de ensaio das teorias económicas de total liberalização do mercado de Milton Friedman.
Procedeu então à desregularização e à total privatização de todos os principais sectores da economia da indústria à banca, passado mesmo pelo sistema de pensões e segurança social.

Mas foi pela ferocidade sanguinária com que combateu as oposições que Pinochet se notabilizou.
Depois de ilegalizar os partidos políticos de esquerda, logo nos dias imediatos ao golpe de estado, ficou célebre a chamada «Caravana da Morte», um pelotão do exército chileno propositadamente encarregue de eliminar as principais figuras do regime de Salvador Allende.
O longo e sangrento braço de Augusto Pinochet atingia os seus inimigos mesmo em países estrangeiros. Foi, por exemplo, o caso do antigo chefe de estado maior do exército, o General Carlos Prats, e também de sua mulher, que foram assassinados em Buenos Aires por uma bomba colocada pela polícia secreta chilena.

Já mais recentemente a opinião pública mundial teve oportunidade de conhecer a noção que Augusto Pinochet tinha de honestidade, quando lhe foram descobertas contas bancárias em paraísos fiscais com muitos milhões de dólares ou várias toneladas de ouro.

Católico fiel e devoto, Pinochet privilegiou o relacionamento diplomático com o Vaticano, de quem ao longo dos anos sempre recebeu um inestimável apoio institucional e político, quer interno quer a nível internacional.

Ainda hoje não se conhece ao certo o número de pessoas assassinadas durante o regime de Augusto Pinochet, algumas delas mortas por sua ordem directa e pessoal.

Mas conhece-se agora uma das formas mais vulgares e preferidas de eliminação de milhares de pessoas, homens, mulheres e até crianças adolescentes, que se tinham revelado incómodas para o impiedoso e sanguinário regime de Pinochet: eram simplesmente levadas de helicóptero e largadas vivas no alto mar, onde acabavam por morrer e, como convinha, por desaparecer sem deixar rasto.

Poucos dias antes de morrer Augusto Pinochet, que com 91 anos de idade sofria já de maleitas várias, teve complicações cardíacas graves.
Foi então chamado um padre de urgência, que lhe ministrou a extrema unção.

Portanto, e segundo a Bíblia (Tiago, 5:15) e também o «Catecismo da Igreja Católica» (§ 1532), esta extrema unção (ou "in exitu vitae constituti") que foi bem a tempo ministrada a Augusto Pinochet teve o condão de lhe perdoar todos os seus pecados.
Assim sendo, Pinochet, agora uma boa alma, passará a eternidade livre e amnistiado dos seus pecados, sentado à direita de Deus Pai, bem ao lado de Deus Filho e ali pertinho do Espírito Santo e da Virgem Maria, tal como qualquer bom católico gostaria.

Ainda por cima não estarão por lá a chateá-lo os seus adversários políticos, aqueles que Pinochet mandou atirar ao mar sem lhes dar tempo ou oportunidade para confessarem os seus pecados ou receberem a mesma extrema unção.
Esses sim, arderão no Inferno para todo o sempre.

Que sorte teve Pinochet em ser um bom católico...


sábado, 9 de dezembro de 2006

 

She



Elvis Costello - She

She may be the face I can't forget
The trace of pleasure or regret
Maybe my treasure or the price I have to pay
She may be the song that summer sings
May be the chill that autumn brings
May be a hundred different things
Within the measure of a day

She may be the beauty or the beast
May be the famine or the feast
May turn each day into a Heaven or a Hell
She may be the mirror of my dreams
A smile reflected in a stream
She may not be what she may seem
Inside her shell....

She, who always seems so happy in a crowd
Whose eyes can be so private and so proud
No one's allowed to see them when they cry
She maybe the love that cannot hope to last
May come to me from shadows in the past
That I remember 'till the day I die

She maybe the reason I survive
The why and wherefore I'm alive
The one I care for through the rough and ready years
Me, I'll take the laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I've got to be
The meaning of my life is She....
She Oh, she....


sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

 

Talvez...




(Clicar na imagem para a ampliar)


terça-feira, 5 de dezembro de 2006

 

O Escândalo!



O órgão oficial da «Opus Dei», referenciado semanalmente com o título de «Sol», publicou no passado dia 18 de Novembro como grande notícia de 1ª página um escândalo absolutamente inaudito e capaz de abalar os próprios fundamentos do regime democrático: o Primeiro-ministro José Sócrates, acompanhado dos ministros da Justiça e das Finanças, tinha-se reunido com o Procurador Geral da República.

Mais ainda, nessa reunião teria sido abordada a necessidade de dar mais celeridade às investigações à banca na célebre «Operação Furacão».

E pronto: caiu o Carmo e a Trindade!
Sempre oportunamente a reboque dos jornais (porque de Cavaco Silva não tem sido muito conveniente nos últimos tempos) e vogando galhardamente na espuma dos acontecimentos políticos em que não consegue interferir, logo o presidente do PSD, Marques Mendes, veio à comunicação social manifestar a sua grande indignação: era absolutamente inadmissível, uma chocante ingerência do poder político no poder judicial a própria reunião do Primeiro-ministro com o Procurador Geral da República, e acusou o Governo de ter interferido de forma «absolutamente inaceitável», no processo da «Operação Furacão»!

Mas, de repente, o grande e inadmissível escândalo e a grande notícia de primeira página do «Sol» parecem ter-se esfumado e desaparecido no misterioso limbo da política.
Bastou para tal ter sido noticiado que o próprio director financeiro da «Opus Dei», Paulo Teixeira Pinto, normalmente identificado como presidente do B.C.P., tinha sido ele próprio recebido pelo Procurador Geral da República.

E, de repente, se antes era «absolutamente inaceitável» que o Primeiro-ministro se reunisse com o Procurador Geral da República, num passe de mágica deixou de ser estranho que o próprio presidente de um banco alvo de investigações criminais no âmbito da «Operação Furacão» se reunisse com o mesmo Procurador Geral da República.
E o passe de mágica foi tão brilhante que, provavelmente por instruções de São Escrivá provindas do outro mundo, o próprio semanário «Sol» não se deu ao trabalho de publicar na primeira página uma notícia de, pelos vistos, tão grande importância, como foi esta de uma reunião do Sr. Procurador Geral da República!

E é então que Marques Mendes decide que não quer ficar para trás nesta história toda.
Vai daí, lá se pôs em bicos de pés e ele próprio e uma embaixada do PSD ao mais alto nível lá estiveram reunidos com o Procurador Geral da República, onde falaram, entre outras coisas, da... «Operação Furacão».

Mas será que é assim que tantos políticos e jornalistas deste país pretendem na realidade ser levados a sério?...


 

Profanação de Cadáver



Vinte e seis anos depois da morte de Sá Carneiro, o seu cadáver continua a servir regularmente de instrumento de propaganda política.

Depois de um processo judicial arquivado por falta de arguido e de provas, depois de meia-dúzia de comissões parlamentares de inquérito, que ora acham que foi acidente ora concluem que foi atentado, sempre que o PSD se acha na mó-de-baixo política, lá se desenterra o caso mais uma vez.
Como se o cadáver de Sá Carneiro fosse uma espécie de património político do PSD e como se da tese do atentado resultasse uma auto-comiseração que pudesse render votos.

Vinte e seis anos depois da queda do avião em Camarate, era fatal como o destino: lá veio Marques Mendes, em fase de insuspeita recessão partidária, invocar que é «uma vergonha para a democracia» continuarem por esclarecer as circunstâncias da morte de Sá Carneiro.

Concordo que ficou por fazer o julgamento das circunstâncias em que em Portugal morreram um Primeiro-ministro e um ministro da Defesa. E todos temos o direito de saber o que na realidade se passou.
Mas, ao fim de vinte e seis anos, depois de um processo judicial e depois de tantas comissões parlamentares de inquérito, pelos vistos de utilidade nula, esse julgamento já só pode ser histórico e terá de ser feito em consciência por cada um dos portugueses individualmente.

Invocar a realização de um julgamento de excepção, para já não se sabe bem de quem, num caso inevitavelmente prescrito, e nem que para isso se defenda a criação de uma coisa insólita chamada «procuradores especiais» que aplicariam leis com efeitos retroactivos é, antes de mais, um insulto à democracia e ao Estado de Direito e, também por isso mesmo, à própria memória de Sá Carneiro.

Mas mais do que isso: a exumação regular deste caso e o seu aproveitamento político partidário só servirá ainda mais para o achincalhamento que significa o seu inevitável aproveitamento para promoções publicitárias de bruxos e aldrabões que já ninguém leva a sério.

E nada disto me parece que seja a forma mais adequada de honrar o nome e a memória de um Primeiro-ministro de Portugal.


segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

 

El-Rei Dom Chouriço



O «Correio da Manhã» resolveu citar um cidadão de nome Duarte Pio de Bragança que afirmou:
«A democracia portuguesa não é uma democracia, é uma fraude».

Segundo tão triste Pio, a fraude da democracia portuguesa reside no facto de a Constituição impedir o referendo sobre a natureza do próprio regime, ao mesmo tempo que, disse ele, «condiciona qualquer revisão constitucional ao respeito pela forma republicana de governo».

Este pio cidadão é conhecido por aparecer em revistas de «jet set» onde exibe a mulher e os filhos, e é famoso porque pensa que seria o Chefe de Estado se Portugal fosse uma monarquia.

Pelos vistos, este cidadão que gostava de ser Chefe de Estado (mas que se refere a uma coisa curiosíssima a que chama «forma republicana de governo») deve estar convencido que a Constituição é a única coisa que o impede de estar sentado num trono com uma rodela de metal enfeitada com berloques bem enfiada na cabeça e mandar bitaites sobre aquilo de que nada percebe.

E deve estar convencido que se não fosse o impedimento constitucional, Portugal seria agora uma monarquia.
E então, claro está, a democracia portuguesa já não seria uma fraude.

Claro que o próprio facto de um qualquer cidadão poder debitar livre e impunemente as maiores baboseiras sobre o regime democrático em que vive não tem, para o Pio, qualquer importância para a afirmação de uma democracia.
Nem sequer a própria existência de um partido monárquico legalmente constituído. Provavelmente pelo impacto ridículo, risível e meramente residual que tem no eleitorado.

Mas a democracia portuguesa já não seria uma fraude se o Chefe de Estado – ainda para mais com a importância que tem num regime semi-presidencialista como o nosso – deixasse de ser eleito por voto directo, secreto e universal dos portugueses e passasse a ser um cargo entregue a um «chouriço» qualquer, «legitimado» não se sabe por que raio de linhagem que pretende que lhe dê mais direitos que aos demais cidadãos.

Ou seja, para este monárquico chouriço, que gostava de ser Chefe de Estado e de referendar a democracia portuguesa, esta já não seria uma fraude se o cargo de Chefe de Estado deixasse de poder ser desempenhado por qualquer cidadão, escolhido pelo mérito que os seus concidadãos entenderem reconhecer-lhe em eleições livres, mas passasse a ser desempenhado por mera e simples nomeação de uma única pessoa, cuja legitimidade para o exercício desse cargo proviria unicamente do seu nascimento.

A democracia portuguesa já não seria uma fraude se o cargo de Chefe de Estado fosse de nomeação vitalícia, mesmo que o ilustre herdeiro designado se viesse a revelar um reaccionário imbecil, retrógrado e enfeudado a uma religião, ou fosse, enfim, uma besta qualquer que o povo tivesse de aturar (como tantas vezes já sucedeu) para o resto da sua vida.

E então, a democracia portuguesa já não seria uma fraude se à volta do Chefe de Estado passasse a rodopiar uma clique de fadistas marialvas vestidos de coletes verde-tropa, deslocando-se de preferência num verdejante Range-Rover a caminho de sucessivas touradas, e arrogando-se títulos nobiliárquicos e superioridades dinásticas de grandes senhores feudais da idade média, de quem herdaram não mais do que o atraso mental.

Mas descansemos:
Porque decerto convencida de que ser «adepto da Coroa» é sinónimo de uma qualquer e misteriosa superioridade intelectual, há por aí muito boa gente que, provavelmente porque não olhou bem para ele ou ainda não o ouviu abrir a boca, não se apercebeu ainda que o principal adversário da «causa monárquica» em Portugal é precisamente esta peculiar personagem que dá pelo nome de Duarte Pio de Bragança.


sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

 

Dia Mundial da SIDA



Hoje é o dia mundial da SIDA.

Quase 30 anos depois de ter sido detectado o primeiro caso de infecção com HIV em Portugal, o nosso país continua a ter um dos piores indicadores sobre o aumento do número de infecções em toda a Europa: todos os anos são detectados 251 novos casos.

Desde 1981 calcula-se que a SIDA tenha constituído a causa de mais de 25 milhões de mortes em todo o mundo, sendo certo que actualmente vivem cerca de 40 milhões de pessoas infectadas com o vírus do HIV.
Mas o número de infecções continua a aumentar a nível mundial: só este ano morreram 3 milhões de pessoas com SIDA, 72 por cento das quais em África.

Assim, cada iniciativa, cada chamada de atenção para esta autêntica pandemia será importante para contrariar o crescente número de novas infecções, e poderá até encorajar e contribuir para descobertas científicas que conduzam à cura deste infernal flagelo.

Em Portugal esta efeméride será aproveitada para o lançamento de um novo programa governamental de prevenção.
Em todo o mundo agências governamentais, principalmente em países com maiores taxas de infecções, a ONU e inúmeras ONG’s colaboram activamente na distribuição de medicamentos e em campanhas de prevenção, quer através de esclarecimentos sobre a terrível realidade da doença, quer através de distribuições intensivas de preservativos.

Também em todo o mundo, principalmente nos países e regiões onde tradicionalmente tem maior implantação e influência, a Igreja Católica tem tido uma palavra a dizer sobre a SIDA e sobre os milhões de mortes que esta já causou.

Para já, o Papa Bento XVI apelou ao inestimável e precioso «conforto do Senhor» para os doentes e suas famílias, ao mesmo tempo que encorajou «as múltiplas iniciativas que a Igreja sustenta neste campo».

E que múltiplas iniciativas são estas?
Para já, o Vaticano anunciou um «diálogo» entre o Conselho Pontifício e a Congregação para a Doutrina da Fé (designação eufemística para Santa Inquisição) sobre o carácter «científico e moral» do uso do preservativo.
Neste «diálogo», por exemplo, foi lançado o debate sobre uma eventual «permissão» para o uso do preservativo «em casos particulares e limitados, como a situação de casais em que um dos membros está contaminado pelo HIV».
Terminado o «diálogo», as conclusões não podiam ser mais explícitas: a Igreja Católica Apostólica Romana continua a ser inabalavelmente contra o uso do preservativo, quaisquer que sejam os casos ou as circunstâncias.

Depois, que não se pense que «as múltiplas iniciativas que a Igreja sustenta neste campo» se resumem ao tal «diálogo».
Não!
Muito pelo contrário, a Igreja Católica continua a manter campanhas em diversos países de África de queimas rituais de milhares dos preservativos que são distribuídos às populações pelos respectivos países, e a convencer os seus fiéis que o preservativo é um instrumento do demónio e que o seu uso não conduz senão às eternas penas do inferno.

De facto, e temos de o admitir, trata-se de uma posição absolutamente coerente por parte da Igreja Católica:
Se ao longo dos seus dois mil anos de história a Igreja Católica sempre desprezou as pessoas, se sempre considerou os dogmas e a sua doutrina bem mais importantes que a vida humana, e se mesmo ainda hoje admite a pena de morte no seu catecismo, como poderia alguém esperar que, mesmo havendo no mundo 40 milhões de infectados, a política da Igreja Católica em relação à SIDA fosse agora diferente?

Os católicos de todo o mundo devem estar mesmo muito orgulhosos com esta maravilhosa coerência da sua Igreja...


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