terça-feira, 12 de dezembro de 2006
O Lobo Mau
E pronto: nove euros e cinquenta e 157 páginas depois, lá acabei de ler, confesso humildemente, o livro de Carolina Salgado.
Confesso também que o li esperando grandes revelações de quem, durante meia dúzia de anos, viveu de cama e pucarinho com aquele que é geralmente tido como a personagem mais influente no meio futebolístico português e que, quer se queira quer não, faz já parte do folclore nacional: o presidente do Futebol Clube do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa.
Mas a desilusão foi total!
Depois de tentar justificar a lógica de um percurso de vida que a levou a uma casa de alterne, o que é bem lá com ela, a autora começa por cometer a indignidade de contar intimidades do casal e por publicar bilhetinhos românticos, que a mais ninguém deveriam dizer respeito.
Mas, como novidade, fiquei a saber que Pinto da Costa gosta de brincar ao lobo mau e ao capuchinho vermelho e que tem grandes problemas de flatulência que Carolina Salgado, decerto com imenso prejuízo para a sua própria saúde, se via obrigada a disfarçar acendendo sucessivos cigarros.
O resto, do pouco mais do que o livro conta, já afinal toda a gente sabia: que Pinto da Costa influencia a arbitragem dos jogos de futebol, que soube com antecedência a intenção que a Polícia Judiciária vinha a caminho de o deter para interrogatório, o que lhe possibilitou escapulir-se para Espanha, e que mandou sovar um antigo vereador da Câmara de Gondomar, Ricardo Bexiga, tido como o responsável pelo despoletar da «Operação Apito Dourado».
Agora só ficou a conhecer-se o preço da encomenda: 10.000 euros.
Ficou ainda a saber-se que o bom do Jorge Nuno gosta de selar o fim dos seus relacionamentos amorosos pespegando na desgraçada uma solene e ritual carga de porrada.
E é tudo o que o livro conta.
Assim, depois de se falar no caso durante mais uns tempos, tudo ficará na mesma.
Ou alguém pensa que destas revelações de tráfico de influências, de manipulações, ano após ano, de resultados desportivos, de violações de segredo de justiça e respectivas fugas para países estrangeiros, de agressões monumentais, dadas pelo próprio ou por encomenda, resultará mais alguma coisa para Pinto da Costa ou para o clube que dirige, do que das revelações sobre as suas brincadeiras de lobo mau ou das suas agrestes flatulências?...