segunda-feira, 31 de março de 2008
«O Lavar da Roupa Suja»
O Partido Socialista prepara-se para apresentar na Assembleia da República um projecto de lei que virá alterar as regras do divórcio.
Ao que consta, terminará em certa medida com o conceito de divórcio litigioso baseado na violação culposa dos deveres conjugais, e reduzirá para apenas um ano a relevância da separação de facto para efeitos de fundamento de divórcio.
E, como já é normal acontecer quando alguém quer remexer as águas estagnadas das «instituições nacionais», aí estão as costumeiras reacções!
Por exemplo a de João Miranda, que no «Diário de Notícias» se indigna contra os «partidos de esquerda» e recorda os seus saudosos tempos em que «a defesa de instituições e de regras que têm como objectivo proteger as pessoas delas próprias costumava ser uma característica das religiões tradicionais».
Esclarecidas então assim as coisas, o João Miranda vai por aí adiante a defender a «família» e aproveita para enaltecer o Domingo «que é o dia consagrado à família, quer os portugueses queiram quer não».
É pena que o João Miranda não nos tenha explicado o que é para ele isso de «proteger as pessoas delas próprias» e o que é isso de «família», deixando-nos simplesmente no ar uma espécie de conceito tão religioso que existe somente quando coincidente com o casamento.
E ao mesmo tempo tão sagrado que deveria ser protegido pelas «religiões tradicionais» e, portanto, ser absolutamente indissolúvel, por mais violenta ou infernal que se tenha tornado a vida de um casal.
Por outras palavras, e como não estamos a falar de casamento católico, aqui temos um João Miranda que acha que deveriam ser as «religiões tradicionais» a proteger… o casamento civil.
E como tudo isto vem da defesa da família, com o dia de Domingo a si consagrado e tudo, o que é pena é que no seu artigo o João Miranda não nos tenha deixado bem esclarecido se essa sua defesa vai tão longe que defenda até o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, tudo isso como forma de consolidação e fortalecimento das famílias, incluindo, claro está as famílias homossexuais.
Depois, aparece-nos a Helena Matos que no «Blasfémias» resolveu elucidar-nos e fazer um post jurídico. Vai daí, e recorrendo a uma brilhante e finíssima ironia, convida o PS a «colocar fim a outros absurdos em que uma das partes que assinou um contrato tem de permanecer nele por tempo indeterminado», como o contrato de trabalho ou o contrato de arrendamento.
Mas é igualmente uma pena que a Helena Matos não nos tenha também esclarecido devidamente, já não digo através de uma dissertação sobre o conceito de justa causa de despedimento ou sobre o regime que resulta da nova lei do arrendamento urbano, mas, e já que decidiu entrar no domínio das comparações jurídicas destes diversos tipos de contratos de natureza exclusivamente civil, se defende por exemplo a execução específica da promessa de casamento.
Mas a cereja em cima do bolo dá-nos o «Público» que nos diz que uma alimária qualquer provinda de uma organização muito jeitosa chamada «Conferência Episcopal Portuguesa» considerou que este projecto de lei «é mais um sinal claro da postura de afrontamento que o actual Governo assumiu relativamente à Igreja Católica».
Como se não bastasse, e já embalado e a todo o galope, continuou:
«Há forças dentro do Governo que têm uma postura de ataque à Igreja Católica».
Ora se isto é verdade ou não, isso eu não sei.
Sei é que se não é verdade... deveria ser!
Mas sei mais: sei também que, pelos vistos, este néscio conferencista episcopal (passe o pleonasmo) já acha absolutamente normal que… «haja forças dentro da Igreja Católica que tenham uma postura de ataque ao Governo».
E a imbecilidade vai a tal ponto que nem sequer ocorreu aos ignaros membros dessa tal tenebrosa «Conferência Episcopal Portuguesa» a quem, na asinina irracionalidade e no estupor da sua fé, nem sequer ocorreu que a Igreja Católica não reconhece o casamento civil!
Ao ponto de considerar «amancebados» os casais que não sejam «casados pela igreja» recusando-lhes mesmo o acesso a uma boa meia dúzia daquelas teatralidades idiotas e indignas de um ser humano que se respeite a si próprio, e que caracterizam o culto católico.
Ou seja:
E, como já é normal acontecer quando alguém quer remexer as águas estagnadas das «instituições nacionais», aí estão as costumeiras reacções!
Por exemplo a de João Miranda, que no «Diário de Notícias» se indigna contra os «partidos de esquerda» e recorda os seus saudosos tempos em que «a defesa de instituições e de regras que têm como objectivo proteger as pessoas delas próprias costumava ser uma característica das religiões tradicionais».
Esclarecidas então assim as coisas, o João Miranda vai por aí adiante a defender a «família» e aproveita para enaltecer o Domingo «que é o dia consagrado à família, quer os portugueses queiram quer não».
É pena que o João Miranda não nos tenha explicado o que é para ele isso de «proteger as pessoas delas próprias» e o que é isso de «família», deixando-nos simplesmente no ar uma espécie de conceito tão religioso que existe somente quando coincidente com o casamento.
E ao mesmo tempo tão sagrado que deveria ser protegido pelas «religiões tradicionais» e, portanto, ser absolutamente indissolúvel, por mais violenta ou infernal que se tenha tornado a vida de um casal.
Por outras palavras, e como não estamos a falar de casamento católico, aqui temos um João Miranda que acha que deveriam ser as «religiões tradicionais» a proteger… o casamento civil.
E como tudo isto vem da defesa da família, com o dia de Domingo a si consagrado e tudo, o que é pena é que no seu artigo o João Miranda não nos tenha deixado bem esclarecido se essa sua defesa vai tão longe que defenda até o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, tudo isso como forma de consolidação e fortalecimento das famílias, incluindo, claro está as famílias homossexuais.
Depois, aparece-nos a Helena Matos que no «Blasfémias» resolveu elucidar-nos e fazer um post jurídico. Vai daí, e recorrendo a uma brilhante e finíssima ironia, convida o PS a «colocar fim a outros absurdos em que uma das partes que assinou um contrato tem de permanecer nele por tempo indeterminado», como o contrato de trabalho ou o contrato de arrendamento.
Mas é igualmente uma pena que a Helena Matos não nos tenha também esclarecido devidamente, já não digo através de uma dissertação sobre o conceito de justa causa de despedimento ou sobre o regime que resulta da nova lei do arrendamento urbano, mas, e já que decidiu entrar no domínio das comparações jurídicas destes diversos tipos de contratos de natureza exclusivamente civil, se defende por exemplo a execução específica da promessa de casamento.
Mas a cereja em cima do bolo dá-nos o «Público» que nos diz que uma alimária qualquer provinda de uma organização muito jeitosa chamada «Conferência Episcopal Portuguesa» considerou que este projecto de lei «é mais um sinal claro da postura de afrontamento que o actual Governo assumiu relativamente à Igreja Católica».
Como se não bastasse, e já embalado e a todo o galope, continuou:
«Há forças dentro do Governo que têm uma postura de ataque à Igreja Católica».
Ora se isto é verdade ou não, isso eu não sei.
Sei é que se não é verdade... deveria ser!
Mas sei mais: sei também que, pelos vistos, este néscio conferencista episcopal (passe o pleonasmo) já acha absolutamente normal que… «haja forças dentro da Igreja Católica que tenham uma postura de ataque ao Governo».
E a imbecilidade vai a tal ponto que nem sequer ocorreu aos ignaros membros dessa tal tenebrosa «Conferência Episcopal Portuguesa» a quem, na asinina irracionalidade e no estupor da sua fé, nem sequer ocorreu que a Igreja Católica não reconhece o casamento civil!
Ao ponto de considerar «amancebados» os casais que não sejam «casados pela igreja» recusando-lhes mesmo o acesso a uma boa meia dúzia daquelas teatralidades idiotas e indignas de um ser humano que se respeite a si próprio, e que caracterizam o culto católico.
Ou seja:
Uma Igreja - que a esmo e sem qualquer critério concede anulações de casamentos católicos a troco de chorudas indulgências - e que vem agora pedir ao Primeiro-ministro que «controle o laicismo» dos membros do seu partido, porque pretende defender a manutenção do «lavar da roupa suja» e da litigiosidade da rescisão de um negócio jurídico de natureza exclusivamente civil (com todos os traumas que isso tantas vezes traz a ambos os cônjuges e principalmente aos filhos), um contrato cuja simples existência nem sequer reconhece, é uma instituição que, se há muito perdeu a lucidez, bem demonstra agora que perdeu já também o respeito por si própria e, com ele, todas as mais básicas noções de ética.
sexta-feira, 28 de março de 2008
Intervalo Publicitário: O Pepino
quinta-feira, 27 de março de 2008
«É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade»
No filme abaixo podemos ver o celebérrimo anúncio do jornal brasileiro «Folha de São Paulo».
Nos tempos que correm, é um filme que, estou certo, muitos jornalistas e também muitos leitores de jornais portugueses deviam ver urgentemente…
terça-feira, 25 de março de 2008
«Dá-me o telemóvel. JÁ!»
Até parece bruxedo: de repente, no auge da contestação dos professores à ministra da Educação, aparece por aí um filme com uma elucidativa altercação entre uma aluna, uma criança horrível e obviamente sociopata, e uma professora, coitada, obviamente vítima do sistema que a ministra pretende implementar.
Que melhor exemplo queriam os professores para o autêntico calvário que é a sua profissão?
Uma imagem não vale mil palavras?
Que melhor exemplo poderiam querer os professores para demonstrar todas as suas razões contra as políticas ministeriais?
Até Mário Crespo, na sua inigualável e lúcida eloquência considerou que a ministra se deveria demitir. Mais ainda, considerou que a sua demissão é uma questão de «segurança nacional» que seria «a mensagem necessária para a comunidade escolar, alunos e professores, entenderem que o relaxe, a desordem e o experimentalismo desenfreado chegaram ao fim».
Mas eu penso exactamente o contrário.
Penso que o incidente filmado é um ultraje para toda a classe dos professores.
Como penso que, felizmente, a esmagadora maioria dos professores portugueses seria incapaz de se envolver num incidente absolutamente imbecil como aquele que as imagens nos documentaram.
E penso assim porque estou convencido que a maioria dos professores sabe perfeitamente que aquelas imagens documentam o país real com que todos os dias têm objectivamente de se defrontar.
Só que, pelos vistos, alguns desses professores não sabem lidar com as situações limite, aberrantes e por vezes de violência física bem mais grave do que aquelas que vimos no filme.
Só o que é pena é que os professores portugueses tenham demonstrado que, pelos vistos, não pretendem que um qualquer Estatuto da Carreira Docente venha distinguir os professores que são capazes de enfrentar uma situação como aquela, dos que se deixam enredar estupidamente nela.
Como também já demonstraram que não pretendem que uma qualquer Maria de Lurdes Rodrigues tenha a autêntica ousadia de os querer distinguir uns dos outros em razão da sua competência e os impeça a todos de progredir até ao topo pela simples antiguidade na sua carreira.
A ilação que todos deveríamos tirar daquelas imagens é que a Educação portuguesa de facto bateu no fundo.
E que algo – muito urgentemente – necessita de ser feito, sob pena de desperdiçarmos toda uma geração em lutas político-partidárias inúteis e já completamente irracionais.
A ilação que deveria ser retirada daquelas imagens é que um incidente daqueles não pode ficar inconsequente: algo tem de ser feito para que aquela aluna seja convenientemente punida – mas sem ser condenada a uma espécie de “prisão perpétua” que a afaste do ensino e lhe comprometa o futuro – e que ao mesmo tempo demonstre a todos os alunos portugueses àquilo a que estão sujeitos quando prevaricarem de modo semelhante.
Mas não pode também deixar de se apurar que raio de incompetência social, pessoal e profissional levou aquela professora a deixar-se enredar naquela cena absolutamente estúpida, para que também disso sejam retiradas as devidas consequências, e para que também se demonstre a todos os professores portugueses àquilo a que estão sujeitos não só quando agirem de forma semelhante, mas principalmente quando tão negligentemente permitirem actuações como aquela a que assistimos.
O que não se pode é remeter e restringir todo o futuro da Educação e toda a política educativa de um país a uma mesquinha luta corporativa de interesses meramente profissionais, salariais e de classe, e à qual os alunos têm sido completamente estranhos e pura e simplesmente ignorados.
Às vezes a melhor solução talvez seja precisamente a mais simples e a que está mais ao nosso alcance.
Talvez a melhor solução para uma situação como aquela que a todos nos indignou e revoltou profundamente seja a que nos mostra o filme abaixo.
Visto o filme, as conclusões só podem ser estas:
- Senhores professores: “welcome to the real world”.
- Senhora ministra: por favor não desista!
segunda-feira, 24 de março de 2008
Os Coelhinhos da Páscoa
A Páscoa é uma festa judaica que comemora a libertação e fuga do povo judaico do Egipto para a Terra Prometida.
Para os cristãos a Páscoa é agora, sem dúvida, a sua maior e mais importante festa religiosa.
E tem lógica: a partir do momento em que uma religião adopta como Deus um sujeito que professa outra religião, é perfeitamente normal, de facto, que adopte como sua festa principal uma comemoração tradicional da religião original desse seu Deus.
A tradição dos ovos coloridos e dos coelhos parece remontar a cultos de origem pagã das festividades da deusa Eostre, ligada ao renascimento e à fecundidade da Primavera e daí, uma vez mais, a coincidência da época do ano em que esta festa se realiza.
Já a tradição dos ovos de chocolate é obviamente mais moderna, como muito mais recente é esta moda de ligar uma festa originariamente judaica e posteriormente aproveitada pelos cristãos, a uma espécie rara de coelhos que põem ovos, e cuja origem sinceramente me escapa…
quinta-feira, 20 de março de 2008
Born To Be Wild
«A dream of a lifetime».
Será talvez esta a melhor forma de qualificar uma viagem extraordinária, um sonho impossível de juventude que de repente se tornou realidade.
É impensável descrever plenamente o que sentimos durante cada minuto, cada momento - all those moments - de uma viagem em Harley-Davidson (em Heritage Softail, já agora) pela mítica Route 66, nem que seja somente no seu último terço ocidental.
Talvez a melhor forma seja mesmo deixar aqui uma sucessão de imagens acompanhadas pelo inevitável som dos Steppenwolf em "Born To Be Wild" - e sentirmo-nos nos tempos já longínquos em que Peter Fonda e Dennis Hopper viajavam por essa mesma Route 66, ao som também desta mesma música, no filme «Easy Rider», e sentirmo-nos transportados a essa época e quase também como parte desse mito.
De facto, a dream of a lifetime - a dream come true!
segunda-feira, 17 de março de 2008
I'm Back!
segunda-feira, 10 de março de 2008
ENCERRADO PARA DESCANSO DO PESSOAL
Este Blog encontra-se encerrado para descanso do pessoal até ao próximo dia 17 de Março.
Se alguém quiser saber onde estou, aqui deixo algumas pistas:
Just a dream come true!…
As manifestações de inveja poderão, como de costume, ser deixadas na caixa de comentários.
Obrigado.
domingo, 9 de março de 2008
Viva España!
Uma Grande Vitória
Ontem foi dia de uma grande e gloriosa vitória para os professores portugueses.
Uma manifestação que mobiliza talvez dois terços de uma classe profissional não pode deixar de ser impressiva e altamente significativa.
E de tudo isso há que retirar as devidas ilações.
Para já a primeira conclusão a retirar é que os professores portugueses não sabem que, por muito que «a rua» seja um excelente local para o legítimo exercício da democracia e do direito de manifestação e até do «direito à indignação», ainda assim, e como tantos e tantos exemplos nos pode dar a História, «a rua» nem sempre tem razão.
A segunda conclusão a retirar é que os professores portugueses não querem ser avaliados!!!
Alguns têm a autêntica lata de dizer que sim, que não têm qualquer receio ou problema em que o seu desempenho seja escrutinado.
Não querem, dizem, é ser avaliados com «este sistema» de avaliação.
Só que o pior, e o que os professores não dizem, é que «este sistema» de avaliação são todos os sistemas que não sejam... sistema nenhum!
A terceira conclusão é que os professores portugueses são contra as mais emblemáticas e significativas decisões desta ministra, que implementou aulas de substituição (que os professores querem ver pagas como horas extraordinárias, apesar de serem dadas dentro do seu horário normal de trabalho), que solucionou o sazonal caos da colocação dos professores, que diminuiu o abandono escolar e mandou regressar às escolas centenas de parasitas armados em sindicalistas, e que queriam ver o sistema de ensino determinado no comité central do Partido Comunista e na sede da Fenprof, e não no Ministério da Educação.
E por tudo isto, como vimos, os professores querem pôr esta ministra na rua.
Mas uma pergunta urge fazer:
* Se a ministra não tivesse tomado uma única medida e, tal como os seus antecessores, se tivesse limitado a mudar qualquer coisa para que tudo ficasse na mesma, se os professores continuassem, então a trabalhar 12 horas por semana, a terem um diazito extra de folga e a terem três meses de férias por ano, se os sindicatos continuassem a ter parasitas às centenas pagos pelo Estado, se bons e maus professores continuassem indistintos e isentos de qualquer avaliação;
* Se continuassem nas escolas milhares de imbecis que “foram para professores” porque não sabiam fazer mais nada, autênticas bestas que ano após ano criavam sucessivas gerações de alunos incompetentes, sem que ninguém os avaliasse e os pusesse simplesmente na rua e os mandasse lavar escadas, por indecente e má figura,
* Se as regalias e os obscenos privilégios de uma classe que coloca os seus interesses corporativos acima dos interesses dos alunos não tivessem sido ameaçados,
* Se tudo isto se passasse sempre com a tradicional complacência pelo generalizado abandono e insucesso escolar e por uma iliteracia crescente dos alunos, ainda por cima confrontados com horários aberrantes para propiciar dias de folga aos professores,
Se tudo isto continuasse na mesma, pergunto então:
- Quantos professores, em nome então dos interesses dos alunos, se teriam manifestado ontem em Lisboa?...
sexta-feira, 7 de março de 2008
A Honestidade Cristã
Passei à porta de uma daquelas típicas instalações onde as pessoas de vez em quando se deslocam para se humilharem voluntariamente e onde se espojam de joelhos e abdicam de toda a dignidade para negociarem com entidades imaginárias o seu acesso à vida eterna .
Desta vez o acrónimo «IURD» e aquele símbolo característico de um animal alado dotado de um bico (um belo bico, tenho de o admitir), identificavam aquilo como um respeitável templo (passe o oxímoro) que essa tenebrosa organização cristã (passe o pleonasmo) com o engraçadíssimo e monárquico nome (passe a tautologia) de «Igreja Universal do Reino de Deus» (passe a falácia) abriu há pouco tempo aqui perto, em Loures.
Da porta da rua aberta podia ver-se no pequeno átrio da entrada um quadro emoldurado, reluzente de novo, com a transcrição de alguns artigos da Constituição da República Portuguesa.
Achei curioso ver quais os artigos da Constituição que eram citados:
- O artigo 13º - Princípio da Igualdade
- O artigo 41º- Liberdade de Consciência, de Religião e de Culto
- O artigo 45º - Direito de Reunião e Manifestação.
(Clicar na imagem para a ampliar)
Como é irónica a utilização de citações de uma Constituição de um Estado laico e republicano, e o apelo à garantia dos direitos por ela concedidos a todos os cidadãos, mesmo àquela caterva de malfeitores que não conhecem o significado da palavra «liberdade», e que vivem de explorar a credulidade dos incautos e dos pobres de espírito.
Mas depois olhei melhor e não queria acreditar no que os meus olhos viam:
Naquele belo quadro emoldurado o n.º 2 do artigo 13º da Constituição, que tem como epígrafe «Princípio da Igualdade», está citado assim por aqueles bons cristãos:
«Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social».
(Clicar na imagem para a ampliar)
Mas...
...acontece que o referido n.º 2 do artigo 13º da Constituição não diz exactamente aquilo que aqueles bajuladores de Jesus Cristo pespegaram no quadro.
Diz antes assim:
«Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual».
Quer dizer:
Na citação do artigo 13º da Constituição posta no quadro por aqueles piedosos adoradores daquele carpinteiro judeu, circuncisado e tudo, falta-lhe precisamente a expressão... «ou orientação sexual».
Ou seja:
Que se façam citações da Constituição, ainda vá lá.
Principalmente aquelas que nos convêm.
Mas quando a Constituição contém coisas como essa tal da igualdade de todos os cidadãos em razão da sua orientação sexual, que é uma coisa que, como toda a gente sabe, todos os bons cristãos não concordam e abominam - porque lhes ensinaram de pequeninos a odiar o próximo como a si mesmos - o que fazem então esses bons cristãos?
Nada de mais simples.
É que igualdade sim, mas assim tanta também não!
Então, perante tal situação, um bom cristão faz aquilo que os bons cristãos andam a fazer há dois mil anos: aldraba!
Vai daí, vai-se à citação da Constituição, tira-se a parte «ou orientação sexual», com que não se concorda, que assim fica bem melhor, e põe-se num quadro à porta, que os papalvos nem notam.
E pronto, já está: que assim aldrabado é que fica muito mais cristão.
E, convenhamos, fica também muito mais de acordo com esse peculiar sentido de ética, de tolerância e de honestidade que é bem típico das pessoas religiosas...
Diz antes assim:
«Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual».
Quer dizer:
Na citação do artigo 13º da Constituição posta no quadro por aqueles piedosos adoradores daquele carpinteiro judeu, circuncisado e tudo, falta-lhe precisamente a expressão... «ou orientação sexual».
Ou seja:
Que se façam citações da Constituição, ainda vá lá.
Principalmente aquelas que nos convêm.
Mas quando a Constituição contém coisas como essa tal da igualdade de todos os cidadãos em razão da sua orientação sexual, que é uma coisa que, como toda a gente sabe, todos os bons cristãos não concordam e abominam - porque lhes ensinaram de pequeninos a odiar o próximo como a si mesmos - o que fazem então esses bons cristãos?
Nada de mais simples.
É que igualdade sim, mas assim tanta também não!
Então, perante tal situação, um bom cristão faz aquilo que os bons cristãos andam a fazer há dois mil anos: aldraba!
Vai daí, vai-se à citação da Constituição, tira-se a parte «ou orientação sexual», com que não se concorda, que assim fica bem melhor, e põe-se num quadro à porta, que os papalvos nem notam.
E pronto, já está: que assim aldrabado é que fica muito mais cristão.
E, convenhamos, fica também muito mais de acordo com esse peculiar sentido de ética, de tolerância e de honestidade que é bem típico das pessoas religiosas...
quinta-feira, 6 de março de 2008
Pouca Vergonha
«A Senhora Ministra», é o título do artigo de opinião de António Ribeiro Ferreira publicado no «Correio da Manhã» e que, com a devida vénia, aqui reproduzo na íntegra:
«O sítio vai ter uma semana agitada com os professores a preparar uma manifestação contra a política de Educação do Governo e naturalmente contra a ministra da pasta.
Importa conhecer as razões que levam os professores para a rua. Os professores vão para a rua porque uma senhora com um saudável mau feitio, de seu nome Maria de Lurdes Rodrigues, acabou com o Ministério dos Professores e tenta, há três anos, criar o Ministério da Educação.
Os professores vão para a rua porque a ministra acabou com a pouca vergonha dos furos nos horários dos alunos, horários esses feitos à medida dos gostos e interesses dos professores, e criou as aulas de substituição, situação que obriga as senhoras e os senhores a passar mais tempo nas escolas.
Os professores vão para a rua porque Maria de Lurdes Rodrigues fez aprovar um novo Estatuto da Carreira Docente que acabou com os privilégios e regalias, muitas delas obscenas, do anterior estatuto tão do agrado dos sindicatos.
Os professores vão para a rua porque o novo Ministério da Educação, ainda em formação neste sítio cada vez mais mal frequentado, decidiu avançar para a avaliação dos senhores e senhoras que são pagos para ensinar a ler e a escrever as crianças do sítio.
Os professores vão para a rua porque a ministra decidiu enviar para as escolas centenas de sindicalistas que não punham lá os pés há muitos anos.
Os professores não vão para a rua protestar contra o insucesso escolar.
Os professores não vão para a rua indignar-se com o abandono escolar.
Os professores não vão para a rua gritar contra as notas miseráveis em Português e Matemática.
Os professores não vão para a rua exigir um ensino de qualidade que acabe com as os vergonhosos conhecimentos dos alunos nas disciplinas da área de ciência.
Os professores não vão para a rua, vestidos de negro, lamentar o analfabetismo e a iliteracia das crianças e adolescentes.
Os professores não vão para a rua protestar contra estes miseráveis trinta anos de ensino que colocaram Portugal numa situação inqualificável na União Europeia.
Não.
Os professores vão para a rua defender a incompetência e o laxismo.
Os professores vão para a rua porque a política do Governo colocou os interesses de pais e alunos acima dos seus privilégios.
Os professores vão para a rua porque o seu Ministério da 5 de Outubro está a ser substituído por um Ministério da Educação.
Os professores vão para a rua, apoiados pelo PCP, PSD e parte do PS, porque têm medo de ser avaliados.
Os professores vão para a rua porque a vergonha há muito deu lugar à pouca vergonha neste sítio chamado Portugal».
O meu comentário só poderia ser este:
- Senhora Ministra, por favor não desista!
O meu comentário só poderia ser este:
- Senhora Ministra, por favor não desista!
terça-feira, 4 de março de 2008
Tradições
Não sei quando serão proibidas as touradas.
Decerto um dia o serão.
Mas talvez a solução definitiva para as touradas esteja numa rigorosa avaliação psicológica – e até mesmo psiquiátrica – não só de quem se dedica profissionalmente à tortura de animais e a espetar-lhes ferros afiados nas costas, mas também de quem se diverte a assistir e aplaude tão triste e lamentável espectáculo.