terça-feira, 25 de março de 2008
«Dá-me o telemóvel. JÁ!»
Até parece bruxedo: de repente, no auge da contestação dos professores à ministra da Educação, aparece por aí um filme com uma elucidativa altercação entre uma aluna, uma criança horrível e obviamente sociopata, e uma professora, coitada, obviamente vítima do sistema que a ministra pretende implementar.
Que melhor exemplo queriam os professores para o autêntico calvário que é a sua profissão?
Uma imagem não vale mil palavras?
Que melhor exemplo poderiam querer os professores para demonstrar todas as suas razões contra as políticas ministeriais?
Até Mário Crespo, na sua inigualável e lúcida eloquência considerou que a ministra se deveria demitir. Mais ainda, considerou que a sua demissão é uma questão de «segurança nacional» que seria «a mensagem necessária para a comunidade escolar, alunos e professores, entenderem que o relaxe, a desordem e o experimentalismo desenfreado chegaram ao fim».
Mas eu penso exactamente o contrário.
Penso que o incidente filmado é um ultraje para toda a classe dos professores.
Como penso que, felizmente, a esmagadora maioria dos professores portugueses seria incapaz de se envolver num incidente absolutamente imbecil como aquele que as imagens nos documentaram.
E penso assim porque estou convencido que a maioria dos professores sabe perfeitamente que aquelas imagens documentam o país real com que todos os dias têm objectivamente de se defrontar.
Só que, pelos vistos, alguns desses professores não sabem lidar com as situações limite, aberrantes e por vezes de violência física bem mais grave do que aquelas que vimos no filme.
Só o que é pena é que os professores portugueses tenham demonstrado que, pelos vistos, não pretendem que um qualquer Estatuto da Carreira Docente venha distinguir os professores que são capazes de enfrentar uma situação como aquela, dos que se deixam enredar estupidamente nela.
Como também já demonstraram que não pretendem que uma qualquer Maria de Lurdes Rodrigues tenha a autêntica ousadia de os querer distinguir uns dos outros em razão da sua competência e os impeça a todos de progredir até ao topo pela simples antiguidade na sua carreira.
A ilação que todos deveríamos tirar daquelas imagens é que a Educação portuguesa de facto bateu no fundo.
E que algo – muito urgentemente – necessita de ser feito, sob pena de desperdiçarmos toda uma geração em lutas político-partidárias inúteis e já completamente irracionais.
A ilação que deveria ser retirada daquelas imagens é que um incidente daqueles não pode ficar inconsequente: algo tem de ser feito para que aquela aluna seja convenientemente punida – mas sem ser condenada a uma espécie de “prisão perpétua” que a afaste do ensino e lhe comprometa o futuro – e que ao mesmo tempo demonstre a todos os alunos portugueses àquilo a que estão sujeitos quando prevaricarem de modo semelhante.
Mas não pode também deixar de se apurar que raio de incompetência social, pessoal e profissional levou aquela professora a deixar-se enredar naquela cena absolutamente estúpida, para que também disso sejam retiradas as devidas consequências, e para que também se demonstre a todos os professores portugueses àquilo a que estão sujeitos não só quando agirem de forma semelhante, mas principalmente quando tão negligentemente permitirem actuações como aquela a que assistimos.
O que não se pode é remeter e restringir todo o futuro da Educação e toda a política educativa de um país a uma mesquinha luta corporativa de interesses meramente profissionais, salariais e de classe, e à qual os alunos têm sido completamente estranhos e pura e simplesmente ignorados.
Às vezes a melhor solução talvez seja precisamente a mais simples e a que está mais ao nosso alcance.
Talvez a melhor solução para uma situação como aquela que a todos nos indignou e revoltou profundamente seja a que nos mostra o filme abaixo.
Visto o filme, as conclusões só podem ser estas:
- Senhores professores: “welcome to the real world”.
- Senhora ministra: por favor não desista!