sábado, 25 de fevereiro de 2012
Bardamerda, Sr. Deputado!
A Assembleia da República chumbou os projectos de lei que possibilitavam a adopção por casais do mesmo sexo. Todos os partidos deram liberdade de voto aos seus deputados, mas a maioria acabou por votar contra.
É um resultado que, infelizmente, não me surpreende.
Já nem me surpreende o sentido de voto dos deputados do PCP, que votaram unanimemente contra os projectos de lei. Aliás, em absoluta coerência com a sua já tradicional homofobia revolucionária, de que José Carlos Ary dos Santos ou Júlio Fogaça são inesquecíveis exemplos.
Já nem sequer me surpreende que tantos deputados se conformem com esta inqualificável situação de discriminação entre cidadãos feita em razão das suas características pessoais, biológicas e identitárias, e que, antes de mais, constitui uma aberrante inconstitucionalidade. Nem me surpreende que os deputados da Nação pareçam ignorar a realidade que já se verifica no seu país.
Mas o que já me surpreendeu foi a declaração do deputado do CDS Telmo Correia, que justificou o sentido do seu voto (e o da sua bancada) explicando que a adopção por casais do mesmo sexo “contraria o Criador”.
O que isto quer dizer é que o deputado Telmo Correia, com o sentido do voto que expressou, já não representa os portugueses que o elegeram, nem sequer a sua própria consciência: representa agora… o “Criador”.
E pelos vistos não o quer contrariar!
O que isto quer dizer é que o deputado Telmo Correia encontrou um canal privilegiado de comunicação que lhe permite conhecer a vontade do “Criador”.
O que isto quer dizer é que se um dia for confrontado com um projecto de lei que vise condenar à morte os homossexuais, o deputado Telmo Correia interpretará a vontade do “Criador” e… votará a favor – em consonância, pelos vistos, com os seus parceiros ideológicos do Uganda, do Irão ou da Arábia Saudita.
Temos então um deputado à Assembleia da República, um titular do órgão de soberania que representa o poder legislativo de um Estado laico, que despreza e escarra despudoradamente na Constituição que jurou defender, e prefere antes cumprir a vontade mística de um ser invisível a que chama “Criador”, assim numa espécie de “sharia” católica que para este idiota fanático vale pelos vistos mais do que o Estado de Direito democrático.
A vontade do “Criador”?
- Bardamerda, Sr. Deputado!