quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

 

“Desvotar” em Cavaco Silva



Não me revejo em nenhum dos candidatos a esta eleição presidencial.
Cheguei até a considerar nem sequer ir votar.

Mas a simples ideia de ver Cavaco Silva reeleito e aturá-lo como Presidente da República por mais cinco longos anos compele-me a ir votar noutro candidato qualquer.

Parafraseando um outro candidato presidencial, é de facto uma coisa que me chateia ter como Presidente da República um troglodita que visivelmente não tem jeito para aquilo.
Só aquela cavalidade que disse sobre a pensão da mulher e como ela “merece” que ele a sustente, bem ilustra o que vai dentro daquela cabecinha.
E da cabecinha da mulher também, aliás, que pelos vistos tem estofo para aturar aquilo...

Durante o actual mandato, Cavaco Silva armou-se em contra-poder executivo, arranjou uma trapalhada muito pouco honesta com a história das escutas de Belém, revelou uma enorme inabilidade para o cargo com o Estatuto dos Açores e desmascarou-se num preconceito anacrónico e numa repugnante homofobia com o casamento entre pessoas do mesmo sexo e com o veto ao projecto de lei de mudança de sexo.

Como se não bastasse, em plena campanha eleitoral e no meio de um processo de estabilização financeira internacional, decide proclamar a possibilidade de uma crise política nos próximos tempos.

Depois, há a história muito mal contada da permuta da casa da Aldeia da Coelha e de umas generosas mais valias ganhas com as acções da SLN, em montantes que nem o Madoff conseguia para os seus melhores clientes.

E o que mais me chateia nesta trapalhada é o facto de Cavaco Silva achar que está acima de tudo isto e de que não tem de dar explicações a quem quer que seja.
Mais do que ninguém, e mais do que ser sério, um Chefe de Estado tem de parecê-lo.
E Cavaco Silva, nestes últimos tempos, de facto não parece nada...

Que saudades de Mário Soares e de Jorge Sampaio, esses sim, verdadeiros estadistas que sempre dignificaram o cargo que desempenharam e que sempre honraram o meu país.

É por tudo isto que, mesmo que se anteveja que Cavaco Silva vai ganhar a eleição presidencial logo à primeira volta, acho que tenho de tomar a atitude cívica de ir votar noutro candidato qualquer, não por ele ou pelo que com ele me identifique, mas simplesmente para “desvotar” em Cavaco Silva.

Mas, apesar de tudo, não votaria nem no palhaço da Madeira nem em Francisco Lopes, que se identifica com a Coreia do Norte, com as FARC, a China ou Cuba e provavelmente nem sequer deve saber da queda do Muro de Berlim.
O Fernando Nobre decidiu não se definir politicamente. E não há nada pior do que um político que não se define politicamente.
Também não gosto de Manuel Alegre, nem acho que viesse a dar um bom Presidente da República. Nem acho piada nenhuma ao malabarismo bacoco com que entalou o PS para ser candidato.
Pensar que qualquer candidato de jeito apresentado pelo PS era bem capaz de dar uma banhada a Cavaco Silva – e logo à primeira volta!...

Resta-me Defensor Moura, apesar de tudo o menos mau desta pacotilha toda.

Em suma, no próximo Domingo vou tomar uns sais de frutos e vou votar Defensor Moura.
Não por ele, mas, tristemente, só por “exclusão de partes”.
E preparar-me para na segunda-feira ter mais cinco anos de Cavaco Silva.

Para isso não precisarei de tomar sais de frutos.
Apesar de tudo ainda não preciso disso para digerir a democracia...




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