domingo, 6 de dezembro de 2009
As Falsas Escutas
De repente ouvimos que está a correr por essa Internet fora a transcrição de umas pretensas escutas de conversas telefónicas entre José Sócrates e Armando Vara.
Incrivelmente o fenómeno espalhou-se como pólvora e mereceu a atenção de jornais e televisões.
Mereceu até honras de primeira página do «Correio da Manhã» que em subtítulo diz assim:
«Falsas escutas a Sócrates já circulam na internet».
Eis uma afirmação bem típica deste jornal e deste tipo de jornalismo: esta referência a que as escutas «circulam na internet» e até a um «já circulam» apela a uma espécie de conspiração de alguém que «as faz circular», com dignidade e seriedade bastantes para merecerem uma referência numa primeira página.
Os comentários nos Blogs e nas notícias dos jornais ainda são mais curiosos, vendo-se afirmações como «será que as escutas são mesmo falsas?» ou «cá temos mais uma conspiração para nos distrair das verdadeiras escutas» ou ainda «tudo isto é inventado pelo PS» e «não há fumo sem fogo».
Só quem anda muito distraído não vê que as transcrições são até ridiculamente falsas e que não passam de uma brincadeira bloguística e de uma caricatura, uma espécie de “cartoon”, só que não em desenho mas em texto.
O que é incrível é a repercussão que as pretensas transcrições tiveram e a atenção que mereceram de toda a comunicação social.
Mas o mais incrível é a quantidade de pessoas que aparentemente paparam uma coisa visivelmente caricatural e ridícula e que à primeira vista se via que não passava de uma brincadeira.
E é bem feito:
Talvez esta história sirva ao menos para demonstrar como os portugueses afinal acreditam e embarcam nas primeiras baboseiras que lhes põem à frente.
Para demonstrar como as fugas ao segredo de justiça, provindas até das autoridades judiciárias, se tornaram quotidianas e corriqueiras e, mais do que isso, já expectáveis.
E ainda para demonstrar que até as brincadeiras mais ridículas acabam por merecer a atenção do tipo de jornalismo a que os portugueses nos últimos tempos estão pelos vistos condenados.