quinta-feira, 1 de outubro de 2009
O Abutre
Já aqui uma vez falei do Sr. Ilídio Ferreira, que então era presidente da Junta de Freguesia da Ramada, no concelho de Odivelas.
Acontece que o Sr. Ilídio Ferreira é agora candidato à Câmara Municipal de Odivelas (pela CDU) o que talvez imponha que se recorde o que sobre ele aqui então relatei.
O Sr. Ilídio Ferreira é um famoso contestatário de tudo e mais alguma coisa que lhe apareça à frente, quem sabe com alguma excepção como, por exemplo, as já famosas virtudes democráticas da Coreia do Norte, tal como a sua disciplina partidária certamente lhe imporá.
Tanto assim, que o Sr. Ilídio Ferreira sempre clamou publicamente contra a política urbanística da Câmara Municipal de Odivelas, a quem acusou de promover a construção desenfreada na sua freguesia.
Como é bom de ver, o Sr. Ilídio Ferreira nunca referiu que os alvarás de loteamento e as subsequentes licenças de construção foram todos concedidos aos promotores imobiliários do concelho pela antiga Câmara Municipal de Loures, na ocasião (e por mais de 20 anos) com executivo precisamente... da CDU.
Mas isso agora não interessa nada.
O que importa aqui recordar é o seguinte:
Em Novembro de 2002 um autocarro de passageiros entrava em Odivelas, vindo da CREL pelo acesso da IC22.
Em Novembro de 2002 um autocarro de passageiros entrava em Odivelas, vindo da CREL pelo acesso da IC22.
Já no limite da freguesia da Ramada, quando passava numa descida íngreme, o autocarro perdeu subitamente os travões.
Com um sangue frio incrível, o motorista procurou conduzir o autocarro até ao fim da descida.
Ali chegado, tentou virar à direita. Mas a velocidade era já muita e o autocarro acabou por embater numa árvore e capotar sobre a sua lateral esquerda, caindo por cima de um muro.
Morreram 6 pessoas e 48 ficaram feridas.
Foram chamados os bombeiros que levaram mais de duas horas a desencarcerar as pessoas dos destroços do autocarro.
Acorreram os três canais de televisão, e todos fizeram «directos» do local do acidente.
Prontamente acorreu também ao local do acidente o Sr. Ilídio Ferreira, então na sua qualidade de presidente da Junta de Freguesia da área do acidente.
Andava por ali de um lado para o outro com ar muito atarefado, e foi logo entrevistado pelas televisões.
Sob as luzes intensas das câmaras de televisão, com os flashes da máquinas fotográficas e com os microfones a procurar as suas palavras, o Sr. Ilídio Ferreira até parecia uma estrela de cinema!
Foi então que o Sr. Ilídio Ferreira entendeu por bem aproveitar a audiência nacional que inesperadamente lhe era proporcionada e resolveu capitalizar politicamente o acidente.
Mas o que dizer?
Como deitar as culpas do acidente para a Câmara Municipal?
Como culpar o presidente da Câmara?
Foi então que o Sr. Ilídio Ferreira, transmitido em directo pelos três canais de televisão, teve esta brilhante ideia:
Pôs-se ao lado do autocarro onde trabalhavam as equipas de desencarceramento dos Bombeiros de Odivelas e de onde apressadamente se retiravam cadáveres e feridos em estado grave para serem conduzidos ao hospital.
Depois, num gesto largo apontou toda a cena e declarou solenemente:
- Tudo isto é da responsabilidade da Câmara de Odivelas; tudo isto é culpa do presidente da Câmara; eu próprio já lhes ando a dizer há imenso tempo para... tirarem daqui esta descida...
E é esta, pois, a noção de ética que pelos vistos podemos encontrar no Sr. Ilídio Ferreira, candidato da CDU à Câmara Municipal de Odivelas:
- Alguém que com uma tirada absolutamente imbecil, como é esta de exigir que se «elimine uma descida», não hesita em capitalizar politicamente os mortos e os feridos de um gravíssimo acidente de viação.