terça-feira, 9 de junho de 2009

 

Cada sachadela sua minhoca



Primeiro, o Ministério Público decidiu proferir um despacho em que, no meio de várias acusações, imputava ao ex-presidente Jorge Sampaio a suspeita da prática de crimes de abuso de poder na atribuição de casas camarárias.

Como se não bastasse, ainda veio o Ministério Público lamentar-se que só não tornava essas suspeitas consequentes com a dedução da conveniente acusação pública, porque os crimes praticados já estariam prescritos.

Depois, vem agora o Ministério Público pedir «desculpas formais» a Jorge Sampaio, admitindo que foi cometido um «lapso material» pois que na ocasião dos factos sob suspeita o Presidente da Câmara era até Kruz Abecassis.

Pois é:
Deve o nosso Ministério Público achar que com este solene e formal pedido de desculpas o problema está resolvido.
Mas não está!

De facto, este nosso Ministério Público está em manifesta roda livre e inequivocamente abaixo de cão.
O resultado só podia ser este: cada sachadela sua minhoca!

É que o nosso Ministério Público nem sequer se apercebe que o problema não está neste singelo e inofensivo «lapso material».
E é por isso que o pedido de desculpas feito a Jorge Sampaio é tão inútil como é até profundamente ridículo.

O problema está, sim, num despacho proferido por uma magistratura independente, a quem a Constituição Portuguesa entregou a competência para o exercício da acção penal, que lançou sobre um cidadão uma suspeita infame - e pelos vistos infundamentada - da prática de um crime.

E sem qualquer investigação processual, sem sequer se dar ao trabalho de o ouvir, comunica aos portugueses que um cidadão, por acaso um ex-Presidente da República, é suspeito de um crime e que só se safou porque o crime prescreveu.

E isto é de facto abaixo de cão!
Porque o Ministério Público nem sequer se apercebe que não é do «lapso material» que tem de pedir desculpas a Jorge Sampaio.
Para já não falar nos «danos colaterais» à memória de Kruz Abecassis.

Porque se as datas coincidissem, a suspeita iria ficar. Sem investigação e sem inquirição.
E cá tínhamos uma vez mais a reputação de um cidadão enlameada na praça pública, desta vez, pasme-se, pela mão do próprio Ministério Público!

O Ministério Público tem, antes, de pedir desculpa a Jorge Sampaio – e a todos os portugueses – pela profunda incompetência que uma vez mais demonstrou no exercício das suas funções.

Uma incompetência que, essa sim vai ficar impune, não por prescrição mas por mais uma infame protecção corporativa, em que todos naquela casa se protegem uns aos outros e nada acontece – nem a quem é competente nem a quem é incompetente.

Pelos exemplos da actuação do Ministério Público a que todos os dias assistimos, quem é que se pode ainda admirar com o miserável desfecho que têm merecido em Portugal os mais mediáticos casos judiciários?




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