terça-feira, 11 de novembro de 2008
Agora sim, já estou a perceber!
Que os professores não gostam da ministra da Educação, já toda a gente sabe.
E que os professores estão de tal modo contra as políticas da ministra, que até fazem manifestações onde contam quase 80% dos professores nacionais, uma presença que arrasa as próprias percentagens de absentismo dos professores ao longo do ano.
Ou seja: o que os professores não querem, já sabemos.
Mas, e então, afinal o que é que os professores… querem?
Confesso que já começava a desanimar, pois cada vez que fazia essa pergunta, lá vinha sempre a mesma resposta: os professores são uns sacrificados, coitados, têm uma profissão difícil, não têm condições, têm muitas reuniões, têm de preparar aulas (pois!) e por isso… são contra.
Pois, que são contra, já sei.
Mas são a favor… de quê???
Até que, finalmente, a resposta!
No «Esquerda.Net» fui encontrar três filmes alojados no «YouTube» que de uma vez por todas nos dão todos os esclarecimentos.
Vejamos:
No primeiro filme um professor mostra-se indignado por alguém ousar responsabilizá-lo pela falta de sucesso escolar dos seus alunos – o que obviamente é uma injustiça e de uma violência inadmissível.
Onde já se viu alguém responsabilizar um profissional pelo resultado do seu trabalho?
Outro professor diz que está na manifestação por causa da «papelada» – sim, onde já se viu pedir a um professor que dê contas à sua entidade patronal daquilo que anda a fazer? E ainda por cima por escrito?
Uma professora quer que a gente acredite que trabalha 12 horas por dia na escola e ainda mais (talvez outras tantas) em casa, embora não tenha dito qual é «o seu dia de folga»; outra diz que foi à manifestação porque quer a demissão da ministra. Não diz nem explica porquê: quer a demissão da ministra e pronto!
Finalmente, fiquei a saber que Francisco Louçã é um dos 120.000 professores do ensino básico e secundário que estiveram presentes na manifestação, e que ali esteve com os seus colegas a fazer número, e que ficou todo ufano com uma palminhas que foi lá recolher, que no aproveitar é que está o ganho. E um votinho ali, outro acolá…
*
No segundo filme ficamos a saber quais os motivos da manifestação: a «avaliação» e a «burocracia».
E que os professores agora não têm tempo para preparar as aulas.
Mas sobretudo «o “tratamento” que tem sido dado aos professores por causa da ministra».
Qual o “tratamento”, especificamente? Nada nos dizem…
Mostravam uma faixa negra, «que não explica nada, mas a cor diz tudo».
Até que finalmente ficamos a saber que os professores querem ser avaliados, sim, «mas não com este modelo de avaliação».
Vai daí, na embalagem da manif vemos uma professora a dizer que os professores querem «maior qualidade pedagógica».
Não é bonito quando os professores vão pedir «maior qualidade pedagógica» à ministra da Educação?
Depois a mesma professora é ainda mais esclarecedora: clama contra a política da ministra porque «os professores querem estar de pleno direito na sua profissão porque têm família, porque têm filhos e precisam de tempo para eles».
É até comovente, não é?
Que saudades devem ter os professores de uma profissão em part-time paga em full-time!
Mas é então, de repente, que descubro que o Miguel Portas também é professor e que está ali na manifestação muito bem, também ele a fazer número. Diz ele que «há toda uma classe profissional que gostaria de dar aulas e de ensinar os nossos filhos, mas que não pode porque há uma ministra que pensa que o principal é encher os professores com papéis para a avaliação».
Ah! Os papéis! Os horríveis papéis! Ah, o trabalho que dão os papéis!
Mas onde já se viu uma profissão a ter de lidar com papéis???
Mas a coisa vai melhorando aos poucos e poucos: vem de seguida uma professora que se diz «avaliadora» e que se queixa que «foram feitas umas grelhas com um número de 30 por cada avaliado; eu que sou avaliadora, multiplique por 8, são 240 grelhas que eu "teria" que preencher».
E perguntam-lhe então quanto tempo é que isso lhe levaria e a resposta não poderia ser mais esclarecedora:
- Não sei, porque não faço a mínima ideia porque não quero pensar nisso e recuso-me a fazer tal anormalidade». E conclui: «nós andamos todos arrasados».
Sim, que isso de nos recusarmos a fazer «anormalidades» arrasa qualquer um…
*
Vem depois o terceiro filme e a coisa ainda fica melhor!
Mostra-nos duas simpáticas e bem-dispostas professoras: uma «avaliadora» e uma «avaliada».
Mas é logo a avaliadora que nos mostra uma coisa com que não concorda: a avaliadora tem 22 anos de serviço e a avaliada já tem 32.
De facto é uma avaliação contra-natura! Isto não pode ser!
Sim, que a velhice é um posto e pelos vistos a antiguidade da avaliada devia valer-lhe automaticamente ser ela a avaliadora. Esteve dois anos de baixa, sim. Mas o que é que isso interessa? Até consta que os pais dos alunos gostam muito dela.
Mas que raio: isso não basta?...
Mas a pior injustiça vem depois: diz-nos a «avaliada» que esteve quase, quase a reformar-se e por dois meses vai ter de trabalhar mais 12 anos. Coitada esteve quase, quase a reformar-se aos 53 anos e a ministra trocou-lhe as voltas.
Assim até eu ia à manifestação, caramba!
E é a «avaliadora», uma «professora titular», claro, quem de facto nos explica muito bem o que os professores querem.
Que fique bem claro:
- Os professores querem ser avaliados!
Como?
É simples: para já os colegas não se avaliam uns aos outros. É feio!
Porque o que a ministra quer é «haver divisão de classes dentro da própria classe», e isso é inadmissível, pois toda a gente sabe que os professores são todos iguais, ora essa!
E então? O que propõe a nossa «avaliadora»?
Mas a coisa vai melhorando aos poucos e poucos: vem de seguida uma professora que se diz «avaliadora» e que se queixa que «foram feitas umas grelhas com um número de 30 por cada avaliado; eu que sou avaliadora, multiplique por 8, são 240 grelhas que eu "teria" que preencher».
E perguntam-lhe então quanto tempo é que isso lhe levaria e a resposta não poderia ser mais esclarecedora:
- Não sei, porque não faço a mínima ideia porque não quero pensar nisso e recuso-me a fazer tal anormalidade». E conclui: «nós andamos todos arrasados».
Sim, que isso de nos recusarmos a fazer «anormalidades» arrasa qualquer um…
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Vem depois o terceiro filme e a coisa ainda fica melhor!
Mostra-nos duas simpáticas e bem-dispostas professoras: uma «avaliadora» e uma «avaliada».
Mas é logo a avaliadora que nos mostra uma coisa com que não concorda: a avaliadora tem 22 anos de serviço e a avaliada já tem 32.
De facto é uma avaliação contra-natura! Isto não pode ser!
Sim, que a velhice é um posto e pelos vistos a antiguidade da avaliada devia valer-lhe automaticamente ser ela a avaliadora. Esteve dois anos de baixa, sim. Mas o que é que isso interessa? Até consta que os pais dos alunos gostam muito dela.
Mas que raio: isso não basta?...
Mas a pior injustiça vem depois: diz-nos a «avaliada» que esteve quase, quase a reformar-se e por dois meses vai ter de trabalhar mais 12 anos. Coitada esteve quase, quase a reformar-se aos 53 anos e a ministra trocou-lhe as voltas.
Assim até eu ia à manifestação, caramba!
E é a «avaliadora», uma «professora titular», claro, quem de facto nos explica muito bem o que os professores querem.
Que fique bem claro:
- Os professores querem ser avaliados!
Como?
É simples: para já os colegas não se avaliam uns aos outros. É feio!
Porque o que a ministra quer é «haver divisão de classes dentro da própria classe», e isso é inadmissível, pois toda a gente sabe que os professores são todos iguais, ora essa!
E então? O que propõe a nossa «avaliadora»?
- «Primeiramente uma auto-avaliação. E a auto-avaliação, como toda a gente sabe, parte da “reflexão”».
- «Segundo, uma avaliação conjunta, entre professores», sim senhor, «mas não uns a dar cotações e notas a outros, que não é isso que se pretende, mas sim… a “reflectirem” sobre o trabalho conjunto».
- «E aquilo que estamos contra é o preenchimento de uma amálgama de papéis que ninguém entende bem para quê, para chegar ao fim e é tudo fictício».
Em suma:
Todos os professores adoram dar aulas e adoram a criançada.
Do que não gostam é de ser avaliados... por outros.
Do que não gostam é de ser avaliados... por outros.
Nem gostam de «papelada».
E o que querem os professores?
Finalmente a resposta:
- Querem ser avaliados, isso sim, mas... por si próprios!
Porque o que os professores querem é uma «auto-avaliação», seguida de uma reunião com os restantes colegas para todos, então, «reflectirem» em conjunto.
E o que querem os professores?
Finalmente a resposta:
- Querem ser avaliados, isso sim, mas... por si próprios!
Porque o que os professores querem é uma «auto-avaliação», seguida de uma reunião com os restantes colegas para todos, então, «reflectirem» em conjunto.
E pronto!
Tudo isto, claro está, sem «papelada».
Pois bem:
Se são estes os representantes da nobre classe dos professores portugueses, se é para isto que os professores se manifestam, se é este o projecto profissional por que a corporação dos professores está a lutar, então só posso dizer uma coisa:
- Senhora ministra: por favor, não desista!
Tudo isto, claro está, sem «papelada».
Pois bem:
Se são estes os representantes da nobre classe dos professores portugueses, se é para isto que os professores se manifestam, se é este o projecto profissional por que a corporação dos professores está a lutar, então só posso dizer uma coisa:
- Senhora ministra: por favor, não desista!