segunda-feira, 28 de julho de 2008

 

Vá lá: ao menos são coerentes!



Dei um salto à versão online do «Fátima Missionária» e deparei com uma notícia com este título:
«Teerão aplica a pena de morte a 29 iranianos»

Com um título destes até pensei imediatamente:
- Não querem lá ver que vou encontrar um artigo em que estou de acordo com esta gente?

E a notícia segue assim tal e qual:
«A página da Internet da TV iraniana dá a notícia esta manhã, 27 de Julho. A execução deu-se às 3,40 hora de Lisboa. Este é o maior número de execuções no Irão, num só dia, nos últimos anos.
«O país dos Aiatolas, os mais altos dignitários da hierarquia religiosa xiita, foi acusado pela Amnistia Internacional, em Abril passado, de ser o segundo do mundo, depois da China, a recorrer com maior frequência à pena de morte. Num só ano foram enforcadas, no Irão, 155 pessoas.
«Sempre na prisão de Evin, em Janeiro passado, deu-se a execução de 13 pessoas. Apesar da recomendação da União Europeia, o Irão continua a não respeitar a moratória sobre a pena de morte, fazendo ouvidos moucos aos apelos da opinião pública internacional».

Só depois de ler duas vezes é que consegui acreditar naquilo que os meus próprios olhos tinham à frente: quando estava à espera da parte deste insigne órgão de comunicação católico de uma inequívoca condenação da pena de morte e, assim, de um juízo de valor sobre a actuação dos seus colegas islâmicos de Teerão… nada!
Nicles!

Com excepção de uma mera referência a um «recorde macabro» e de dizer que «apesar da recomendação da União Europeia, o Irão continua a não respeitar a moratória sobre a pena de morte», a notícia nem uma só vez fala do valor da vida humana ou de como a “sharia”, isto é, a prevalência das normas religiosas sobre a lei civil de um Estado pode conduzir à barbárie que significa uma pessoa ser condenada a cortarem-lhe as mãos por roubar, a ser condenada à morte por lapidação pelo crime de adultério ou por enforcamento pelo crime de ser homossexual.

Vá lá, ainda há na notícia uma referência a uma «moratória sobre a pena de morte».
Só que uma «moratória da pena de morte» não significa exactamente o mesmo que «abolição da pena de morte».

Mas talvez seja fácil de perceber a cuidadosa escolha de palavras do «Fátima Missionária» numa questão tão delicada como esta como é a pena de morte.

É que se o «Fátima Missionária» cai na asneira de condenar o regime de Teerão por, mais do que não respeitar uma «moratória», não abolir mesmo, e de uma vez por todas, a pena de morte, caía-lhe em cima o Carmo e a Trindade.

Como podiam ser o «Fátima Missionária» e a Igreja Católica Apostólica Romana contra a pena de morte, se entre os seu mais insignes e piedosos seguidores se contava gente como Franco ou Pinochet, que ou garrotavam os seus opositores políticos ou os atiravam de helicópteros no meio do oceano?

E como podiam ser o «Fátima Missionária» e a Igreja Católica Apostólica Romana contra a pena de morte, se o «Catecismo da Igreja Católica» a defende inequivocamente e sem cá moratórias nenhumas?

De facto, se o §2267 do «Catecismo da Igreja Católica» nos diz claramente que
«O ensino tradicional da Igreja não exclui, depois de comprovadas cabalmente a identidade e a responsabilidade de culpado, o recurso à pena de morte…»
então,
se o «Fátima Missionária» e a Igreja Católica Apostólica Romana não condenam expressa e inequivocamente o recurso à pena de morte, o regime de Teerão e a «sharia» que é imposta ao povo iraniano, podemos até acusá-los de muita coisa.

Mas, ainda assim, uma coisa temos honestamente de lhes reconhecer: é que são coerentes!




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