quarta-feira, 2 de julho de 2008

 

Discriminar, sim, mas só as pessoas diferentes!



Manuela Ferreira Leite deu ontem a sua primeira entrevista de fundo desde que é presidente do PSD.
Foi uma entrevista de facto notável e demonstrou uma lição bem estudada e uma postura ensaiada ao mais pequeno pormenor.

Por exemplo, foi perfeitamente nítida a táctica que usou ao responder com inusitada agressividade às perguntas sobre os custos das grandes obras públicas projectadas pelo Governo, só para não ter de referenciar com qual dessas obras discorda, se é que discorda de alguma, ou qual delas não levaria a cabo se fosse ela a mandar.

Mas tenho de reconhecer que num aspecto muito particular Manuela Ferreira Leite foi muito esclarecedora e revelou ser uma mulher de grande coragem.
Mostrou a quem a quis ouvir que mesmo quando se trata de temas mais delicados não tem papas na língua e sem hesitações diz o que pensa, doa a quem doer.
Muito bem!

Como até se pode ouvir no site da TSF, Manuela Ferreira Leite foi bem clara quando lhe perguntaram qual era a sua posição sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Não sem antes deixar bem explícito que para si a família tem como objectivo único a procriação (o que me fez pena, pois que fiquei a saber que agora que tem 67 anos e já atingiu a menopausa a pobre coitada já não tem família), Manuela Ferreira Leite disse desassombradamente:

- «Não sou suficientemente retrógrada para ser contra as ligações homossexuais; aceito, são opções de cada um, é um problema de liberdade individual e sobre a qual não me pronuncio. Pronuncio-me, sim, sobre o tentar-se atribuir o mesmo estatuto àquilo que é uma relação de duas pessoas do mesmo sexo igualmente ao estatuto de pessoas de sexo diferente».

Então, confrontada pela jornalista que a entrevistava com o facto de essa posição significar que estava a fazer uma distinção entre as pessoas e (objectivamente) a fazer uma discriminação, Manuela Ferreira Leite foi uma vez mais absolutamente esclarecedora e demonstrou que não é imerecida a sua fama de “Dama de Ferro” à portuguesa e disse de forma bem clara:

- «Admito que esteja a fazer uma discriminação, porque é uma situação que não é igual!».

Simplesmente brilhante!
De facto, ficámos todos a saber que a presidente do principal partido da oposição, a líder de um partido que pode muito bem voltar um dia a ter maioria parlamentar, e que será candidata a primeira-ministra nas próximas eleições legislativas, admite claramente que é homofóbica.

Mais ainda, pelos vistos Manuela Ferreira Leite quis deixar-nos bem claro que um dia que venha a ser primeira-ministra ignorará as proibições constitucionalmente estabelecidas e não deixará de fazer as discriminações entre os cidadãos portugueses que então achar mais convenientes.

O que nos deixa já perfeitamente cientes quanto à política legislativa e à filosofia civilizacional que podemos esperar de um Governo do PSD que seja liderado por Manuela Ferreira Leite.

Mas atenção:
Se virmos bem e quisermos ser justos, admitamos que Manuela Ferreira Leite também nos deixou bem claro que a filosofia pessoal de discriminação entre os cidadãos que diz defender não se aplica a todos os casos.

Com efeito, tal como faz no caso dos homossexuais, Manuela Ferreira Leite defende a discriminação entre as pessoas, sim, mas somente nos casos em que estas são… diferentes!

Não há dúvida:
Como candidata a primeira-ministra, Manuela Ferreira Leite é de facto uma receita extraordinária…




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