quarta-feira, 11 de junho de 2008
O Dia da Raça
Tentando “escapar-se” ao batalhão de jornalistas que o pressionavam a comentar a situação que actualmente se vive com a greve dos camionistas e com a paralisação dos transportes de mercadorias em Portugal e um pouco por essa Europa fora, o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva não achou nada melhor do que sair-se com esta:
«Hoje eu tenho que sublinhar, acima de tudo, a raça, o dia da raça, o dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas».
Não é a primeira gaffe de Cavaco Silva e talvez não seja a sua última.
Mas será certamente a que jamais o abandonará e a que mais ficará colada à sua imagem para o resto da sua vida política.
E Cavaco pode crer que de vez em quando lha irão lembrar e atirar à cara quando menos esperar.
É, de facto, uma gaffe monumental.
Como não podia deixar de ser, aí estão os comentários e a tentativa de rentabilização política, principalmente vindos do lado esquerdo do sector político-partidário.
Fernando Rosas, por exemplo, foi como de costume contundente:
«Tudo isto é paradoxal, anacrónico e faz-nos ecoar os termos de outrora. Nesse sentido, acho que o Presidente da República deve uma explicação ao país acerca da recuperação para o dia 10 de Junho das designações de raça e de dia da raça».
«O dia da raça é um dia que foi posto na época do fascismo e que trabalha com a ideia absurda de que há uma raça portuguesa com características, que não sei quais são».
Mas não é assim que eu vejo a coisa.
Não há dúvida, convenhamos, que a gaffe é gigantesca.
Mas não creio que o Presidente tenha querido referir-se, nem sequer implicitamente, a uma «raça portuguesa» ou que o movessem sentimentos racistas ou xenófobos.
Cavaco Silva pode ter muitos defeitos, mas não acho que esses sentimentos se contem entre eles.
A explicação será certamente outra:
Desde a época da sua campanha eleitoral Cavaco Silva tornou-se um emérito perito em proferir lugares-comuns e um hábil especialista em dar-se bem com toda a gente, com Deus e com o Diabo e com gregos e troianos, fugindo como o Diabo da Cruz de marcar uma posição, de dar uma opinião objectiva e concreta sobre temas que possam ser mais polémicos ou «fracturantes».
Formatado nesse sentido, Cavaco Silva não podia, como é óbvio, proferir uma opinião sobre um tema que mais do que nacional é já mundial, e cujas consequências são ainda imprevisíveis.
Entre camionistas a lutar pela sua própria sobrevivência, o que não pode ser desprezado, e um Governo refém de uma situação internacional que é impotente para resolver; entre pedidos de subsídios essenciais para um sector de importância estratégica primordial e uma ausência total de recursos orçamentais e financeiros para o Governo os conceder, só em sonhos alguém poderia supor que o Presidente Cavaco Silva manifestasse qualquer opinião para além de dizer, como é costume, que «está a acompanhar a situação».
Vai daí, apanhado de surpresa Cavaco Silva fez o que costuma fazer: “rematou para canto” e foi aos escaninhos da sua memória procurar desesperadamente o primeiro lugar-comum que lhe viesse à ideia.
E foi então que, de súbito, dos confins dos seus tempos de escola e dos livros de leitura da instrução primária – e ainda por cima estava a comemorar-se «o 10 de Junho» – lhe vieram à memória os mil vezes martelados slogans dos nossos «egrégios avós», o orgulho do nosso «Império Colonial» e a glória dos Descobrimentos Portugueses, que toda a gente sabe que serviram somente para «alargar o nosso território e espalhar a fé cristã».
Assim, não é de estranhar que em pleno desespero para não ter que fazer essa coisa horrível que é dar uma opinião, Cavaco Silva uma vez mais se socorreu de um lugar-comum – e lá lhe saltou da boca essa gigantesca calinada do «dia da raça».
E é a sombra dessa gaffe que nunca mais o abandonará.
E é bem feito!
É bem feito para Cavaco Silva, para todos aqueles que o apoiam e para os que lhe passaram um cheque em branco no dia em que votaram para o eleger.
De facto, de um Presidente da República que responde sempre «talvez» às perguntas mais delicadas que lhe fazem, que se conforma e até colabora impávido e sereno com os achincalhamentos protocolares que lhe fazem na Madeira, ou que inventou essa coisa inédita e do mais abstruso cinzentismo que é promulgar «sob reserva» uma lei que lhe mereceu reservas técnicas ou políticas, que outra coisa seria de esperar, mesmo perante situações extremas e delicadas da vida nacional, que não simples banalidades, meros lugares-comuns e, pelos vistos, de vez em quando, uma ou outra… gaffe?...
E Cavaco pode crer que de vez em quando lha irão lembrar e atirar à cara quando menos esperar.
É, de facto, uma gaffe monumental.
Como não podia deixar de ser, aí estão os comentários e a tentativa de rentabilização política, principalmente vindos do lado esquerdo do sector político-partidário.
Fernando Rosas, por exemplo, foi como de costume contundente:
«Tudo isto é paradoxal, anacrónico e faz-nos ecoar os termos de outrora. Nesse sentido, acho que o Presidente da República deve uma explicação ao país acerca da recuperação para o dia 10 de Junho das designações de raça e de dia da raça».
«O dia da raça é um dia que foi posto na época do fascismo e que trabalha com a ideia absurda de que há uma raça portuguesa com características, que não sei quais são».
Mas não é assim que eu vejo a coisa.
Não há dúvida, convenhamos, que a gaffe é gigantesca.
Mas não creio que o Presidente tenha querido referir-se, nem sequer implicitamente, a uma «raça portuguesa» ou que o movessem sentimentos racistas ou xenófobos.
Cavaco Silva pode ter muitos defeitos, mas não acho que esses sentimentos se contem entre eles.
A explicação será certamente outra:
Desde a época da sua campanha eleitoral Cavaco Silva tornou-se um emérito perito em proferir lugares-comuns e um hábil especialista em dar-se bem com toda a gente, com Deus e com o Diabo e com gregos e troianos, fugindo como o Diabo da Cruz de marcar uma posição, de dar uma opinião objectiva e concreta sobre temas que possam ser mais polémicos ou «fracturantes».
Formatado nesse sentido, Cavaco Silva não podia, como é óbvio, proferir uma opinião sobre um tema que mais do que nacional é já mundial, e cujas consequências são ainda imprevisíveis.
Entre camionistas a lutar pela sua própria sobrevivência, o que não pode ser desprezado, e um Governo refém de uma situação internacional que é impotente para resolver; entre pedidos de subsídios essenciais para um sector de importância estratégica primordial e uma ausência total de recursos orçamentais e financeiros para o Governo os conceder, só em sonhos alguém poderia supor que o Presidente Cavaco Silva manifestasse qualquer opinião para além de dizer, como é costume, que «está a acompanhar a situação».
Vai daí, apanhado de surpresa Cavaco Silva fez o que costuma fazer: “rematou para canto” e foi aos escaninhos da sua memória procurar desesperadamente o primeiro lugar-comum que lhe viesse à ideia.
E foi então que, de súbito, dos confins dos seus tempos de escola e dos livros de leitura da instrução primária – e ainda por cima estava a comemorar-se «o 10 de Junho» – lhe vieram à memória os mil vezes martelados slogans dos nossos «egrégios avós», o orgulho do nosso «Império Colonial» e a glória dos Descobrimentos Portugueses, que toda a gente sabe que serviram somente para «alargar o nosso território e espalhar a fé cristã».
Assim, não é de estranhar que em pleno desespero para não ter que fazer essa coisa horrível que é dar uma opinião, Cavaco Silva uma vez mais se socorreu de um lugar-comum – e lá lhe saltou da boca essa gigantesca calinada do «dia da raça».
E é a sombra dessa gaffe que nunca mais o abandonará.
E é bem feito!
É bem feito para Cavaco Silva, para todos aqueles que o apoiam e para os que lhe passaram um cheque em branco no dia em que votaram para o eleger.
De facto, de um Presidente da República que responde sempre «talvez» às perguntas mais delicadas que lhe fazem, que se conforma e até colabora impávido e sereno com os achincalhamentos protocolares que lhe fazem na Madeira, ou que inventou essa coisa inédita e do mais abstruso cinzentismo que é promulgar «sob reserva» uma lei que lhe mereceu reservas técnicas ou políticas, que outra coisa seria de esperar, mesmo perante situações extremas e delicadas da vida nacional, que não simples banalidades, meros lugares-comuns e, pelos vistos, de vez em quando, uma ou outra… gaffe?...