segunda-feira, 28 de abril de 2008

 

Trust the People! Trust the People!



Há pessoas assim: uma reputação de competência, às vezes mesmo uma aura de excelência, precede-os para todo o lado onde vão.

Depois vai-se a ver o que disseram ou fizeram para merecer essa fama, e é então que tudo se desmorona e se desfaz em cacos.
A coisa é de tal ordem que ainda há pessoas que apoiam Pedro Santana Lopes e o consideram a personalidade ideal para levar o PSD às eleições, e o melhor Primeiro-ministro que Portugal pode almejar.
Bem sei que uma dessas pessoas é o Alberto João Jardim. Mas ouvi dizer que há mais pessoas dessas que «andam por aí».

Há, de facto, pessoas assim: e para além de Santana Lopes, ainda temos por exemplo Miguel Cadilhe, Manuela Ferreira Leite e, claro está, o João Carlos Espada.

Mas será que o «Expresso» paga mesmo ao João Carlos Espada para escrever aquelas barbaridades semanais, ou aquilo é espaço publicitário comprado?

Esta semana, entre as duas costumeiras citações que tira do Reader’s Digest, o Espada dedica-se a analisar o fenómeno da religião nesta época de eleições primárias nos Estados Unidos, e a comentar a frase que Barack Obama deixou recentemente escapar: «que a perda de empregos gera amargura e leva os trabalhadores a virarem-se para a religião».

E isto, na verdade, é uma gaffe tremenda naquelas paragens, muito mais quando os votos para a nomeação Democrata se contam um a um.

Como não podia deixar de ser, o Espada exulta com a reacção de Hillary Clinton que logo veio a correr capitalizar essa autêntica frase do Demo, e de mão no peito e ar compungido veio explicar que para ela «a fé é tudo o que dá sentido à vida».

Mas o melhor estava para vir: é que Obama, que sabe em que país vive, viu que tinha metido a pata na poça, e lá veio emendar a mão e «explicar melhor» que também para ele «a religião é um baluarte» e que «os democratas têm de ligar a fé ao trabalho».

Não fora ser pecado, que até a própria palavra é capaz de lhe fazer doer, teria tudo isto sido um autêntico orgasmo para o João Carlos Espada.
Vai daí, desata o Espada a comparar a sábia premonição de frases semelhantes há muito proferidas por alguns daqueles que mais admira e, pelos vistos, filosoficamente idolatra, como o pai George Bush, o proto-fascista Pat Buchanan e até Dan Quayle, que na sua época era o Santana Lopes lá do sítio, e que já então «apelavam aos valores culturais, à presença da religião na praça pública, à defesa da família e ao recuo da intervenção governamental».

Pois é, afia o Espada: tanta coisa na altura, tanto que «os analistas» e «a esquerda» não se cansaram de criticar palavras afinal tão sábias, e princípios pelos vistos tão belos – que agora até vemos a Hillary e até o próprio Obama a rastejarem perante as evidências que o tempo veio revelar estarem afinal absolutamente correctas.

E eis então chegada a hora de nos regozijarmos com as sábias palavras de João Carlos Espada, que tira uma brilhante conclusão de tudo isto:
- A esquerda devia ouvir era «os americanos», em vez de dar atenção ao Michael Moore;
- A direita devia confiar menos em reaccionários antidemocratas como Platão e devia ouvir mais Burke ou Churchill: «Trust the people; Trust the people!»

Pois é!
E é aqui que eu não entendo a reputação que precede o Espada, ao ponto de lhe pagarem para escrever estas pérolas.

Repare-se que a conclusão que João Carlos Espada retira de toda esta história não é nada que se relacione com a miserável subserviência dos americanos – até mesmo a de Hillary e a de Obama, obviamente – à irracionalidade dessa coisa asinina chamada «fé», ou à autêntica imbecilidade que é considerar «a presença da religião na praça pública», quando essa «praça pública» não é mais do que a Presidência dos Estados Unidos e quando essa «religião» provém de evangelistas alucinados.

Não fala o Espada dos resultados que tal política de sacristia fanática já deu ao mundo pelas mãos de George W. Bush.
Não se refere à nefanda hipocrisia dos dois candidatos democratas, que a troco de um punhado de votos se ajoelham perante os americanos mais lorpas, e não se importam de à vista de todo o planeta lamber as botas aos “red-necks” mais burgessos que habitam a maior super-potência do planeta.

Não!
João Carlos Espada prefere antes concluir que, pela mão desta mesquinhez e deste cinismo eleitoralista dos democratas Hillary e Obama, a História acabou por nos demonstrar que pessoas como Pat Buchanan e o «povo» afinal têm sempre razão.
Mesmo que, estejamos perante o «povo» mais irracional e mais imbecil.
Mas desde que seja um «povo» que a gente sabe quem é e onde está, porque é precisamente quem reclama, pois claro, a tal «presença da religião na praça pública».

E, sendo assim, temos de «confiar no “povo”».
- Trust the People! Trust the People! – Grita o Espada!!!

É então que não resisto em deixar esta pequena foto aqui à direita:

Mostra-nos uma daquelas célebres manifestações gigantescas organizadas pelo génio demoníaco de Goebbels em Nuremberga, em que centenas de milhar de pessoas, não mais do que mais uma forma de «presença da religião na praça pública», apoiavam cega e acriticamente Adolf Hitler, que aliás foi nomeado chanceler porque ganhou as eleições por larga maioria dos votos... do «povo».

Estou certo, pois, que quando olhar para esta foto o João Carlos Espada vai outra vez exultar, vai-se lembrar da tal «presença da religião na praça pública» que tanto admira e que o «povo» quer, e vai gritar a plenos pulmões:

- Trust the People! Trust the People!




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