segunda-feira, 7 de abril de 2008

 

A Porca Judaico-Cristã



Já cá faltava: desta vez o nosso diligente João Carlos Espada utiliza o «Expresso» deste último sábado (mas será que lhe pagam para isso?) para falar sobre a Educação.

E o seu diagnóstico é bastante claro: uma ortodoxia esquerdista, secular e laxista, numa autêntica lavagem ao cérebro, vem minando dramaticamente os padrões da educação.

Como se isso viesse a propósito, perora depois o Espada sobre as origens da Democracia. E, claro está e como é seu costume para fazer boa figura, não deixa de pedir ajuda a uma citaçãozinha, desta vez de Karl Popper, que se é verdade que leu, pelos vistos não percebeu de todo.

É claro que o mundo em que vivemos resulta de uma evolução milenar, de um encontro de culturas e civilizações, e as suas origens, se decerto encontram raízes na Magna Carta (porque fala ele tão recorrentemente na Magna Carta?) podem encontrar-se também muito mais além nos confins da História, por exemplo em Aristóteles, 1500 anos antes, como se podem encontrar muito depois, seja na Revolução Francesa ou em tantas Revoluções Liberais.

Mas é fácil de ver onde é que João Carlos Espada quer chegar: depois de tão brilhante diagnóstico eis que vem o remédio por aí a galope.

Para João Carlos Espada a «educação ocidental» e «o nosso sistema estatal de educação» deveriam incluir, diz ele, «as vozes dos nossos antepassados, designadamente as vozes greco-romanas e as vozes judaico-cristãs».

E é aqui que, de facto, a porca torce o rabo.
A porca judaico-cristã, está bom de ver.

Confesso que estou farto de ouvir falar dessa coisa abstrusa e absolutamente idioto-cretina que é o apelo à nossa «tradição» ou às nossas supostas «raízes» judaico-cristãs, evidentemente como se isso fosse algo de que nos devamos orgulhar ou qualquer coisa que devêssemos preservar.

Como é possível no século XXI ainda haver alguém tão imbecil que proclame a validade dos ditames de vida e a actualidade dos valores “morais” de meia dúzia de pastores da Idade do Bronze?

Decerto absolutamente cego pela irracionalidade e completamente ofuscado por essa coisa asinina (e de que ainda por cima se orgulha) e a que se costuma chamar «fé», repare-se que João Carlos Espada não apela a valores de liberdade ou de tolerância para a «educação ocidental» nem defende que a mesma seja enformada por critérios, por exemplo, de competência científica.

Prefere antes os valores que a sua «fé» e os seus deuses lhe encomendam e ao mesmo tempo deslumbram, ao ponto de já começar a ouvir vozes, desta vez «as vozes judaico-cristãs».

Só é pena que João Carlos Espada não veja que essas vozes gritam de horror.
Um horror de ódio, de raiva, de medo e de morte, que há quase dois mil anos mancha de sangue a História dos Homens.

Uma História judaico-cristã que não é mais do que uma imposição sangrenta, preservada a ferro e a fogo das fogueiras de milhares e milhares de inocentes, imolados pela preservação de valores de intolerância, de misoginia, de homofobia, de racismo ou de xenofobia, ou até pelo simples facto de adoptarem uma forma de culto ou um deus diferente ou, às vezes, simplesmente por ousarem propugnar que a Terra é redonda.

Uma História judaico-cristã que preserva os valores da mesquinhez, da "simplicidade", da pobreza, da humildade, de uma submissão canina de quem não tem sequer um pingo de amor-próprio, que não sabe o que é o sexo, a quem chama «o pecado dos prazeres da carne», de quem considera a mulher um ser abjecto e inferior, e que só há um par de séculos é digna de ter «alma», «uma coisa» de segunda que depois de «tocada» é impura, suja e indigna e que arrasta os coitados dos homens para essa coisa horrível que é a «luxúria».

Uma História judaico-cristã que ensina a «amar a Deus sobre todas as coisas», ainda que isso signifique matar os próprios filhos se isso é ordenado por Deus, pelos vistos um facínora da pior espécie.

Uma História judaico-cristã que ainda hoje preserva nas três religiões que originou e nas tristes seitas que se lhes seguiram a triste tradição da pena de morte e até da guerra preventiva e da guerra santa.

Uma História judaico-cristã que transforma todo o percurso de vida de tanta gente num negócio de medo, e intoleravelmente mesquinho, sujo e indigno, da compra da vida eterna.

Uma História judaico-cristã que sacrifica o valor da vida humana e os mais básicos valores civilizacionais das sociedades modernas aos dogmas religiosos mais imbecis e anacrónicos de que um qualquer atrasado mental um dia no meio do deserto se lembrou de catalogar, e que um outro, dizem por aí, se lembrou de repetir depois no cimo de uma montanha.

E que, pelos vistos, muitos outros, mesmo depois de quatro mil anos, ainda têm a autêntica indignidade de defender como base para «o nosso sistema estatal de educação».

E nem um único dos valores de ética, de liberdade e de cidadania que hoje conseguimos mau grado as religiões.

É bem triste o que essa coisa da «fé» faz das pessoas!




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