sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
Manuel Buíça e Alfredo Costa – Mártires da liberdade
Com a devida vénia, aqui reproduzo o texto do meu amigo Carlos Esperança publicado hoje no «Ponte Europa» e também no «Diário Ateísta»:
A Guerra dos Trinta Anos, uma das guerras religiosas mais prolongadas e devastadoras da Europa (1618/1648), quando os príncipes tinham o direito de impor as suas crenças aos habitantes dos seus domínios, custou milhões de mortos.
Só a Alemanha perdeu metade da população, reduzida de 16 para 8 milhões de habitantes.
Foi longo o sofrimento que conduziu à Paz da Vestfália, em 24 de Outubro de 1648, em que pela primeira vez é reconhecida a liberdade religiosa a protestantes e católicos sem que a conversão dos príncipes obrigasse à dos súbditos.
Foi sangrenta a conquista da liberdade religiosa pelos luteranos e calvinistas mas o totalitarismo católico foi vencido, as fronteiras foram redefinidas e a secularização avançou.
Ninguém se alegra hoje com a carnificina mas todos beneficiamos da liberdade então dolorosamente alcançada.
A Revolução Francesa pôs termo a um regime de mais de quinhentos anos e extirpou as raízes que eram obra da Igreja católica com mais de mil e duzentos anos. Em 1789 começou uma década em que o Iluminismo destruiu a autoridade do clero e da nobreza, aboliu o absolutismo monárquico e abriu as portas aos modernos Estados democráticos.
Ninguém exulta com o terror então vivido, com o sangue, a violência, as retaliações e, muito menos, com a decapitação de Luís XVI e de Maria Antonieta, mas aboliram-se o feudalismo, a monarquia, o absolutismo, o poder do clero e da nobreza e começou a Idade Contemporânea que os historiadores datam em 1789.
A Revolução produziu as mais profundas transformações políticas, económicas e sociais de sempre, além de ter estado na génese da independência dos países da América Latina.
O dia 14 de Julho – tomada da Bastilha –, é justamente o dia nacional da França.
Em 1 de Fevereiro de 1908, a degradação ética, o caos económico e a bancarrota, eram em Portugal o saldo da ditadura de João Franco, em clima de vindicta política – prisões arbitrárias, fecho do Parlamento, encerramento de jornais, julgamentos sumários e anunciadas deportações em massa de adversários políticos, monárquicos e republicanos.
Instalou-se o terror após a suspensão da Carta Constitucional que o rei assinou com a frieza com que premia o gatilho na caça às perdizes e o entusiasmo com que apoiava a ditadura de João Franco desde 1906.
Manuel Buíça e Alfredo Costa evitaram o desterro e a morte de numerosos portugueses, pondo fim à ditadura opressora, e abriram o caminho para a implantação da República, desgraçadamente à custa das vidas de D. Carlos, do príncipe herdeiro e deles próprios, sonhando com a República sob os escombros da monarquia que agonizava e a que vibraram um golpe fatal.
O assassínio é inaceitável, como insuportável era a repressão do ditador João Franco e a cumplicidade real.
Por isso se lamentam as trágica mortes reais e a brutalidade exercida contra os regicidas mas, tal como o Mestre de Avis, os conjurados de 1640 e Machado Santos, Manuel Buíça e Alfredo Costa merecem um lugar no altar da Pátria que amaram e no coração da República por cujos ideais se imolaram.