sábado, 29 de dezembro de 2007

 

UM BOM ANO DE 2008!



O «Random Precision» vai passar o fim-do-ano fora, lá fora.
Por isso, cá fica com alguma antecedência o tradicional post de fim-de-ano, e que (com algumas diferenças) publico um vez mais.
Cá vai:


«Um carabineiro com um martelo de madeira dá-me um forte golpe nos dedos mindinhos de ambas as mãos.
«A seguir, com um alicate, começa a arrancar-me as unhas.
«Nesse momento entra o sargento, que lhe tira o alicate para o utilizar a arrancar-me o bigode. Em dada altura, como resultado da grande dor e do desespero, consigo morder-lhe a mão, o que faz com que um carabineiro me dê uma coronhada na cara.
«Perco a consciência e, ao despertar, dou-me conta que sangro muito da cabeça, do nariz, da boca, e que me faltam oito dentes. Tinham-mos arrancado com o alicate ou com golpes. Não sei».

«Estava grávida de cinco meses.
«Obrigaram-me a ficar nua e a ter relações sexuais com a promessa de uma pronta libertação.
«Apalparam-me os seios, deram-me choques eléctricos nas costas, na vagina, no ânus.
«Arrancaram-me as unhas dos pés e das mãos. Agrediram-me com bastões de plástico e com a coronha de espingardas. Drogaram-me. Simularam fuzilar-me.
«Deitada no chão, com as pernas abertas, introduziram-me ratos e aranhas na vagina e no ânus. Sentia que era mordida e acordava banhada no meu próprio sangue.
«Conduzida a lugares onde era violada vezes sem conta, chegaram a obrigar-me a engolir o sémen dos violadores.
«Enquanto me agrediam na cabeça, no pescoço, na cintura, obrigavam-me a comer excrementos».

*

Entre 35.686 testemunhas, estes são apenas dois depoimentos de vítimas de tortura da Junta Militar do Chile durante o regime de Pinochet que voluntariamente se dirigiram à “Comissão Nacional sobre Prisão Política e Tortura”.
Esta comissão foi criada no Chile em 2003 para dar a conhecer em toda a sua extensão, aos chilenos e ao mundo, os horrores praticados pela ditadura militar e pela adopção da tortura e do horror como uma política de Estado no período compreendido entre 1973 e 1990.

*

Como pode isto acontecer?
Como podem tantos seres humanos, seja em nome de um Deus seja em nome de um líder, praticar actos desta indescritível barbárie?

*

Stanley Milgram, professor de psicologia social na Universidade de Yale, levou a cabo em 1974 uma experiência com o objectivo de estudar a «Obediência à Autoridade»:

Entre pessoas comuns (operários, estudantes, secretárias, empresários, lojistas, etc.) foram recrutados voluntários a quem foi atribuído o papel de "professores".
Esses “professores” foram instruídos a aplicar choques eléctricos de intensidade crescente (de 15 a 450 Volts) num outro indivíduo (que estava amarrado a uma cadeira com eléctrodos numa sala adjacente), e que era designado "estudante".

Os choques seriam administrados todas as vezes que o "estudante" errava uma resposta a um questionário previamente determinado.
Milgram tinha explicado aos "professores" recrutados que o objecto daquele estudo residia precisamente nos efeitos da punição sobre a memória e sobre aprendizagem.

Como é óbvio, o "professor" não sabia que o "estudante" da pesquisa era afinal um actor, que convincentemente interpretava e manifestava desconforto e dor a cada aumento da potência dos “choques eléctricos” que lhe eram pretensamente infligidos.

O resultado da experiência foi absolutamente perturbador e mais “chocante” que qualquer voltagem aplicada:
- Nada menos do que 65% das pessoas envolvidas – os "professores" – chegaram mesmo, e sem qualquer hesitação, a administrar ao "estudante", sob ordens do cientista (que na experiência representava a “autoridade”) os choques mais potentes, dolorosos (de 450 volts) e claramente identificados como perigosos e... potencialmente mortais!

E todos os "professores" - mas todos eles - administraram pelo menos 300 Volts!

Em muitos casos houve "professores" que a determinada altura da aplicação dos choques eléctricos se preocuparam com o bem-estar do "estudante" e até perguntaram ao cientista quem se responsabilizaria caso algum dano viesse a ocorrer.
Mas quando o cientista os descansou, afiançando-lhes que assumiria toda e qualquer responsabilidade do que acontecesse e os encorajou a continuar, todos os "professores" persistiram na aplicação dos choques com as voltagens mais elevadas, mesmo enquanto ouviam gritos de dor e súplicas dos “estudantes” para que os parassem.

*

Entretanto, foi feita uma experiência laboratorial semelhante, desta vez com macacos-rhesus.

Nessa experiência (sem dúvida absolutamente tenebrosa, diga-se de passagem), os macacos eram colocados em jaulas próprias onde só recebiam alimento se puxassem uma determinada corrente.
Contudo, sempre que puxavam essa corrente era-lhes proporcionada comida, mas simultaneamente era infligido um violento choque eléctrico a outro macaco-rhesus, cujo sofrimento poderiam então observar através de um vidro espelhado.

Passado muito pouco tempo todos os macacos se aperceberam de como tudo funcionava e de que era precisamente o seu gesto de puxar a corrente que, enquanto lhes garantia a comida que pretendiam, era também ao mesmo tempo a causa do sofrimento do outro macaco.

Acontece que logo que faziam essa associação praticamente todos os macacos deixaram de puxar a corrente e preferiam passar fome a fazer sofrer um outro macaco, com quem nem sequer estavam familiarizados e que pertencia até a uma tribo diferente.

Numa ocasião e mesmo ao fim de um longo tempo de fome, os cientistas observaram que, no máximo, somente 13% dos macacos acabavam por puxar a corrente.

Alguns chegaram ao ponto de quase morrer de fome; mas nunca mais puxaram a corrente!

*

É, de facto, perturbadora a comparação entre as duas experiências.

Porque, para já, ela demonstra que as mais básicas noções de ética são conaturais aos indivíduos, mesmo aos animais, ainda que sejam nossos «primos».

Demonstra ainda que essa ética é racional, porquanto decorre de princípios de civilização e de necessidades práticas de convívio social e também de interacção individual.

Demonstra, finalmente, que essa ética, que é racional, prática e civilizacional só cede perante princípios de irracionalidade, sejam de ordem religiosa ou de ordem política e que, quantas vezes mascarados de princípios de ordem “moral”, acabam por ser acatados e aceites por tantas pessoas, que acriticamente lhes passam a obedecer cegamente, pugnando até pela sua imposição aos demais cidadãos.

É esta “obediência”, firmada em primeiro lugar na ausência de um consciência individual, e que é irracional e cega a qualquer noção de ética e até à mais básica dignidade humana, que leva às barbaridades praticadas pelos Homens.
Seja em nome de uma ideologia, de uma política e até mesmo de uma religião;
Seja nas ditaduras latino americanas, na União Soviética, na Alemanha de Hitler, ou noutro país qualquer, até mesmo em Portugal.

E que conduz ao Holocausto ou aos Gulags e ao extermínio de milhões de pessoas.
Que conduz a uma Inquisição tenebrosa ou a um terrorismo frio e sem rosto que torturam e matam em nome de Deus.

As ditaduras podem ser instituídas por uma “Junta Militar”, por uma religião, ou por um qualquer punhado de indivíduos que assumiram num país uma tal concentração de poderes que lhes permite a prática impune de tudo o que lhes vem à ideia.

Mas só é possível – sejamos claros – com a inexplicável complacência e com a injustificável tolerância para com os mais imbecis critérios de irracionalidade, que mais não significam do que uma autêntica cumplicidade de toda a estrutura da sociedade.
De todos nós!

De facto, Stanley Milgram repetiu a sua famosa experiência em mais de uma dezena de outros países, de todos os continentes, sempre com resultados absolutamente idênticos.
Do Chile de Pinochet ao Cambodja de Pol Pot, passando pelo Portugal da Pide e dos Tribunais Plenários, será talvez a “obediência”, a "falta de sentido crítico" e a irracionalidade com que acatam determinações políticas ou religiosas, que explicam por que motivo pessoas comuns, colocadas em determinadas circunstâncias e sob a influência de uma autoridade – política, ideológica ou religiosa – que nem sequer se lembram de questionar (e que antes procuram até impor aos outros), sejam capazes de cometer os crimes mais hediondos.

E é até irónico que virtudes humanas como a lealdade, a solidariedade, o sacrifício próprio, a disciplina ou o amor ao próximo, e que tanto valorizamos, sejam as mesmas propriedades que também criam pessoas homofóbicas, misóginas, racistas ou xenófobas ou que as transformam em autênticas máquinas destrutivas de guerra, corrupção e morte, e ligam homens e mulheres a princípios, ideologias ou religiões repulsivos e perversos.


Ideologias e princípios, quer políticos quer também religiosos que são, ainda hoje, cega, acrítica e incondicionalmente apoiados e irracionalmente seguidos por tantas e tantas pessoas.


É pois a este planeta, habitado pelos humanos, que desejo um bom ano de 2008!


quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

 

O Cristo Pagão



No site de Richard Dawkins encontrei este texto e os cinco filmes que se lhe seguem.
Têm pouco mais de 8 minutos cada um e são absolutamente imperdíveis.

Falam-nos de um «Cristo Pagão» e das verdadeiras origens do cristianismo, e põem mesmo em causa que Jesus Cristo tenha alguma vez de facto existido.

«Há mais de dois mil milhões de cristãos em todo o planeta – cerca de um terço de toda a população humana. No âmago da sua religião está o Novo Testamento e o nascimento, a vida, a morte e a ressurreição de Jesus de Nazaré. Para a cristandade a «palavra escrita» é aquilo que une a fé de todos os seus seguidores.

«Mas, e se fosse possível provar que Jesus nunca existiu? E se houvesse provas de que cada palavra do Novo Testamento é baseada em mitos e metáforas?

«Baseado no “best seller” de Tom Harpur, este documentário «O Cristo Pagão» examina todas estas questões. Durante as suas pesquisas Harpur descobriu que o Novo Testamento é integralmente baseado na mitologia egípcia, que Jesus Cristo nunca existiu e que, de facto, todos os seus textos foram escritos para serem interpretados metaforicamente. Terão sido os fundadores da Igreja Católica que os deturparam e passaram a levar à letra tudo o que consta das Escrituras.
«Segundo Harpur, foi este precisamente o seu erro fatal – e a própria razão pela qual a cristandade ainda hoje luta.

«O Objectivo do “Cristo Pagão” não é acelerar a decadência da cristandade mas antes trazer um novo fôlego ao seu Livro Sagrado e, ao mesmo tempo, trazer ao mundo uma fé mais rica e espiritual»
.


Pois bem:
Se Jesus Cristo terá existido ou não, isso será tema de um infindável debate.
O que é facto é que nem um só dos historiadores e cronistas da época, contemporâneos ou que tenham vivido nos anos mais próximos, se refere uma única vez a Jesus Cristo.

As únicas provas que nos chegam constam unicamente da Bíblia, sendo certo que dos autores dos 4 evangelhos o único que conheceu pessoalmente Jesus foi Mateus. E mesmo o seu evangelho foi escrito quase 50 anos após a sua morte, por uma terceira pessoa a quem o apóstolo Mateus havia narrado os acontecimentos que ali são relatados.

Uma coisa parece então certa: se existiu de facto, Jesus Cristo deve ter sido alguém na verdade absolutamente irrelevante para a História do Império Romano e de todas as suas colónias, e não terá passado de mais um entre as centenas ou mesmo milhares de “messias” e pregadores que pululavam naquelas épocas, e que viviam da crendice e da exploração do misticismo das pessoas.
Aliás, terá sido precisamente isso que poderá explicar a sua queda às mãos do seu próprio povo: a desilusão provinda da falta de resultados concretos e da «libertação» que aquele Messias prometia, mas que afinal não trazia.

Terão sido, então, os que lhe sobreviveram que fabricaram esta fantástica máquina de dominação e de servidão humana, que passou antes de mais pela «misteriosa» coincidência entre Jesus Cristo e Deus, ainda com o Espírito Santo a trazer uma noção de «Sagrada Família» ou «Trindade», tão comum entre os cultos solares (como Osiris, Isis e Hórus).
E terá sido precisamente Constantino o primeiro a aperceber-se das potencialidades desta autêntica fábula, que moldou, desenvolveu e depois utilizou para unificar o seu Império sob uma religião oficial única, e que escolheu entre a miríade de cultos que então havia precisamente porque a sua mãe se convertera entretanto ao cristianismo.

Mas o melhor é mesmo ver os filmes:

- 1ª Parte: http://www.youtube.com/watch?v=58JyacWEFbE

- 2ª Parte: http://www.youtube.com/watch?v=xlTtMsHUFak

- 3ª Parte: http://www.youtube.com/watch?v=my97_xZPMo4

- 4ª Parte: http://www.youtube.com/watch?v=IZZcpeCtllc

- 5ª Parte: http://www.youtube.com/watch?v=FtaJYZwfgRI


segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

 

A Mitologia do Natal



Estando noiva de José, e antes ainda de com ele ter coabitado, Maria apareceu grávida por acção do Espírito Santo.

Quando José se preparava para a repudiar, apareceu-lhe em sonhos um "anjo do Senhor" que lhe ordenou que recebesse Maria em sua casa e que aceitasse o filho que ela carregava como obra do Espírito Santo.
Quando a criança nasceu, e tal como o anjo lhe havia ordenado, pôs-lhe o nome de Jesus.

Todas as culturas antigas, sem excepção, tinham um horror profundo e visceral à esterilidade. O que é absolutamente compreensível, face à óbvia conexão entre a própria sobrevivência da tribo ou de uma determinada sociedade e o seu fortalecimento face aos povos vizinhos e rivais, por exemplo, em disputas territoriais.

Não é, por isso, de estranhar que desde a sua origem todos os cultos religiosos revelem nas suas mitologias e iconografias não só esse temor, como muito principalmente uma óbvia preocupação pela fecundidade. De tal forma que nas mais remotas manifestações de religiosidade o lugar de Deus foi ocupado por uma mulher.
Só muito mais tarde a mulher foi relegada para um papel de mãe, esposa ou amante do Deus, sempre com a responsabilidade da renovação e da reprodução, mas também obviamente virgem, como convém a toda a terra que vai receber uma nova semente e de quem se espera a máxima fecundidade.

Por isso, também, só de uma divindade é possível esperar o dom da fecundidade, principalmente quando se trata de uma mulher estéril que acaba por dar à luz, um milagre que obviamente só está ao alcance de Deus.
Ao mesmo tempo, constitui prova inequívoca da proximidade de um homem a Deus o facto de ter nascido do milagre da concepção de uma mulher virgem.
Assim, vemos que essa associação entre uma concepção milagrosa e a deificação do filho nascido de um fenómeno que só está ao alcance de Deus (sempre após uma história mais ou menos fantasiosa de uma «anunciação» feita por um anjo ou qualquer outra entidade celestial, seja ao vivo ou em sonhos), é afinal perfeitamente vulgar e recorrente em todos os cultos religiosos da antiguidade e, curiosamente, nas mais distantes regiões do planeta.

Aparecem então como filhos de mães virgens tanto Deuses como grandes personagens, como os imperadores Chin-Nung, da China, ou Sotoktais do Japão, ou como os Deuses Stanta, na Irlanda, Quetzalcoatl do México, Vixnu da Índia, Apolónio de Tiana da Grécia, Zaratustra da Pérsia, Thot do Egipto, ou como Buda, Krishna, Confúcio, Lao Tsé, etc., etc.
O mito vai mesmo ao ponto de Gengis Cã ter um belo dia determinado que também ele era filho de uma mulher virgem, para se deificar aos olhos do seu povo e dos povos que ia conquistando, e para se fazer obedecer e respeitar cegamente como um Deus pelas suas tropas.

Entre os mais famosos homens filhos de mulheres virgens está, como é sabido, Jesus Cristo.

É também muito curiosa a mitologia comum relacionada com o nascimento destas personagens deificadas pelo seu nascimento de mulheres virgens, como sejam a existência de estrelas ou sinais celestes que os anunciam ou comemoram: uma milagrosa luz celeste anunciou a concepção de Buda, um meteoro o nascimento de Krishna, uma estrela o nascimento de Osíris e uma «estrela no Oriente» o nascimento de Jesus Cristo, embora somente o evangelho de Mateus se lhe refira, sendo pacificamente aceite que não mais do que para corporizar ou fazer concretizar (quase um século depois da morte de Jesus Cristo) profecias messiânicas do Antigo Testamento.

Ao mesmo tempo, é também absolutamente natural que faça parte dos cultos de fecundidade a adoração de Deuses relacionados o ciclo solar e com a renovação anual das estações do ano e, com estas, as colheitas ou a produção de gado, com especial incidência e manifestação em festas, mitos, cerimónias e ritos religiosos comemorativos, realizados normalmente nos Solstícios, preferencialmente no Solstício de Inverno.

A corporização mais comum destes Deuses de renovação e de fecundidade é feita em relação ao Sol, símbolo perfeito da sucessão regular e infalível dos dias e das estações do ano, quer seja adorado como um Deus em si, e em praticamente todas as civilizações conhecidas, das Américas Central e do Sul, ao Egipto, passando pela Suméria ou Mesopotâmia, quer também através de outros Deuses «solares», como o Deus-faraó egípcio Amenófis IV, que reinstalou o culto de Áton (Sol) e mudou mesmo o seu nome para Aquenáton, ou como Deuses que resultam da antropomorfização do Sol, como os Deuses Hórus, Mazda, Mitra, Adónis, Dionísio, Krishna, etc.

Destes Deuses, um merece especial referência: Mitra.

Mitra é um dos principais Deuses iranianos (anteriores a Zaratustra), simbolizado com uma cabeça de Leão (representação típica dos Deuses solares) e conhecem-se manifestações do seu culto já com mais de mil anos antes do nascimento de Cristo.
Mais tarde os romanos adoptaram o seu culto e incluíram-no mesmo no seu panteão.

Enquanto divindade, as funções de Mitra eram carregar com a iniquidade e os males da Humanidade e expiar os pecados dos homens.
Mitra era também visto como meio de distinção entre o bem (Ormuzd) e o mal (Ahriman), como fonte de luz e sabedoria e estava ainda encarregue de manter a harmonia no mundo e de proteger todos os homens.
A mitologia do Deus Mitra tinha-o como um «enviado», ou um Messias, que voltaria ao mundo para julgar toda a humanidade.
Sem ser o Sol propriamente dito, Mitra era tido como seu representante, sendo invocado como o próprio Sol nas cerimónias do seu culto, onde era tido como espiritualmente presente no interior de uma custódia, por isso colocada em lugar de especial destaque.

Todos os Deuses solares depois de expiarem os pecados dos homens acabam por morrer de morte violenta, acabando depois por ressuscitar ao fim de três dias e de ascender aos Céus ou ao Paraíso.
Osíris morre em luta com o mal, corporizado no seu irmão Seth (identificado com Satanás), que o coloca num túmulo escavado numa rocha, ressuscitando ao fim de três dias para subir ao Paraíso.
O Deus hindu Xiva sacrifica-se pela humanidade, e morre ao ingerir uma bebida corrosiva que causaria a destruição e a morte de todo o mundo, acabando também por ressuscitar ao fim de três dias.
O Deus Baco foi também assassinado, tendo ressuscitado três dias depois, através dos seus pedaços recolhidos por sua mãe.
O mesmo acontecia aos Deuses Ausónio, Adónis ou Átis, que morriam para salvar os homens ou expiar os seus pecados e acabavam por ressuscitar ao fim de três dias.

Uma vez mais, um dos mais famosos «ressuscitados» é Jesus Cristo, embora este tenha ressuscitado em metade do tempo dos restantes Deuses, talvez somente um dia e meio depois.

Ou seja:
A figura de Jesus Cristo, e toda a religião e mitologia cristã, foram construídos com base num modelo pagão dos deuses solares que então se conheciam.

A própria escolha da data de 25 de Dezembro para comemoração do nascimento de Jesus Cristo é disso um inequívoco exemplo.
Aliás, esse dia 25 de Dezembro só foi adoptado pela Igreja Católica já no século IV, por decisão do Papa Libério, com o óbvio objectivo de “cristianizar” os cultos solares, então ainda muito populares e difundidos (como dá até a entender a proximidade com a data do Solstício de Inverno – data do “nascimento do Sol, que nesse dia começa a acordar da sua letargia de Inverno), e de os fazer confundir e “absorver” pelos próprios ritos cristãos.

E foi adoptado o dia 25 de Dezembro precisamente porque era esse o dia das festividades dos Deuses Mitra, Baal e Baco (ou Dionísio).

Merece especial referência o facto de todos esses Deuses solares serem representados fisicamente com a cabeça rodeada de um disco ou uma auréola amarela, como ainda hoje acontece com os Deuses e até com os santos católicos. Aliás os próprios imperadores romanos que governaram no auge do culto destes deuses solares faziam-se representar devidamente aureolados, por exemplo nas moedas que mandavam cunhar.

O imperador Constantino, a quem se deve a criação da Igreja Católica Apostólica Romana (e que nunca se converteu ao cristianismo, antes o tendo adoptado como religião oficial do império, sem nunca proibir as restantes, para melhor o unificar), mandava realizar regularmente sacrifícios em honra do Sol e as moedas que mandou cunhar continham a inscrição «Soli Invicto Comiti, Augusti Nostri».

Não obstante a oficialização do cristianismo no seu império, Constantino manteve a obrigatoriedade de as suas tropas rezarem e prestarem culto ao Deus Sol todos os Domingos, isto é, «O Dia do Sol».

Também neste dia do Sol se pode ver a óbvia influência destes cultos na formação dos ritos católicos, com a mudança do «Sétimo Dia» ou «Dia do Senhor» do Sábado para o Domingo, uma vez mais com o objectivo de fazer “absorver” as festividades e os ritos solares, nem que para isso se tenha tido de “aldrabar” a própria redacção de um dos mandamentos trazidos por Moisés do cimo da montanha.

Como se não bastasse a óbvia coincidência ritualística dos cultos solares com os cultos cristãos, como a morte violenta e ressurreição três dias depois, da presença física do Deus na custódia, no nascimento de uma mulher virgem, do «Dia do Senhor» como «Dia do Sol» (Sunday, em inglês), da auréola solar a coroar as divindades, da designação e da forma radiada dos chapéus dos bispos católicos, ou «mitras», é precisamente com este Deus Mitra que se dá o mais curioso aproveitamento dos ritos e cultos solares por parte da Igreja Católica.

De facto, segundo a sua mitologia, Mitra nasceu de uma virgem; nasceu no dia 25 de Dezembro; nasceu numa cova ou numa gruta; foi adorado por pastores; foi adorado por magos ou sábios que interpretaram o aparecimento de uma estrela no céu como anúncio do seu nascimento, pregou incansavelmente entre os homens a sua mensagem de bem por oposição ao mal; fez milagres para gáudio dos que o seguiam; foi perseguido; foi morto; ressuscitou ao terceiro dia; o rito central do seu culto passava pela distribuição de pão e vinho entre os iniciados presentes, numa forma de eucaristia de composição e fórmula em tudo idênticas à que a Igreja Católica viria a adoptar...


Em suma:
Independentemente da bebedeira consumista que se apodera das pessoas, o que actualmente se comemora como o nascimento de Deus, na forma de «Deus Filho», ou de «Menino Jesus» (como se sabe, um dos Deuses da Mitologia cristã), não é mais do que a apropriação de um culto pagão, de um «Deus Solar», como tantos houve durante a História dos Homens.

Para um católico, dir-me-ão, este aproveitamento ritualístico será irrelevante, na medida em que o seu significado mítico ou simbólico, qualquer que seja a forma ou a data em que se realiza, continuará sempre a ser (actualmente) o nascimento de Jesus Cristo, como referi um dos Deuses da mitologia cristã.

É certo.
Mas é também certo que esta apropriação existiu de facto, e o seu significado como fenómeno antropológico não pode ser ignorado.
Como também não pode ser ignorado, ainda assim, o manifesto significado simbólico, mítico e até místico dessa mesma apropriação.

Até por que uma coisa mais terá de ser realçada, essa sim, talvez a que contenha uma maior valoração simbólica deste aproveitamento e apropriação ritualísticos:
- É que, como não podia deixar de ser, toda esta transformação e apropriação foram feitas sob a égide de um Papa, mais exactamente do Papa Libério (352-366) e sob a força legislativa e fortemente repressiva do Imperador Constâncio II que, com mão de ferro e com uma ferocidade inaudita e que ficou na História, as impôs pela força das armas.

E assim, uma vez mais, vemos que também o ritualismo desta nova mitologia cristã, mesmo esta que se refere ao próprio nascimento do seu Deus, deste «Menino Jesus» deitado nas palhinhas, uma vez mais teve de ser imposta aos Homens pela força.
Obviamente depois do conveniente e costumeiro... banho de sangue...


sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

 

Há sempre uma razão...



(clicar na imagem para a ampliar)



quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

 

A «EasyJet» ou como no "low cost" é que está o ganho



«Companhia de aviação associa-se a causa 'gay'» é o título do artigo de Fernanda Câncio publicado no «Diário de Notícias» de hoje:

«Uma companhia especializada em voos low cost resolveu, num gesto inédito em Portugal, promover-se através da associação à causa do casamento das pessoas do mesmo sexo.
Para tal, convidaram o casal Teresa Pires e Helena Paixão, cuja pretensão de casamento civil está em apreciação no Tribunal Constitucional, para "celebrarem a bordo um compromisso homossexual".

O voo em causa, que parte hoje do aeroporto da Portela, tem como destino a capital da Espanha, país que em 2005 legalizou a união civil de pessoas do mesmo sexo, pelo que o anúncio do evento, feito por uma agência de comunicação, leva a crer que o "compromisso" em causa é um casamento.
Na verdade, trata-se, como as próprias Teresa e Helena certificaram ao DN, de "uma celebração da união de facto".
Certo é que a união de facto entre pessoas do mesmo sexo está legalmente reconhecida em Portugal desde 2001, pelo que "a celebração de compromisso" que o press release da agência de comunicação anuncia nada tem de novo ou de extraordinário - a não ser o facto, nunca antes verificado no País, de uma empresa usar a luta pelos direitos dos homossexuais para buscar visibilidade mediática.

As duas mulheres, que em Fevereiro de 2006 tentaram casar numa conservatória de Lisboa, recusaram esclarecer se vão receber alguma compensação monetária, ou em espécie, pela sua colaboração neste evento de marketing, adiando quaisquer outras declarações para conferência de imprensa convocada, pela mesma agência de comunicação, para as 13.20h de hoje, na pista do aeroporto.
A convocatória de imprensa, enviada às redacções na segunda-feira, impunha inclusivamente um "embargo" noticioso "até dia 19", pelo que não foi possível obter esclarecimentos da própria companhia aérea (a EasyJet) ou de Jordi Petit, um activista espanhol do movimento LGBT que estará também presente na conferência de imprensa. "As declarações serão na conferência", disse Jordi ao DN.

Ainda assim, o DN conseguiu saber, junto da agência de comunicação (a Tinkle) que organizou o "acontecimento", que foram oferecidos a Teresa e Helena (assim como, presume-se, para as respectivas filhas, já que o press release menciona a presença das crianças na "celebração") os voos de ida e volta assim como dois dias de estada em Espanha.
Quanto à ideia do evento, surgiu, segundo a Tinkle, na sequência de um contacto das duas mulheres com a companhia de aviação, solicitando a realização da tal "celebração" a bordo.

Esta afirmação é, no entanto, contraditada por um activista de uma associação LGBT portuguesa, que disse ao DN que a respectiva associação foi contactada por alguém que em nome da EasyJet solicitou contactos de casais homossexuais que quisessem "participar" num evento deste género. A associação não deu resposta à solicitação, mas a agência acabaria por conseguir chegar à fala com Teresa e Helena, contactando o advogado que as representa na sua intenção de casar.

Luís Grave Rodrigues diz ter recebido um telefonema "de uma agência de comunicação" propondo o "acontecimento" há semanas, "no auge da controvérsia sobre o anúncio da cerveja Tagus" (anúncio que foi acusado de ser homofóbico por várias associações, tendo sido retirado).
Grave Rodrigues deu o contacto das duas mulheres mas diz tê-las desaconselhado de aceitar a proposta.

O evento de hoje, que o professor de jornalismo e ex-provedor do leitor do DN Mário Mesquita vê como aquilo a que se dá o nome de "pseudo-acontecimento" surge-lhe revelador, até pela imposição de um "embargo", como uma "técnica de marketing nova", que utiliza um assunto "que por ser controverso tem um valor acrescentado do ponto de vista da atenção do público"».

*

Entretanto, na mesma edição de hoje do «Diário de Notícias» um artigo com o título «Petição contra homofobia gera polémica na Assembleia» dá-nos conta que uma petição internacional que sugere a criação de um «Dia Mundial de Luta Contra a Homofobia» mereceu na Comissão Parlamentar de Ética uma proposta de arquivamento da autoria do deputado monárquico (eleito pelo PSD) Nuno da Câmara Pereira.

Recorreu certamente o fadista à mediocridade dos seus talentos artísticos para fundamentar a sua proposta.
Com efeito, depois de invocar um argumento formal relacionado com o número de assinaturas necessário para a petição, o deputado cançonetista brindou-nos com este brilhante número de circo, dizendo:
- Um «Dia Mundial contra a Homofobia» colocaria os homofóbicos "numa situação de discriminação" e isso significaria de alguma forma, "atentar contra a liberdade de opinião".

Mas este quadrúmano cantor está redondamente enganado. E desafinado.
Porque o que isso significa é uma coisa bem diversa:

Para já, significa que na Assembleia da República, na sede do Poder Legislativo da República Portuguesa, está sentado um sujeito que, enquanto recusa o reconhecimento dos direitos fundamentais (estabelecidos até na própria Constituição que jurou defender) a um grupo de cidadãos portugueses discriminados em razão da sua orientação sexual, defende ao mesmo tempo que não se deve discriminar quem os discrimina, porque isso seria uma coisa que ele não tolera: porque isso, afinal, seria... uma discriminação!

Bem bonito, não é?

Mas o que tudo isso significa também, é que a escolha dos deputados à Assembleia da República há muito que deveria passar, por parte dos partidos (e de todos eles), por um critério bem mais rigoroso.
Porque fazer sentar numa cadeira de um Parlamento um tipo cujas aptidões que lhe são conhecidas são simplesmente cantar o fado – e ainda por cima muito mal, diga-se de passagem – não podia deixar de dar este resultado.

Um resultado tão incomensuravelmente triste, quanto a profunda imbecilidade que revela.


segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

 

Ain't life a motherfucker?…



Desde miúdo que me lembro de Sylvie Vartan.

Principalmente no final dos anos 60, quando a música francesa ainda ombreava por esse mundo fora com a música anglo-saxónica, como seria possível esquecer aqueles temas que tocavam invariavelmente em todas as festas, naqueles pequenos gira-discos com a tampa a fazer de coluna de som?

Nunca esquecerei o «Si Je Chante C’est Pour Toi» ou o «La Plus Belle Pour Aller Danser», cantados pela lindíssima Sylvie Vartan, e que nos punham o coração da bater com toda a força quando íamos buscar uma miúda para dançar.

Hoje simplesmente apeteceu-me pôr aqui esta música de Sylvie Vartan.

Chama-se «Mon Père».


sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

 

O Cardeal


Quem disse que os mais altos responsáveis da Igreja Católica não estão preparados para defrontar todos os desafios da vida moderna?...



quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

 

Uma Religião Verosímil



Segundo a «BBC», a «CNN» e também o site de James Randi, desde que no passado mês de Janeiro abriu uma nova filial em Berlim, a «Igreja da Cientologia» tem estado sob forte escrutínio das autoridades alemãs e são cada vez mais fortes os rumores de que poderá mesmo vir a ser completamente proibida em todos os estados da Alemanha.

Segundo fontes policiais e judiciais a «Igreja da Cientologia» está em manifesto confronto com os princípios constitucionais alemães, já que não passa de uma organização que, sob a capa de uma religião, mais não faz do que explorar financeiramente os seus seguidores, procurando ainda limitar ou até mesmo eliminar os seus mais básicos direitos humanos, como o direito ao livre desenvolvimento intelectual ou o direito à igualdade.

Segundo a lei alemã a «Igreja da Cientologia» não pode ser definida como uma religião, mas sim como uma mera empresa comercial que, para além de visar o simples lucro financeiro, ainda se aproveita da ingenuidade e da vulnerabilidade das pessoas para lhes extorquir dinheiro.

Como não podia deixar de ser os «cientologistas» refutam veementemente esta ideia, afirmando a «Cientologia» como uma verdadeira religião baseada na compreensão do espírito humano, e considerarão a sua proibição como uma violação do direito à liberdade religiosa.

A «Igreja da Cientologia» ficou famosa nos últimos anos graças à visibilidade mediática de alguns dos seus fiéis, como os actores Tom Cruise, John Travolta, Isaac Hayes, Kirstie Alley ou Lisa Marie Presley.

Os «cientologistas» acreditam que podem adquirir a capacidade de voar ou de mover objectos só com o uso do poder mental ou de matar pessoas com o pensamento.

A «Igreja da Cientologia» baseia-se nos ensinamentos de um escritor de ficção científica, L. Ron Hubbard, considerado como uma espécie de «anticristo», e os seus fiéis seguidores acreditam que há para aí uns 75 milhões de anos Xenu, um ditador de uma civilização de outra galáxia decidiu eliminar o excesso de população dos seus domínios.

Vai daí, transportou muitos milhões de pessoas em naves espaciais parecidas com aviões DC-8 para a Terra, que na ocasião ainda era conhecida como «Teegeeack».
Essas pessoas foram então paralisadas e depositadas em vários vulcões terrestres. Depois o feroz Xenu atirou-lhes com bombas de hidrogénio para cima e, com excepção de meia-dúzia de sobreviventes, todos foram simplesmente chacinados.

Contudo, as «essências» ou as «almas» desses extraterrestres ainda persistem e andam por aí entre nós, e por vezes apoderam-se dos espíritos das pessoas, causando-lhes, como é bom de ver, sérios danos mentais e psíquicos.

É aí que entra a «Igreja da Cientologia», que é a única religião que nos pode salvar dessa autêntica desgraça que é o risco que todos nós obviamente corremos de ainda virmos a ser possuídos pelos espíritos dos cidadãos extra-galácticos que há 75 milhões de anos foram enfiados dentro de vulcões terrestres e assassinados com bombas de hidrogénio pelo facínora do Xenu.

É esta a base fundamental da «Cientologia», tal como nos foi trazida por L. Ron Hubbard, e cujos seguidores persistem em ver reconhecida na Alemanha como uma verdadeira religião.

Provavelmente não o conseguirão, tal é a feroz persistência com que se abarbatam do dinheiro das pessoas, de preferência com uma confortável conta bancária, e que compram a peso de ouro a sua imunidade contra a possessão pelos espíritos malignos dos alienígenas mortos por Xenu.

Ou então será simplesmente a própria inverosimilhança, se não mesmo o manifesto ridículo, por vezes até risível ou um pouco idiota, das doutrinas e das crenças que professam que levará as autoridades alemãs a recusarem-se a reconhecer a «Igreja da Cientologia» como uma verdadeira religião.

Pobres e ingénuos «cientologistas»!
Vê-se mesmo que não passam de uns inexperientes amadores nestas coisas da religião.

Está-se mesmo a ver que para a sua Igreja ser reconhecida como "uma verdadeira religião", com o direito constitucional à liberdade religiosa perfeitamente reconhecido, e até com alvará para extorquir dinheiro às pessoas e tudo, tinham é que arranjar uma doutrina mais verosímil e credível e que, antes do mais, não fizesse rir as pessoas pelo ridículo das suas doutrinas.

Podiam arranjar uma história mais credível, assim estilo com um Deus que se manda a si próprio vir à Terra em forma de pomba engravidar uma virgem, que sabe da notícia de que está grávida não porque lhe faltou o período ou porque já lhe incha a barriga ou tem enjoos matinais, que até vomita o leite do pequeno-almoço quando vai a caminho da fonte, mas porque veio um anjo avisá-la, que os anjos, esses sim, é que andam por aí entre nós e são uns gajos porreiros, essa é que é essa, não é como os extra-terrestres, e então dessa virgem nasce esse próprio Deus, agora em forma de homem, e filho de si próprio, e também neto, já agora, enquanto a virgem continua virgem, está visto, porque o canal vaginal das mulheres só é puro quando funciona unicamente no sentido descendente, porque no sentido ascendente é pecado e a mulher fica logo suja e impura, e depois então esse Deus morre, embora por ordem de si próprio, mas morre mesmo, assim bem morto, porque o espetam num madeiro e tudo, e quando toda a gente pensava que não fica nada bem a um Deus morrer, e quando toda a malta já estava a ficar à rasca com um Deus morto, que assim pouco préstimo teria, convenhamos, eis que finalmente ele ressuscita e sobe ao Céu, agora como homem, com corpo e alma e tudo, e vai-se sentar à direita de si próprio, a olhar cá para baixo a ver as pessoas a matarem-se umas às outras em seu nome, enquanto fazem cerimónias onde comem rodelinhas de pão ázimo que dizem que tem Deus lá dentro todo transubstanciado, coitado, todo encolhido, que nem espaço tem para se sentir confortável, e quando o padre, com os dedos sujos do cuspo das outras pessoas, lhes mete na ponta da língua aquela porcaria, que se cola ao céu-da-boca e tudo, então já podem vir cá para fora dizer que os dogmas são mais importantes que as vidas humanas, que se deve matar as pessoas que acreditam noutros deuses, porque este sim, este é que é um Deus que diz que o devem amar a ele acima de todas as coisas, mas também que se devem matar as pessoas que não acreditam em deus nenhum, as pessoas que são homossexuais ou as que fazem bruxarias, e até as pessoas que trabalham ao sábado, embora tenha de ser tudo morto à pedrada, que dói mais e as pedras são mais baratas, mas deixa ficar algumas pessoas, essas sim, mais especiais, reservadas para serem atadas a uns postes e mortas pelo fogo, que é mais giro vê-las assim a guinchar, a guinchar até morrer, e depois a crepitar que até parecem baratas a estalar, principalmente a porcaria dos judeus, mas esses têm de levar umas torturazinhas primeiro, que foram eles que mataram o Nosso Senhor, que era aquele sujeito que era Deus e que engravidou a própria mãe, e que era homem ao mesmo tempo, embora como homem fosse também judeu, mas esse sim, era um judeu que era bonzinho e não era para queimar, nem para tostar, mesmo circuncisado e tudo, e era um judeu que é Deus, embora fosse de outra religião, que isso de uma religião ter como Deus um homem que é doutra religião é uma coisa perfeitamente normal, e enfim um Deus que diz que o homem que meter um tubo de borracha à volta da pila quando está a pecar, que é como quem diz, que está a usar o canal vaginal da mulher no sentido que foi proibido por Deus, que é o sentido ascendente, que nem a mãezinha dele o usou nesse sentido, coitada, só no outro e foi um pau, porque isso seria feio e toda a gente sabe que isso dá cabo da mulher que não fica com préstimo para mais nada, então o homem vai parar ao Inferno, com tubo de borracha e tudo, que aquilo deve estar um calor dos Diabos e até derrete à volta da pila, e é bem feito, porque deve doer como o raio, mesmo que o tubo de borracha na pila impeça a propagação de doenças que andam por aí por certos países a dizimar populações inteiras, que aquilo que Deus diz é mais importante que as populações, mesmo as populações inteiras, que se não quiserem morrer cheias daquelas borbulhas horríveis a deitar pus que a SIDA provoca, então que não pequem nem andem por aí a usar os canais vaginais das mulheres em sentido contrário ao que Deus disse, porque só quem pode pecar é quem é sacerdote da religião, mesmo que seja com criancinhas pequeninas, que assim não faz mal, mesmo que se lhes dê cabo do resto da vida, e quando vier a polícia ou os tribunais pega-se no dinheiro que se andou a extorquir às pessoas em troca da vida eterna e pagam-se-lhes indemnizações e fica tudo bem e faz de conta que não foi nada, a não ser que seja um arcebispo ou um cardeal, porque aí não há indemnizações para ninguém, e refugia-se o gajo no Vaticano e já não lhe acontece mal nenhum, porque ali Deus está a protegê-lo das criancinhas, dos tribunais, da polícia e até mesmo dos espíritos dos extraterrestres que o Xenu mandou matar com bombas de Hidrogénio e agora andam por aí a chatear os incautos e a possuir as pessoas, que até são piores que os judeus e os ateus e esses gajos todos juntos, e ainda por cima, como não se vêem, nem sequer se podem atar a postes e deitar-lhe fogo para vê-los a guinchar, a guinchar e a estalar como se fossem baratas...


Isso sim!
Era uma história assim que os «cientologistas» deviam arranjar para serem reconhecidos como uma verdadeira religião, com verosimilhança, seriedade e credibilidade e que ninguém já achava ridícula, risível e até um pouco idiota.

E daí, se calhar talvez não...


segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

 

«A Última a Morrer»



O abominável César das Neves dedica a sua homilia no «Diário de Notícias» desta segunda-feira à «esperança».

E de facto, o título que dá à sua prédica sobre a esperança não podia ser mais apropriado: «A Última a Morrer».

Pois bem:
A maior parte das vezes não vale a pena tecer grandes comentários às imbecilidades místicas que o beato das Neves bolsa na sua incansável procura de um lugar na vida eterna, nem que seja por troca com a sua própria dignidade enquanto pessoa humana.
Seria uma pura e simples perda de tempo.

Esta é uma dessas vezes.
Mas é irresistível não dizer duas ou três coisas: é que na sua fanática irracionalidade o César das Neves matou de vez a esperança que eu tinha de encontrar alguma réstia de lucidez lá no fundo desta «gente de fé».
Essa esperança podia ser a última a morrer, sim, mas... já morreu!

E não vale mesmo a pena tecer grandes considerações sobre o texto que escreve.
Bastará fazer duas breves citações:

- «A ânsia do progresso revelou-se no martírio da Igreja».
e
- «Porque razão o progresso tomou a Igreja como inimiga?».

Perante esta incomensurável cretinice, quem conheça o mínimo da História da Humanidade, que valeria a pena dizer?

É tão lorpa, tão néscio o César das Neves, que conseguiu mesmo atribuir à Igreja Católica a fundação das Universidades e a preservação da civilização!
Encarregues dessa nobre tarefa em prol do bem da Humanidade ficaram alguns «génios» que, enquanto «cristãos devotos» criaram em nome da Igreja, pasme-se... a ciência moderna!!!

No seu estupor de fé, o Neves tem mesmo a frieza, de citar alguns dos tais génios e devotos cristãos que, em nome da Igreja Católica, criaram a ciência e preservaram a civilização e tem mesmo o autêntico arrojo de, entre eles citar o próprio Galileu.
Cita mesmo Copérnico, cujo livro «De Revolutionibus Orbium Colelestium» esteve no «Index» dos livros proibidos pela Inquisição até nada menos do que 1835.

E se falou de Galileu, terá sido por esquecimento que não falou de um seu contemporâneo, Giordano Bruno?...

Numa palavra:
Em qualquer Estado de Direito digno desse nome o direito à liberdade religiosa tem forçosamente de merecer dignidade de protecção e garantia constitucionais. E é precisamente o que acontece em Portugal.
Que ninguém duvide que, sem qualquer sombra de dúvida ou sequer a mínima hesitação, considero o direito à liberdade religiosa como um dos mais fundamentais direitos dos cidadãos.

Reconheço, por isso, às «pessoas de fé» o seu direito a praticarem e a exercerem em condições de total liberdade os cultos que lá muito bem entendam.
Desde que não me chateiem, para mim está tudo bem.
Reconheço-lhes também, claro está, até o seu pleno direito a proferirem os dislates e as maiores barbaridades, tal como o ignaro do César das Neves o faz todas as segundas-feiras no «Diário de Notícias».

Tudo isso eu reconheço às «pessoas de fé».

Mas enquanto isso mesmo, enquanto «pessoas de fé», não me peçam é que as respeite!


quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

 

O Novo Papa


Este filme é já antigo, eu sei.
(O som, claro está, é absolutamente essencial).

Mas é irresistível não o publicar ainda agora.
Porque ele continua a demonstrar de forma absolutamente brilhante como o folclore irracional que é a religião, por indiscutível que seja o direito fundamental de todos os cidadãos à sua prática e à sua vivência em condições de plena liberdade, não é por isso que deixa de ser, acima de tudo... profundamente ridículo!



quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

 

Intervalo Publicitário



O anúncio publicado abaixo foi escolhido pelos fabricantes da «Red Bull» para a época de Natal que se aproxima.
Esta versão italiana mostra os «quatro Reis Magos» (sim, quatro) a entregarem «ao menino» ouro, incenso, mirra e, claro está, «Red Bull».

Mas o filme está já a provocar forte polémica em Itália, onde autoridades da Igreja Católica daquele país consideraram que a imagem da Sagrada Família está representada «de modo sacrílego» e o anúncio foi por isso considerado «blasfemo».

Que melhor motivo poderia haver para o publicar aqui?...



terça-feira, 4 de dezembro de 2007

 

Modernices




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