terça-feira, 9 de outubro de 2007

 

Entre os horrores da imbecilidade e da coerência católica



No «Diário de Notícias» João César das Neves escreveu um texto que intitulou «Entre os Horrores do Fanatismo e do Relativismo» cuja inegável genialidade bem nos exige que tenhamos de o ler integralmente.

Mas deixemos aqui somente duas pequenas citações que vale a pena realçar.
Diz-nos este iluminado católico, citando o Papa Bento XVI:

«Uma razão que é surda ao divino e que relega a religião para o âmbito das subculturas é incapaz de se inserir num diálogo de culturas».

Assim,
O que o bom do Joãozinho nos quer dizer com isto é que os católicos e o seu querido e santo Papa são capazes de se «inserir num diálogo de culturas» porque «não relegam a religião para o âmbito das subculturas», tudo isto, vejam só bem, porque... «a sua "Razão" não é surda ao "Divino"».

Muito haveria aqui a adjectivar e a comentar sobre a iluminada inteligência do abominável César das Neves, a propósito desta brilhante alegação de que «a sua razão dá ouvidos ao divino».

Mas não é preciso!
Porque ele próprio, Deus lhe perdoe, se encarrega de o fazer sozinho, quando nos diz:
«o primeiro regime teocrático xiita da História não é uma ditadura desmiolada. É uma democracia que há quase três décadas manobra com argúcia na cena mundial».

Ou seja, deve ter sido o «Divino» que segredou ao ouvido da «Razão» deste católico da neves eternas que o Irão é afinal uma DEMOCRACIA e que, há quase três décadas, isto é, de Khomeini a Ahmadinejad, até manobra a cena mundial. E com argúcia e tudo!

E, assim, ficamos a saber que os católicos cuja «Razão» ouve vozes do «Divino» consideram democrático um país em que vigora a «Sharia», isto é a lei islâmica, e que é precisamente de onde provêem as «Fatwas», ou sentenças de morte proferidas por motivos religiosos, quer contra Salman Rushdie quer contra “cartoonistas” dinamarqueses ou suecos, um país onde as mulheres são consideradas sub-humanas, não têm direito de voto, são normalmente impedidas de frequentar escolas e obrigadas a usar véus e «burqas», onde os fiéis da religião “Bahá” são perseguidos, privados de direitos civis e impedidos de ter acesso ao sistema de ensino, e até onde os homossexuais são simplesmente... condenados à morte.

É por isso, e exclusivamente numa justa homenagem a João César das Neves que aqui ponho ao lado uma fotografia publicada recentemente nos jornais de todo o mundo, que mostra dois jovens iranianos de olhos vendados e prestes a serem executados por enforcamento, precisamente por serem homossexuais.

Mas não deverá ser somente da razoabilidade que das vozes que anda por aí a ouvir que este São João da Neves define como «democrático» um país que enforca os seus cidadãos homossexuais.

Deve ser também por uma questão de pura e simples... coerência religiosa!

Uma coerência, que lhe chega do «Divino» que lhe anda por aí pelos cantos a segredar coisas aos ouvidos e que, decerto, lhe cita belas e inspiradoras passagens da Bíblia, desse admirável «Livro dos Livros», que é a «palavra de Deus ditada aos Homens», como esta do Levítico (20:13) que, tal como a democracia iraniana, também determina que os homossexuais devem ser condenados à morte.

E assim, é precisamente a propósito de «coerência» que, enfim, espero que o piedoso colunista das neves não se importe que seja no título que deu ao seu artigo do «Diário de Notícias» que eu me inspire para dar a este "post" um título verdadeiramente adequado, que lhe dedico também por inteiro e que, tal como já está escrito lá em cima, se fica então a chamar assim:

- «Entre os horrores da imbecilidade e da coerência católica».




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