terça-feira, 17 de abril de 2007
A Coerência Relativa
Nos velhos tempos do "PREC" contava-se uma anedota a respeito de Otelo Saraiva de Carvalho.
Dizia-se que Otelo tinha sido submetido a um teste psicotécnico para poder ser graduado em general quando foi comandante do COPCON.
O teste consistia simplesmente nalgumas perguntas de aritmética básica, a que Otelo teria respondido assim:
- 2 + 2 ? - Resposta: 5
- 2 + 2 ? - Resposta: 6
- 2 + 2 ? - Resposta: 7
- 2 + 2 ? - Resposta: 8
- 2 + 2 ? - Resposta: 9
Resultado do teste:
- Aprovado; estúpido mas progressista!
Enfim, esta é mais uma daquelas anedotas que as figuras públicas e os políticos têm de pagar como preço da sua notoriedade.
Veio-me esta anedota à ideia a propósito da costumeira crónica das segundas-feiras do abominável João César das Neves no «Diário de Notícias».
Porque de facto, entre muitas outras qualidades que possui, temos de reconhecer que João César das Neves é, sem qualquer sombra de dúvida, uma pessoa extremamente... coerente!
Desta vez, sob o título «A vida humana afinal é violável», o beato João César de Santa Maria partilha connosco na sua crónica a indignação da conclusão a que chegou:
- Com a promulgação do decreto da Assembleia da República sobre a «exclusão da ilicitude nos casos de interrupção voluntária da gravidez», terá passado a ser oficial que em Portugal a vida humana passou a ser violável.
Tudo isto em desobediência ao artigo 24º n.º 1 da Constituição que estabelece que «a vida humana é inviolável».
De facto, a lógica de João César das Neves é absolutamente imbatível. E há-de valer-lhe certamente o reino dos Céus.
É curioso como César das Neves invoca para si os favores da Constituição, mas somente após uma escolha criteriosa dos casos em que isso lhe convém.
Porque, por exemplo, nada impede o nosso coerente beato de bramar contra os direitos dos homossexuais e contra a igualdade societária que para eles se preconiza, apesar de estar tão clara e taxativamente estabelecida no artigo 13º da Constituição a proibição da discriminação dos cidadãos em razão da sua orientação sexual.
Depois, e como se a lógica só funcionasse às cambalhotas, o nosso católico articulista não deixa de ironizar sobre a própria legitimidade de um decreto que se baseou num referendo que obteve uma aprovação maioritária de votos, sim, mas sem que fosse vinculativo por não ter tido uma participação vinculativa.
Provavelmente, lá no fundo da sua incomensurável coerência, defenderá que tal legitimidade só poderia existir se o decreto tivesse obedecido à tendência minoritária que resultou derrotada no referendo...
Mas o auge do artigo do João César chega-nos com a frieza trazida pelas neves da afirmação de que esta lei tem práticas em comum comparáveis às dos «nazis, esclavagistas, chauvinistas e afins», na medida em que também considera a vida humana violável.
E foi precisamente aqui que me lembrei da anedota do Otelo que contei lá em cima.
Porque é precisamente aqui que a coerência do abominável João chega tão alto, tão alto, que deve estar a fazer cócegas a todos os santos da Igreja que este fervoroso católico venera como semi-deuses, desde Escrivá de Balaguer a Torquemada.
De facto, em vários debates na campanha do referendo ouvi João César das Neves afirmar que era «pela vida» e que, por isso, era contra TODAS as formas de aborto.
Mesmo nos casos de violação, de malformação do feto e de perigo de vida para a mãe. Todos!
É, na verdade, uma posição extremamente coerente, lá isso é verdade: se a vida é um valor absoluto e se se é «pela vida», então não se podem admitir excepções.
Porque a coerência, se é relativa, não é coerência!
Mas o que é curioso é como às vezes a «violabilidade da vida humana» parece tão perfeitamente aceitável para o nosso piedoso articulista.
De facto, é muito curioso que o mui católico João das Neves ainda não tenha explicado como concilia essa coisa de ser «pela vida» e de ser ao mesmo tempo contra TODAS as formas de aborto, mesmo nos casos em que, por exemplo numa gravidez ectópica, se o aborto não for feito a mulher pura e simplesmente morre.
O que é também curioso é que o mui apostólico João das Neves ainda não explicou como concilia essa coisa de ser «pela vida» e de ser ao mesmo tempo favorável à política da Igreja Católica quanto ao preservativo, tida por todos os responsáveis técnicos como imediata e directamente responsável por centenas de milhar de novos casos de infecção com HIV todos os anos, principalmente na África sub-saariana e noutros países de semelhante influência católica, como as Filipinas, a Colômbia ou a Polónia.
O que é curioso é que o mui católico apostólico romano João das Neves ainda não explicou como concilia essa coisa de ser «pela vida», ao ponto de ser contra TODAS as formas de aborto, mesmo nos casos em que a mulher venha a morrer, e de ao mesmo tempo se intitular católico, quando o «Catecismo da Igreja Católica» admite no seu parágrafo 2.263º que se mate outrem em caso de legítima defesa, admitindo mesmo no parágrafo 1.909º a legítima defesa preventiva e no parágrafo 2.309º o conceito de «guerra justa».
Mas muito mais curioso ainda, é que o mui católico apostólico romano São João César das Neves ainda não explicou como concilia essa coisa de ser «pela vida» e de ao mesmo tempo se intitular católico e de professar e defender com unhas e dentes o «Catecismo da Igreja Católica», que no seu parágrafo 2.267º admite clara e inequivocamente a... pena de morte!
Com tudo isto, imagino que se fizessem a João César das Neves um teste parecido com o da anedota do Otelo, deveria dar qualquer coisa parecida com isto:
- 2 + 2 ? - Resposta: 5
- 2 + 3 ? - Resposta: 5
- 2 + 4 ? - Resposta: 5
- 2 + 5 ? - Resposta: 5
- 2 + 6 ? - Resposta: 5
Resultado do teste:
- Aprovado; é sem dúvida coerente!...
Desta vez, sob o título «A vida humana afinal é violável», o beato João César de Santa Maria partilha connosco na sua crónica a indignação da conclusão a que chegou:
- Com a promulgação do decreto da Assembleia da República sobre a «exclusão da ilicitude nos casos de interrupção voluntária da gravidez», terá passado a ser oficial que em Portugal a vida humana passou a ser violável.
Tudo isto em desobediência ao artigo 24º n.º 1 da Constituição que estabelece que «a vida humana é inviolável».
De facto, a lógica de João César das Neves é absolutamente imbatível. E há-de valer-lhe certamente o reino dos Céus.
É curioso como César das Neves invoca para si os favores da Constituição, mas somente após uma escolha criteriosa dos casos em que isso lhe convém.
Porque, por exemplo, nada impede o nosso coerente beato de bramar contra os direitos dos homossexuais e contra a igualdade societária que para eles se preconiza, apesar de estar tão clara e taxativamente estabelecida no artigo 13º da Constituição a proibição da discriminação dos cidadãos em razão da sua orientação sexual.
Depois, e como se a lógica só funcionasse às cambalhotas, o nosso católico articulista não deixa de ironizar sobre a própria legitimidade de um decreto que se baseou num referendo que obteve uma aprovação maioritária de votos, sim, mas sem que fosse vinculativo por não ter tido uma participação vinculativa.
Provavelmente, lá no fundo da sua incomensurável coerência, defenderá que tal legitimidade só poderia existir se o decreto tivesse obedecido à tendência minoritária que resultou derrotada no referendo...
Mas o auge do artigo do João César chega-nos com a frieza trazida pelas neves da afirmação de que esta lei tem práticas em comum comparáveis às dos «nazis, esclavagistas, chauvinistas e afins», na medida em que também considera a vida humana violável.
E foi precisamente aqui que me lembrei da anedota do Otelo que contei lá em cima.
Porque é precisamente aqui que a coerência do abominável João chega tão alto, tão alto, que deve estar a fazer cócegas a todos os santos da Igreja que este fervoroso católico venera como semi-deuses, desde Escrivá de Balaguer a Torquemada.
De facto, em vários debates na campanha do referendo ouvi João César das Neves afirmar que era «pela vida» e que, por isso, era contra TODAS as formas de aborto.
Mesmo nos casos de violação, de malformação do feto e de perigo de vida para a mãe. Todos!
É, na verdade, uma posição extremamente coerente, lá isso é verdade: se a vida é um valor absoluto e se se é «pela vida», então não se podem admitir excepções.
Porque a coerência, se é relativa, não é coerência!
Mas o que é curioso é como às vezes a «violabilidade da vida humana» parece tão perfeitamente aceitável para o nosso piedoso articulista.
De facto, é muito curioso que o mui católico João das Neves ainda não tenha explicado como concilia essa coisa de ser «pela vida» e de ser ao mesmo tempo contra TODAS as formas de aborto, mesmo nos casos em que, por exemplo numa gravidez ectópica, se o aborto não for feito a mulher pura e simplesmente morre.
O que é também curioso é que o mui apostólico João das Neves ainda não explicou como concilia essa coisa de ser «pela vida» e de ser ao mesmo tempo favorável à política da Igreja Católica quanto ao preservativo, tida por todos os responsáveis técnicos como imediata e directamente responsável por centenas de milhar de novos casos de infecção com HIV todos os anos, principalmente na África sub-saariana e noutros países de semelhante influência católica, como as Filipinas, a Colômbia ou a Polónia.
O que é curioso é que o mui católico apostólico romano João das Neves ainda não explicou como concilia essa coisa de ser «pela vida», ao ponto de ser contra TODAS as formas de aborto, mesmo nos casos em que a mulher venha a morrer, e de ao mesmo tempo se intitular católico, quando o «Catecismo da Igreja Católica» admite no seu parágrafo 2.263º que se mate outrem em caso de legítima defesa, admitindo mesmo no parágrafo 1.909º a legítima defesa preventiva e no parágrafo 2.309º o conceito de «guerra justa».
Mas muito mais curioso ainda, é que o mui católico apostólico romano São João César das Neves ainda não explicou como concilia essa coisa de ser «pela vida» e de ao mesmo tempo se intitular católico e de professar e defender com unhas e dentes o «Catecismo da Igreja Católica», que no seu parágrafo 2.267º admite clara e inequivocamente a... pena de morte!
Com tudo isto, imagino que se fizessem a João César das Neves um teste parecido com o da anedota do Otelo, deveria dar qualquer coisa parecida com isto:
- 2 + 2 ? - Resposta: 5
- 2 + 3 ? - Resposta: 5
- 2 + 4 ? - Resposta: 5
- 2 + 5 ? - Resposta: 5
- 2 + 6 ? - Resposta: 5
Resultado do teste:
- Aprovado; é sem dúvida coerente!...