quarta-feira, 14 de março de 2007

 

O Prepúcio dos Deuses



Se há coisa certa, inequívoca e absolutamente indiscutível neste mundo é a coerência e a espantosa lucidez da doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana.

Só assim se explica que, ao longo de dois mil anos, e ainda hoje, tantos milhares de fiéis, pessoas inteligentes e dotadas de uma razoabilidade a toda a prova, se orgulhem de ser católicos, ao ponto de levarem à prática a doutrina e os ensinamentos da Igreja Católica e de os vivenciar no seu quotidiano e até, tal é a sua certeza, de os tentarem impor às outras pessoas.

Os exemplos são incontáveis.
Mas poderíamos referir, a título de mero exemplo dessa lucidez e razoabilidade católicas, o «Mistério da Santíssima Trindade», que explica com uma clarividência espantosa como é que uma religião que tem três Deuses principais, uma deusa de segunda categoria e algumas dezenas de milhar de semi-deuses é, ainda assim, uma religião monoteísta.

Outro exemplo, que será, decerto, a base fundamental da origem do cristianismo é a ressurreição de Jesus Cristo e a sua posterior subida em corpo e alma aos Céus, onde está agora sentado à direita de Deus pai. O que aliás é a mesma coisa que dizer que está sentado à direita de si próprio.
Mas isso é outra conversa.

Só que, na sua procura incessante da racionalização da sua doutrina, a subida aos Céus de Jesus Cristo em corpo e alma trouxe também um problema que embaraçou e preocupou durante mais de milénio e meio todo o mundo católico.
É que, recorde-se, o Deus cristão tinha a curiosa particularidade de, ele próprio, professar outra religião que não a religião cristã.
Mas isso é também outra conversa.

De facto, Jesus Cristo era judeu. E como é tradição judaica, Jesus Cristo não escapou à circuncisão.
Ora bem.
Assim sendo, a pergunta parece mais do que óbvia:
Depois de Jesus Cristo ressuscitar e subir aos Céus em corpo e alma, qual teria sido o destino do seu sagrado prepúcio?
Não é de surpreender a perplexidade e a preocupação da Igreja Católica durante tantos séculos perante tão importante e transcendente problema.
Porque, convenhamos, não é um problema despiciendo qualquer.

Sejamos razoáveis: ao fim e ao cabo é o Prepúcio dos Deuses!

Teria o sagrado prepúcio ficada na Terra?
Não! Impossível! O prepúcio de Deus não poderia ficar por aí ao Deus dará e a apodrecer num canto qualquer ou a ser pasto dos bichos.
Teria o sagrado prepúcio regressado, por assim dizer, à sua origem, recolando-se ao Sagrado Pénis?
Também não parecia uma resposta razoável, até porque a Bíblia não diz uma palavra sobre o assunto.
E depois essa resposta implicaria estarmos para aí a falar do pénis de Jesus Cristo a torto e a direito, o que, de facto, não parecia nada boa ideia.

Mas a resposta tinha de ser encontrada.
Mas, obviamente, essa resposta teria de ser inquestionavelmente lúcida, racional e lógica, em coerência, aliás, com toda a doutrina da Igreja Católica.

Até que, já no século XVII, o célebre erudito e teólogo católico Leo Allatius resolveu finalmente o problema.
Na sua famosa obra, pelos vistos de primordial importância para toda a cristandade, «De Praeputio Domini Nostri Jesu Christi Diatriba» Leo Allatius revelou que, lá do recôndito lugar onde tinha estado em sagrado repouso desde o tempo da circuncisão, também o Santo Prepúcio subiu aos Céus ao mesmo tempo que Jesus Cristo, mas convertendo-se imediatamente, algures durante tal subida, nos anéis de Saturno.

Absolutamente brilhante!
E foi assim que uma vez mais a doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana se reencontrou com a lógica, a razoabilidade, a coerência e a lucidez de que ao longo de dois mil anos tanto se orgulham os católicos de todo o mundo.
E mais: ao mesmo tempo ainda que, note-se, acabou por fornecer a mais razoável explicação científica não só para a existência daqueles anéis, mas para nos ensinar também qual o motivo a que se deve ser Saturno um planeta assim tão bonito, que só poderia ser obra de Deus.
E a resposta, afinal tão simples, aí está: o Santo Prepúcio!




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