segunda-feira, 5 de março de 2007

 

Fundamentalistas católicos na União Europeia



O dia 5 de Maio (de 2006) não foi na Polónia um dia de celebração.
De facto, depois do LPR (Liga das famílias polacas, extrema-direita ultra-católica) ter integrado a coligação governamental, neste dia foram nomeados ministros dois fanáticos, Andzej Lepper e Roman Giertych, o último ministro da Educação e vice primeiro ministro.

Roman Giertych é o presidente honorário de uma organização neo-nazi, a All-Polish Youth, que reformou (isto é, refundou) em 1989, na mesma linha que a tornou célebre nos anos 30, anti-semitismo primário.

O Cleveland Jewish News resume o curriculum da organização :
«A All-Polish Youth é a juventude da LPR, um partido que acredita que a Igreja Católica deve ter um papel central no governo, suspeita do capital estrangeiro e de estrangeiros em geral, é assumidamente homofóbica e está associada a um anti-semitismo do tipo do existente nos anos 30».

Roman Giertych e o irmão Fr Wojciech Giertych, o actual teólogo de Bento XVI, constituem a quarta geração de uma linha de nacionalistas católicos, fundamentalistas versão acéfalos criacionistas, e anti-semitas, iniciada pelo seu bisavô Franciszek, continuado pelo avô, Jędrzej, que o historiador Norman Davies chamou um «anti-semita profissional» e culminando no pai, Maciej.
Este último, na sua curta história no Parlamento Europeu, já causou celeuma com um louvor ao ditador católico Franco e à Guerra Civil espanhola, pelo guerra à evolução e mais recentemente com um folheto profundamente anti-semita, «Civilizações em guerra na Europa» (aqui podem ver o dito lixo em formato pdf).

Maciej ulula que não é racista já que os judeus não são uma raça, logo anti-semitismo não é equivalente a racismo.
Acho especialmente interessante que no meio de dislates sortidos e da visão à la Bento XVI da superioridade da civilização cristã, escreva no dito folheto que «o problema com esta gente é que ainda esperam o Messias quando toda a gente sabe que ele apareceu há 2000 anos em Jerusalém. Os judeus sofreram pela sua cegueira religiosa desde então».

Devido às suas convicções fundamentalistas mesmo a opinião pública polaca não aceitou de bom grado a nomeação do homofóbico, anti-semita e criacionista Roman.
Os dias seguintes à sua nomeação viram milhares de polacos nas ruas, essencialmente estudantes universitários e professores, protestando a sua nomeação, de Varsóvia a Cracóvia.

Um dos cerca de 2.000 estudantes, a estudante de sociologia Dominika Blachnicka, que protestavam a nomeação do fundamentalista católico, de acordo com a Bloomberg, afirmou:
«A All-Poland Youth usa slogans intolerantes, racistas e anti-semitas. [Giertych como minstro da Educação] é a realização do meu pior pesadelo».

Umas semanas depois, uma petição com cerca de 140 000 assinaturas pedia a sua remoção do cargo. A oposição pública ao devoto católico continua até hoje, não obstante Giertych ter prometido não introduzir os seus ideais católicos no sistema educacional polaco.

E na realidade a promessa foi de curta duração já que um escassos meses depois da nomeação de Roman o ministério da Educação polaco iniciou as hostilidades contra, claro, o evolucionismo com a afirmação por parte de Miroslaw Orzechowski, vice-ministro da Educação, que o evolucionismo é uma mentira, «uma história de carácter literário que poderia servir de guião a um filme de ficção científica».

A tentativa de introdução do criacionismo cristão nos curricula científicos polacos era apenas expectável já que o pai de Roman, o tal eurodeputado anti-semita Maciej Giertych, é um dos mais vocais criacionistas europeus.
Maciej, um botânico que contribui regularmente para a atrasadice mental que dá pelo nome Answers in Genesis, debita pérolas como «A evolução não é uma conclusão retirada de observações. É uma ideologia [do Demo]».
Na introdução do livro «Creation Rediscovered», de Gerard J. Keane, tem um assomo de lucidez e explica porque é necessário impingir o criacionismo: «para salvar o cristianismo».

A carta com os delírios criacionistas puros e duros – Maciej acredita piamente não só que o Neanderthal anda no meio de nós como terem os dinossauros e o homem coexistido – que o devoto católico escreveu à Nature em Novembro último foi seguida de inúmeros protestos e manifestações de vergonha por parte de cientistas polacos (e não só).

Com esta breve apresentação não é de espantar que o devoto Roman, que apresenta todas as virtudes católicas em elevado grau, seja igualmente um paladino de óvulos, espermatozóides e da família «tradicional».
Assim, depois de o pai escandalizar os colegas no parlamento europeu com o seu folheto anti-semita e com uma série de seminários anti-evolução, foi a vez do filho merecer as críticas europeias quando considerou que a futura Constituição Europeia deve incluir uma Carta dos Direitos das nações europeias que defenda os valores essenciais da UE – os dogmas católicos para o devoto Roman - como sejam a identidade nacional, a proibição absoluta do aborto (inaceitável mesmo quando está em risco a vida e a saúde das pecaminosas Evas ) e da concessão de quaisquer direitos a homossexuais, a que chamou «propaganda homossexual».

Com este exemplo dos extremos a que o fundamentalismo católico, mesmo dentro da UE, pode chegar, continua a mistificar-me que alguns crentes nacionais insistam que o problema do fundamentalismo islâmico se resume à parte islâmico.
E que o fundamentalismo católico é um fundamentalismo «bom» porque católico.
Combater o fogo com o fogo como pretendem os fanáticos cristãos, nomeadamente Bento XVI, ou seja, combater o fundamentalismo islâmico com fundamentalismo cristão, destruiria qualquer esperança de paz, democracia e tolerância neste conturbado planeta...

- Um artigo de Palmira F. da Silva



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