segunda-feira, 26 de março de 2007
Dois Conceitos Inseparáveis
A actual composição do poder político da Polónia, um Estado membro de pleno direito da União Europeia desde Maio de 2004, caracteriza-se por uma realidade invulgar e extremamente curiosa: o Presidente polaco, Lech Kaczynski, é também o irmão gémeo do Primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski.
Não admira assim que a proximidade familiar entre os dois governantes tenha trazido à Polónia uma grande estabilidade no relacionamento institucional entre o Presidente e o Primeiro-ministro e uma rara coincidência de intenções políticas entre ambos.
Mas há também uma outra curiosa coincidência entre os dois irmãos gémeos: são ambos conhecidos pela sua extrema religiosidade e pelo seu enorme fervor católico.
Aliás, a sua base política e social de apoio reside precisamente na ultra conservadora e Católica Apostólica Romana «Liga das Famílias Polacas», de que são militantes activistas.
Não admira, por isso, que os dois irmãos não se cansem de repetir, em total concordância, que não é por pertencerem à União Europeia que deixarão de lutar para que a Polónia mantenha a sua moral e os seus valores tradicionalmente católicos.
E para não deixarem os seus créditos por mãos alheias, os dois fervorosos e católicos irmãos começaram já a levar a cabo as iniciativas legislativas e as políticas que entendem que na Polónia representam a «moral e os valores tradicionalmente católicos» e a que resolveram chamar «A Revolução Moral».
Para já, decidiram «acertar as contas com o passado» e ameaçam perseguir judicialmente os responsáveis políticos que, após a queda do muro de Berlim (e mesmo até antes, quando era ainda temida uma possível invasão militar soviética), procuraram que a transição da Polónia para a democracia se fizesse de forma pacífica e sem ajustes de contas com o anterior regime.
Ao mesmo tempo ordenaram a abertura ao público dos arquivos da polícia política dos tempos do comunismo, visando expor e «desmascarar» todos aqueles que durante décadas colaboraram ou se conformaram com o regime então vigente.
Depois, parecendo ignorar o quanto dos indescritíveis horrores do Holocausto teve lugar em território polaco, os piedosos irmãos Kaczynski decidiram promover um discurso abertamente anti-semita, ao mesmo tempo que planeiam «proibir» a homossexualidade e impedir os homossexuais de trabalhar na função pública (tendo mesmo já começado pelo ensino), e proibiram qualquer forma de união de facto entre pessoas do mesmo sexo, estando o casamento homossexual, obviamente, fora de questão.
Ainda no âmbito da sua «Revolução Moral», os católicos gémeos anunciaram que o divórcio será terminantemente proibido e será novamente equacionada toda a legislação que possa conduzir à igualdade entre o homem e a mulher.
Não admira, por isso, que os dois irmãos não se cansem de repetir, em total concordância, que não é por pertencerem à União Europeia que deixarão de lutar para que a Polónia mantenha a sua moral e os seus valores tradicionalmente católicos.
E para não deixarem os seus créditos por mãos alheias, os dois fervorosos e católicos irmãos começaram já a levar a cabo as iniciativas legislativas e as políticas que entendem que na Polónia representam a «moral e os valores tradicionalmente católicos» e a que resolveram chamar «A Revolução Moral».
Para já, decidiram «acertar as contas com o passado» e ameaçam perseguir judicialmente os responsáveis políticos que, após a queda do muro de Berlim (e mesmo até antes, quando era ainda temida uma possível invasão militar soviética), procuraram que a transição da Polónia para a democracia se fizesse de forma pacífica e sem ajustes de contas com o anterior regime.
Ao mesmo tempo ordenaram a abertura ao público dos arquivos da polícia política dos tempos do comunismo, visando expor e «desmascarar» todos aqueles que durante décadas colaboraram ou se conformaram com o regime então vigente.
Depois, parecendo ignorar o quanto dos indescritíveis horrores do Holocausto teve lugar em território polaco, os piedosos irmãos Kaczynski decidiram promover um discurso abertamente anti-semita, ao mesmo tempo que planeiam «proibir» a homossexualidade e impedir os homossexuais de trabalhar na função pública (tendo mesmo já começado pelo ensino), e proibiram qualquer forma de união de facto entre pessoas do mesmo sexo, estando o casamento homossexual, obviamente, fora de questão.
Ainda no âmbito da sua «Revolução Moral», os católicos gémeos anunciaram que o divórcio será terminantemente proibido e será novamente equacionada toda a legislação que possa conduzir à igualdade entre o homem e a mulher.
Claro está que o aborto é rigorosamente proibido, mesmo em caso de malformação do feto, de violação, ou de perigo de vida para a mulher grávida.
Finalmente, e como se não bastasse, e ao mesmo tempo que se tornou obrigatório o ensino da religião católica em todas as escolas do país, foi decidido que nas aulas de ciências, e a par do evolucionismo, fosse ensinado também o «criacionismo», proclamado como um teoria científica perfeitamente válida.
Embora alguns sectores católicos mais radicais não tenham ainda desistido de pura e simplesmente abolir de uma vez por todas o evolucionismo do ensino polaco, por acharem que ele é «uma ideologia do Demo».
Ao mesmo tempo, e para que não se diga que os mui católicos gémeos Kaczynski só encontram paralelo nos seus colegas cristãos evangélicos americanos, vão também aparecendo um pouco por toda a Europa muitos outros responsáveis políticos ansiosos por ganharem o «Reino dos Céus» através da proclamação da sua própria imbecilidade:
Ora na Inglaterra, onde a antiga ministra da Educação Ruth Kelly tentou implementar o ensino do criacionismo como uma «versão alternativa» à teoria da evolução; ora na Holanda, onde a ministra da Educação, Maria Van der Hoeven ainda recentemente tentou introduzir o criacionismo nos curricula escolares; ora na Itália, onde Letizia Morati, ministra da Educação de Silvio Berlusconi, chegou mesmo a retirar o ensino do evolucionismo dos programas escolares, e só a muito custo, e após indignados e massivos protestos por todo o país lá cedeu à sua reintrodução; ora na Sérvia, onde a ministra da Educação Ljiljana Colic, chegou a fazer precisamente o mesmo que a sua colega italiana, e também só a muito custo e após inúmeros protestos, lá considerou voltar atrás.
Ora bem:
Como se tudo isto fosse um claro e inequívoco exemplo, e principalmente um sério aviso do que acontece quando os católicos tomam conta do poder político de um Estado, está bom de ver o que é que, sem qualquer sombra de dúvida, existe de comum entre a perigosa, profunda e fanática imbecilidade de toda esta gente que procura ganhar o «Reino dos Céus», ora impondo o criacionismo como uma teoria científica, ora proclamando o ódio, a intolerância, a homofobia e a misoginia como sua política oficial.
Porque o que todos estes fanáticos imbecis têm em comum é, afinal, espantosamente simples: é o seu fervoroso e piedoso catolicismo!
Contudo, poderá haver quem diga que o que une toda esta gente, o que todos eles têm em comum, não é somente esse seu fervoroso e piedoso catolicismo mas é, antes, precisamente essa sua profunda e fanática imbecilidade.
Admito-o.
Mas nesse caso, então, outros dirão como é afinal tão persistente a frequência com que o fervor católico e essa tal profunda e fanática imbecilidade são coincidentes e como tantas vezes eles parecem andar tão intimamente ligados.
Tão ligados, que às vezes o catolicismo e a imbecilidade bem parecem dois conceitos que, por simples definição, são afinal geneticamente inseparáveis...
Embora alguns sectores católicos mais radicais não tenham ainda desistido de pura e simplesmente abolir de uma vez por todas o evolucionismo do ensino polaco, por acharem que ele é «uma ideologia do Demo».
Ao mesmo tempo, e para que não se diga que os mui católicos gémeos Kaczynski só encontram paralelo nos seus colegas cristãos evangélicos americanos, vão também aparecendo um pouco por toda a Europa muitos outros responsáveis políticos ansiosos por ganharem o «Reino dos Céus» através da proclamação da sua própria imbecilidade:
Ora na Inglaterra, onde a antiga ministra da Educação Ruth Kelly tentou implementar o ensino do criacionismo como uma «versão alternativa» à teoria da evolução; ora na Holanda, onde a ministra da Educação, Maria Van der Hoeven ainda recentemente tentou introduzir o criacionismo nos curricula escolares; ora na Itália, onde Letizia Morati, ministra da Educação de Silvio Berlusconi, chegou mesmo a retirar o ensino do evolucionismo dos programas escolares, e só a muito custo, e após indignados e massivos protestos por todo o país lá cedeu à sua reintrodução; ora na Sérvia, onde a ministra da Educação Ljiljana Colic, chegou a fazer precisamente o mesmo que a sua colega italiana, e também só a muito custo e após inúmeros protestos, lá considerou voltar atrás.
Ora bem:
Como se tudo isto fosse um claro e inequívoco exemplo, e principalmente um sério aviso do que acontece quando os católicos tomam conta do poder político de um Estado, está bom de ver o que é que, sem qualquer sombra de dúvida, existe de comum entre a perigosa, profunda e fanática imbecilidade de toda esta gente que procura ganhar o «Reino dos Céus», ora impondo o criacionismo como uma teoria científica, ora proclamando o ódio, a intolerância, a homofobia e a misoginia como sua política oficial.
Porque o que todos estes fanáticos imbecis têm em comum é, afinal, espantosamente simples: é o seu fervoroso e piedoso catolicismo!
Contudo, poderá haver quem diga que o que une toda esta gente, o que todos eles têm em comum, não é somente esse seu fervoroso e piedoso catolicismo mas é, antes, precisamente essa sua profunda e fanática imbecilidade.
Admito-o.
Mas nesse caso, então, outros dirão como é afinal tão persistente a frequência com que o fervor católico e essa tal profunda e fanática imbecilidade são coincidentes e como tantas vezes eles parecem andar tão intimamente ligados.
Tão ligados, que às vezes o catolicismo e a imbecilidade bem parecem dois conceitos que, por simples definição, são afinal geneticamente inseparáveis...