terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

 

II - Falhas de Ética e Défice de Inteligência



«A insistência dos fundamentalistas do NÃO em apresentarem as portuguesas como seres acéfalos desprovidos da capacidade de decisão autónoma e responsável, com os poucos neurónios funcionais ocupados com questões fúteis, é para mim completamente mistificante.
Assim como é mistificante, especialmente se olharmos para o mapa dos resultados do referendo, que a CEP (Conferência Episcopal Portuguesa) atribua a vitória do SIM a «lacunas na formação da inteligência»!

Na realidade, os únicos indicadores que tornam Portugal um exemplo para todo o Mundo civilizado são exactamente os referentes às portuguesas: por exemplo, são mulheres a esmagadora maioria dos licenciados nacionais – mais de dois terços, 67,1%, em 2002, ano em que segundo o Observatório da Ciência e do Ensino Superior (OCES) metade dos doutorados nacionais eram mulheres.
A percentagem de portuguesas que trabalham em áreas como ciência, tecnologia e engenharia é muito superior, mais do dobro, à média europeia. De acordo com o INE em 2003 eram mulheres 60,2% dos especialistas das profissões intelectuais e cientificas, e a taxa de abandono escolar no secundário aproxima-se do valor médio europeu (embora globalmente seja mais do dobro) se nos restringirmos ao universo feminino.

Contudo, a predominância do sexo feminino no número de licenciados e doutorados não acompanha a sua representatividade nos cargos de topo, nem a sua maior escolaridade se traduz numa remuneração maior, bem pelo contrário.
Nestes indicadores, tal como em relação à violência sobre as mulheres, Portugal está na cauda do mundo civilizado!

Mas as diferenças que tornam a situação das portuguesas impar em toda a Europa, não ficam por aqui. As portuguesas não deixam de trabalhar quando têm filhos; têm taxas de emprego elevadas qualquer que seja a sua escolaridade e qualquer que seja o número e a idade dos filhos; não trabalham em percentagem significativa a tempo parcial qualquer que seja o número de filhos; trabalham significativamente mais tempo por dia do que os homens (cerca de mais 2h), sendo a assimetria a mais elevada da União Europeia.

Até 11 de Fevereiro último a situação das portuguesas era igualmente insólita por ser um dos últimos redutos no mundo civilizado em que o fundamentalismo religioso ditava a lei no que respeita ao aborto.
Apenas na Irlanda, Polónia, Malta e Chipre as mulheres são relegadas para um sub-mundo clandestino ou obrigadas a deslocarem-se para fora do país para realizarem em segurança o que a (pseudo) moral de alguns proíbia a todas!

Hoje, uma semana depois do primeiro grande passo para reconhecer a mulher como um ser humano de plenos direitos, nomeadamente pela primeira vez com direito à liberdade de consciência, não podemos cruzar os braços às investidas católicas contra esta vitória civilizacional.
Nós, as mulheres portuguesas, que merecemos encómios de todo o mundo civilizado pelo nosso esforço, dedicação e trabalho, merecemos pelo menos da sociedade nacional que não permita aos obscurantistas que nos vendem como coitadinhas ou rameiras reverterem o reconhecimento que ganhámos nas urnas!».

- Um artigo de Palmira F. da Silva



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