sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

 

Atirem-me água benta - II



A demissão anunciada de Romano Prodi, devido a uma derrota no Senado relacionada com questões de política externa, preencheu os telejornais de ontem.
Curiosamente a derrota no Senado ficou a dever-se à abstenção de duas formações comunistas da aliança de centro-esquerda que suportava o governo.
Curiosamente porque há menos de uma semana era anunciado em manchete no jornal Liberazione, órgão de imprensa da Refundação Comunista, que o Vaticano e os Estados Unidos «declararam guerra» ao Executivo de Romano Prodi com o intuito de derrubar o pouco cristão governo.

O governo Prodi caiu mas aparentemente a queda não se deve nem a Condolezza Rice nem à cruzada do Vaticano contra o governo de Prodi, em particular contra o projecto de lei que regulamentaria as uniões de facto, que deveria ter sido apresentado ao Parlamento ontem.

Resta ver não só se Romano Prodi segue como primeiro-ministro da Itália, já que a maioria parlamentar de centro-esquerda lhe manifestou total apoio, como se este projecto lei vai para a frente, já que a Igreja Católica anunciou que vai enfrentar esta guerra de poder com todas as armas à sua disposição. Nomeadamente exortando à desobediência civil disfarçada de objecção de consciência, uma arma muito esgrimida pela ICAR nos últimos tempos para afirmar como perrogativa católica o direito à intolerância de quem não segue os ditames do Vaticano.

Assim, o presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Camillo Ruini, que considera não ser «ingerência» na actividade legislativa do Estado a chantagem sobre este e outros temas, está a preparar um documento remiscente de outras eras, em que proibe os católicos de apoiar o mui tímido projecto.
Tímido porque apenas confere alguns benefícios sociais aos abominados homossexuais - e restantes pecadores que vivam em união de facto -, algo completamente inadmíssivel para a ICAR.

A ser reintroduzido, a excomunhão paira sobre os políticos católicos que votarem favoravelmente o execrado projecto que, segundo Bento XVI, resulta da pressão política de grupos de pressão que pretendem destruir a família.

Entre os odiosos e anti-cristão destruidores da civilização encontram-se a Organização Mundial de Saúde, as organizações ecológicas ( na realidade anti-católicos saudosos do paganismo, ex- inquisidor mor dixit) e as indústrias farmacêuticas que... fabricam preservativos e pílulas contraceptivas, essas obras demoníacas «que seduzem a humanidade para as mentiras do Maligno» e afastam a população italiana das garras do Vaticano.

- Um artigo de Palmira F. da Silva



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