sexta-feira, 29 de setembro de 2006

 

O Paradoxo



O cancelamento em Berlim da exibição da ópera de Mozart «Idomeneu», sob o pretexto de que a sua exibição iria constituir «um risco com final imprevisível para os funcionários e o público», será talvez uma das mais significativas vitórias do fanatismo e do extremismo religioso.

De facto, este cancelamento demonstra que o Ocidente está inequivocamente refém do medo de desagradar a um bando de fanáticos.
Um medo de morte!
Um medo até de que uma simples manifestação cultural desencadeie uma reacção que leve ao assassinato puro e simples das pessoas que estejam mais ou menos envolvidas.

Mas a principal questão que se coloca é esta:
- E agora?

Quem será o próximo a recuar na exibição de uma ópera, ou a hesitar na publicação de um texto, na publicação de um cartoon, ou na realização de um filme, só porque eles podem ferir uma qualquer sensibilidade religiosa fanática, imbecil e doentia?

Que fazer para que mais nenhum encenador cancele um espectáculo?
Que fazer para que mais nenhum cineasta seja esfaqueado na rua?

Quantos mais mortos serão precisos?

Porque o que é facto é que o medo chegou, e a liberdade já está, neste momento, irremediavelmente perdida!
E o que é verdade é que não há resposta!

A não ser que, se não quisermos desistir, se não nos quisermos render, se não nos quisermos submeter e rebaixar a esta ignóbil chantagem, a resposta esteja afinal na própria negação dos valores e da cultura ocidentais.

A não ser que a intolerância religiosa de quem escolheu o Ocidente para viver e a quem acolhemos como iguais, com quem nos cruzamos na rua e cujos filhos andam com os nossos na escola, mas que mesmo entre nós quer «espalhar a fé com a espada», só se possa combater com outra intolerância religiosa ou com a intolerância do racismo ou da xenofobia.

A não ser que a resposta esteja neste infernal paradoxo!...




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